Augustinho Zucchi: sonho de garoto era ser agrônomo e político
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Augustinho Zucchi, no dia desta entrevista: “Eu gosto (de política), na essência da palavra eu acho que política é a arte da relação humana, acho que vou fazer o resto da vida, independentemente de ocupar cargo eletivo ou não”. |
Segundo dos cinco filhos do agricultor Albino Zucchi (neste sábado completou 79 anos) e Verena de Almeida Zucchi (73 anos), Augustinho Zucchi nasceu em Palmeirinha, Itapejara D`Oeste, dia 6 de fevereiro de 1962 (naquele tempo pertencia a Pato Branco). Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Paraná, tornou-se funcionário público estadual. Sempre foi ligado à política mas se candidatou pela primeira vez em 1990, ficando suplente de deputado estadual. Na eleição de 1994, elegeu-se pela primeira vez, com 18.622 votos, pelo PPB de Pato Branco. Em janeiro de 1995 ele deixou a chefia do Núcleo da Seab de Pato Branco para assumir a Assembleia Legislativa, de onde não mais saiu, porque obteve a reeleição, com número sempre crescente de votos: 40.586 votos em 1998, 59.445 votos em 2002, 67.760 votos em 2006 e 70.217 em 2010. Em 2002 ele mudou de partido, deixou o PP para filiar-se ao PDT. Em 2010, seu nome foi cogitado para ser candidato a vice do eleito governador Beto Richa. Augustinho Zucchi é solteiro mas tem um filho, Mateus, de 15 anos.
Quarta-feira desta semana, na condição de candidato a prefeito de Pato Branco, Augustinho Zucchi recebeu o Jornal de Beltrão para esta entrevista.
Como foi a sua infância, na Palmeirinha? Eu sou filho de um pequeno agricultor. Meu pai tem oito alqueires de terra, mora na mesma propriedade que eu nasci. Foi uma infância como foi a da nossa geração. O trabalho na agricultura era totalmente ligada à mão de obra familiar. Eu cresci trabalhando na roça, estudando meio dia. A gente ia pra aula meio dia, e à tarde eu ajudava o pai na roça, essa era a nossa função. Minha família é bastante religiosa, o pessoal tem uma vinculação profunda com princípios fortes. Recebi uma educação firme com princípios de caráter extremamente rígidos, e participei desde menino da escola, da comunidade Palmeirinha. A gente trabalhava durante a semana à tarde, no sábado ia limpar o terreno pra mãe, de manhã cedo ajudar a tirar leite das vacas, à noite no jantar e ao meio-dia, nós e os irmãos mais velhos, lavávamos a louça, coisas assim. Meu pai sempre foi um suinocultor e a nossa função era essa: trabalhar, ajudar a família, ir no catecismo, no domingo sempre ir no culto e de tarde jogar futebol com a piazada da comunidade. Meu pai sempre foi envolvido com a diretoria da comunidade. A gente ajudava nas festas, ajudava naquilo que a comunidade promovia. Era uma época difícil. Sem energia elétrica, meu pai tinha um dínamo tocado por uma roda d’água que fornecia energia, que tinha energia. Televisão foi bem mais tarde, o rádio era o meio principal de comunicação, a gente ouvia muito rádio, ouvia a rádio Celinauta de Pato Branco, que era a rádio dominante aqui na região, e meu pai ouvia a Guaíba gaúcha, as rádios do Rio Grande do Sul porque era tradição. Me criei ouvindo o meu pai falar do Rio Grande, me contar da Revolta dos Posseiros, falava muito sobre essa questão da história da região.
