Após 30 anos de rádio, Ademir Trombini está reiniciando uma nova etapa. Depois de ter galgado todos os degraus da radiodifusão – desde técnico de som até a direção geral de um grupo de três emissoras -, ele volta a se concentrar mais na apresentação do programa Show da Manhã, o noticiário e as coberturas do esporte.
A “volta às origens” lhe permite dedicar-se mais ao que ele mais gosta, que é trabalhar como comunicador, embora ainda mantenha atividades de empresário, tanto numa empresa de confecções que ele possui e administra junto com a esposa Neuza, como na locação de imóveis – é o caso da própria Rádio Independência, que está instalada num prédio de Trombini.
Essa carreira sempre ascendente e realizadora de Ademir Trombini começou cedo. Aos 11 anos ele já sabia o que é trabalhar na roça e iniciava uma atividade urbana, como auxiliar de eletricista. Foi seu desempenho nesta atividade que lhe valeu o convite para trabalhar na Rádio Independência, que estava para iniciar as atividades (hoje ele é o único que permanece na emissora desde sua inauguração, em 26 de abril de 1984).
Ademir nasceu em São Lourenço do Oeste (SC), dia 29 de abril de 1971, mas já aos 2 anos de idade mudou para Salto do Lontra, com seus pais Darci e Beatriz Túrmina Trombini. Ele é o mais velho dos três irmãos. Depois vem o Adelir (é caminhoneiro igual ao pai) e Andreia (falecida em acidente de trânsito, com 15 anos, em 1995).
Em 1990, Ademir casou com Neuza Balas, com quem tem duas filhas: Cíntia, que em 2013 concluiu Medicina Veterinária na Unisep de Dois Vizinhos (a formatura é dias 24 e 25 deste mês), e Caroline, que neste ano inicia o curso de Direito na Unipar de Francisco Beltrão.
Ademir estudou até concluir o segundo grau em Salto do Lontra. Depois cursou Gestão Mercadológica na Unisep de Dois Vizinhos.
Em 2001, ele arrendou, do ex-prefeito Neri Maria, a Rádio Independência. Foi no seu período que surgiram também as emissoras Cultura (comunitária), em 2006, e Tropical (FM) em 2010. Em 31 de dezembro de 2013, encerrou-se o contrato de arrendamento, Roberto Manfroi Maria (filho de Neri Maria) assumiu a direção das emissoras e Ademir voltou a dedicar-se mais ao microfone (ocupação que nunca abandonou). Ele também faz assessoria de imprensa para a Prefeitura de Nova Esperança do Sudoeste.
Foi num intervalo entre o Show da Manhã, que encerra às 10 horas, e a Resenha Esportiva das 11:30 que Ademir recebeu o Jornal de Beltrão para esta entrevista.
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Ademir Trombini apresentando o Show da Manhã, antes de conceder esta entrevista. |
JdeB – Você, pode-se dizer, é totalmente lontrense?
Ademir – Só nasci em Santa Catarina, vim pra cá tinha quase 2 anos.
Começou a estudar e trabalhar aqui.
Tenho uma identificação bem afinada com a cidade, com as pessoas, com tudo.
E você começou cedo. Como é que foi a sua vida profissional?
Desde menino já no batente. Tem até umas coisas bem interessantes, a faixa dos 9, 10 anos de idade. A gente tinha os nossos vizinhos de porta que sempre foram pessoas muito queridas da família, os Canini, e o Ângelo Canini tinha propriedades, era a época forte do feijão e a gente ia junto com o pessoal arrancar o feijão, tipo boia-fria mesmo. Tinha que aprender as coisas, tinha que ter uma noção de tudo que era a realidade, como era o mundo. O pai caminhoneiro, sempre na estrada; a mãe servente do colégio, a gente tinha que seguir os caminhos. Eu acho que foram experiências assim que abriram as portas. Depois teve a fase de outro vizinho nosso, seu Juvenal Vieira Trindade, eletricista, conhecido em Salto do Lontra, comecei como ajudante dele. Eu que carregava as ferramentas, segurava a escada, e foi graças ao trabalho dele, quando ele foi chamado pra fazer uma instalação elétrica na rádio, que eu estava junto.
Como foi aquele dia que o Roque Ferreira convidou você pra trabalhar na rádio?
