Desde o ano passado, 17 pessoas morreram no trecho de 42 quilômetros entre Francisco Beltrão e Vista Alegre.

Por Niomar Pereira – A Rodovia PR-566, que sai de Francisco Beltrão, passa por Itapejara D’Oeste e segue até a comunidade de Vista Alegre, em Coronel Vivida, é um dos trechos mais perigosos da região. Depois que o problema da Bica D’Água, PR-483, foi resolvido (leia mais no box), é a PR-566 que está criando a fama de “rodovia da morte”. E os números explicam.
Conforme a Polícia Rodoviária Estadual, entre 2018 e o primeiro semestre de 2022 ocorreram 245 acidentes no trecho em questão (42 km), com 470 pessoas envolvidas, das quais 141 ficaram feridas. A corporação registrou ainda 20 mortes. Do total de acidentes, em 107 (43%) não houve vítimas.
Mas o que mais chama a atenção é que 17 óbitos (85%) ocorreram do início de 2021 até junho deste ano. Ou seja, a violência está aumentando de forma muito preocupante.
As estatísticas da PRE indicam que o trecho mais violento é o que está no território de Francisco Beltrão: foram 120 acidentes, 87 feridos e nove mortes; Itapejara D’Oeste: 108 acidentes, 49 feridos e nove mortes; Coronel Vivida: 17 acidentes, cinco feridos e duas mortes.

Mais fiscalização
O engenheiro Roberto Machado, chefe do Escritório Regional do DER (Departamento de Estradas e Rodagem), reconhece que a quantidade de acidentes é muito alta, mas diz que ainda precisa de mais informações para analisar se as causas são atinentes às condições da rodovia. “Pelo que tenho acompanhado pela imprensa, me parece que a maior parcela dos acidentes está relacionada à saída de pista, o que geralmente tem relação com velocidades excessivas.”
Há pedidos de duplicação para aquela rodovia, mas Roberto entende que esta medida resolveria os acidentes causados por ultrapassagens em locais onde há proibição de ultrapassagem – colisões frontais. “Não me parece ser o caso, posso estar enganado.”
Segundo o engenheiro, se os acidentes são do tipo “saída de pista” e o pavimento não propicia este tipo de acidente (pista escorregadia, por exemplo), intensificar as operações de fiscalização de velocidade contribui para a redução da velocidade operacional da rodovia e, por consequência, a ocorrência de acidentes.
O sargento Juarez, comandante da PRE em Francisco Beltrão, diz que a corporação está em contato com o DER e algumas melhorias já estão sendo estudadas. “Vamos mudar algumas placas e realizar operação radar naquele trecho. O radar inibe excesso de velocidade e demais imprudências.”
Carla Rotta, coordenadora do Debetran e membro da Comissão Intersetorial de Prevenção de Acidente de Trânsito e Segurança no Trânsito, observa que só neste ano são dez mortes no trânsito do município, dos quais cinco na PR-566. Em Francisco Beltrão a rodovia tem 16 quilômetros. “Foram três registros de sinistros que ocasionaram os cinco óbitos.”
Os medos diários de quem trafega pela rodovia
Um morador de Francisco Beltrão, que não quer se identificar e utiliza todos os dias a PR 566 para ir trabalhar em outro município, conta que flagra diariamente atitudes imprudentes no trânsito. Segundo ele, a rodovia teve um aumento do fluxo muito grande nos últimos anos e carece de melhorias urgentes.
“Falta iluminação noturna com tachões e olhos de gato, falta terceira pista, tem muita entrada e saída de veículos [acessos a comunidades rurais] sem sinalização nenhuma, buracos aparecem toda hora, falta sinalização para entrada da comunidade do Jacaré, isso sem contar a imprudência”, disse o entrevistado.
Outra preocupação constante dos motoristas é o trânsito de máquinas agrícolas (colheitadeiras e tratores) pela pista.
Bica D’Água teve menos mortes em um período mais longo
Se fosse fazer uma comparação com a PR-483, Bica D’Água, em seu período mais crítico, a PR-566 está um pouco mais violenta. Para o leitor entender como são situações semelhantes, guardadas as proporções, entre 2009 e 2014 foram registradas pela Polícia Rodoviária Estadual na Bica D´Água, trecho de seis quilômetros, 19 mortes. Tinham sido registrados 249 acidentes com 39 feridos. A Bica D’Água é um trecho mais curto que a PR-566, mas muito mais movimentado, e o período analisado na época, em reportagem publicada no JdeB, também foi maior.
Depois que algumas melhorias foram colocadas em prática no local, os acidentes diminuíram consideravelmente. Entre elas a construção da Trincheira, obra inaugurada em abril de 2015. Segundo o DER, a trincheira solucionou o maior problema da Bica até então, que era o cruzamento com a entrada do Bairro São Miguel. Além disso, foram colocados tachões entre as faixas, impossibilitando ultrapassagens, e alguns sinalizadores de velocidade. Outra obra que deve ter impacto positivo para a Bica D’Água é o Contorno Noroeste, que vai ligar a PR-483 à PR-180, próximo à BRF. A obra está em andamento.