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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

A vez do Banco Central

Geral

Nesta semana o Banco Central do Brasil deve reduzir a taxa básica de juros – Selic – entre 0,25 e 0,5 ponto percentual. Pelo menos esta é a expectativa do mercado financeiro. A decisão, caso se concretize, parece acertada. Isso porque a economia dá sinais de que a taxa de juros se situa acima de onde deveria estar.

Vejamos alguns fundamentos. Em primeiro lugar, os indicadores de inflação revelam que os preços estão sob controle há vários meses. Por outro lado, o volume de recursos depositados em poupança é crescente, conforme dados do próprio Banco Central. Quanto à taxa Selic, após um período de quedas levado a cabo ao longo do ano de 2017, está mantida constante já há mais de um ano, conquanto a atividade econômica arrefecida.

Os indicadores de agregados monetários revelam que a base monetária (papel moeda em poder do público mais reservas bancárias), isto é, o total de dinheiro, a liquidez da economia, mantém-se estável nos últimos meses. Conforme a escola austríaca de economia, inflação é a emissão de moeda, que pode ser observada pelo comportamento da base monetária. Nesse sentido, o comportamento dos preços, quando em tendência de alta, revela-se apenas como um sintoma da inflação, o que não ocorre no momento.

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Consoante uma teoria monetária (difundida por Knut Wiksell no primeiro quarto do século passado), existe uma taxa de juros natural, ex ante, ou seja, aquela taxa de juros que os agentes econômicos utilizam quando permeados por um planejamento mais orientado para o futuro, voltando para o longo prazo, determinando o volume de recursos a serem despendidos com o consumo presente, e o quantum a ser poupado (oferta de crédito) e investido (demanda por crédito). Acontece que dificilmente a taxa de juros efetivamente praticada reflete a taxa natural. Assim, segundo a teoria, se por exemplo, a taxa de juros prevalecente está acima da taxa natural de juros, ocorre um descompasso no mercado monetário, de sorte que o volume de poupança não se equivale e se torna maior do que o volume de investimentos.

Acima, já citamos que os dados do Banco Central mostram que o volume de recursos em poupança vem aumentando sucessivamente desde o início do ano passado. Outrossim, é sabido, de acordo com o IBGE, que a taxa de investimentos do PIB segue em tendência de baixa, em torno de 15%, patamar muito aquém do necessário para impulsionar o crescimento econômico. Estes fatores, quando analisados em conjunto, permitem se concluir que, com efeito, a taxa de juros da economia brasileira está acima da taxa natural, provocando aumento nos depósitos em poupança, represando investimentos produtivos, reduzindo a liquidez imediata dos indivíduos, que por sua vez retêm a demanda agregada (consumo), mantendo a inflação sob controle.

Ocorre que o país continua flertando com a recessão. Desde 2014, o Brasil vive em crise. Nas ruas, basta parar um pouco e observar a quantidade crescente de mendigos, pedintes em semáforos, filas de desempregados, imóveis disponíveis para locação, empresas se recolhendo, vendo suas margens de lucro minguarem. Resta evidente que o país passa, a rigor, por processo de favelização, de pauperização acelerado, corolário da carência de investimentos, a despeito da disponibilidade de recursos em poupança.

Perante este cenário, de economia brasileira mancando, claudicando, manquitolando; economia minguada, judiada, um trapo velho de economia, é passada a hora de o Banco Central retomar a trajetória de redução da taxa básica de juros, a fim de estimular a economia nacional, exortando investimentos por enquanto engavetados. Consentânea medida neste momento delicado.

Douglas Paz, economista, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

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