Ele é uma das muitas pessoas que foram atraídas para Francisco Beltrão, nos anos de 1960, através da construção civil.

Nos anos de 1960, Francisco Beltrão se destacava entre as demais cidades da região com grandes construções, como a matriz Nossa Senhora da Glória, a Prefeitura, o Colégio Nossa Senhora da Glória, entre outras. A estrutura local de construtoras era fraca, por isso contratavam-se empresas de fora; junto com essas empresas, vinham pessoas que acabavam ficando. É o caso de Miguel Staskoviak, que hoje, aposentado, reside na Rua Guanabara, bairro Vila Nova.
Catarinense de Papanduva, nascido em 16 de setembro de 1942, ele trocou a roça por uma vaga de servente em Curitiba. Quando veio para Beltrão (chegou dia 8 de abril de 1967), já era pedreiro, contratado pela Sociedade Araguaia, dos engenheiros estrangeiros Nicolau Waszczynskyj (ucraniano) e Francisco Repelere (alemão). Pela coleção de fotos que guardou, tem-se uma ideia de prédios que ele ajudou a construir.
Em 1976, Miguel casou com Dólica Rosa Fabrin (conhecida por dona Rosa), com quem tem dois filhos: José Alberto, nascido em 31 de janeiro de 1977, hoje reside em Curitiba, e Marcos, nascido em 23 de junho de 1980, hoje artefinalista do Jornal de Beltrão. Miguel é filho de Sofia Kaspechak e José Staskoviak, é o mais velho de uma família de nove irmãos: Miguel, Vítor, Antonio, Aloiso, Terezinha, Pedro, Osvaldo, Ana e Paulina.
Em sua casa, seu Miguel concedeu esta entrevista ao Jornal de Beltrão.
JdeB – O senhor veio de Curitiba como pedreiro?
Miguel – Em 72 que eu passei a mestre de obras e foi quando comecei com a casa do doutor Tramujas, a farmácia do doutor Aryzone e o predinho perto do Rio Tuna.
E o senhor aprendeu em Santa Catarina?
Ah, eu comecei a trabalhar em Curitiba mesmo, como servente. Fiquei quatro anos com a firma, mas como queria ir pra frente, comecei a trabalhar junto com os pedreiros, fazendo tudo, e logo me passaram pra profissional e aí eu vim pra Beltrão, na Sociedade Araguaia, mesma que construiu os colégios e a prefeitura.
Era a mesma empresa do Estefano Javorivski?
Ah, do Estefano sim, ele trabalhava junto. E quando eu vim pra cá, ele já tinha vindo antes de mim, ele é natural de União da Vitória.
Naquele tempo, as grandes obras da cidade eram feitas por construtoras de fora?
Tudo de fora, nós fizemos a prefeitura, o colégio do bairro Alvorada e depois começou a Empretec.
Por que o senhor saiu de Papanduva e foi pra Curitiba?
Na verdade eu fui a passeio (risos). Nós se reunimos em três amigos e fomos a passeio, e no fim um deles tinha um tio, outro tinha um cunhado morando lá, e eu não tinha ninguém, daí nós se acampamos lá e no fim arrumamos serviço numa construção meio perto de onde morava e aí meu primo desistiu e foi embora, o outro ficou três meses e desistiu e também foi de volta pra Santa Catarina, e eu não tinha terra, ia voltar lá fazer o quê? Pra mim tava bom assim e eu fiquei sozinho. Eu tava com 21 anos.
Trabalhou na mesma empresa?
Sim, aí eu trabalhei nove anos na mesma empresa. Depois de quatro anos em Curitiba, vim pra Beltrão, fiquei aí até que eu casei, aí que entrei na Empretec.
E quando o senhor chegou o Colégio Glória já estava em obras?
Essa parte de cá, da rua Luiz Antônio Faedo, já tava quase pronta, estavam terminando os acabamentos, estavam pintando por dentro e aí começamos o bloco da Rua Tenente Camargo.
Como foi a construção, o que teve de difícil?
A construção aqui ia às mil maravilhas, porque dinheiro as freiras tinham, era só pedir que vinha, todo mundo vendia com gosto porque dinheiro eles tinham, nunca atrapalhava a obra.
O material vinha de onde?