Foi interessante porque, menino, 11 anos, estava todo sujo, porque a gente tinha ido cortar uma parede pra fazer a tubulação da fiação, conforme o projeto técnico, e ele me viu naquela situação, tinha algumas caixinhas dessa tubulação da parte elétrica e ele achou interessante, pra mim, uma criança na época, que tive a percepção de que eu podia ajustar aquela caixinha sem que tivesse que comprar uma outra. Aquele dia ele me falou “você parece ser um menino inteligente, tem percepção. Você não gostaria de trabalhar na rádio?” Já deu aquele frio embaixo da costela, e a partir daí aconteceu.
Você decidiu na hora?
Olha, pra mim, como decisão pessoal, a partir daquele momento eu já me via dentro daquela estrutura, mas claro que tinha que ver a aprovação do pai, tinha meu compromisso com o Juvenal, tava trabalhando com ele. Passou a ser um sonho, tava realmente entusiasmado com a ideia e tanto que foi mais pela minha vontade do que pelo próprio apoio, já acabei confirmando, lá no final de 1983, e no dia 1º de fevereiro de 1984 eu me apresentei lá. Seu Antônio Roque Ferreira, que era quem seria o diretor da rádio. Onde foi instalada a rádio, do lado funcionava o depósito de bebidas da família Santin. Lembro até hoje que eu cheguei sete da manhã e o seu Acácio Santin e o Ademar estavam lá no depósito de bebidas, eu esperei e o Roque chegou às onze horas. A partir daquele dia ele já me cedeu uma chave da porta do escritório. A minha função era atender o telefone, prestar as primeiras informações, anotar os recados pra ele, porque depois disso que começaram chegar os equipamentos e só no dia 26 de abril de 84 que foi ao ar.
Quando entrou no ar você começou fazendo o quê?
Nós aprendemos primeiro a parte técnica. Éramos o Admilson Nazário Mensor (hoje na Rádio Onda Sul), o Sérgio Lussi e eu, os três técnicos selecionados, que seriam os sonoplastas da rádio quando iniciou. A partir daquele dia nós tínhamos o Edson, filho do G. Gomes, ele veio simplesmente pra ser o nosso instrutor. A rádio já tinha ficado mais de 30 dias em caráter experimental e a partir daquele dia nós passamos a fazer a parte técnica, eu fazia um horário da parte da técnica e fazia outro horário como office boy, ajudava a atender a recepção, fazia as coisas que precisava fazer na cidade. A gente estava tão entusiasmado com aquele negócio, era tão novo, tão especial pra gente, que não importava se ficasse sábado, domingo, a gente queria mais estar lá dentro da rádio. No horário da folga a gente ia lá fazer companhia pro companheiro que tava trabalhando.
Mais tarde você teve outras experiências profissionais, mas não gostou, voltou sempre pro rádio?
Depois de um período, em 88, parecia que precisava experimentar alguma coisa diferente. Tive uma oportunidade com o seu Nelson Veronesi, no cartório. Eu tinha um horário bem interessante, oito e meia às onze, da uma às cinco, segunda a sexta. Mas acabei não me adaptando. Voltei, inclusive fazia programa de final de semana só na rádio e passei mais alguns meses na Camdul, foi uma casa que aprendi bastante lá também, coisas diferentes. Não me arrependo de ter feito isso porque acabei voltando pra aquilo que realmente sentia que era parte de mim. Esse é o meu lugar, essa é minha essência, é aqui que eu quero estar.
Ainda na parte de formação, você fez a faculdade depois que trabalhava.
Fiz o caminho normal, o primário, o ginásio e depois o segundo grau aqui no Colégio Irmã Maria Margarida. No último ano eu já estava casado, casei em 1990, com 19 anos de idade, fui pai novo também, com 21 anos, e então isso acabou me desestimulando um pouquinho, acabei por terminar o segundo grau no tal de supletivo. Eu ia a Francisco Beltrão. Depois, já em 2004, que a gente foi buscar a formação do terceiro grau, junto com a Neuza, o casal ia na Unisep pra fazer o curso de Gestão Mercadológica, que também foi um momento bem diferenciado, nos abriu a visão para muitas coisas e serviu muito para o nosso lado profissional.
Quando é que você começou com a locução?
