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Francisco Beltrão
terça-feira, 27 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Animais feridos, queimados e magros: o relato do veterinário beltronense no Pantanal

Com clínica montada em um motorhome, grupo percorria a Transpantaneira e rios para capturar e cuidar dos bichos.

Jacaré é solto após o tratamento. 

Até o início da semana passada, o médico veterinário Felipe Azzolini, de Francisco Beltrão, estava na área da rodovia Transpantaneira, que vem sendo atingida por incêndios ambientais. Ele integrou uma força-tarefa do Instituto Onça Pintada e ONG Reprocon para capturar e tratar animais atingidos pelo fogo. De volta a Francisco Beltrão, Azzolini concedeu entrevista ao JdeB relatando o cotidiano dos resgates e o problema dos incêndios no Pantanal — destruíram 2 milhões de hectares em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, equivalente a 15% do bioma. 

 

O grupo do qual Felipe fazia parte estava dividido em duas frentes. Uma, composta por veterinários, ia por terra e rios buscando visualizar animais afetados de alguma forma pelas queimadas e resgatá-los para tratamento. Outra equipe percorria a Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, deixando água e comida ao longo do trecho para os animais. “Além dos efeitos diretos do fogo na fauna, agora o risco é grande de que muitos morram de fome e sede até que a vegetação seja recomposta.”

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Durante uma semana, Felipe participou do resgate de jacarés, onças, lontras, iguanas e aves. O biólogo e apresentador Richard Rasmussen cedeu seu motorhome equipado como uma clínica veterinária para realizar procedimentos.

Cuidados com os animais

Os atendimentos variavam conforme a situação de cada animal encontrado. No caso de quatro jacarés que estavam em uma poça de lama, eles foram levados ao motorhome para serem hidratados, receberam medicação e vitaminas e foram soltos logo em seguida. O mesmo ocorreu com uma onça que estava com queimaduras nas patas — já em fase de cicatrização — e problemas respiratórios; foi tratada, limpa e solta em seguida. Já uma lontra encontrada bastante magra precisou somente ser removida para outra área, com mais água e alimentos. 

“Em todos os procedimentos, procurávamos intervir o mínimo possível, porque os animais já estavam numa situação de estresse pela falta de comida, o calor e a sede. Na captura, isso é agravado e, então, é preciso ficar o menor tempo possível manipulando o animal e em seguida soltar numa área com melhores condições de sobrevivência”, explica Felipe. Todos os resgates eram registrados e informados ao órgão ambiental do Estado. Em alguns casos, a equipe se deparava com animais carbonizados, mortos asfixiados ou somente com a ossada. 

Animais recebiam medicação, limpeza e vitaminas antes de serem devolvidos ao habitat. 

“Brota fogo do nada”

O Pantanal está tendo, neste ano, o maior número de focos de incêndios desde 1999, de acordo com o Inpe. O tempo seco e as altas temperaturas têm contribuído para este cenário e, segundo o veterinário Felipe Azzolini, a grande maioria dos focos é natural. “Uma pequena parte, uns 10% dos incêndios, é causada por intervenção humana, mas o restante ocorre de forma natural, dadas as características da vegetação e do tempo. É bem comum que entre as 11 e 15 horas iniciem pequenos focos de forma espontânea”, relata.

No último domingo, 27, choveu em algumas regiões e amenizou os incêndios, que continuam acontecendo. Felipe explica que a chuva é a única forma de controlar o fogo, devido a sua dimensão e extensão, mas o tempo seco persiste nesta semana e agora a vegetação verde que secou nas últimas queimadas também pode incendiar. 

Outro apontamento feito pelo veterinário é sobre as dificuldades de trabalhar em meio a tantos interesses de promoção: “Existem ONGs mais antigas lá que tentam dificultar o trabalho do pessoal que foi ajudar nos resgates e isso desanima bastante, porque tem muita gente séria e dedicada, mas também quem só busca publicidade para angariar doações”. Segundo ele, algumas equipes socorriam somente onças, pela maior visibilidade que o animal dá, enquanto o seu grupo, que é especializado na espécie, resgatava todo tipo de animal.

Felipe esteve nesta semana em Beltrão e hoje retorna para o Instituto Onça Pintada, em Goiás, onde trabalha há três meses. 

Jacarés capturados no que era uma lagoa, agora seca. 

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