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Não foi à toa que Alvadi Tomaz de Miranda escolheu o município de Cruzeiro do Iguaçu para aproveitar a aposentadoria após mais de 50 anos trabalhando em diferentes regiões do País. Ele é um dos pioneiros do município e chegou na região de confluência dos rios Chopim e Iguaçu ainda criança, nos anos 50.
Naquela época, a localidade era conhecida como Linha Miserável dada uma passagem ocorrida com Atanázio Pires, um dos fundadores do povoado. “Ele se embrenhava no mato em busca de bicho, mas o que valia era só o couro e geralmente comiam alguma carne e jogavam o resto fora. Só que depois de um período de chuvas sem caçar, Atanázio e a família estavam muito debilitados pela fome e tiveram que comer uma das cachorras assada. Dai veio o nome do lugar como miserável e dali em diante a promessa deles foi de não jogar mais carne nenhuma fora”, conta.
A relação da família Tomaz de Miranda com a região começou quando seu pai, Otacílio, se estabeleceu em Verê, vindo de Campos Novos (SC). Ele trouxe toda a família junto e Alvadi tinha apenas três meses, mas aguentou a viagem de 18 dias, feita no lombo de burro. Mais tarde, a oportunidade de ter mais terras fez a família viajar novamente: trocaram dez alqueires em Verê, por 80 alqueires, na costa do Iguaçu. “Aqui era uma região de muita madeira, tinha peroba de um metro e meio de grossura, timbaúva que precisava de seis homens para abraçar. Não tinha quase nada aqui, tanto que o imposto meu pai pagava com 15 ou 30 dias de serviço abrindo estrada”, detalha.
A área onde a família se instalou teve uma parte desapropriada para a construção da antiga Usina Júlio de Mesquita Filho. Foi nesta obra o primeiro emprego de Alvadi, em 1966, e dali em diante ele não parou mais de trabalhar em grandes projetos de infraestrutura. Sua função variava de acordo com a obra e a necessidade da empreiteira. Por um bom tempo trabalhou como blaster, o profissional responsável pelo manuseio, arranjo e detonação de explosivos. Também foi operador de perfuratriz, marteleteiro (furação de pedras) e encarregado de obra. Já comandou serviços complexos, como escavações subaquáticas e de rocha serrada e perdeu as contas de quantas cidades e lugares conheceu a trabalho. Em Brasília, por exemplo, ajudou na escavação do túnel do metrô e um de seus últimos serviços foi na reforma do Maracanã antes da Copa de 2014.
Apesar das jornadas cansativas, do ambiente movimentado do canteiro de obras e da dificuldade de alguns projetos, Alvadi se orgulha em sempre ter priorizado a segurança. “Me aposentei e não matei nem aleijei ninguém porque sempre que percebia algum risco avisava o superior e parava o trabalho até ter uma orientação mais segura do que fazer”, diz.
Alvadi somou mais de 50 anos trabalhando em obras. Passou muito tempo longe da família, mas antes mesmo de encaminhar a aposentadoria já sabia onde queria descansar dos anos de serviços: comprou um sítio próximo da área que pertenceu a seu pai e até hoje reside lá, na linha Pedra D’Ouro. “Tenho saudade das amizades que a gente faz no canteiro de obra, mas fico contente em ter o meu canto aqui n porque foi onde me criei e por meu pai , também, ter sido agricultor.”
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