Logo. Em 84 a gente iniciou as transmissões da rádio e depois disso a rádio começou a passar por uma série de transições. Em 87, eu já fazia programas, com 16 anos já estava começando a fazer, inclusive um quadro que faço até hoje, que é o Show da Manhã. Em 90 comecei a transmitir futebol.
E a transmissão de futebol foi uma vontade sua ou uma necessidade da emissora?
Eu acho que as duas coisas. Em 1990 nós tínhamos a Copa do Mundo e o Vitório Dário era nosso diretor. Ele, até por uma conversa de amigos com o Luiz Carlos Gotardi e o nosso juiz da comarca, o dr. Marcelo Gôndola, estava aqui, conversaram “vamos fazer a transmissão da Copa do Mundo em cadeia com uma grande emissora e a gente faz nos intervalos os comentários”. A Independência fez parte da rede da Paiquerê de Londrina, em 90, transmitiu jogos, com bastante dificuldade técnica. O Vitório Dário, o Luiz Carlos e o dr. Marcelo faziam os comentários, antes, no meio do jogo e no fim, e eu era o técnico de som, então começaram as conversas e eu acabei comentando que tinha vontade de aprender a transmitir futebol. Eu já tinha feito, uns dois anos, reportagens de campo pro Maronez da Silva, hoje comunicador da Rádio Pérola, eu me espelhava muito nessa parte da transmissão dele e o Luiz Carlos Gotardi que me ensinou. “E se a gente conversar com o Vitório e formar uma equipe esportiva aqui, a gente faz parte da equipe pra você, você não arrisca narrar, transmitir?” Acabei aceitando, formamos lá: o Trombini narrador, o Luiz Carlos era repórter, o dr. Marcelo no começo fazia plantão de estúdios pra gente, depois surgiu o Valdo Dário, o Ciço.
O juiz fazia plantão?
Fazia plantão, gostava, ele era uma pessoa assim, nessa interação social, muito dado com a população. Daí veio o Valdo Dário, o Ciço, a gente começava aprender mesmo a transmitir o futebol suíço. Os colegas da Camdul tinham um time e fizeram um torneio de futebol suíço, e pra servir como experiência a gente foi lá transmitir. Até por ser campo curto, é muito mais veloz o futebol suíço, a exemplo do salão, e aquilo serviu pra dar agilidade à coisa. Disso aí, depois, surgiu o campeonato municipal de futebol de campo, isso em 1990. Hoje a gente tem a alegria de ter na rádio três equipes esportivas.
Na transmissão de jogos, o Galvão Bueno fala que o gol que ele gosta de narrar é do Brasil, e o gol que menos gosta é da Argentina. E você, qual é o gol que mais gosta de narrar e o que menos gosta?
Eu gosto de narrar o gol da equipe que eu acompanho, eu acho que não há como a gente não ser bairrista. Lembro quando fiz uma parceria com os amigos de Francisco Beltrão, com o Baggio, com o Claudiney da Rádio Educadora, claro que você tem que fazer o seu lado profissional, mas aquele ouvinte que está te acompanhando, ele tá torcendo pra uma dessas equipes, então não há como a gente ir lá acompanhar a equipe do Esperança e não ser bairrista com Nova Esperança, não há como acompanhar Salto do Lontra e não ser bairrista. Por exemplo, você vai transmitir um Gre-Nal, a tua torcida tá dividida, teu patrocinador tá dividido, aí você esquece pra quem torce e vamos fazer o jogo.
E Copa do Mundo, qual o seu palpite?
Temos que torcer para o nosso Brasil, não há como não torcer, e além de torcer pelo nosso Brasil futebol, nós temos que torcer para o nosso Brasil estrutura, nós não podemos apostar que a gente vai fazer feio, nós temos que apostar que vamos fazer bonito e que, na pior das hipóteses, aquilo que nós temos como deficiência no nosso país, a Copa do Mundo sirva pra que sejam minimizados esses problemas. Agora, no lado do futebol, eu acho que o Felipão foi a escolha certa, precisava desse pulso firme e eu acredito muito na nossa seleção brasileira.
Chute um jogo final e o placar.
Hoje não tem como não falar, você viu uma Espanha aí tão firme. Mas eu como italiano, então, gostaria de ver um Brasil e Itália de novo.
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Ademir Trombini com a esposa, Neuza, em evento social no ano de 2011. |
De tantos gols que você narrou, qual deles você gosta mais de lembrar? Qual o mais bonito?