A maior parte vinha de Curitiba, na verdade, porque aqui tinha poucos, tinha começado o Salvatti a vender alguma coisa, vinha tudo de fora.
Não chegou a faltar material?
Não, nunca faltou, era tudo bem organizado.
Estavam em muitos funcionários?
Ah, teve época aqui que tinha quinze, vinte e mais até.
E a sapata é bem feita?
Sim, aqui a sapata é bem feita em cima da rocha, no cascalho mesmo que não tem como afundar ali.
E a terraplanagem, quando o senhor veio, já estava feita?
Sim, quando eu vim já tava pronta, tavam marcando a obra. Quem fazia a terraplanagem era a prefeitura.
E o que as pessoas diziam da construção?
Ah, a gente tinha pouco contato com outras pessoas, mas vinha gente de longe olhar as obras, porque era falado que estavam construindo grandes colégios e coisas, então Beltrão era bem falado.
E o senhor também se sentia bem de participar de uma obra como essa?
Ah, nós tava tranquilo, porque era tudo livre, acampamento, comida, a gente não pagava nada, a firma é quem pagava tudo. E depois, quando desmancharam esses barracos aqui, eu fiquei nove anos no Hotel Liston.
Como era a jornada de trabalho?
Ah, era o horário normal, era a sete e meia ao meio-dia e acho que naquele tempo nós parava mais cedo, ia até seis horas, dificilmente fazia hora extra, só se trabalhava no sábado, porque dependendo do concreto e o trator daí tinha que trabalhar.
E à noite o que faziam?
Ah, nada (risos). Era só rádio naquele tempo, não tinha nada.
E seguido o senhor ia pra casa?
Ah, eu ia pra casa a cada seis meses, mais ou menos, dependendo de quando dava uma folguinha. Porque de Curitiba até onde os pais moravam dava mais 160 quilômetros.
O pagamento saía sempre em dia?
Sempre em dia. Sempre no dinheiro. Eu depositava nos bancos. No Bamerindus, que já existia aqui. Eu trabalhai tempo com esse banco.
E o que o senhor lembra das irmãs?
Elas sempre andavam de beata, essa madre mais grande que tava aqui, era a madre BoaVentura, e essa outra vinha de São Paulo é a Irmã Sarota, que era muito querida, era véinha, meio manca já. Elas vinham olhar as obras. Elas gostavam de olhar nós trabalhando.
Quem fez essas fotos?
Essas aqui o Bordignon. E esse aqui era um contra-mestre, e o mestre era o José Brososki, esse aqui era o Francisco Antônio Ela, esse aqui é o Estefano Javirivski.
E desses aqui, tem mais alguém, além do Estefano que está por aí ainda?
Aqui tá o dito Nene, esse aqui tava em Beltrão, só que faz tempo que eu não vi mais ele, o Paulo Prochiaki.
Tinha bastante polonês?
Ah, tinha bastante, muita gente de União da Vitória que vieram aqui, inclusive esse Paulo Prochiaki era de União da Vitória, e o Estefano também. Era tempo bom, corria dinheiro, barbaridade, e não tinha onde gastar, era cidade pequena.
O senhor fez um pé de meia naquele tempo?
Eu fiz, eu comprei um terreno na Rua Curitiba, em frente o Heitor Camilotti, à vista. Eu ia fazer a casa lá, mas quando eu inventei de comprar uma casinha aqui, que eu tava trabalhando na Foz, tava planejando casar, aí eu andando com um e outro, o cara me ofereceu aqui, era uma casinha de madeira, pequena, mas o lote era bom, daí eu dei 15 mil cruzeiros de entrada e o resto parcelamos em cinquenta pagamentos (risos). E daí eu fiquei aqui, porque vi que era um bom negócio, e lá ficou, o terreno, bem do lado do Ernesto Pedron. Quando eu resolvi fazer a casa aqui, eu me apurei e vendi lá. Então a gente deu alguma bola dentro e deu alguma bola fora também (risos).
E o senhor sempre continuou como pedreiro?
