“É hora de repensar as alternativas de investimento de médio e longo prazo.”
Faz um tempo que aplicar o dinheiro na caderneta de poupança não tem sido interessante. Com a mais recente redução da taxa Selic para 5,5%, o resultado para quem tem dinheiro aplicado nesta modalidade é quase nulo.
O professor André Comunelo, da Unipar, lembra que desde 2012 a poupança tem uma nova forma de remuneração, que está atrelada à taxa Selic, ou seja, se a Selic estiver acima de 8,5%, a poupança rende 6,17% ao ano mais TR (Taxa Referencial). Se ficar abaixo de 8,5%, a poupança rende 70% da Selic. “Então, quanto menor a Selic, menor é a remuneração da poupança”, sublinha.
O economista José Maria Ramos, professor da Unioeste, observa ainda que as recentes decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), em reduzir a taxa básica de juros da economia, segue um comportamento da dinâmica da economia mundial em que diversos bancos centrais estão praticando taxas de juros negativas.
Contudo, ele salienta que apesar da redução da taxa Selic para 5,5%, o Brasil ainda ocupa a 8ª posição no ranking dos países com a maior taxa de juros reais. E o que é pior para o País, “as recentes quedas da taxa Selic e a perspectiva de reduzir ainda mais não tem gerado estímulos suficientes ao crescimento econômico, há ainda dificuldade de o Estado retomar sua capacidade de investimentos e a atividade econômica, principalmente a industrial opera com capacidade ociosa”.
Rendimento nulo
Dentro deste cenário, se até pouco tempo atrás investir em títulos da dívida pública representava a possibilidade de ganhos reais significativos, agora os ganhos reduziram, mas não deixaram de ser um investimento seguro. “É hora de repensar as alternativas de investimento de médio e longo prazo. A caderneta de poupança, que é um dos investimentos mais tradicionais das famílias brasileiras, perde competitividade quando a taxa Selic reduz, pois, a remuneração da poupança corresponde a 70% da referida taxa. Como a TR está em zero, a poupança passa a render 3,85% ao ano, valor que se aproxima da inflação projetada para 2019, que é de 3,45%, ou seja, o rendimento da poupança é quase nulo.”
De acordo com ele, a inflação passa a ser a maior inimiga da poupança. “Nesse cenário de juros mais baixos, o brasileiro precisa analisar e entender as diferentes alternativas que o mercado financeiro oferece como os depósitos a prazo, títulos públicos e o mercado de ações. Este último, requer maior entendimento de seu funcionamento em razão da volatilidade, que implica maiores riscos aos investidores. Portanto, é preciso analisar o mercado e encontrar investimentos que se adequam ao perfil do investidor.”
Entradas e saídas na poupança em 2019
Apesar de render quase nada, a caderneta de poupança ainda é uma das principais aplicações dos brasileiros. Em agosto de 2019, por exemplo, conforme dados do Banco Central, a quantidade de depósitos na poupança foi superior aos saques em aproximadamente R$ 1,3 bilhão. Em julho, a captação líquida tinha sido negativa em R$ 1,6 bilhão. No mês de agosto, o estoque total na caderneta de poupança chegou a R$ 806,387 bilhões.
Se considerar os oito primeiros meses do ano, a saída líquida de recursos da poupança foi registrada em cinco: janeiro, fevereiro, abril, maio e julho. Já os depósitos líquidos (superior às retiradas) ocorreram em março, junho e agosto.