Olha, são tantos… Nós tivemos recentemente o Salto do Lontra sendo campeão regional, eu acho que essa conquista foi um dos momentos gratificantes pra mim. Eu dizia na transmissão final em Pérola D’Oeste, eu já tinha transmitido o Tarumã campeão, já tinha transmitido o Esperança campeão, já tinha feito jogos fantásticos com Francisco Beltrão, transmitindo pra nós ou lá pra Educadora, sempre coisas muito emocionantes, muito marcantes. Mas ver o Salto do Lontra ser campeão foi especial, ver a conquista, a chegada na cidade, a maneira que o time foi recebido, as pessoas vindo nos abraçar. É um sentimento muito diferente, as pessoas grudadas no rádio ali e vivendo aquilo que a gente tava falando, aquela emoção que a gente passava no rádio, futebol é isso, a essência da transmissão do futebol é emoção. Quando a gente fez a Copa do Brasil, do Grêmio e Corinthians, o primeiro jogo foi em São Paulo, foi um momento muito especial na minha vida, 95 foi um ano em que eu perdi a minha irmã, com 15 anos de idade, aquele ano marca um momento de tristeza, mas como realização profissional. Foi o ano que eu também ganhei uma projeção regional, porque eu fui convidado pelo Bággio, pra gente fazer uma parceria e transmitir os dois jogos da Copa do Brasil. Nós tínhamos uma solicitação de linha confirmada para Porto Alegre e o Baggio tinha confirmado pra São Paulo, então o Baggio nos proporcionou uma parceria, ele falou pra mim “você vai comigo pra São Paulo, faz reportagem pra mim, fazemos dobradinha das emissoras Princesa e Independência e no jogo da volta, em Porto Alegre, você leva o Itamar José como repórter e fazemos dobradinha”. Foi muito interessante e o jogo da volta, inclusive, o próprio Jornal de Beltrão, a divulgação das emissoras que estavam lá, 76 emissoras de rádio em Porto Alegre, nós dividimos cabine com a Globo, foi um fato pitoresco. Quando a gente chegou lá, o moço da CRT falou “a cabine de vocês é a 19”. “Ah não, tranquilo.” “Ó, mas como tem muita emissora, vocês vão ter que dividir cabine.” “Mas a gente é acostumado, na nossa região nem cabine não tinha pra transmitir, transmite de qualquer lugar”, mas por curiosidade eu perguntei “com que emissora a gente divide cabine?” Ele falou “com a Globo”. Falei “o quê? Com a Globo, que Globo?” “Globo São Paulo.” Eu quase quis vir pra casa. Lembro até hoje a nossa equipe que estava lá “vamos usar só um cantinho, que esse pessoal deve montar um transmissor aqui dentro desse negócio”. Que nada, quando chegou o pessoal lá, tudo é a mesma coisa.
Você se formou meio por conta. Como é que você se tornou um dos mais conceituados narradores de esporte aqui do Sudoeste?
Coisa que você só aprende fazendo e aproveitando as oportunidades. A partir do momento que eu comecei a transmitir futebol, se precisasse fazer futebol todos os dias, a gente fazia todos os dias, era salão, futebol suíço, futebol de campo, pra ganhar agilidade e poder criar um repertório que te permita alguns chavões, e você acaba criando uma característica que parece que aquilo é parte de você e não sai mais.
E os ouvintes interagem contigo, dizem gostei disso, gostei daquilo?
Com certeza, o ouvinte dá uns toques pra gente, umas coisas às vezes que repetia demais ou que faltava informar, o ouvinte “ó, vocês demoram muito pra dizer quanto é que está o jogo, qual o tempo do jogo e tal”. Você vai criando essa interação e vai ajustando a sua transmissão. Quando você faz um campeonato municipal, a qualidade do jogo é uma, ele até te obriga a ter um pouco mais de repertório, e quando você pega um jogo profissionalizado, ele deslancha. Nós temos que chegar, instalar o equipamento, ser meio técnico, meio de tudo um pouco, esses pode ter certeza que são diferenciados. A gente vive numa região que tem um leque de profissionais, uma escola muito boa pra questão do esporte.
São 30 anos de rádio e você continua no domingo à tarde fazendo suas transmissões. Não pensa em se aposentar dessa parte?
