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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

A Revolta dos Posseiros de 57 contada através de telegramas

 

Avenida Júlio Assis Cavalheiro, exatos 58 anos atrás; revoltados, os posseiros invadiram os escritórios da Citla e da Comercial e jogaram toda a documentação na rua.

 

A Revolta dos Posseiros de 1957 deixou para a história de Francisco Beltrão, como data marcante, 10 de outubro. Mas foi em 11 de outubro, exatos 58 anos hoje, que houve a invasão dos escritórios das companhias Citla e Comercial, com destruição de toda a documentação.
Muito já foi publicado, mas há ainda muito por publicar. Nestas duas páginas estão telegramas enviados pela administração da Cango (Colônia Agrícola Nacional General Osório), sediada em Francisco Beltrão, para superiores da capital federal, naquele tempo o Rio de Janeiro.
As disputas entre Citla (Clevelândia Industrial e Territorial Ltda) e Cango (Colônia Agrícola Nacional General Osório)começaram ainda em 1950. Os documentos que seguem mostram a tensão que havia entre as duas empresas, e a região toda, no ano de 1957. A maior parte daqueles telegramas foi assinada pelo administrador João da Cruz Nascimento (alguns pelo substituto Jorge Souza e Melo de Oliveira).
Esta documentação da Cango (em grande parte ainda inédita) está no Centro de Memória do Sudoeste do Paraná (Cemesp) da Unipar, unidade de Francisco Beltrão.
Quem me ajudou nesta pesquisa foi a Katiane Kuyawski. Quando ela organizava a documentação, no Departamento de Cultura, separou os mais ligados à Revolta dos Posseiros.

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Dia 11 de outubro de 1957 (58 anos hoje), posseiros invadiram os escritórios da Citla e da Comercial e jogaram toda a documentação na Avenida Júlio Assis; depois atearam fogo.

 

 
Ambiente hostil com a Citla
Nº 13 de 14/1/57 – Acabamos de regressar das cidades vizinhas de Barracão e Santo Antônio, onde mantivemos contatos com os atuais prefeitos e colonos a fim de acalmar o ambiente hostil que existia contra a C.I.T.L.A. Foi registrado, pela C.I.T.L.A em cartório, um acordo assinado pelo Dr. Cledemiro com o fito de suposta legalidade e ganho de questão judiciária com o I.N.I.C.
Palestramos rapidamente com o prefeito da cidade de Capanema, que nos informou da necessidade urgente de uma solução concernente às terras litigiosas entre a C.I.T.L.A  e I.N.I.C.

Troca de comando no Exército
Nº 26 de 16/1/57 – Acaba de ser trocado todo o contigente de Exército que estava aquartelado neste núcleo. O novo comandante é o Tte. João da Cruz Albernaz Filho, cuja permanência será de 90 dias. Já está acertado no Quartel General em Curitiba que o primeiro contingente ficará o prazo mínimo de um ano neste núcleo, a fim de evitar os gastos que se vêm fazendo nestas trocas.

Citla mede terras
Nº 32 28/1/57 – C.I.T.L.A começará a medição das terras deste núcleo dentro de poucos dias. Segundo informações, será a zona de ação Jacaratiá. Solicito urgente instruções de modo de agir. Há inquietação da população com a sede deste núcleo.

Elementos estranhos
Nº 33 de 31 de 31/1/57 – Conforme informação via rádio nº 32 de 28/1/57, comunico-lhe que elementos estranhos de nossos serviços transportam no interior do núcleo algum material topográfico. Reitero pedido de instruções.

E o pronunciamento da Cango?
Nº 34 de 11-2-57 – A população desta região está com intensas expectativas quanto ao pronunciamento da Colônia no caso C.I.T.L.A. Há um grande número de pessoas da cidade local ansiosos por notícias sobre o caso. 

Agitação em Santo Antônio
Nº 35 – 12/2/57 – Comunico-vos que a situação em Santo Antônio do Sudoeste está novamente agitada. Os colonos ameaçam atacar emissários e o escritório C.I.T.L.A. O tenente seguirá amanhã, a fim de amenizar a situação que está cada vez mais insustentável.

