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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Adversários sim, inimigos jamais: é possível viver em harmonia com opositores

 

Edianês e Alaércio estão juntos há 11 anos.
Por causa da política, romance quase acabou. Hoje está tudo bem. 

 

Para muitos políticos conservadores (ou primários?), estabelecer amizade ou um bom relacionamento com membros de grupos opositores vai contra seus princípios e, na maioria das vezes, eles agem como verdadeiros inimigos mortais.

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Em contraponto, se percebem as virtudes da democracia quando esta permite que todos se manifestem e exponham (ou pelo menos deveriam expor) suas ideias sem represálias. Diante dessa possibilidade, muitos opositores convivem em harmonia, muitas vezes tendo fortes vínculos familiares. 

Um bom caso encontrado no Sudoeste do Paraná para exemplificar esta convivência harmoniosa entre ‘rivais’ políticos é de uma família de Enéas Marques. O servidor público Luci Honório Borges Menin, de 51 anos, atua em seu quinto mandato como vereador, pelo PMDB, e pela quarta vez, é o presidente do Poder Legislativo no município. 

Nestes 18 anos como vereador, Luci garante que teve a oportunidade de se deparar com inúmeras situações e adquirir uma rica experiência na Câmara. “Sempre busquei trabalhar pelo melhor para a comunidade. É preciso adotar uma postura firme e priorizar o que é público, o benefício para a população em geral, e este posicionamento independentemente do grupo que você pertence”, aponta. 

Casado com Iraci, tem três filhos: Edianês, de 26 anos, Débora, de 16, e Eduardo, de 11. E uma situação enfrentada pela família poderia, quem sabe, ter estourado uma verdadeira guerra se ocorresse com outros protagonistas. A filha mais velha, Edianês, namora o jovem Alaércio Dalbelo há 11 anos e, no último pleito, em 2012, o ele se candidatou a vereador pelo PSDB, partido de oposição ao grupo político de seu futuro sogro, e foi eleito com 261 votos. Apesar de tudo estar bem atualmente, o casal revela que, na época, teve de enfrentar um período complicado.  

“Enéas Marques está em paz de novo”
É claro que o pai, Luci, ficou sabendo da candidatura de Alaércio muito antes de Edianês. Porém, ele garante que, desde que soube, jamais se opôs e muito menos pressionou a filha. “Tento sempre separar as coisas. Eu já sabia que ele era vinculado a outro grupo, acabou disputando a eleição e se elegeu. Faço meu trabalho, ele faz o dele, tentando sempre separar política e família. Saímos juntos nas festas, participamos de eventos e tudo na perfeita tranquilidade”, comenta Luci.

Alaércio lembra que, em anos anteriores, o pleito eleitoral era muito disputado no município, com intensa rivalidade entre os grupos, e essa foi a maior barreira que enfrentaram. “Quando saímos para candidatos, um de cada lado, o comentário foi muito grande, sobre como seria lá na câmara, como iriam se comportar, porque antes era muito dividido. Gera expectativa sobre como vai ser o comportamento, até hoje tecem comentários sobre o assunto. Mas deu tudo certo, nos elegemos e foi tudo normal. 

Na Câmara, são cinco de um lado e quatro de outro, mas até hoje os projetos que vão beneficiar a comunidade são aprovados. Enéas Marques está politicamente em paz de novo”, frisa o jovem legislador. O que mais motivou Alaércio a disputar o pleito foram questões familiares. “Meus pais viviam aqui, hoje estão no Mato Grosso. Meu pai tentou algumas vezes na política, mas confiou nas pessoas erradas e levou algumas rasteiras na vida. Ele era um cara bem visto na comunidade, e eu quis mostrar que a gente tinha condições de fazer um bom trabalho. E a Câmara tem feito um bom trabalho. Lá a gente procura avaliar o que é melhor para o município e os projetos, ou todos votam sim, ou todos votam não, é todo mundo junto”, conta. 

Eleito e ‘quase’ solteiro
Para Edianês, o período não foi nada fácil. “Teve uns atritos, sim, ficamos vários dias sem nos falar. Para mim não foi fácil, aqui [em Eneas Marques] era bem complicada a convivência; era muito disputado, não havia respeito um com o outro [grupo político], tinha muita provocação, e não foi fácil aceitar. Depois foi passando e nos entendemos novamente”, revela Edianês. 

A jovem conta que em nenhum momento houve pressão familiar. “Sempre me deixaram livre para escolha, mas havia provocação na comunidade, acredito que a intenção era essa, provocar intriga entre nós. Algumas pessoas não aceitaram bem a ideia”, recorda-se. E o pai completa: “Para alguns, seria impossível uma convivência destas, mas, se souber estipular dimensão da função pública e atender os princípios com os devidos limites, isso possibilita uma convivência tranquilamente”, pontua Luci.

E foi na hora da urna que o bicho pegou. “Na hora de votar foi difícil. O coração fica dividido, não dá pra fazer campanha pra nenhum. É uma situação bem difícil mesmo. No período da campanha é melhor não se envolver, prefiro assim, afinal, são duas pessoas que fazem parte da minha vida, e quero ter este bom relacionamento sempre, com os dois. Melhor não manifestar muito a opinião, é o melhor caminho”, conta Edianês. Para a próxima eleição, em 2016, nenhum dos dois, Luci e Alaércio, decidiu se vai disputar novamente, e Edianês preferiu não se manifestar, por enquanto. “Quando tiver uma nova situação destas a gente conversa”, brinca.

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