Ele se envolveu? Na época não teve quem não se envolveu, ele não se envolveu diretamente, mas todo mundo participou daquele momento, todo mundo acompanhou aquele fato que era uma coisa muito importante. Eu acho que foi, em termos de mobilização civil no Brasil que eu conheça, a única vitoriosa, em termos da posse da terra, acho que os agricultores tiveram, digamos, uma determinação muito grande, uma união muito forte, e graças a isso que nós temos esse espelho, essa estrutura fundiária de hoje. Acho que foi uma coisa marcante pra região. Eu sempre ouvi meu pai falar muito, sempre nos incentivando pra estudar. Eu fiz o primário numa escola municipal de madeira, depois fiz o ginásio no colégio Marista e quando eu fiz o teste vocacional, tinha 11 anos, eu falava que queria ser agrônomo e deputado, e deu certo. Foi essa a infância que a gente teve, jogo duro, tinha uma dificuldade bastante grande, mas uma convivência na comunidade muito forte, uma comunidade predominantemente colonizada por italianos. A gente fazia vinho em casa, meu pai faz até hoje vinho de um ano pra outro, e herdamos essa tradição de trabalho na agricultura de vinculação profunda com as comunidades e de vivência com as pessoas na comunidade, acho que foi isso o legado maior.
O milho, comparando com hoje, tinha produtividade bem baixa. E a suinocultura já era tecnificada, ou era ainda no tempo do milho, do pasto, da mandioca? Não, veja só, na época já começou um apoio pra tecnificação da produção dos suínos, mas veja, a produtividade do milho era muito baixa, quem colhia 70, 80 sacas por alqueire de milho colhia bem e o milho era transformado em proteína animal sempre. Naquela época nós não tínhamos a bacia leiteira, não se vendia o leite, a mãe sempre fez queijo, nata, manteiga, a sobrevivência mesmo era a produção de suínos. Todo o milho que a gente produzia ia pra produção de suínos, isso era uma regra básica entre os pequenos agricultores, todos os nossos vizinhos produziam suíno que eu me lembre, todo mundo a renda mais constante da propriedade era a produção de suínos. A agricultura era feita totalmente manual, não tinha mecanização nenhuma.
Não tinha herbicida, o garoto Augustinho ajudava a limpar o milho? Eu ajudava. O meu pai até contou no primeiro programa que nós fizemos uma história, e é verdadeira, que a gente tava passando com tração animal eu ia em cima do cavalo e ele atrás na carreira de milho, e pegou numa raiz e deu aquele impacto e eu caí lá na frente, uma história engraçada, ele lembrou disso eu não lembrava mais. Claro, nós trabalhávamos direto, ajudava a limpar, o plantio, a moeda do agricultor era o milho, todo mundo plantava, e o milho na época o espaçamento era diferente do que hoje, era bem mais espaçado e não tinha nada de uso e agrotóxicos, era trabalho manual e tração animal, era esse o trabalho. Eu me lembro que eu levava o café na roça pro meu pai, meu pai levantava de madrugada e trabalhava, aí pelas 8 e 30, 9 horas era função de um de nós levar o café pro pai na roça. A gente se criou assim.
Todos os seus irmãos conseguiram continuar os estudos? Não, na verdade eu fui o precursor da família, eu saí, fui para um colégio agrícola pela questão de eu querer fazer agronomia. Fui estudar em Guarapuava no colégio agrícola, quando eu tinha 14 anos. Depois eu adentrei na Universidade Federal do Paraná e daí incentivava os meus irmãos pra estudar, mas a dificuldade era imensa, na época era impossível um pequeno agricultor pagar cursinho para um filho. Os meus irmãos vieram a estudar um pouco mais tarde, depois de pessoas feitas, de adultos que vieram a se formar.
Pra conseguir a vaga foi fácil o primeiro vestibular? Foi o primeiro, eu na verdade tive muita sorte mesmo, com a graça de Deus, foi o primeiro vestibular. Saímos do colégio agrícola em 18, a gente não conhecia Curitiba, fomos lá fazer a inscrição no vestibular, isso no final do ano antes da nossa formatura.