Colonos em pé de guera
Nº 36 de 13/2/57 – Comunico-vos que o Capitão Jasson divulgará na rádio local o desafio das entidades governamentais, cujo texto hoje procurarei captar. Em Santo Antônio e Capanema, os colonos estão em pé de guerra, já tendo havido alguns atritos entre agrimensores e a C.I.T.L.A.

Citla legalizada
Nº 41 de 22/2/57 – Foi divulgado outro manifesto C.I.T.L.A. assinado por Júlio Assis, que em resumo diz que a C.I.T.L.A. encontra-se legalizada na Comissão Especial da Faixa de Fronteira, possuindo certidão fornecida por esse órgão. Declara ainda não haver impedimento legal na lavratura das escrituras.

Prefeitura vende terrenos
Nº 42 de 25/2/57 – Comunico-vos que foi aprovada na Câmara local a venda de  lotes na cidade pela prefeitura no prazo de noventa dias, conforme apresentadas pela C.I.T.L.A.

Mudanças no Exército
Nº 74 -1-4-57 – Comunico-vos que assumiu o comando do destacamento do Exército o 1º Tenente Amauri Frieze Cardese, substituindo assim o Tte. Albernaz, que completou os 90 dias estabelecidos. O novo comandante solicita móveis e utensílios para sua residência, visto ser casado e que trará a família esta semana. Não possuímos verba, solicitamos vossa interferência junto ao presidente a fim de autorizar a aquisição imediata do material pedido.

Uma resolução urgente para evitar derramamento de sangue
Nº 74 e 75 – Torna-se insustentável a situação nas cidades de Santo Antônio e Capanema, visto não ter chego nenhuma notícia sobre qualquer resolução das terras, quer por parte do I.N.I.C quer por parte do Conselho de Segurança Nacional. Os colonos, aproximadamente mais de duzentos e cinquenta, estão revoltados e poderão reagir a bala a qualquer investida concernente à medição das citadas terras nessa zona.
Somos da opinião que haja uma resolução urgente, definitiva e moralizadora para evitar derramamento de sangue entre colonos e pessoas da C.I.T.L.A.
Solicito-vos informar urgente se deve ou não consentir a medição das terras, pois assim esclarecerá a situação vexatória em que se depara esta administração.

Citla demarca e vende terras
Nº 76 e 77 – 1-4-57 – Sem receber qualquer notícia ansiosamente aguardada de acordo a vários entendimentos do Conselho Nacional, de V. Excia. ou desta administração, eis que neste intervalo a C.I.T.L.A. tem vendido e vem demarcando terras em quase todas as regiões fronteiriças e as escriturando normalmente. Para completar, o delegado João José Penso, que adquiriu terras dentro deste núcleo, na zona do Jaracatiá, o qual sua escritura está em mãos da procuradoria geral I.N.I.C. ou do Conselho Nacional, vem causando distúrbios na referida zona por questão de limites de área que anteriormente foi estabelecida pelos engenheiros que levantaram este perímetro.
E agora, a C.I.T.L.A. fez outro levantamento, desrespeitando assim os trabalhos topográficos minunciosamente feitos e já feitos pelo I.N.I.C.

Citla vende pinheiros e madeira de lei
Nº 90 e 91 – 2-4-57 – Com o número sempre crescente de escrituras entregues pela C.I.T.L.A. e os vários topógrafos trabalhando assiduamente nas regiões de Francisco Beltrão, Santo Antônio e Capanema, somos de opinião que qualquer resolução deverá ser tomada para dar conhecimento às centenas de colonos que vêm de longínquas regiões à procura de uma resolução definitiva.
Acabamos de saber que a C.I.T.L.A. iniciou venda de pinheiros e madeiras de lei da região de Santo Antônio, Capanema e aqui na subsede de Santa Rosa e Rio “14”.
Aguardamos instruções a respeito.

Tentativa de diálogo
Nº 83 – 5-4-57 – Ponderei ontem a V.S. que solicitasse ao nosso presidente, por portaria, minha ida às cidades de Barracão, Santo Antônio e Capanema a fim de tentar dialogar novamente, principalmente entre colonos e elementos da C.I.T.L.A onde poderá haver, a qualquer momento, conflito armado.

