A desvalorização da moeda brasileira provoca impactos diretos aos consumidores, pois no dia a dia consomem-se produtos que têm em sua composição componentes importados.
O dólar voltou a subir na última semana de novembro. Chegou a bater R$ 4,27, um recorde sobre a moeda brasileira. Segundo o economista José Maria Ramos, professor da Unioeste de Francisco Beltrão, essa valorização está associada a um conjunto de fatores econômicos externos e internos, bem como de questões de ordem política. Ele salienta que no cenário internacional, a turbulência política e econômica em alguns países da América Latina como Bolívia, Chile e Argentina, acabam de alguma forma afetando as relações comerciais e a dinâmica econômica dos países latinos americanos.
“No ambiente nacional, a preocupação está na taxa de juros Selic, que por estar em um patamar mais baixo contribui para desestimular investidores internacionais. Ainda no cenário interno, o Brasil vem apresentando déficits nas contas de transações correntes, que exigirá um esforço para entrada de dólares na economia, seja pela via de investimentos diretos ou alterar a política de juros para atrair investidores externos ou, ainda, recorrer ao FMI, hipótese mais distante.”
Segundo ele, o quadro da política nacional também contribui para a especulação em torno da desvalorização do Real, notadamente quando o ministro da Fazenda diz que não se preocupa com a valorização do dólar e, na sequência, o Banco Central passa operar intervindo na taxa cambial.
Impactos no dia a dia
Ademais, a desvalorização da moeda brasileira provoca impactos diretos aos consumidores, pois no dia a dia consomem-se produtos que têm em sua composição componentes importados como, por exemplo, o pão (farinha importada) e a gasolina (importada), ou seja, produtos que ficarão mais caros e que contribuirão para uma maior inflação.
Ele destaca ainda que a desvalorização amplia a competividade do País, especialmente commodities, favorecendo o aumento das exportações, o que ajuda na balança comercial, mas que contribui para aumento do preço no mercado interno ao reduzir sua oferta. A desvalorização afeta ainda quem está programando viagens internacionais, o preço ficará mais caro.
Investidores aplicam onde é seguro
O analista de valores mobiliários Claudemir José de Souza, diretor da Unipar de Francisco Beltrão, comenta que a valorização do dólar se deve também à pujança da economia americana e o fato dela representar mais de 20% da economia mundial. “Como a economia americana está crescendo, é um porto seguro para os investidores. Quando a gente olha para a América Latina a gente vê problema no Uruguai, sinalização de problema na Argentina, o caso da Bolívia, as manifestações no Chile. O investidor quer buscar a segurança de levar os investimentos para um País seguro. E os Estados Unidos continuam sendo o País mais seguro para investimentos no mundo.”
Conforme disse, há ainda o problema do crescimento mundial. “A Europa com um crescimento estagnado, motor europeu, que é a Alemanha, com expectativa de crescimento menor, a Inglaterra com problema de saí ou não da zona do Euro, está causando um problema sério. Então, o investidor enxerga o mundo, e olhando o mundo num crescimento menor talvez lá na frente, está meio nebulosa a possibilidade de o mundo entrar em recessão novamente, daqui dois, três, quatro, cinco anos, ele está olhando isso atento ao radar, dinheiro não tem amor a País, nem tem Pátria, ele não aceita desaforo.”
Vem mais aumento por aí
Claudemir ressalta que já há expectativa de que o dólar bata R$ 4,35 na próxima semana. “E pra complicar a situação, o ministro da Economia (Paulo Guedes) tem que tomar muito cuidado com o que ele fala. Ele esteve nos Estados Unidos e falou que o mundo precisa se acostumar, o Brasil precisa se acostumar, com a inflação mais baixa, as taxas de juros mais baixas e um dólar mais alto. Bastou ele falar isso, que o dólar vem em alta já pelo terceiro dia seguido e bate o recorde na cotação”, pontua. E acrescenta: “Qual é o problema do dólar alto? A nossa dívida externa é em dólar, se o dólar está se valorizando em relação ao real, menos dinheiro vai sobrar pro governo investir aonde precisa investir, porque o grande gargalo nosso é o pagamento de juros.”