
Assim estava o campo de futebol do complexo Arrudão, ontem à noite.
O rio Marrecas sobe e represa o Lonqueador.
O beltronense Nilmar Danielli, morador da Rua Dom Pedro 1º, no bairro São Miguel, está cansado de carregar os móveis para o andar de cima do sobrado onde mora toda vez que o tempo ameaça chover. No ano passado a água entrou quase um metro dentro de sua casa e muitos móveis se perderam. Ontem,15, com o córrego Progresso saindo novamente fora do leito, ele estava apreensivo. “Todo ano é isso aí, limparam o rio com dragagem, mas acho que o que acontece é que não vence escoar embaixo da ponte e represa.”
Ele lembra de casos de muitas famílias que perderam tudo na última enchente e agora quando estão se recuperando surge nova ameaça. “Estamos pensando em nos mudar, vamos ver o que acontece.” O drama dele é o mesmo de centenas de beltronenses quando os alagamentos castigam a cidade.

As equipes da Prefeitura e da Defesa Civil percorreram diversos bairros nesta quarta-feira, com caminhões e furgões, para retirar os pertences das famílias que residem em área de risco. A secretária de Assistência Social, Ana Lúcia Manfrói, informou que toda estrutura da prefeitura está à disposição da população, principalmente os veículos para transporte de mudanças.
Quem precisar de apoio deve entrar em contato com o Corpo de Bombeiros, através do telefone 193. Doações de alimentos e material de limpeza podem ser levadas na secretaria de Assistência Social, na Rua Octaviano Teixeira dos Santos, centro. A Prefeitura de Francisco Beltrão abriu uma conta bancária (agência 601, operação 006, conta 428-2- Caixa Econômica Federal) para quem quiser colaborar com as vítimas do tornado.
O excesso de chuvas dos últimos dias provocou alagamentos e os pontos mais afetados foram atrás do ginásio de esportes Arrudão, onde o Rio Lonqueador saiu fora da caixa, e no Córrego Progresso, próximo ao Corpo de Bombeiros. A estação meteorológica do Iapar registra a média histórica para o mês de julho de 130 milímetros, mas somente nos últimos oito dias, já choveu 238 milímetros no município (veja matéria ao lado).
O Rio Marrecas subiu mais de três metros além do nível normal e só estabilizou à tarde. O capitão Ericksen Mafra, subcomandante do Corpo de Bombeiros, disse que a água subia com maior intensidade durante a madrugada, cerca de 10 centímetros por hora. Porém, os órgãos de segurança continuam em alerta porque a previsão até sexta-feira é de mais 70 mm de chuva. Até ontem à tarde, 16 famílias tinham sido retiradas dos bairros São Miguel, Vila Nova, Sadia, Marrecas, Luter King e Cantelmo, e levadas para abrigos comunitários, no total de 50 pessoas.
Os aluguéis mais baratos hoje em Francisco Beltrão são de imóveis ribeirinhos. Com o tempo, as edificações foram avançando sobre a margem e se tornaram alvos fáceis dos alagamentos. Quem não pode pagar acaba tendo que se sujeitar às áreas alagadiças. Jorge de Oliveira morava no conjunto habitacional Adolfina Scheid, no bairro Pinheirão, no ano passado quando 19 casas foram alagadas. A obra foi projetada por um engenheiro, vistoriada e mesmo assim liberada em um terreno que alagava. O impasse ainda perdura.
A prefeitura paga para as famílias um aluguel social de R$ 480,00. Só que para morar ao lado do rio, Jorge ainda tem que complementar com dinheiro do bolso porque o valor é insuficiente. “Estamos morando aqui faz um mês e garantiram que a água não chega em cima (ele mora no segundo piso com a família), mas disseram que já deixou famílias ilhadas sem poder sair de casa. Já levei meu carro para bem longe para não correr o risco da água subir à noite.” As famílias pegaram um advogado e estão acionando a prefeitura e o banco por danos morais e materiais. As casas serão construídas em um novo terreno, mas as obras sequer começaram.