Não, quando eu fui daqui pra Capanema, eu já fui como mestre de obras. Depois fui pra Foz de novo, fizemos umas casas do batalhão, fiz a reforma do Fórum, daí eu vim pra Capanema e fizemos a prefeitura, voltei pra Foz pra trabalhar nas Cataratas, mas nossa, fiz passarelas, fiz aqueles caminhos, estacionamento, perto do elevador, foi tudo o meu serviço, fiquei tempo lá, daí saí da firma, me casei e vim pra Beltrão de novo.
O senhor nunca contou quantas obras já fez?
Ah, não tenho a mínima ideia, tem que pensar bem pra se lembrar de tudo.
O senhor faz parte da construção civil de Beltrão.
Sim, bem verdade, eu comecei aqui e não tinha nada.
Nesse tempo o senhor viu muito acidente?
Não, naquele tempo não se via acidente, era quase nada. Se machucavam lá de vez em quando. Depois andou caindo uns numa obra, mas na nossa não, porque a gente sempre tinha madeira à vontade, fazia andaime bom.
“Naquele tempo se fazia um serviço garantido. Hoje tapeiam, fazem de qualquer jeito”
Tem acidente que acontece porque a obra não é bem conduzida?
Hoje os acidentes acontecem justamente por falta de cuidado. Às vezes, andaime de qualquer jeito, porque hoje os caras querem fazer tudo muito rápido. Naquele tempo, nós pegava madeira no Camilotti e eles consideravam de segunda, mas era a melhor madeira, aquela tábua resistente, de pinheiro véio, madeira nós tinha à vontade naquele tempo. Hoje, pra economizar, acabam usando qualquer coisa, aí quebra, é tudo mais perigoso. E naquele tempo a gente trabalhava só com pinheiro, madeira de escoramento nós fazia de vigote. No fim só que veio uns que não, mas no começo era tudo de vigote quadrado.
Essas aqui são madeiras cerradas que tão escorando?
É, tudo madeira, tábua, os cepo da caixa de areia, tudo feito assim.
Mas aqui parece que já é madeira roliça…
O escoramento sim, aqui já é, esse aqui é do Felice Manfrói que já era bem depois. E aqui a forragem da cortina, fazia toda uma padeira de madeira de um lado, armava a ferragem e depois com aquelas cortinas do colégio era tudo concreto, não tinha nada de tijolo.
O que mudou daquele tempo pra hoje, o jeito de fazer construção em alvenaria?
Mas olha, assim, na construção não tem o que mudar. O que mudou é o modo de trabalhar, ainda tem serviço bom, tem gente que faz caprichado, mas a maioria é muito malfeito, porque o pessoal já não tem aquele interesse de fazer uma coisa garantida. E naquele tempo não, o cara, desde trabalhar por conta ou empreitada, fazia um serviço garantido. Hoje não, hoje tapeiam, fazem de qualquer jeito, não são capaz nem de medir. Naquele tempo sabe como é que nós fazia? Media as caixas de areia e pedra, era enchida a caixa e passado a tabuinha em cima, pra ficar a caixa pareia, nada de encopar ou deixar baixo. Os concretos eram feitos assim.
A mistura dos produtos é a mesma?
A mesma coisa. O problema é que hoje não cuidam, uma hora exagera a caixa caindo por cima, outra hora meio vazia. Naquele tempo era usado até a madeira pra emparelhar as caixas.
E não tinha concreteira, vocês faziam tudo na betoneira?
É, tudo na betoneira. Quando nós fazia essas lajes era uma semana inteira, começava na segunda e às vezes não terminava no sábado, porque sabe que tem laje aqui de 22cm de altura no colégio das freiras, tem uma parte que eles faziam a maciça, era 10cm ou 12cm, mas eles tinham tijolo que dava 18, 19cm de altura e depois ainda era usado uma ripa de 4cm em cima daquele tijolo pra cobrir de concreto, então aquelas de concreto era de 7cm feito e as medidas davam 22cm, a laje em cima de tijolo era 4cm, isso é reforçado que tá loco.
E da turma toda quem era o contador de piada?
Ah, não lembro. Esse Zé Broering que era o mais divertido (risos), acho que ele tá lá pra Rondônia.
Contavam muitas histórias da cidade?
Ah, que a gente saiba não, porque a cidade era pequena, não tinha nada, era só a Avenida Júlio Assis e a Luiz Antônio Faedo, mas não tinha nem morador ainda, era bem pouco.
