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Francisco Beltrão
sábado, 31 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Antimanicomial é a luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental

Geral

Patrícia Motter, coordenadora do CAPS 2.

As doenças mentais ainda estão cercadas de preconceitos, entre eles está a ideia de que o isolamento é necessário para que haja tratamento. Esta é uma das bandeiras de hoje, 18 de maio, instituído como Dia Nacional da Luta Antimanicomial, em homenagem à luta dos profissionais de saúde por um tratamento mais humano aos usuários do sistema de saúde mental. O tabu em relação aos cuidados psiquiátricos ainda existe e pode haver resistência em relação aos tratamentos necessários.

“É importante que todos nós sejamos semeadores de afeto através da boa informação, elucidando conceitos e ajudando a quebrar os estigmas relacionados à saúde mental. Cuidar de si também é cuidar dos outros”, diz Patrícia Motter, formada em Serviço Social e coordenadora do CAPS 2 Saúde Mental. Ela destaca: “O Movimento da Luta Antimanicomial faz lembrar que estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direito a receber cuidado e tratamento, sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos”. 

A situação é preocupante? Patrícia responde que o processo de reforma psiquiátrica em curso no País vem avançando significativamente ao longo das duas últimas décadas no que diz respeito à transformação da estrutura asilar e das práticas de cuidado com a “loucura”, porém, observa-se que, paralelamente a esse movimento, há um outro marcado pela manutenção da lógica hospitalocêntrica ou manicomial. 

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“Eu diria que a luta antimanicomial no Brasil diz respeito à transformação das práticas de tudo aquilo que foi produzido pelo saber psiquiátrico, que tinha como pressuposto a ideia de que era necessário isolar para poder tratar. Só que esse isolamento ocorria e ocorre sempre no momento em que as pessoas mais precisam de redes de suporte. E essas redes de suporte eram rompidas a partir de um tratamento exclusivo e que ao mesmo tempo colocava essas pessoas num período grande de isolamento.”

Hospitais psiquiátricos
Patrícia cita ainda que, segundo o psicólogo Alex Reinecke, o Brasil possui um número ainda bastante elevado de pessoas morando em hospital psiquiátrico. O número exato não é possível precisar em virtude da ausência de um censo nacional para essa população.

“Sabemos pelos dados oficiais que houve uma diminuição de aproximadamente 50 mil leitos psiquiátricos, em 2002, para 25 mil, em 2015, ao passo que esse investimento foi redirecionado para abertura de Caps, que passaram de aproximadamente 500, em 2004, para quase 2.460, em 2017. Então, o que aconteceu no Brasil foi uma grande transformação desse modelo, mas a gente sabe que essa transformação, além de envolver as pessoas com transtorno mental, envolve também a construção de um outro lugar social para loucura, a ideia de que a loucura é um componente humano, é uma capacidade humana de desafiar os limites da cultura, de transformar as compreensões, de enxergar um outro mundo. O objetivo da luta antimanicomial como sendo a transformação desse lugar social para loucura, em que a gente possa acolher a diferença em nossa sociedade.”


O que poderia mudar?

“Sabemos que a possibilidade de melhoria da qualidade de vida e de vinculação do laço social pelo sujeito com grave sofrimento psíquico não se dá apenas pela força da lei. Embora as políticas públicas sejam decisivas para o modo com que uma sociedade e o sistema de saúde devem lidar com essas pessoas, faz-se necessário um conjunto de mudanças na estrutura da sociedade, inclusive do imaginário social sobre a loucura, que rompam com o estigma e o preconceito a essa população. Essas mudanças só podem ocorrer num contexto democrático, que caminhe na direção da coletividade e da solidariedade.

O sofrimento psíquico não é uma condição contagiosa, portanto, não precisa de isolamento, mas sim de acolhimento, respeito e rigor técnico no seu acompanhamento. A luta é política o tempo todo e seguiremos lutando por uma sociedade sem manicômios”, ressalta Patrícia.

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