Acho que não. Uma das situações que o rádio nos permite é isso aí. Eu tenho o privilégio, Deus me deu essa alegria, que eu posso estar com 60 ou 70 anos e poder estar fazendo isso. Todos os profissionais que nós temos na região, se pegar o Matiello em Pato Branco, está aí firme e forte, dentro da sua característica, respeitado em toda a região, então por que a gente não pode? Fazer o esporte é uma realização pra mim, fazer aquele horário da oração que eu faço todos os dias, às nove horas da manhã, com a participação dos padres… Aquilo me dá satisfação, porque eu costumo dizer que ninguém vai pedir uma oração pra que o outro vá mal na vida. E fazer comunicação de modo geral, apresentar eventos, poder fazer parte desses momentos, inclusive da nossa história regional, apresentar uma posse de prefeito, são coisas que ficam marcadas pra você, você participar da inauguração de uma grande obra, você é o cerimonial, você está fazendo parte daquele contexto, é o que nos motiva pra continuar. Eu consegui ser office boy, técnico de som, comunicador, chegar a gerente, transitar entre radialista e radiodifusor, hoje, graças a todo o incentivo e apoio do Neri Maria e à confiança que ele sempre deu pra gente, poder ser até sócio dos meios de comunicação aqui, da Rádio Cultura e da Rádio Tropical, mas sempre que me perguntar “o que você é?” Eu sou radialista. Sempre usei a carteira de identificação como radialista.
Como você vê a diferença do radialista e do radiodifusor?
Eu acho que quando você consegue unir as duas coisas é muito bom. Eu vejo, por exemplo, quem é só radiodifusor, ele tem aquilo como investimento, uma empresa. Mas quando é o radialista que assume essa postura, não há como separar essa postura da necessidade. Às vezes é um microfone a mais que você quer, é um fone de ouvido diferente que você quer. Se é o radiodifusor apenas como radiodifusor, ele pode olhar e dizer “não, esse fone de ouvido aqui é bom”, mas o radialista “esse fone de ouvido não é legal pro meu ouvido”, você poder associar as duas coisas também é importante. Eu nunca deixei de lado a minha essência, acho que a pessoa que esqueceu isso, seja no lado profissional ou na vida, não vai ter sucesso muito tempo. Eu comecei como radialista, passei a ter a condição de radiodifusor e hoje eu estou de volta à minha essência de ser radialista. Hoje as rádios têm uma nova direção, vem uma nova geração que vai poder trazer ideias novas. Eu acho que a família é fundamental, então a Neuza sempre esteve comigo, foi essencial pra chegar nesse momento e dizer “tô realizado? Tô”. Tenho sonhos? Sempre você precisa sonhar pra ter o que realizar. Hoje eu prefiro trocar isso por desejos, desejo de fazer isso, desejo de fazer aquilo, e sinto que tenho condições de fazer e posso fazer, baseado naquilo que eu já plantei.
Você se formou profissional aqui em Salto do Lontra e outros já se formaram aqui nesses anos todos, tem a experiência também de profissionais que vieram de fora. Qual foi a maior experiência que vocês tiveram?
A gente tem que aprender a buscar o lado bom das coisas. Eu acho que todos eles trouxeram algo diferenciado. Se eu fosse formado só aqui, ia me faltar, com certeza, um exemplo daqueles que passaram por outros tantos lugares, quantos meios de comunicação, quantas regiões… No esporte sempre usei muito como referência a escola paulista, Osmar Santos, depois Oscar Ulisses, Ulisses Costa, entre tantos outros, mas nós temos uma referência regional aqui muito forte do Rio Grande do Sul, pela nossa colonização. É muito diferente você ouvir uma transmissão da Gaúcha, da Guaíba e ouvir uma transmissão da Globo, da Rádio Bandeirantes. O que me atrai mais nessa escola paulista é a produção, elas são mais cheias, elas cativam mais, chamam mais a atenção, mas você poder absorver conhecimentos dos outros é fundamental. E eu acho que tem muita gente importante que passou por aqui que nos ensinou. Quando trabalhava lá com o Maronez, que fazia a parte de esporte com ele, com o Roque Ferreira, tanta gente que passou por aqui pela Independência, depois tivemos uma base diferenciada pelo pessoal que passou pela FM, então, tudo isso é aprendizado, você cria uma gama de conhecimentos que só favorece o teu trabalho. Nessa relação da comunicação, primeiro tem que existir um respeito muito grande com o teu ouvinte, não há como ser diferente, toda vez que eu começo um horário, seja qual for, eu me imagino batendo na porta da casa dele e ele dizendo “você pode entrar, você é bem-vindo na minha casa”, então eu não posso estar visitando alguém se não estiver lá com muito respeito, se eu não estiver agradando aquela pessoa, porque se eu tiver desagradando, ela vai usar a simpatia de virar a vassoura atrás da porta pra que eu saia logo.