E na Tenente Camargo era tudo chão?
Sim, tudo chão, tudo terra ainda. Na Júlio Assis também, foi feito a parte de calçamento só depois que eu já tava aqui. E desde a ponte, fizeram até uma parte e pararam, foi o Cantelmo que fez, quando ele era a primeira vez prefeito.
Se o senhor chegou em 67, já devia ter um pouco de calçamento.
Mas olha, eu acho que não, se tinha era só lá da pracinha pequena do Brito até na ponte. Ali pra cima não, era tudo chão. Se não me engano, não tinha nem lá, foi feito só depois.
Dia de chuva era aquele barral?
Nossa, ali apareciam aqueles colonos de Jipe, porque só tinha Jipe, Rural, Picape, acorrentado ainda (risos) pra poder sair. Era divertido, só que se fosse hoje, Deus o livre, tudo mudou. E não faz tanto tempo, são 47 anos.
E no domingo ia na missa?
Sempre, isso não perdia, eu era daquele tipo, em cada lugar que eu chegava, no primeiro domingo eu procurava onde que era a igreja. Em Capanema, nós chegamos no sábado com a mudança, descarregamos tudo lá na praça, deixamos lá coberto com lona, depois nós fomos procurar a igreja.
E já era a igreja nova aqui?
Não, ainda tinha do lado a igreja velha e daí estava em construção, tinha muita coisa pra terminar, a igreja velha era na frente do Banco do Brasil. Era de madeira, era bem grande a igreja também.
E a praça?
Nada, puro chão ali. E já tinham tirado uma parte de terra, era limpo quando eu vim, e depois eles tiraram mais ou menos mais um metro de terra pra fazer a praça.
Quem chega hoje ou mesmo quem nasceu aqui não imagina que deu tanto trabalho pra fazer Francisco Beltrão…
Ah, isso é verdade, o povo que hoje vê pensa que é fácil, mas naquele tempo nada era fácil. É que nem eu disse, calçamento aqui não tinha nada, era tudo terra. E naquele tempo, era o Cantelmo, o Deni, quando ele entrou, ele movimentou bastante, porque ele era engenheiro, ele já tinha mais conhecimento das coisas. O Governador do Estado era o Pimentel, eu acho, depois um que vinha seguido aqui, que gostava muito de ajudar Beltrão, o Canet. Era bom naquele tempo, a cidade era bem pequena. E aí quando abriram a rua da Alvorada, a Porto Alegre, ela só tinha até bem no alto da Alvorada e depois não tinha mais, só tinha a estradinha que ia lá pro Rio Quibebe. Pra Ampere iam lá pelo aeroporto, e era tudo estrada de chão.
E em que grupo vocês construíram na Rua Porto Alegre?
Ah, na Porto Alegre não fizemos grupo, fizemos no Alvorada, mas a Porto Alegre terminava ali.
Foi a prefeitura que abriu?
Sim. E aquele loteamento da Alvorada foi quando começou, os donos eram o Germano Meyer e os Campanholo, e aí começaram a lotear e vender e aí a prefeitura foi obrigada a abrir rua. E pra terminar de abrir rua pra chegar lá, foi só depois que passou os asfaltos. Já era bem depois, senão o Alvorada morria por ali.
Aqui quando o senhor comprou já tinha essa ponte na Rua Guanabara?
Sim, mas era de madeira e era bem baixinha, qualquer enxurrada já passava por cima.
Tinha que ir pro centro pela Rua Londrina de hoje?
É, só depois que abriram a União da Vitória, foi no tempo do Deni. Senão era a rua velha e que ia pra lá e aqui já tinham aberto por causa do CTG, e daí abriram essa aqui, que aqui já tinha uma pontinha, esse riozinho aqui foi aberto e, barbaridade, foi tirado terra que não acaba mais, então era uma pontinha lá embaixo.
E aí vocês ficavam ilhados?
Sim, tudo ilhados. Porque era fechado, qualquer chuvinha, já passava. E pra cima era tudo banhadão, ali onde é o Mano Manfrói não tinha nada, era um campo que nem tinha serventia pra nada e nem me lembro de quem era, acho que era do Cella.
Quando o senhor chegou aqui, já pensou em ficar?
