Geral
Carmindora “Carmem” Maria De Martini, 70 anos, é uma mulher que encarou vários desafios desde criança. Nascida em Jacutinga, na época interior de Erechim (RS), é filha de Stela e Angelo Barichello (ambos falecidos), que eram pequenos agricultores. O casal teve sete filhos – Carmem é a sexta. Há 48, anos Carmem casou com o comerciante e produtor rural Derci De Martini, 73 anos, e teve três filhos. A história do casal é um misto de amor, respeito, audácia, superação e carisma. Sempre brincalhão, Derci, ex-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Francisco Beltrão por dois mandatos consecutivos, diz que para falar de sua esposa “precisaria de uns três dias”.
A vida pacata de Carmem na propriedade dos pais, em Jacutinga, mudou aos 11 anos quando ela se transferiu para um colégio interno de freiras, em Irati (PR). Ela foi levada pela irmã Diva Barichello, que já era religiosa, para continuar os estudos no primário – hoje ensino fundamental. “Ela não teve nem infância e nem convivência maior com a família”, ressalta o marido. Aplicada nos estudos, ela concluiu o ensino fundamental e médio – fez o curso Normal, hoje Formação de Docentes. Após a conclusão do Normal, voltou para a casa dos familiares. “Só que a família ainda morava no interior, e o que ela ia fazer lá?”, indaga Derci.
O primeiro emprego
Em busca de emprego, Carmem foi a Getúlio Vargas (RS) e visitou um tio que a convidou para morar na casa de sua família e prometeu arranjar um emprego para ela. O tio trabalhava em uma cooperativa, era uma pessoa influente no município e conseguiu para a sobrinha uma vaga de secretária no Sindicato Rural. Tempos depois, Carmem prestou concurso para professor na rede municipal, passou e foi chamada para assumir uma vaga.
Entre o período em que trabalhou no Sindicato Rural e prestou o concurso para professora, Carmem conheceu Derci De Martini, contabilista e funcionário de um banco em Getúlio Vargas. Eles namoraram e pouco tempo depois casaram. O casamento aconteceu em 1972. Derci, sempre brincalhão, diz a esposa começou a trabalhar “no interior do interior”, ou seja, bem longe da cidade. Foi algo desafiador para o jovem casal. Carmem seguia para o interior na segunda-feira, ficava hospedada na residência de um casal de amigos, e na sexta-feira Derci ia buscá-la com seu Fusquinha. O marido conta que “ficávamos juntos somente no sábado e domingo. Na madrugada de segunda-feira eu levava ela de Fusquinha e voltava pra trabalhar na cidade.”
Depois deste desafio de trabalhar na área rural, ela conseguiu transferência para o Colégio Arcanjo Giacomazzi, na cidade, onde trabalhou por 11 anos. Neste período, ela passou a lecionar como professora da rede estadual de ensino. E a família começou a aumentar, com a chegada dos filhos Marcelo, Ricardo e o Gabriel. “Aí ela teve que optar entre criar os filhos ou lecionar. Como não tinha outra opção, ela deixou de ser professora”, diz o marido.
Dedicação à família
Dona Carmem estava decidida a ficar em casa para cuidar dos filhos. O casal foi à Regional da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul, em Erechim, para pedir a exoneração de Carmem. A pessoa que os recebeu não aceitou o pedido e aconselhou que eles pensassem melhor e dessem a resposta em 30 dias. No retorno, eles acabaram entendendo que o pedido de demissão era a melhor escolha para o casal e os filhos. Derci trabalhava num banco de dia e à noite se dedicava ao trabalho de contabilistas de algumas empresas.
A vida do casal seguia seu ritmo normal, os filhos crescendo, dona Carmem cuidava da casa e da educação dos meninos e seu Derci se dedicava ao trabalho no banco e no escritório de contabilidade. Mas Derci queria encarar algo diferente, buscar novos horizontes fora do Rio Grande do Sul. “Eu, por vezes, tive um espírito meio que aventureiro, pedi demissão do banco e passei a cuidar só do escritório, só que eu queria coisas novas, até que vendi o que tinha lá e vim pra Beltrão. Por que Beltrão eu não sei? Sei que gostei da cidade”. Antes desta decisão ele já tinha visitado o município.
A mudança para o Paraná
Ao migrar para o Paraná em 1985, seu Derci comprou um sítio em Flor da Serra do Sul e uma casa em Beltrão. Ele ficava no sítio durante a semana, onde se dedicava à produção de grãos, e a esposa Carmem e os filhos ficavam em Beltrão. “Aqui tinha mais recursos, mais condições de estudo para os filhos. Por isso viemos morar aqui’, conta o empresário.
Os filhos continuavam os estudos, já estavam crescidos e dona Carmem decidiu que não queria mais ficar só em casa. “Foi, então, que comprei uma loja de móveis pra que ela começasse a cuidar. Isso foi em 1993. Era a loja Feira das Indústrias. A loja foi crescendo, e eu estava estabelecido com um comércio de caminhões onde hoje é a Monte Sião. Até que me chateei de comercializar caminhões usados. Vendi minha estrutura lá e usamos o dinheiro para aumentar a loja. Em 97 compramos a Darom Móveis e vim trabalhar com a Carmem e temos até hoje a D´Martini Móveis”, relata.
Empresa importante
A empresa cresceu, conquistou mais clientes e se consolidou com um nome importante no segmento de móveis no município e região. Carmem comandava os funcionários e seu Derci a ajudava na gestão da loja. Há dez anos, no entanto, a esposa precisou encarar outro desafio: o tratamento de um câncer de mama. “Ela passou por cirurgia, radioterapia, quimioterapia, isso prejudicou muito ela. Ficou um pouco debilitada, o que é normal nestes casos, mas, graças a Deus, se recuperou, mas ela deixou de trabalhar e deixou a loja em minhas mãos”, conta o marido.
Há oito anos, seu Derci achou que era muito trabalho cuidar do sítio e da loja. Foi ao Rio Grande do Sul e convidou os sobrinhos Adriano e Simone Pivetta Campagnollo, que se tornaram sócios da loja, e hoje ajudam o tio a cuidar e a gerenciar a loja. Derci ressalta que “eles não apenas ajudam, eles cuidam da loja. Eu estou na loja, tudo funciona sob minha cabeça, mas quem cuida são eles. A Carmem vem aqui de vez em quando, ela fez isso aqui crescer, mas agora vem como visita e o pessoal adora ela”.
Dona Carmem tem um carisma grande, sabe como cativar e conquistar as pessoas, o que ajuda muito nos negócios e fazer novos amigos. Darci destaca que “a presença dela aqui valoriza a loja. Muita gente compra aqui porque é da Carmem e muitas pessoas vêm aqui pra falar com ela”. Muitos funcionários passaram pela empresa nestes 26 anos, teve quem se aposentou como vendedor e até pessoas que se tornaram compadres do casal por este carisma não apenas de Carmem, mas também de seu Derci.
A empresa, localizada em prédio na esquina das ruas São Paulo e Antonina, no Centro de Beltrão, tem mil metros², é vendedora exclusiva para o município dos Colchões Castor, mas também vende outras marcas, trabalha com móveis prontos de diversas marcas e móveis planejados. Derci destaca que “isso tudo nasceu com a ideia da Carmem, ela é a mentora disso. Ela é uma grande mãe, uma grande mulher, uma grande empreendedora, e ainda parece que quer começar coisas novas”.