“Você não sabe como seu corpo irá reagir: se de um hospital sairá com vida ou direto para o cemitério” Professora Rita Nathalya Pires Gervasoni.

Assim que as aulas foram suspensas devido à pandemia da Covid-19, em março, a professora Rita Nathalya Pires Gervasoni, de 31 anos, do Cmei Arco-Íris, de Francisco Beltrão, começou sua quarentena em casa, na cidade de Marmeleiro, onde vive com o marido, Cristiano Pilati Gervasoni, de 42 anos, e os três filhos — duas meninas, de 6 e 10 anos, e um menino, de 5. Diferente dela, Gervasoni não pôde parar.
Caminhoneiro, um serviço essencial, precisou manter suas viagens ao Porto de Paranaguá e ao Mato Grosso do Sul, onde deixa e recolhe, a cada 20 dias, alimentos que abastecem o mundo. E foi de uma dessas vindas que ela acredita que, na bagagem, o vírus veio também. “Em uma segunda-feira de junho, antes de vir para casa, ele fez o teste rápido no Porto de Paranaguá e estava feliz porque tinha dado negativo. Chegou na terça, mas na quarta, ao meio-dia, começou a sentir os sintomas”, relembra Rita.
Gervasoni é hipertenso e, apoiado no teste rápido que havia dado negativo, acreditou que as dores no corpo que sentia e o aparente mal-estar eram devido à pressão alta. Logo tomou a medicação, mas já à noite as dores se agravaram. “Ele começou a sentir calafrios, muita dor de cabeça, muita dor no corpo, mal-estar e teve início de febre. No mesmo momento, procuramos o hospital de campanha de Marmeleiro, onde foi examinado e o médico já falou que possivelmente seria Covid”, conta Rita.
O isolamento precisou ser adotado de pronto e Rita não hesitou em ficar com o marido. Pediu que as duas filhas fossem para a casa de outro familiar, já que havia decidido que permaneceria ao lado do esposo, mesmo sabendo do risco de também se contaminar. Isso era quase que uma promessa que havia feito antes mesmo que a Covid aparecesse na família. Tinha para ela que cuidaria de todos, sobretudo de Gervasoni, que não teve a quarentena como escolha e precisou se arriscar.
O teste do casal foi feito na sequência e, em cinco dias, o resultado já era o esperado: positivo para Covid-19 em ambos.
A falta de ar
Na casa, ficaram Rita, o marido e o filho mais novo. E, como ela imaginara que pudesse acontecer, apresentou os sintomas na quinta-feira, um dia depois do marido e dois dias depois de se reencontrarem.
A situação ficou crítica na sexta-feira, quando Rita já não conseguia respirar bem. “Eu tive muita falta de ar. Precisei fazer uso de oxigênio na sexta-feira. Também fui submetida a exames que mostraram algumas alterações.”
Rita conta que a Covid vivida por ela foi diferente da vivida pelo marido. Enquanto ele sofria pelas dores de cabeça, no corpo, e na garganta, tosse intensa e febre, ela sofria pela perda total do olfato, perda parcial do paladar e falta de ar.
“É uma montanha russa”, define Rita o misto de sensações, já que ela precisou ir duas vezes ao hospital por não conseguir respirar. “Você sente medo. Tudo é muito novo e ninguém sabe ao certo o que vai acontecer. Nem os médicos. Porque é um vírus novo. Ninguém estava esperando passar por essa pandemia. (…) Você tem medo de morrer, de precisar ser entubada. A gente teve os sintomas e sentimos muito fortes e com muita intensidade. Então você pensa nos seus filhos, na família, fica com medo de alguém pegar, principalmente as crianças. São terríveis os dias de quarentena. Os dias não passam. Você fica contando, mas parece que dura uma eternidade.”
[relacionadas]
Foram 18 dias de isolamento. Tão logo terminou, o filho mais novo foi testado. Felizmente, ele não contraiu a doença e a família pôde se reunir mais uma vez. Nos dias seguintes, Rita ainda precisou lidar com as sequelas da infecção. Como havia sido submetida recentemente a uma cirurgia no abdômen, o vírus lhe causou fibroses e a cirurgia precisou ser refeita.
Para ela, o alerta da doença ainda é o mesmo de quando, devido à pandemia, o estado de calamidade pública foi decretado. “Comecei a quarentena em março. Sempre cumpri o isolamento e tive os cuidados. Mesmo assim fui infectada pelo vírus. (…) Temos que colocar na cabeça que o vírus entra e ninguém sabe como ele vai agir. Não sabe se vai precisar de respirador, de UTI. E as pessoas têm que ter consciência quanto a isso. Antes era só idosos. Eu tenho 31 anos, meu esposo, 42. Quantas pessoas estão morrendo. O vírus não escolhe. E é isso que a sociedade tem que ter consciência. Porque você não sabe como seu corpo irá reagir: se de um hospital sairá com vida ou direto para o cemitério.”