Barracão, Santo Antônio e Capanema
Nº 83 e 84 – 9-4-57 – Pela quarta vez atendemos aos reclames urgentes dos colonos nas regiões de Barracão, Santo Antônio e Capanema concernente à C.I.T.L.A.
Devido à gravidade da situação “de fato existente”, fomos em companhia do Comandante do Destacamento do Exército, com a autorização do Quartel General em Curitiba. Regressamos ontem e chegamos a uma única verdade: deverá ser solucionada de qualquer maneira esta questão, que há quinze anos vem paulatinamente se tornando insolúvel para atender a interesses obscuros. Ponderamos isto porque somos conhecedores da situação atual que poderá trazer graves consequências com o derramamento de sangue entre irmãos e sacrifícios de várias centenas de lares.
Com a nossa presença “in loco” os colonos ficaram mais calmos, mas tudo depende de como agirem as autoridades locais.

Morte de dois colonos
Nº 106 e 107 – Informações já confirmadas de que houve grande conflito armado entre agrimensores da C.I.T.L.A. e colonos, na região Capanema. O resultado foi de três feridos da C.I.T.L.A. e dois colonos mortos. Aguardo o quartel general em Curitiba para mandar instruções.
Ponderamos autorização de ida à região de beligerança, a fim de estudar o apaziguamento nesta zona, como já feito em Santo Antônio.

Turbações na zona do Iguaçu
Nº 115 – 3-5-57 – Futuras turbações estão sendo previstas na zona Iguaçu, onde a C.I.T.L.A. escriturou os nomes dos irmãos Nicula, Francisco e Pedro Ferreira Brandão; e os mesmos contrataram engenheiros para a medição das terras.
Nossos guardas-florestais, em companhia de vários colonos, estão dispostos a evitar a medição por meios pacíficos. Tendo em vista a necessidade do acampamento dos engenheiros, com a presença do Capitão Jasson e mais doze homens. Primeiro prejudicado será o soldado expedicionário José Ferreira Brasil certificado nº 01760 assinatura General Nelson de Mello.

Agitação no Jaracatiá
Nº 17 – 5-5-57 – Comunico-vos que situação nas terras da zona Jaracatiá agitou-se novamente. Lembro-vos com inconveniência que seja conseguida uma solução imediata para o caso, a fim de evitarmos fatos que poderão acarretar em uma repercussão bastante desagradável e que por certo afetará o bom nome dos serviços do DTC.
Lembro-vos, outrossim, que seja demarcada a área ocupada pelo Sr. Crescêncio Martins, conforme sugeri na ocasião em que tive a oportunidade de falar sobre o assunto com o diagnóstico Sr. Diretor.

Sete meses sem verbas
Nº 11 – 6-5-57 – Enfrentamos uma situação calaminosa, tendo em vista a falta de verba há sete meses. O comércio possui fornecedor pequeno e os funcionários estão sem crédito pessoal para o sustento de suas famílias. Aguardamos qualquer notícia a este respeito.

Entendimentos entre Cango e Exército
Nº 112 e 113 – 7-5-57 – Dos entendimentos mantidos entre esta administração e o Comandante de Destacamento Tte. Amaury acabaram de chegar a este núcleo, onde pernoitaram, os tenentes coronéis Edison Giordano e Med. Dr. Aristides Atayde Jer. Vindos Quartel General de Curitiba a fim de verificar “in loco” os dramáticos acontecimentos armados na região do “KM 35” em Capanema. Estamos empenhados em esforços para evitar novos derramamentos de sangue entre irmãos, tudo depende do impedimento das medições de terras e entregas de escrituras pela C.I.T.L.A.; o que achamos impossível, devido ser do conhecimento geral tais absurdos.

Intervenção federal
Nº 116 e 117 – 10-5-57 – De regresso à região de Capanema, realizamos outra reunião nesta administração, com a presença dos Tte. coronéis Dr. Aristide Ataydes Júnior e Edison Giordano Medeiros, capitães Ivonildo Dias da Rocha, Philinto José Braga Coelho e comandante do destacamento Tte. Amauri para idealizarmos uma fórmula ideal e ajustável ao momento atual, concernente aos conflitos armados neste núcleo.
Confirmamos o nosso ponto de vista há muito apresentado, inclusive na região do Conselho de Segurança Nacional: Intervenção Federal ou suspensão imediata das medições e entrega das escrituras em toda a área em letígio.
Fornecemos alguns dados solicitados pela Comissão do Exército de como pôr em execução tais medidas.

