Quem conta é Daniela Jaquelini Schmit, que há 14 meses reside no país europeu.

A Alemanha está desde dezembro em novo lockdown, mas os números de Covid-19 continuam altos. Há um ano e dois meses, a beltronense Daniela Jaquelini Schmit mudou-se para lá, junto com o marido Douglas Dall’Agnol, o filho Guilherme e sua namorada Gabriela.
Douglas foi a trabalho na área de TI (Engenheiro de Software). “A motivação foi aproveitar a oportunidade de trabalho dele para toda a família viver uma experiência diferente, de cultura, língua, e geograficamente explorar novos lugares que sempre desejamos. Como minha formação é em Psicologia, para trabalhar como psicóloga preciso ter um nível de alemão C1. Então, no momento, estou estudando alemão”, conta Daniela. Confira a entrevista.
[relacionadas]
JdeB – Como está a situação do coronavírus na Alemanha?
Daniela Jaquelini Schmit: Atualmente, a situação está sendo controlada, contudo, com muita cautela. A métrica utilizada aqui é número de incidência (novos casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias), ou seja, o governo tem metas baseadas neste índice para afrouxar ou apertar as restrições. Para se ter uma ideia, 15 dias atrás o índice estava em 57, muito próximo da meta que seria 50, e hoje está em 65,8.
A meta do governo alemão para 50 é por conta da capacidade de assistência hospitalar aos que apresentam agravamento nos sintomas. Estamos desde dezembro em novo lockdown, e ainda assim os números resistem a baixar. Ou seja, desde dezembro, antes do Natal, as medidas restritivas foram contundentes e assertivas para que a assistência hospitalar fosse possível a quem necessitasse.

Restrições de contato social, uma família só poderia encontrar com outra com total de cinco pessoas, apenas serviços essenciais como supermercados, farmácias, transporte, mecânica, posto de combustível e serviços de saúde e profissionais de manutenção permaneceram em funcionamento normal. As escolas se adaptaram a parte do conteúdo ser EaD, e parte presencial para quem necessitasse, como filhos de profissionais da saúde.
O toque de recolher está em vigor?
Houve toque de recolher entre 21h e 5h da manhã, mas foi alterado nas últimas semanas e já podemos estar nas ruas nestes horários. O aspecto positivo era o incentivo às atividades físicas ao ar livre, e de preferência tomar sol e reforçar o sistema imunológico para defender o organismo. Muitas empresas passaram a funcionar home office. Não apenas na área de TI, que é o caso do meu marido, mas muitas outras solicitaram aos funcionários que pudessem trabalhar home office que o fizessem para reduzir a circulação de pessoas em ambientes fechados e no transporte público.
É muito comum ver ônibus rodando vazio ou com uma ou duas pessoas, de dez em dez minutos. Enfim, foram muitas medidas preventivas adotadas. A população de modo geral é colaborativa. Ninguém da nossa família contraiu o vírus. A promessa que ouvimos de uma médica que conhecemos é que até abril toda população tenha tomado a primeira dose da vacina; para as férias de verão, a expectativa é de todos estarem vacinados.
[banner=100074]
Vocês estão com medo?
Logo que o vírus surgiu ficamos com muito medo. Estar num país diferente, não saber muito como buscar ajuda caso precisássemos. As notícias de países vizinhos, como Itália, que faz fronteira com a região de Munique, nos assustou muito, além de provocar muita tristeza e sentimento de impotência. Mas a condução que Angela Merkel deu foi nos acalmando e gerando uma sensação de que os melhores caminhos seriam traçados.
Decisões sensatas, pautadas em informações de especialistas e dados concretos, com uma estrutura de um país forte e estável economicamente. Mas, acima disso tudo, ouvíamos discursos acolhedores, humanos e com uma seriedade admirável na postura de Merkel. E confesso que, a partir disso, a preocupação passou a ser com o Brasil.
Conseguem acompanhar as notícias do Brasil?
O Brasil tem um sistema de atenção à saúde incrível. A capilaridade do SUS possibilita uma ação muito rápida e eficaz. Contudo, o sistema teria suas limitações se a capacidade da demanda excedesse a possibilidade de atendimento na atenção secundária e terciária. Na Alemanha, por exemplo, a atenção primária é mais precária que no Brasil. Como não há essa capilaridade, essa comunicação ativa do agente de saúde nos bairros, a atenção fica deficitária. Depende do indivíduo buscar o sistema de saúde.
[banner=100063]
Neste caso, o Brasil poderia ter o melhor sistema de saúde do mundo para conter epidemias, na minha opinião. E, de certo modo, constatamos isso quando meus sogros testaram positivo. A unidade de saúde acompanhou o desenvolvimento dos sintomas de forma ativa, como não necessitou hospitalização, ficamos mais tranquilos. Mas, nosso medo e preocupação estão com as variantes que se desenvolveram no Brasil e a alta de números de contaminações e de mortes, causadas por uma decisão de remediar, ao invés de prevenir. E, neste aspecto, julgo que muitas pessoas no Brasil não levaram o vírus com a seriedade devida.
Como está a rotina? No caso do meu marido, ele ainda não está indo para empresa. Está totalmente home office. Durante todo o período que estamos aqui, 14 meses, ele trabalhou apenas 120 dias no escritório. E os cursos de alemão foram todos EaD, não houve turmas presenciais disponíveis.