O inimigo daquela vez eram os jagunços das companhias de terra que atuavam na região; agora, o coronavírus que se espalhou por todo o mundo.
62 anos depois, Francisco Beltrão voltou a amanhecer cercado por barreiras
O inimigo daquela vez eram os jagunços das companhias de terra que atuavam na região; agora, o coronavírus que se espalhou por todo o mundo.

Exatos 62 anos e 163 dias após o histórico 10 de outubro de 1957, a cidade de Francisco Beltrão amanhece hoje com barreiras nos acessos secundários à cidade. Aquela vez, o objetivo era impedir a entrada ou saída dos jagunços (e todas as pessoas ligadas às companhias de terra), um problema regional; hoje, é para evitar a disseminação do Covid-19, o novo coronavírus, um problema mundial.
Aquela vez, as lideranças da cidade se reuniram na manhã do dia 10 de outubro e decidiram deflagrar o movimento. À tarde começaram a chegar os posseiros, a maioria agricultores, e no mesmo dia foram instaladas as barreiras.
– Pessoal, a ordem é a seguinte: cada barreira guarnece uma entrada da cidade e por aqui não passa ninguém, entenderam? Ninguém!
– Nem chumbo derretido?
– Nem o diabo. Estão preparados?
(Cena da peça de teatro A Revolta dos Posseiros)
A partir deste domingo, para entrar ou sair da cidade, as pessoas terão que se submeter aos exames exigidos pelas equipes sanitárias e informar o motivo de sua saída ou entrada na cidade. Poderá haver restrição de saída para outros municípios.
Em 1957, todos os integrantes das barreiras eram voluntários. Em 2020, há funcionários públicos e a administração municipal está convocando também voluntários. A recompensa aos voluntários de 1957 seria a esperança de não perder suas terras, o que acabou se confirmando; a recompensa aos voluntários de 2020 é o reconhecimento de ter prestado “relevantes serviços públicos”.

Pena que não há fotos das barreiras de 1957, somente de trincheiras abertas pelo pessoal da unidade do Exército que há pouco havia se instalado na cidade. São fotos do arquivo de Marciano de Souza, militar daquele tempo que depois mudou para Curitiba.