Nova campanha da Citla
Nº 121 – 13-5-57 – Levo ao vosso conhecimento que os compradores da C.I.T.L.A. iniciaram nova campanha que se alastrará por todo o território deste núcleo.
Assim, a firma “Três Irmãos Ltda” citou nosso colono Sebastião Hercílio e sua mulher para falar aos termos de uma “ação de manutenção de posse”, numa área compreendida de setecentos alqueires.
O juiz desta Comarca intimou os réus para assistir a audiência no dia 22 deste mês.
Ponderamos a vinda urgente do procurador ou autorização para contratar temporariamente trabalhos profissionais de um advogado para chamar a questão do I.N.I.C. 

Citla quer continuar medição de terras
Nº 132 E 133 – 16-5-57 – Acabam de chegar ao “KM 35” em Capanema 15 praças, 2 cabos e um sargento de Força Pública Estadual. Elementos da C.I.T.L.A. com o firme propósito de continuar a medição da área; lamentamos conflito armado; o que não condiz com o pensamento dos colonos. Confirmamos nosso ponto de vista: esta questão deverá ser solucionada de qualquer maneira para evitar o desaparecimento inglório de vidas precisosas de nossos irmãos. O Capitão Jasson afiançou ao comandante do destacamento Tte. Amaury que, pessoalmente, fará a medição naquela zona.

Assassinato do Pedrinho Barbeiro
Nº 128 – 23-5-57 – Por questão de terras vendidas pela C.I.T.L.A. na região do Baixo Verê acaba de ser assassinado o vereador e colono de Pato Branco.
Persistindo a medição e as escrituras das terras em toda esta região, dentro ou fora do núcleo, novos crimes impunes serão praticados e centenas de crianças ficarão órfãs sem qualquer amparo; propiciando ótimo clima de agitação de maior monta.

Resolução enérgica contra a Citla
Nº 130 – 29-5-57 – Com o mandado de segurança impetrado pela C.I.T.L.A. contra a comissão em que faz parte o Dr. João da Cruz Nascimento. É chegada a vez de que o I.N.I.C. tenha uma resolução enérgica, punitiva e imediata contra a C.I.T.L.A. proibindo definitivamente a sua turbação e impunidade, que têm sido as suas armas de ataque contra os colonos e administração.

Prefeito de Apucarana adquiriu terras atreavés da Citla
Nº 162 (153) – 25/6/57 – Fugindo os princípios básicos da decência e da ética administrativa, acabamos de saber que o prefeito de Apucarana adquiriu terras através da C.I.T.L.A. e invadiu a área deste núcleo mandando derrubar árvores para a montagem de uma serraria na Gleba do Herval. Segundo informações, já estando autorizado pelo Instituto do Pinho a derrubar 40.000 pinheiros em nosso núcleo e na zona que reservamos para ser explorada pelo I.N.I.C.; de acordo ao nosso plano para montagem da serraria sob base racional apresentado no ofício nº83 de 8/9/56 e remetido para essa chefia.
Continuamos nos batendo por uma medida moralizadora e de imediato efeito, pois, caso contrário, suspenderemos quaisquer serviços neste núcleo pelo motivo que a C.I.T.L.A. vem escriturando abertamente nossas terras conforme várias documentações enviadas a essa chefia.

Se não comprar, vendemos pra outro Ilmo Sr. Anibal Branco Lontra – Mun. Francisco Beltrão
Prezado Sr.

Tendo comparecido em nossos escritórios pessoas interessada em adquirir o lote em que V.S. se acha na posse, localizado em Lontra, o convidamos a entrar em entendimento com a nossa firma para aquisição desse lote e desejamos lhe dar preferência. Caso V.S. não se pronuncie até o dia 3 de junho ficaremos à vontade para efetivar a venda de lote citado a outro comprador interessado.

