Estudantes de literatura do Colégio Industrial são os primeiros fora da Bahia a receber um projeto da Fundação Casa de Jorge Amado. A instituição de Francisco Beltrão foi contemplada com um material de apoio didático, incluindo livretos, cartazes e sugestões de atividades, que foram ministrados durante fevereiro pela professora Crislaine André.
Anualmente, a Fundação Casa de Jorge Amado, responsável por preservar e divulgar a obra do autor e de sua esposa Zélia Gattai, realiza a Feira Literária do Pelourinho (Flipelô). Após o evento, a Casa destina gratuitamente materiais didáticos a professores da rede pública de ensino da Bahia. No fim de 2024, o projeto passou a atender, também, a uma escola de cada estado. Francisco Beltrão, com o Colégio Industrial, foi o escolhido no Paraná, e o primeiro fora da Bahia a receber.

Imersão pelo universo amadiano
Durante as aulas ministradas pela professora Crislaine, os estudantes conheceram a trajetória de vida e obra de Jorge Amado (1912-2001) e de Zélia Gattai (1916-2008).
A Dhulya Estadler gostou de saber da relação de Zélia com o pai, Ernesto Gattai, um italiano anarquista que chegou ao Brasil no fim do século XIX. “Ela tinha afinidade de aprender com ele sobre política.” Já a Amanda Hoffmann gostou de conhecer o amor de Jorge por plantas e sapos. A Lavínia Félix é natural de Ilhéus, sul da Bahia, terra onde Jorge Amado viveu e ambientou alguns de seus livros mais populares, como “Gabriela cravo e canela”. Lavínia afirma que se surpreendeu, porque apesar de conhecer sobre o do escritor, foi durante as aulas da professora Crislaine que descobriu detalhes da vida pessoal dele.
Inspiração para escrever as próprias memórias
A professora Crislaine escolheu abordar com mais profundidade duas obras de memórias: “O menino grapiúna” (1982), de Jorge, e “Chão de meninos” (1992), de Zélia.
“As crianças viram algumas ilustrações do livro, depois imaginaram o que aconteceria na história e só depois lemos trechos. Vimos imagens de pessoas da época, ouvimos músicas”, explica Crislaine.
Depois de leituras de trechos em sala de aula, os alunos foram estimulados a escrever suas próprias memórias. Felipe Ventura, por exemplo, pretende escrever sobre o período em que era criança e morava com os avós. As amizades serão o tema dos textos da Angelina Suzzin. “Tenho uma amiga desde o sexto ano, que agora é minha melhor amiga pra tudo”, diz.
Sobre Jorge e Zélia
Baiano de Itabuna, Jorge é considerado um dos principais escritores da história do país e se consagrou através de romances como “Mar Morto” (1937), Terras do sem fim (1943), Gabriel cravo e canela (1958) e Tieta do Agreste (1977). Em suas obras, Jorge abordava a desigualdade social, o combate ao racismo e à intolerância religiosa, além de celebrar a mestiçagem.
Por sua vez, a paulistana Zélia Gattai, filha dos italianos Angelina Dacoll e Ernesto Gattai, se casou com Jorge em 1945, mas só publicou o primeiro livro, “Anarquistas graças a Deus” em 1979, aos 62 anos. A maioria de suas obras foram do gênero memória.
Aulas de literatura no Colégio Industrial
A disciplina de literatura ocorre é opcional e ofertada como complemento à grade curricular. São duas aulas de 50 minutos por semana reunindo estudantes de várias turmas, do quinto ano do Ensino Fundamental ao terceiro do Ensino Médio.