Tinha Glaucio Cella, agora tem mais Paulo Prata e Adriano da Silva.

Francisco Beltrão tinha um mestre nacional de xadrez, Glaucio Dalla Cortt Cella, agora tem mais dois: Paulo Roberto Santos Prata e Adriano da Silva. Foi durante o 18ª American Continental Chess Chapionship 2025 (Campeonato de xadrez), na semana passada. O relato desta conquista é do enxadistra Glaucio Cella.

“Hoje foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. Após duas horas de jogo, eu estava em uma posição equilibrada com o MF e número 3 da Guatemala, e com muito mais tempo no relógio. Meus companheiros de cidade, Adriano e Paulo, também estavam em boas posições contra adversários mais fortes. Chamei o diretor do Torneio e diretor técnico da CBX, Kaiser Mafra, para esclarecer uma dúvida, que tinha me atormentado na noite anterior. Um esclarecimento sobre a pontuação necessária para ser Mestre Nacional. Kaiser confirmou o que eu já imaginava. E então naquele exato momento me caiu a ficha, de que meus amigos haviam conseguido.
O Paulo Prata havia conseguido com 5 em 9, ser Mestre Nacional, mas o Paulo todos já esperavam. A maior emoção foi saber que meu grande amigo, compadre e praticamente irmão, Adriano da Silva, que tem uma carreira muito parecida com a minha, havia conseguido, mesmo sem esperança nenhuma, antes do evento, ele havia feito 4,5 em 9, a pontuação necessária para ser Mestre Nacional.

Poucas pessoas têm capacidade de compreender o que isso significa, pois precisaria ser um enxadrista e ter mais de 20 anos jogando sem patrocínio, sem retorno financeiro e com mais de 10 mil horas de treino pra realmente saber o que isso significa. Para alguns até parece fácil, pois nasceram em grandes centros, tiveram os recursos necessários (treinador, tecnologia ou financeiro). Mas para mim e para o Adriano esse título é mais do que especial, pois foi contra tudo e contra todos.
Ainda menos pessoas são capazes nesse meio de entender o que é ser empático e torcer pelo oponente. E graças ao Jerry Pilati, desde muito cedo eu entendi que devemos ser amigos dos nossos adversários, pois a pontuação deles reflete na nossa na classificação final.
Com isso, após duas horas de jogo da 11ª Rodada do Continental das Américas, eu me sentei numa das últimas cadeiras e as lágrimas caíram do meu rosto. Pouca gente tem noção de tudo que passei nos últimos 6 anos, cheguei a largar o xadrez mais de uma vez. Primeiro porque decidi ter um filho, segundo porque decidi me dedicar profissionalmente à bolsa de valores, terceiro porque meu pai me chamou pra trabalhar com ele no campo empresarial.

Só que eu era o único Mestre Nacional do Sudoeste do Paraná. E isso é um peso imenso. Eu me sentia obrigado a jogar e mais ainda obrigado a vencer. E em vez de parar eu treinei ainda mais, mergulhei profundamente no xadrez online e necessitei fazer tratamento psiquiátrico, pois devido ao excesso de dopamina das partidas 1.0 e da alta carga de stress e treinos de tática, eu estava me autoagredindo quase que diariamente. Quem não acompanha a nossa luta tem a petulância de dizer que só pode ser trapaça, mas quem convive no dia a dia sabe que nada é de graça.
Mas esse torneio, depois de tanto tempo eu joguei não porque precisava, mas, sim, porque eu queria, e eu tinha certeza de que de uma forma ou outra esse peso que eu sentia nas costas iria diminuir. E as lagrimas caíram soltas, sentado no banquinho da última mesa sozinho, no meio da rodada com mais de 200 pessoas no salão… É incrível essa capacidade de se sentir só mesmo com tanta gente ao redor. Infelizmente nós 3 acabamos perdendo. Mas, todos nós tivemos motivos pra sorrir, eles pelo título alcançado, eu pela felicidade deles e pelo rating ganho no torneio. Agradeço ao AI Mauro Amaral por topar registrar esse momento representando o Xadrez Total. E agora Francisco Beltrão, uma cidade no interior do Sudoeste do Paraná, com apenas 100 mil habitantes, tem 3 Mestres Nacionais e é a cidade com mais titulados do Oeste e Sudoeste do Paraná! Obrigado a todos que torceram e que nos apoiam e parabéns aos novos mestres. Quero prestar uma homenagem especial ao Ivo Fischer, pois ele foi o grande incentivador para que jogássemos esse torneio, e infelizmente devido a um problema de saúde ele não pôde participar. Saiba Ivo, que não houve um único dia nessa jornada, que não pensamos em você, ou que não tenhamos dados 100 por cento para honrá-lo, eu até mesmo tentei jogar uma Siciliana Kan para lhe homenagear (infelizmente não tendo a sua maestria fui derrotado). Nossas orações continuam com você para que se recupere prontamente.”