Novo comandante da unidade do Exército
Nº 188 (177) – 5/7/57 – Levo ao vosso conhecimento que acaba de chegar o novo comandante do Destacamento do Exército, cedendo neste núcleo o 1º Tenente Pedro Ivo Figueredo Campos.

Citla monta serraria no Km 16
Nº 192 (181) – 8/7/57 – Em conformidade com os inúmeros rádios redigidos para essa chefia, confirmamos que os elementos compradores de terras da C.I.T.L.A. já estão com os serviços de montagem da serraria no “Km 16” bastante adiantados e não aceitaram embargos administrativos.
Com esta exceção iniciam outra montagem na zona “Rio 14”. Somos de parecer pelo embargo no judiciário.

Major faz estudos
Nº 194 (183) – 9/7/57 – Comunico a V.S. a chegada a este núcleo do Major Paulo Miranda Leal proveniente do Estado Quartel General de Curitiba. Veio em missão de estudo da situação reinante nesta região.

Colonos pedem reação enérgica contra agressões sofridas
Nº 204 (193) – 15/7/57 – Peço fineza ao comunicar a Diretoria que recebemos sábado passado, nesta administração, uma comissão de oitenta homens que representavam colonos de diversos pontos deste núcleo, exigindo de nossa parte reação enérgica e imediata contra agressões sofridas ultimamente por parte das companhias que agem pela coação na venda de terras dentro deste núcleo.

Metralhadoras e armas de guerra
Nº 211 (200) – 22/7/57 – Ponderamos V.S. entrares em entendimento com o nosso presidente a fim de solicitar ao egrégio Conselho de Segurança Nacional ou à Comissão Especial da Faixa de Fronteira para o pelotão do Exército acantonado para que possa realizar uma campanha de desarmamento em massa; tendo em vista que até metralhadora e outras armas de guerra são usadas nesta região, para obrigarem os colonos a escriturarem as suas terras.
Os serviços de loteamentos e demarcação de terras dentro do núcleo por parte das companhias continuam acelerados em flagrantes desrespeitos às nossas ordens.

Espetáculo maravilhoso de neve
Nº 214 (203) – 24/7/57 – Assistimos a um espetáculo maravilhoso no  dia 20/7/57 com a caída de neve, e houve lugar que atingiu espessura de cinco centímetros.
Aguardamos resposta via rádio quanto a classifi…

Intimações da Citla
Nº 213 (202) – 24/7/57 – Várias centenas de colonos fichados e posseiros residentes neste núcleo vêm recebendo das firmas C.I.T.L.A.  a seguinte intimação:
Ilmo. Senhor.
Com a presente solicitamos suspender os roçados que V.Sa. está fazendo em terras pertencentes aos irmãos Brandão, terras estas que foram por eles mantidas e nesse local para eles demarcadas.
Estas terras não lhe pertencem, razão porque V.Sa. não tem direito a praticar desmatações, ou outro qualquer ato que onere ou venha onerar bens particulares titulados.
Caso V.Sa. não atenda esta ordem, seremos forçados a tomar providências judiciais ou policiais atinentes ao caso, responsabilizando V.Sa. por todas as despesas e danos causados. Sem mais, atenciosamente.
Como nenhuma medida foi tomada, por quem de direito, para sanar tais imoralidades, eis que os colonos, em massa, estão resolvendo o simples problema, escriturando as suas terras com as referidas firmas, para pelo menos ter o sossego de espírito e garantir a subsistência de suas famílias.
Confirmamos nosso ponto de vista: pela intervenção federal e congelamento de todos os serviços nesta área do núcleo; ou então a vinda de um diretor e de V.S. até aqui para fazer uma explanação aos colonos e verificar pessoalmente o ocorrido.

Risco de vida e intranquilidade familiar
Nº 217 (206) – 25/7/57 – Baseando-se nos graves acontecimentos que vêm se desenrolando neste núcleo, do conhecimento de todos, e como até a presente data nenhuma solução judicial ou do Conselho de Segurança Nacional foi tomada para pôr fim de uma vez por todas nestas anormalidades, eis que só estou aqui nesta chefia com os riscos de vida e intranquilidade familiar devido ao cumprimento fiel de compromisso que assumi com a V. Ecia., o qual abrange a defesa dos pobres e ultimamente espoliados colonos deste núcleo, que somam mais de seis mil. Entretanto, pondero a V. Ecia. que medidas enérgicas e moralizadoras sejam tomadas, mesmo, se possível, com a intervenção federal e cancelamento de todos os serviços nesta região já conflagrada.