Não teve dúvidas, seguiu a vocação. Nunca quis fazer outro curso, nunca pensei, nunca me desviei, desde a época de piá. Eu me lembro que eu pegava uma espiga de milho e começava a treinar aula com espiga de milho, eu sempre gostei disso. No Colégio Agrícola eu me preparei pra fazer o vestibular e quando eu passei no que eu mais queria fazer, agronomia, eu nunca tive outra opção que não fosse agronomia mesmo.
E gostou da profissão. Nossa, eu adorava aquilo. Eu saí com uma base muito boa do colégio, uma base técnica, uma base prática de casa, a gente tinha a base prática total das propriedades. O importante da profissão não é somente conhecer a técnica da agricultura é muito importante conhecer o agricultor, eu acho fundamental. Conhecer o agricultor talvez seja o segredo de você falar sobre a questão da agricultura; o agricultor tem o seu histórico, por isso que estrada é muito importante, porque os nossos pioneiros abriram estrada a picareta, há um sentimento muito forte de que a estrada é a ligação da propriedade, da cidade com a vila, com o comércio, isso tem um sentido muito profundo. Eu senti facilidade quando entrei no curso de agronomia, um curso muito bem estruturado na Universidade Federal, e comecei a participar das políticas de agricultura, comecei a ver que a agricultura não dependia só da força de trabalho do agricultor, só da técnica, que precisava decisão política no país pra ajudar os agricultores, a gente tinha isso muito claro na faculdade.
Sempre gostou de agricultura e de política desde cedo. Adorava, desde piá eu sempre falava em casa, ia nos comícios do pessoal. Lembro dos políticos de antigamente daqui, os políticos participavam lá. O Ivo Thomazoni gravou pra mim esses dias aqui no programa, uma honra pra mim porque eu conheci ele andando, chegando na casa do meu pai, do meu avô, ele como candidato a deputado, era época de dois partidos só, da Arena e do MDB. Tínhamos políticos fortíssimos no Sudoeste, Deni, Scalco, Nilson, Sebastião, Arnaldo Busato, Candinho, Ivo Thomazoni, Aryzone e tantas outras figuras da nossa política tradicional que tinham força grande na nossa região.
E o primeiro emprego já foi obtido pelo concurso no serviço público? Isso, foi assim eu me preparava pra fazer uma pós-graduação na Itália, através de um professor meu de fruticultura que tinha feito doutorado na Itália, o Zanetti. Eu gostava muito de fruticultura e queria fazer especialização e pós-graduação. Surgiu na época no ITCF um concurso, Instituto de Terras, Cartografias e Florestas, e eu fiz e passei e fiquei naquela situação: ou começava a trabalhar ou ia fazer a pós-graduação, e optei por começar a trabalhar, em julho de 1985, já tinha me formado, mas não tinha feito colação de grau, que foi em 14 de setembro de 85 e eu comecei a trabalhar em Pato Branco dia 17 de julho de 1985. Me deram três opções, Pato Branco, Paranavaí e Umuarama, e eu optei por Pato Branco.
E continuou mais envolvido primeiro na política ou na agronomia? Não, veja bem, eu entrei como técnico, criei um programa chamado “Verde que te quero verde”, era um programa que fazia reposição de matas ciliares nos lugares onde os agricultores não usavam pra lavoura, pra plantar mudas nativas, mudas de árvores frutíferas e tal. Depois de seis meses o chefe regional foi transferido e eu assumi a chefia. Comecei a trabalhar, fazia palestra nas escolas sobre a questão ambiental e nas associações ambientais, naquela época começou a ter uma vertente com relação à preocupação ambiental. A gente trabalhava muito nisso, eu fiquei um ano e meio na chefia aqui, aí eu acho que foi início de 87, o Osmar Dias assumiu a Secretaria da Agricultura no Paraná e me convidou pra ser diretor de terras no estado, eu fiquei de 87 a 91 como diretor de terras, aí foi um trabalho em estado, naquela época emergia a questão da luta pela terra, reforma agrária, movimentos sociais, nós trabalhamos muito nessa questão, o estado coordenava isso, coordenava todo o programa de assentamento e reforma agrária no estado, foi um trabalho difícil.