Não, no começo não. Porque eu não via a hora de ir embora de volta, até teve uma época que eu pedi pra ir, mas no fim eu comecei a pensar que se eu fosse pra Curitiba eu ia ter que pagar pensão, e aqui eu ganhava mais e era livre, foi isso que me segurou.
Depois arrumou namorada (risos)?
É, fiquei ali, depois tudo foi se ajeitando (risos).
O senhor ajudou a construir e viu a cidade ser construída?
É, eu vi como que cresceu, porque na época, quando fizeram essa prefeitura e o colégio, eram as melhores obras, pelo porte da cidade eram obras muito grandes, muito boas.
E o engenheiro era da empresa de Curitiba?
É, era da empresa, tinha dois, o doutor Nicolau Waszczynskyj e o Francisco Repelere, esse era alemão, mas eram os dois sócios da empresa, ajeitava as obras pra essas freiras, porque ele era da Alemanha também, então eles foram trabalhando assim, uma hora vinha um visitar a obra, outra hora vinha o outro.
Como é que era o nome dos dois sócios?
Um era o doutor Nicolau Waszczynskyj, mas nem sei como é que se escreve isso, e depois o outro era Francisco Repelere, os dois eram engenheiros e donos da Araguaia, depois tinha se formado um filho do doutor Nicolau, que era o Victor, até as placas já vinha dele.
E um era alemão e o outro era ucraniano?
É, ucraniano. E o Repelere era alemão. Só que fazia tempo que já tava no Brasil. O mais atrapalhado pra falar era o véio Nicolau (risos). E tudo vai se acabando, quando menos via sumiu a dita empresa, porque esse Victor entrou trabalhar pro Estado, se eu não me engano, e não quis trabalhar com construção, ele era meio sossegadão, daí o véio fechou a empresa.
E aí deu a conta pra todo mundo?
Não, porque foi meio devagarinho, aos poucos, dispensando e foi diminuindo a empresa, e ele tinha uma filha engenheira que já trabalhava e a filha também parece que se colocou não sei no que e largaram.
E o senhor também foi se encaminhando ou teve que procurar emprego?
Eu aqui mesmo arrumei serviço, até comecei a trabalhar por conta no começo, mas eu trabalhei acho que nem 15 dias, daí o véio Amaral me encontrou e perguntou mas escuta, o que é que você tá fazendo aí? – Tô trabalhando. – Mas não que tu saiu da Araguaia? – Sim, eu saí. – Então venha trabalhar com nós! Eu tava fazendo até a casa do Chico Dagostini, que era gerente da Reunidas, ele me levou lá na firma e já acertamos e eu comecei a trabalhar com eles, e aí pro Natalino que era o gerente, e o Deni era o engenheiro.
E o Amaral, quem era?
O Amaral é o mestre de obras que tava sempre correndo de um lado pro outro, mas a gente já se conhecia, acho que ele é falecido também. Eu fui lá, já acertamos e comecei a trabalhar, desisti da obra do Chico e ele disse mas bá, agora você vai me deixar na mão? Eu já tinha começado a fazer, ele fez casa de madeira, mas ia fazer a garagem e o banheiro de material, e eu disse pois é, mas ele quer que eu vá trabalhar lá e eu fui. E daí não saí, fiquei na Empretec mais até de nove anos.
O senhor está com 72 e continua trabalhando?
Ah, a gente não para de uma vez, eu vivo fuçando. Agora tô ensaiando pra pintar essas cercas e pintar os muros aí, era pra começar hoje, mas amanheci tonto, acho que vou dar uma limpada de tarde na cerca e começar a pintar.
Já fez a sua parte, seu Miguel?
É, mas eu tenho muito problema da coluna, duas pegadas ali eu já tô detonado. Outro dia fiz um serviço aqui em casa, limpei o lote e mexe uma coisa e mexe outra, já tava com as costas detonadas.
Fora a coluna, o senhor sempre foi uma pessoa sadia?
Sim, de outras coisas eu não tenho nada. Agora que começou, mas isso é da idade, dá essas tonturas seguido que nem sei do que, já fui no médico e tô tomando remédio, dá aquela aliviada e volta, mas eu não sinto dor de cabeça, não sei o que é.