Diretor da gráfica da Editora, compartilha lembranças da infância, passagem pelo seminário e três décadas dedicadas à impressão do JdeB. Carreira começou em 1977, na Grafisul.

JdeB – O podcast do Jornal de Beltrão tem novo episódio disponível no YouTube. O entrevistado da semana é Domingos Rafagnin, diretor da gráfica da Editora JdeB, que deixou a empresa após 30 anos. Num bate-papo com os jornalistas Ivo Pegoraro e Juliam Nazaré, o gaúcho de Sananduva falou da relação com a família, o início na profissão e da relação com os colegas, como Itamar Pereira.
Raízes no campo de Olaria
Domingos veio ainda bebê com os pais para Francisco Beltrão. É o terceiro dos 11 filhos do casal Antonio Rafagnin e Ledovina Pistore. A família se instalou na comunidade de Olaria, interior beltronense, onde o trabalho na agricultura foi a base de tudo. “Meu pai vendeu o pedacinho de terra que tinha no Rio Grande e veio ajudar meu avô, que estava doente”, recorda.
Ainda adolescente, Domingos recebeu o convite do então bispo Dom Agostinho Sartori para ingressar no seminário de Palmas. “Tinha 16, 17 anos. Ele disse que eu tinha ‘cara de padre’. Acabei indo e fiquei três anos”, conta, rindo. A vocação para o sacerdócio não se confirmou, apesar do desejo dos pais, mas a experiência fortaleceu um vínculo com a Igreja Católica que se mantém até hoje. Domingos e a esposa, Elenir, são ativos na Paróquia São José, no Bairro Vila Nova.
Chegada à cidade e o começo na gráfica
A transição da roça para a cidade veio em 1977. Morando na casa de parentes, começou a trabalhar na Marel fabricando tubos. Mas foi a curiosidade de adolescente ao observar uma máquina gráfica perto da antiga rodoviária que, por coincidência ou destino, o levou à Grafisul – gráfica tradicional da cidade. “Sempre ficava olhando. Achava mágico o papel entrar de um jeito e sair de outro.”
Na extinta Grafisul, começou operando uma guilhotina manual, depois assumiu impressoras cada vez mais modernas. “Era tudo no braço. Muitos perderam dedos ou mãos nesse tipo de máquina”, conta. Domingos também perdeu um dedo da mão trabalhando.
Atuação no Jornal de Beltrão e relação com os colegas
O convite para atuar no Jornal de Beltrão surgiu em 1992, quando a empresa estava se transformando em sociedade anônima. Na época, ele foi chamado para ir até Encantado ver máquinas gráficas, mas ainda não aceitou a mudança. “Falei: ‘Poxa vida, largar…’. Era tudo Heidelberg na Grafisul, de máquina boa, né? E umas novas que vieram. Eu já estava gerenciando uma parte de produção”.
A decisão de vir só se concretizou em 1995. Desde então, acompanhou de perto a rotina da gráfica do Jornal de Beltrão. “Na sexta-feira, eu lembro que nós começamos cedo… A página preto e branco rodava num bdic (impressora), e daí a colorida rodava na solna. Começava cedo e terminava… eram três horas da manhã, acho”.
Ao longo de 30 anos, criou laços fortes com os colegas. Muitos deles já estavam na empresa quando Domingos chegou: Ivo Pegoraro, Flávio Pedron, Marcos Kuchinski, Nereu Mieserski, Quintino Girardi. “Sempre fui feliz na gráfica do jornal, da nossa empresa, porque não teve tanta mudança dentro da gráfica, a parte de produção. Pode ver, o pessoal que nós temos…o Gilson, o Vagner, meu filho, está com 26 anos de empresa. O Edir também. O Carlito, que saiu agora há pouco.”
Itamar Pereira
Por terem em comum a atuação dentro da Igreja Católica, Domingos se aproximou do jornalista Itamar Pereira, um dos fundadores do JdeB. Os dois, na realidade, se conheceram nos anos 1970, justamente por conta do envolvimento religioso.
“Em 1978, o Itamar já estava na coordenação da Jornada Jovem. Eu participava, mas não tinha envolvimento com esse movimento. Daí o Menegotto, o meu parente, já indicou lá para a comunidade e disse assim, ‘ó, esse aqui está fazendo seminário, aproveita e fala alguma coisa aí na comunidade’. E daí me convidaram para fazer a Jornada. Então encontrei o Itamar. Então ele era, nossa, muito bom. Era uma pessoa extraordinária, né? Aquela paciência, sempre dando suporte e incentivo. Às vezes eu estava meio cabisbaixo e ele chegava. Deixando o ambiente leve, mais saudável o trabalho. Quando ele estava, não tinha tristeza. O Itamar sempre foi uma pessoa bem-humorada. Trazia alegria.” Itamar faleceu em novembro de 2021, aos 69 anos.
Família, fé e legado
Casado desde 1979 com dona Elenir, Domingos é pai de quatro filhos — Adriana, Vagner, Paulo César e Alex. É avô de Júlia. Segundo filho, Vagner seguiu o legado do pai e hoje é o responsável pela gráfica do Jornal. “Ele começou em 1999, são 26 anos”, conta.
A partir de agora, definitivamente aposentado, Domingos seguirá mantendo vínculos com o JdeB, como acionista e conselheiro deliberativo, mas pretende aproveitar o tempo viajando.
“Vou dar uma baixada na poeira, porque fazia tempo que eu queria parar. Porque tenho 30 anos aqui e já faz 15 anos que estou aposentado. Estou bem de saúde, vou dar uma descansada e umas ‘passeadas’.”