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Francisco Beltrão
domingo, 08 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Banda Paraná Blues encerra suas atividades depois de 30 anos

Fundador, Ubirajara de Freitas está de mudança para o litoral de Santa Catarina.

Uma das últimas formações: Maguila, Gabriel Elvas, ‘Sebbo’ Lovera, Sue Damaris Elvas e Bir

“Quero uma casinha ribeirinha na beira do morro, pra que eu possa ver do morro, o sol morrer na solidão.” Essas são as primeiras frases da letra, que também é o refrão de ‘Casinha Ribeirinha’, clássica do rock rural regional, composta por Ubirajara de Freitas, o ‘Bira’, idealizador e fundador da Banda Paraná Blues, referência no rock de toda a região Sudoeste do Paraná desde a metade dos anos 1990. Depois de quase 30 anos, a banda encerrou definitivamente suas atividades. O principal motivo é porque Bira e sua esposa, Jô Abdala, diretora do Jornal Opinião, estão de mudança para Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina. Eles vão atuar na área de imóveis naquela região.

A Paraná Blues teve como influências, no Estado, a Blindagem, banda que teve muitas composições em parceria com o escritor e poeta Paulo Leminski (1944-1989), e o músico João Lopes (1950-2020) que, dentre outras canções, compôs o clássico ‘Bicho do Paraná’. Foram incontáveis eventos e shows. E um dos que mais marcaram a história da banda durante esses 30 anos, foi no Tim Blues & Jazz Festival, no ano de 2007, em Búzios (RJ). Aquele evento contou também com a participação de Celso Blues Boy (1956-2012) e com Phil Guy (1940-2008), irmão da lenda do blues norte americano, Buddy Guy, hoje com 85 anos.

Última formação
Os dois últimos shows da Paraná Blues aconteceram domingo, 7, no encerramento do 9º Encontro de Carros Antigos de Francisco Beltrão, no Parque Jayme Canet Júnior. O primeiro foi às 11h, da manhã, e o derradeiro, às 16h. Na última formação da Paraná Blues, subiram ao palco Carlos ‘Maguila’ Freitas (bateria), Gabriel Elvas (guitarra) e Ubirajara de Freitas (voz, violão e harmônica), com a participação especial de Etcheverri Santi (teclados). Bira diz que, no total, mais de 20 músicos integraram a Paraná Blues durante todo o período em atividade.

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Reba Z9
Quando tinha apenas 12 anos de idade, em 1985, Bira teve a oportunidade de ir à primeira edição do Rock In Rio. Por influência do seu pai e do seu avô, ele já era bastante ligado à música nessa época.
“Eu sempre quis tocar guitarra e quando voltei do Rock In Rio logo pensei em formar uma banda.”

No final dos anos 1980, Bira foi convidado a integrar a Banda Reba Z9, que tocava o estilo punk rock. “Éramos uma banda punk, então o nome ‘Reba’, era algo como ‘sobra’, ‘o que restou’; o ‘Z’ por ser a última letra do alfabeto e o ‘9’, por ser o último algarismo”, explica Bira.

Cultura regional
Como havia poucas bandas de rock reconhecidas no Paraná naquela época, Bira conta que quis ajudar a ‘engrossar o caldo’ do rock no Estado, para que as pessoas, especialmente as da região, também se identificassem com as letras compostas por ele.
“Pus a pitada do Sudoeste nas minhas composições, falando da geada, do pinhão, da gralha, do pé vermelho. Pouca gente hoje canta as coisas da região e na minha época ninguém cantava.”

Rosa Purpurina
Ao lado de ‘Casinha Ribeirinha’, a música ‘Rosa Purpurina’ é outra que fez muito sucesso em Francisco Beltrão e na região. Bira se diz orgulhoso do trabalho feito nos últimos 30 anos. “Muitos jovens se formaram e muitas noivas casaram ao som da Paraná Blues e isso é motivo de muito orgulho. Talvez Rosa Purpurina seja uma das músicas que mais tenha tocado. Ficou em evidência nas rádios por anos e em primeiro lugar por mais de seis meses, entre 1988 e 1989.”


Pioneira com acordeom

No primeiro disco da Paraná Blues, três músicas contam com acordeom: ‘Casinha Ribeirinha’, ‘Cabrilinda’ e ‘Quero-Quero’. O pioneirismo em colocar um instrumento diferente no rock também chamou atenção na época e o acordeonista Paulo Merísio, que gravou, recorda daquele período. “Foi uma experiência única, porque foi a primeira banda em que toquei. Sempre gostei de rock e tocar acordeom na banda foi bastante desafiador, porque eu não tinha muita experiência com o instrumento.” Hoje, Paulo tem cinco discos gravados como acordeonista e é um admirador do trabalho de Bira. “Sou fã das composições dele mais do que tudo.”