Mas os profissionais da emissora que mais deram certo parece que são os daqui mesmo.
É, com certeza, hoje a gente tem a equipe formada aqui, muito afinada e muito identificada com o lugar. Até por sermos uma cidade menor, em relação a outras da nossa região, não é tão diferente de Francisco Beltrão, Pato Branco, Dois Vizinhos, que são nossos polos regionais aqui, o que ocorre? Aquele que é o nosso sustento, que é a razão do nosso trabalho, o nosso ouvinte, ele passa a conhecer essas pessoas, então acaba criando uma relação, facilita muito até a questão que você precisa comercializar determinados produtos. Então, de repente, o cliente x é mais identificado comigo, mas o cliente y é identificado com o Wesley ou com o João Carlos, isso facilita que você consiga fazer um apanhado geral. O exemplo de Salto do Lontra, três emissoras de rádio pra 14 mil habitantes, se bem que nós temos uma praça extra que é Nova Esperança do Sudoeste, mas falando na questão mais empresarial, questão radiodifusor, não é fácil você manter essa estrutura toda, fazer ela funcionar e fazer ser rentável também.
Acontece muito seguido de as pessoas bem visadas como você serem convidadas pra participar da política. Qual é o risco que existe de o setor de comunicação perder o Ademir Trombini para a política?
Eu acho que você ser lembrado em qualquer circunstância é sempre gratificante. Eu me considero um ser bem adaptável, então vamos lá, vamos fazer o que tem que ser feito, mas nessa questão política, também vejo que, até por tanto tempo no meio de comunicação, sempre acompanhando, eu sou assessor de imprensa do prefeito Jair Stange, lá de Nova Esperança do Sudoeste, eu sou assessor de imprensa da Câmara de Vereadores de Nova Esperança, exemplo do que o Wesley é aqui em Salto do Lontra. Quando a gente é chamado pra diretoria da igreja, diretoria da Apae, diretoria do clube, diretoria do Rotary, as coisas que a gente faz na sua comunidade, já pensou se todo mundo dissesse que não? Então tem que existir as pessoas que fazem, existe aqueles que patrocinam, aqueles que bancam e existem aqueles que trabalham. Esse é o contexto que eu vejo na questão política, mas hoje não faz parte do meu projeto de vida.
O que você observa das pessoas que continuam em Salto do Lontra ou pensam em sair daqui? Quais são as características desse município?
A nossa região tem uma característica muito acolhedora, que eu via isso pela questão das pessoas que vinham trabalhar na rádio com a gente. O povo é acolhedor, existe essa coisa do afeto, do carinho, é interessante, você chega na cidade hoje, daqui uma semana você já está jogando bola, já está participando do encontro das famílias, já é convidado para o almoço e aí vai. E não é só em Salto do Lontra, se você falar com as pessoas da região, com certeza, é uma característica de qualidade de vida, as pessoas saem daqui e vão pra Mato Grosso ou pra Rondônia, são desbravadores, verdadeiros heróis, mas se elas tiverem a oportunidade de voltar, dentro de uma qualidade de vida já diferenciada, elas voltam. Nós podemos sair de Salto do Lontra, fazer 50 quilômetros e estar em Francisco Beltrão, tendo acesso a saúde diferenciada, bons restaurantes, algumas lojas diferenciadas. Com certeza aqueles que estão lá em Francisco Beltrão e vêm buscar uma tranquilidade aqui no lago do Iguaçu, pra estar ali perto da natureza, um clima diferente. Tantas pessoas nós encontramos nesse vai e vem, tentam deixar essa vida corrida, estressada e ter um dia de sossego. Então é importante que as cidades se desenvolvam, mas que isso cresça de forma ordenada, o desafio dos administradores públicos, poder fazer com que a estrutura acompanhe todo esse crescimento sem perder a qualidade de vida.