Enchente leva ponte
Nº 235 (221) 2/-8-57 – Devido às chuvas torrenciais que ultimamente vêm castigando esta região, estamos completamente isolados das demais cidades vizinhas.
Ontem à noite, foi arrastada pela correnteza a ponte sobre o Rio Cotegipe. Todo o pessoal está trabalhando com assiduidade para evitar maiores danos a este núcleo.
A comissão que vem de Foz do Iguaçu ainda não chegou devido ao mau tempo.

É preciso reagir, a qualquer preço
Nº 240 (226 e 227) – 6/8/57 – Não é mais possível aos colonos deste núcleo sofrerem pacientemente as arbitrariedades das companhias, principalmente da Comercial. Torna-se necessária uma solução condigna com a tradição e decência administrativa do I.N.I.C. Resta-nos, unicamente, um conselho final que é para reagirem a qualquer preço. A administração deste núcleo vem sendo vigiada pelos comparsas da Companhia Comercial, por motivo de amparo legal e abertamente a favor dos colonos a posseiros deste núcleo.
Não fugiremos a esta responsabilidade e continuaremos na nossa linha de conduta, custe o que custar.

Colono espancado na delegacia
Nº 243 (230) – 6/8/57 – Acaba de ser espancado na delegacia de polícia o colono e expedicionário José Brasil, residente na zona do Iguaçu, por não querer passar a escritura de sua terra.
Iniciamos o processo junto ao Promotor Público desta comarca para responsabilizarem pseudos-policiais. 

Companhia efetiva de 150 homens
Nº 245 (232-233) – 7/8/57 – Tomamos conhecimento, por intermédio do comandante de destacamento do exército, a necessidade imediata para acantonamento de uma companhia efetiva de 150 homens neste núcleo.
Para tal, torna-se necessária nova autorização urgente e suplementar verba deste núcleo a fim de completar e efetuar reparos no pavilhão, casa etc.

18 mortes em Capanema?
Nº 241 (234) – 13/8/57 – Acusamos recebimento via rádio nº 231 de 7/8/57, discordamos das informações, tendo em vista, acabamos de saber que houve nove levantes na região de Capanema totalizando dezoito mortes.
Ainda não temos confirmação desta lastimável ocorrência.
Estamos dando ampla publicidade de julgamento ao Supremo Tribunal em toda região; com isto temos sido alvos de críticas por parte de interessados e ameaças físicas, como acabo de levar ao conhecimento do comandante do Destacamento do Exército.

Ocorrências de Capanema não confirmadas
Nº 259 (244) – 16/8/57 – Não foram confirmadas as ocorrências na cidade de Capanema; entretanto, as notícias vindas de lá são contraditórias e o prefeito dessa cidade continua aqui, aguardando melhores notícias para regressar.

Mudanças na unidade do Exército
Nº 264 (249) – 19/8/57 – Levo ao vosso conhecimento que acaba de chegar a este núcleo uma companhia completa de 20 R.I., que vem substituir o pelotão de 13 B.C. de Joinville. Assumiu o comando o capitão Cid. Camargo Prochno.

Alarmes não confirmados
Nº 282 (269 e 270) – 30/8/57 – Segui com destino às cidades de Barracão e Santo Antônio com intuito de saber o motivo das últimas notícias nessa região serem alarmantes, porém, sem confirmação até presente momento. Mas, com o fito evitar futuras turbações, irei pessoalmente e tudo procurarei fazer para manter a paz e o sossego de todas as famílias dessa sofredora zona, tão nossa conhecida, pelo palco dramático que vem vivendo.

Ambiente calmo
Nº 286 – 5/9/57 – O ambiente aqui está muito calmo e os boatos correntes é que haverá uma trégua de 180 dias para aguardar qualquer solução entre INIC x CITLA no Supremo Tribunal Federal.