Dois discos

Apesar de as músicas da Paraná Blues já fazerem sucesso no final da década de 1980, o primeiro disco foi gravado no ano de 1998 e lançado em 1999. Denominado de ‘Maria Fumaça’, é recheado de músicas que são cantadas até hoje e que jamais vão sair da memória dos beltronenses. ‘Cigarrinho de Palha’, ‘Rosa Purpurina’, ‘Cabrilinda’, ‘Quero-Quero’ e ‘Casinha Ribeirinha’ estão neste disco. O segundo disco, ‘Pra Quando a Estrada For Longa Demais’ foi gravado em 2018 e lançado no mesmo ano. Ambos contam com músicas autorais da banda e estão disponíveis nas plataformas digitais de áudio.


Missão cumprida

Depois de tanto tempo, Bira olha para trás e afirma que tem o sentimento de missão cumprida com o trabalho feito pela Paraná Blues. Ele agradece ao carinho e ao reconhecimento das pessoas que o acompanharam durante todo esse tempo. “A todos os que tiraram um tempo para ouvir, para assistir aos shows e aos nossos clipes, obrigado! Me sinto aliviado e um pouco triste também, porque estou deixando um projeto de vida, em que fiquei anos trabalhando.”
Porém, mais do que tudo, ele diz estar contente pelo longo e bonito trajeto percorrido com a Paraná Blues. “Muitas bandas, até melhores, não duraram tanto tempo. O que tenho a dizer é muito obrigado!”

A influência e a importância da Paraná Blues
Maurício Escher é baixista e hoje toca em bandas de Curitiba. Ele também integrou a Paraná Blues e conta que diz que admirava o trabalho da banda desde criança. “Quando eu tinha 12 anos, gravei a música ‘Quero-Quero’, de um programa de rádio, em uma fita cassete. Eu tinha essa letra colada na parede do meu quarto como um pôster. Em 2006, com 20 anos, fui convidado a integrar a banda e foi um sonho realizado! Toquei até 2015 com a Paraná Blues.”

Para ele, a autenticidade é uma das marcas registradas da banda. “Pioneira em juntar a gaita e a guitarra numa sonoridade regional e ao mesmo tempo cosmopolita, situada no Sudoeste do Paraná.”

Quem nunca?
Há mais de 30 anos Renato Tesser trabalha com música em Francisco Beltrão e na região. Ele conta que acompanhou o trabalho da Paraná Blues desde o seu início. “A gente convivia com o Bira e com a Reba Z9. O trabalho da Paraná Blues teve um impacto muito grande para todos os músicos do Sudoeste. Quem nunca cantou ‘Cabrilinda’ ou ‘Casinha Ribeirinha’ nas madrugadas?”

Ele chegou a produzir algumas composições da Paraná Blues e lembra bem daquela época. “Sempre com grandes músicos acompanhando o Bira. É um pedaço muito importante do rock do Sudoeste e desejo sucesso a todos.” Ao lado de Bira, Carlos ‘Maguila’ Freitas, é o integrante mais longevo da Paraná Blues. Oficialmente, ele conta que passou a integrar a banda no ano 2000, mas muito antes já era o responsável pelas baquetas. Maguila agradece por ter feito parte da banda e afirma que cumpriu seu dever. “Fizemos muitos shows e conhecemos muitas pessoas do meio artístico. Sou muito orgulhoso de ter feito parte da história da Paraná Blues e o sentimento que tenho é de dever cumprido.”

Experiência para a vida
O guitarrista Gabriel Elvas, da mesma forma que Maguila, tem longo tempo de participação na Paraná Blues. Tudo começou há 20 anos, quando ele se mudou de São Paulo para Francisco Beltrão.
“Quando cheguei, conheci um cara que considero um irmão, o Maguila. Depois, que conheci o Bira, engatei um relacionamento nos palcos, um entrosamento e uma química que nos fez ainda mais próximos. A Paraná Blues fez parte de minha história, e sou muito grato aos meus parceiros por compartilharem comigo tantos momentos de vibração e alegria.”

Sue Damaris Elvas Dantas é irmã de Gabriel e fez parte da Paraná Blues como vocalista entre os anos de 2018 e 2020. Segundo ela, foram anos em que ela teve uma experiência singular. “Muita energia boa, muita amizade. Isso vai ficar marcado pra sempre na minha vida.”

Três anos na banda
Marcos Dank é guitarrista e hoje é proprietário de uma escola de música em Curitiba. Ele também fez parte da Paraná Blues por cerca de três anos e disse ter ficado muito triste com a notícia do encerramento definitivo da banda.

“A Paraná Blues e a Chumbo Dirigível são duas bandas que me influenciaram muito. Dos 19 aos 22 anos toquei com a Paraná Blues e foi uma escola para mim, aprendi muito. Ainda hoje toco músicas da banda quando faço acústicos. Lamento que a banda tenha encerrado as atividades.”

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