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Francisco Beltrão
terça-feira, 27 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

As marcas que o incêndio não destruiu

 

Silvana e Ezequiel com as filhas Vitória, Andressa e 
Ana Carolina. Larissa, de 5 anos, continua no hospital.

Dia 2 de julho. Era pra ser uma manhã como tantas outras para a família Moralatto, de Marmeleiro. O casal Silvana e Ezequiel acordou cedo, por volta das 6h30. A rotina era essa: o pai de uma família de cinco filhas trabalhava como pedreiro e saía da casa, localizada na Rua Izidoro Lírio Flach, bairro Perin, para trabalhar às 7 da manhã. A mãe, Silvana, ficava em casa cuidando das meninas e do lar. 

Silvana estava com as filhas Ana Carolina, 12 anos; Andressa, 11; Larissa, 5; Vitória, 3; e Emanuela, de apenas sete meses, sozinha na residência. Como toda mãe, se desdobrava para dar conta dos afazeres domésticos e dar atenção às meninas. Eram 10h30 quando deixou as crianças na sala, vendo TV, e foi para a lavanderia. Infelizmente, na manhã de quarta-feira, uma tragédia mudou a história. A casa da família pegou fogo e uma das crianças, a bebê, faleceu no local. 

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“Foi tudo muito rápido”
Foi Ana, a filha mais velha do casal, que avisou a mãe sobre o incêndio. Segundo informações preliminares, o fogo começou na cozinha. “A mais velha me chamou. Quando eu fui pra porta da cozinha pra entrar pra dentro, o fogo já começou a chegar em cima do coberto da casa”, recordou Silvana, em entrevista na tarde de quinta-feira. 

Muito abalada e sem conter as lágrimas, a mãe lembrou os momentos de horror que viveu com as cinco filhas. “O que eu fiz na hora? Falei pra ela (Ana Carolina): “tira o nenê”. Ela não conseguiu. Daí começamos a tirar as outras e ela escapou lá fora. Eu peguei a outra, a Larissa, que se queimou bastante, e fui pra tirar a Emanuela, mas com o fogo alto que tava, não consegui.”

No desespero, Silvana pensava em entrar na casa, mesmo em chamas, para salvar Emanuela. Mas foi impedida por Lúcia, sua amiga e vizinha. “Ela queria entrar, me empurrava, gritava, mas não deixamos, seguramos ela”, contou a vizinha, bastante emocionada. “Hoje, mesmo depois da tragédia de perder a filha mais nova, ela me agradeceu, afinal, tem as outras meninas para cuidar. É uma tristeza, mas Silvana vai ter nosso apoio para recomeçar”, garantiu Lúcia.

A dor de não poder fazer nada
“Dói o coração de uma mãe perder uma filha, e eu tentar correr pra socorrer e não conseguir.” Era este o sentimento de Silvana após o enterro da pequena Emanuela, na manhã de quinta-feira. Rodeada de amigas e familiares, ela chorou. Os seios inchados e o leite empedrado são as marcas de uma história de amor interrompida: com sete meses, Emanuela ainda mamava no peito. 

O fogo consumiu a casa em cinco minutos. Tudo foi muito rápido e, mesmo assim, Silvana ainda se cobrava. “O que eu podia fazer eu tentei. O que dói foi não poder socorrer o meu anjinho, que agora está no céu.”
Durante a entrevista, as filhas de Silvana estavam próximas dela. Vitória, de 3 anos, não desgrudava. Ficava abraçando e queria colo; mesmo tão pequena, parecia entender o sentimento de toda a família. A mãe contou que ela é a mais grudada com Larissa, que ficou bastante ferida no incêndio e foi levada para Londrina. A menina está internada e viajou acompanhada de uma tia. 

Segundo Silvana, que não perde as esperanças mesmo diante de tanto sofrimento, a filha reagiu. “Diz que ela começou a falar, tá comendo pelos aparelhos, e pediu muito de mim. Até onde eu sei, parece que ela está melhor, reagindo.”

“Se soubesse, não tinha saído de casa”
Ezequiel, pai das meninas, não estava em casa no momento do incêndio. Naquele dia, assim como em todos os demais, já tinha saído para trabalhar. Ao jornal, sem conter as lágrimas, disse que, se soubesse deste destino, jamais teria saído de casa. E lamenta não estar junto da esposa para tentar socorrer Emanuela. “Podia ter salvado minha filha, entrava lá e jogava tudo nas paredes, nem que eu saísse queimado. Mas ela era um anjo, não merecia isso, é muito sofrido.” 

 

Em meio à tristeza, o pai lembrou-se dos últimos momentos da filha: “Ela já tinha começado a falar pai e mãe, era um amor de criança, muito linda. Não tem como entender essa tragédia que aconteceu com a gente”. 
Chorando muito, sentado na varanda da casa do sogro, onde ele e a família estão abrigados, lamentou: “Saio pra trabalhar às sete da manhã e volto às seis e meia da tarde pra trazer comida e sustentar minha família. Se soubesse, tinha deixado tudo, perdido um dia de trabalho, e ficado ao lado delas”.

Família recebe doações e apoio psicológico
Silvana está na casa de seu pai, a uma quadra de sua antiga residência. Lá, ela, as filhas e o marido estão abrigados e recebem o apoio de amigos, familiares, conhecidos e de toda a sociedade. Mesmo quem não tem filhos se sensibilizou com a tragédia e tenta ajudar de alguma forma: palavras de amparo, abraço e doações. 
De acordo com Suzana Felipe, diretora do Departamento de Ação Social, o momento é muito difícil, mas, felizmente, todo o povo da região, especialmente de Marmeleiro, está auxiliando e tentando ressarcir a família, ao menos das perdas materiais. 

Na sexta-feira, 4, um caminhão passou nas residências que deixaram o endereço ou telefone para contato, recolhendo os donativos. São roupas, louça, colchão, cobertor, fogão, geladeira, cozinha americana e muitos alimentos. A triagem dos produtos será feita na segunda-feira e entregue à família.”Vamos sentar com o prefeito e ver se é possível pagar um aluguel social e qual atitude a administração vai tomar para ajudar essa família”, afirmou Suzana. 
 

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