Comércio paralisado
Nº 275 – 10/9/57 – Por motivo de questão de terras o comércio local está paralisado e, consequentemente, os nossos credores estão reclamando o recebimento da verba do 2º trimestre que está atrasada há quase seis meses. Ponderamos a vossa interferência junto aos nossos chefes para amenizar tal situação.

Mortes na fronteira
Nº 274 – 16/9/57 – Informações já confirmadas nos deram ciência de um verdadeiro massacre por parte de elementos ainda desconhecidos contra funcionários da firma Apucarana, com sede na região de Capanema, e outras pessoas alheias à questão de terras, resultando oito mortes. A citada firma e vendedora de terras,  na semana passada, morreu assassinado um chefe do escritório e outro funcionário ficou ferido a bala.
Com isto alertamos a todos que futuras turbações estão sendo esperadas nos próximos dias. Tentaremos convencer os elementos do Conselho Segurança Nacional a irem até Barracão, Santo Antônio e Capanema.
Assim, solicitamos desde já autorização por portaria a fim de acompanhá-los.

Intranquilidade em toda a região
Nº 296 – 18/9/57 – De acordo com nosso rádio nº 281 de 16/9/57, confirmamos que houve sete mortos e um ferido no atentado contra os elementos na Cia. Apucarana em Capanema.
O ambiente de toda região é o seguinte:
1) Cidade de Barracão, clima de expectativa.
2) Francisco Beltrão, os boatos vêm circulando em onda cada vez crescente e trazendo intranquilidade entre a população em geral.
3) Santo Antônio e Capanema, ambiente já turbado e com grande possibilidade de ascensão para a perturbação de ordem pública.
Há notícias ainda não confirmadas, e sabida por todas as autoridades desta cidade,  que localidade denominada de Pranchita foi tomada por elementos desconhecidos, bem como em ambas as cidades não entra nem sai ninguém.
Estas solicitações não têm fitos alarmistas, como apregoou alguém, mas sim a pura e sincera realidade do ambiente em que vivemos aqui.
Para confirmação disto, ponderamos a vinda urgente de um dos diretores para sentir e ocultar a verdade dos fatos.

O rádio divulgava também a Citla

É inquestionável o papel do rádio no desfecho da Revolta dos Posseiros em 1957, em Francisco Beltrão. A grande concentração dos dias 10 e 11 de outubro aconteceu na Praça Eduardo Virmond Suplicy, ao lado do prédio da Rádio Colméia. Foi lá que o secretário de Segurança Pinheiro Júnior nomeou dr. Walter Pécoits novo delegado da cidade, em substituição ao ex-prefeito Rubens da Silva Martins. E dr. Walter era o dono da emissora de rádio. 

Mas documentos da Cango mostram que, pelo menos antes da conflagração da Revolta, a emissora divulgou mensagens favoráveis à Citla, que desagradavam à Cango e aos posseiros.

Rádio conclama colonos a escriturarem suas terras
Nº 253 e 254 (240 e 241) – 14/8/57 – Solicitamos urgente remessa da cópia na íntegra do acordo do Supremo Tribunal Federal de 4/7/57 referente à escritura no processo CITLA para um melhor esclarecimento à população da região, que continua sendo explorada pelas companhias, criando confusão e agitação social acentuada.
Várias notas vêm sendo irradiadas a todo instante pelas companhias interessadas, conclamando os colonos para escriturarem suas terras.

Dois artigos patrocinados pela Citla
Nº 269 (254) – 21/8/57 – Ontem às 20:40 horas e hoje às 13 horas foram divulgados pela rádio local dois artigos sob patrocínio da CITLA em que todas as palavras preferidas fogem quaisquer veracidades possíveis, pois categoricamente as notícias enviadas por V. Excia., também acusam essa chefia de politiqueira e que luta para salvaguardar os vossos interesses financeiros e garantir o cargo que atualmente ocupais.
Ponderamos a V. Excia a enviar urgente um procurador deste instituto para dialogar aos colonos e povo da região e responder à altura as alegações desonestas do corpo jurídico da CITLA.

Posseiros armados em frente ao prédio 
da Rádio Colméia, na Praça Suplicy.

 

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