E quando é que nasceu a candidatura do Zucchi pra deputado pela primeira vez? Eu fui sempre admirador do Brizola, na faculdade nós fizemos um time pra visitar o Brizola no exílio, sempre gostei dele. O Brizola, pra nós, pesava muito, era uma influência muito forte pela luta que ele teve contra a ditadura, pelas posições dele, pela educação, ele fez seis mil escolas no Rio Grande do Sul, aquilo pra mim parecia uma grande saída pro Brasil. Me filiei ao PDT e fui candidato, isso em 90. Eu me filiei ao PDT na eleição de 89 quando o Brizola foi candidato a presidente e trabalhei muito, por todos os lados que o Brizola andou no Paraná eu andei, falei com ele, nós tínhamos um pessoal que era muito ligado ao Brizola, que veio pro Paraná quando o Brizola voltou do exílio, a gente andava junto. Em 90 eu fui candidato a deputado estadual pelo PDT. Começou aquele negócio por causa do nosso trabalho com o pessoal, da agricultura e ‘vai ser candidato, vai ser candidato’ e fui candidato. Fiquei quinto suplente do PDT. O Requião se elegeu governador e daí eu fiquei seis meses na Carteira de Crédito Rural do antigo Banco do Estado, ajudei a escrever o programa “Panela cheia”, foi a razão que eu fui pra lá. Nós éramos em quatro pra escrever o programa e depois eu vim pra implantar o programa aqui na Secretaria da Agricultura de Pato Branco, e fiquei de 91 a 94 aqui. Em 94 me licenciei pra ser candidato a deputado estadual e me elegi. Aí foi um trabalho intenso. Na Secretaria da Agricultura aqui, nós fomos o primeiro núcleo do estado em aplicação de recursos, foi um trabalho muito bom, mais de 130 associações de agricultores na nossa região.
Os desafios para a agricultura continuam? A agricultura sempre foi uma questão de decisão política do Brasil, uma questão econômica sobretudo. Se o agricultor tiver segurança pra produzir, tiver preço, e depois tem que trabalhar as cadeias produtivas, transformar o nosso milho em proteína animal, nós temos que agregar valor, industrializar a nossa produção, fazer com que o ganho fique com o agricultor também, não fique só no passeio que o produto dá. O feijão, por exemplo, sai do agricultor, vai pro Rio de Janeiro, lá dão um banho de óleo e volta pra prateleira do nosso mercado com 10 vezes o preço do que aquilo que o agricultor recebe.
Nas horas de folga qual é o seu hobby, como é que o senhor ocupa o tempo? Eu adoro ler, mas não uso isso nas horas de folga, eu leio bastante à noite e em todas as oportunidades possíveis. Mas hobby mesmo eu gosto do sítio, tenho cavalo, gosto de andar a cavalo, gosto de por o pé no chão, gosto das coisas da nossa origem é a coisa que eu mais gosto, ficar no sítio, almoçar lá, dormir lá, é o que eu gosto.
Esportes, pratica algum ou só aprecia? Na verdade a única coisa que eu gosto de fazer é cavalgada, que eu gosto mesmo de fazer e faço. Gosto de futebol, jogava bola agora já não jogo mais.
Qual é o seu time? Atlético Paranaense. Fui conselheiro do Atlético em 81/82 nas épocas boas do Atlético, hoje estão peleando pra sair da segunda divisão. Mas eu torço pro Atlético, gosto de futebol, vejo a nossa região aqui numa dualidade entre o Grêmio e o Internacional, são dois times respeitados no nosso país que sempre estão disputando. Eu fico brincando que aqui o Atlético é a terceira opção.
O lado religioso, sua família é católica? Católica, a minha família sempre participou da igreja, também participo, acho fundamental, acho o tripé da vida: fé, família e trabalho, acho que são as três coisas que são fundamentais e que nos norteiam.