O desabafo é de um sobrevivente de suicídio, portador de transtorno bipolar de humor.
.jpg)
Davi faz acompanhamento com psiquiatra e psicólogo; não abre mão dos medicamentos e dos exercícios físicos. Ele é atleta e corre todos os dias.
Fotos: Leandra Francischett/Gente do Sul
Davi tem 40 anos e a vida toda lida com os altos e baixos do transtorno bipolar do humor. Essa oscilação constante é um dos fatores que mais interferem no suicídio entre bipolares. O próprio Davi já tentou contra sua vida cinco vezes, mas ele tem consciência que seu objetivo é acabar com a dor emocional, e não morrer.
Em tratamento há 11 anos, hoje ele faz acompanhamento com psiquiatra e psicólogo; não abre mão dos medicamentos e dos exercícios físicos. Davi é atleta e corre pela manhã e no final da tarde, todos os dias, o que contribui para equilibrar os períodos de mania, caracterizados pela euforia e pela sensação de bem-estar exagerada e que, quando não tratada, leva à depressão, que é a queda, mais uma vez.
Além das dores emocionais, o preconceito ainda causa sofrimento. “As pessoas julgam você pelos pensamentos delas, como se todos tivessem mente sã, porque a doença mental não é tão aparente. As pessoas se afastam, porque não querem estar do lado de quem oscila de humor. Sofremos duas vezes, por causa da doença e pelo preconceito de quem a gente gosta.”
Ele acredita que, apesar do prejulgamento da sociedade, a melhor solução é falar, porque ajuda a passar por esses momentos mais difíceis. “Um amigo, alguém que escute, porque o que mais atrapalha é quem vem dar conselho.”
O Centro de Valorização da Vida (CVV) presta atendimento emocional através da ligação 188, sigilosa e gratuita, que atende todo o Brasil. “Falar é a melhor solução” é o slogan da entidade, em Beltrão representada pelo CVV Comunidade, com sede na rodoviária. A entidade trabalha com o apoio emocional, e não com conselhos, uma vez que cada caso deve ser considerado único; além disso, quando o assunto é suicídio, não há receita de bolo, ou seja, não há um padrão.
“Um dos conselhos que eu ouvi é que preciso esconder que tenho problema mental, para que os outros não me discriminem, mas hoje decidi que, se as pessoas quiserem ficar próximas, é pelo entendimento, porque não se cura bipolaridade, só tem tratamento. As pessoas têm que aceitar do jeito que a gente é, como acontece com quem tem diabetes, que tem que tratar o resto da vida”, acrescenta Davi. Ele cita ainda o julgamento pela aparência física, que estando boa é como se não houvesse problema mental, quando na realidade pode-se estar camuflando um bem-estar.
O afastamento social pode acentuar doenças psíquicas?
Pessoas que sofrem de transtornos psiquiátricos são mais suscetíveis a desenvolver reações negativas pelos estímulos mentais e sociais a que estão sendo expostas por esse momento de pandemia. O psicólogo Leandro Pereira esclarece: “Isso pode ser acentuado pela diminuição do contato com profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, que fornecem orientações e tratamentos para que os sintomas sejam mantidos sob controle”.
Durante períodos de isolamento social, a pessoa com transtorno bipolar, por exemplo, pode ser duplamente impactada pela pressão psicológica de uma quarentena. “Na fase depressiva, pode parar de se cuidar, não seguindo recomendações de higiene, como lavar as mãos, usar álcool em gel, máscaras e luvas quando necessário, aumentando as chances de contágio. Na fase eufórica, por outro lado, o paciente pode adotar um comportamento mais impulsivo, ignorando a prudência necessária e, por isso, também aumentando suas chances de contágio.”
Além disso, outras comorbidades podem estar associadas, como distúrbios alimentares e transtorno de pânico. “Neste momento de pandemia, muitas pessoas encontraram seu refúgio na alimentação.
Sobre os distúrbios alimentares, talvez enxergamos a bulimia ou a anorexia como prejudiciais, mas ‘comer’ suas emoções é um agravante que vai gerar muitas complicações”, ressalta Sabyne K. Ribeiro, personal trainer.
.jpg)
Pessoas com transtornos psiquiátricos são mais suscetíveis a desenvolver reações negativas pelos estímulos mentais e sociais.
A atividade física é uma opção para amenizar essas características.