4 C
Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

Caminho da fúria: tornado percorre 7 km

A tempestade avançou por Ampere e às 18h30 chegou no oeste do município de Francisco Beltrão, com intensidade compatível a tempestade extrema. Entre 18h45 e 18h53, o mesociclone estava configurado e, nesta tempestade, um tornado atingiu a comunidade do Km 8. Os ventos começaram com uma velocidade de 150 km por hora e atingiram o ápice a 250 km/h.

 

 

- Publicidade -

De acordo com o Simepar, entre as fortes tempestades que avançaram pelo Sudoeste do Paraná na noite de segunda-feira, dia 13, uma supercélula ganhou força em Bela Vista da Caroba, por volta das 18h10. A tempestade avançou por Ampere e às 18h30 chegou no oeste do município de Francisco Beltrão, com intensidade compatível a tempestade extrema. Entre 18h45 e 18h53, o mesociclone estava configurado e um tornado atingiu a comunidade do Km 8. Os ventos começaram com uma velocidade de 150 km por hora e atingiram o ápice em 250 km/h.

Analisando as imagens de satélite do Google, é possível perceber que o tornado percorreu uma faixa de 7 quilômetros, quase que em linha reta, começando com maior força na área rural e chegando ao perímetro urbano com menor intensidade. O fenômeno natural é raro na região. Um levantamento divulgado pela prefeitura computou pelo menos 76 casas e 227 pessoas afetadas pelo vendaval.
A Secretaria de Desenvolvimento Rural de Francisco Beltrão divulgou um balanço inicial no qual estima em R$ 5 milhões os prejuízos causados pelo tornado que atingiu o município. São pelo menos 25 propriedades que tiveram danos nas residências ou na atividade agrícola. A região mais afetada é o Km 8. No condomínio Portal das Águas nove casas foram danificadas. O levantamento de perdas ainda será atualizado durante a semana.
Em uma única propriedade, uma área de reflorestamento foi devastada, causando prejuízo de R$ 1,2 milhão; em outra, o tornado levou ao chão dois aviários, causando a morte de 60 mil pintinhos e cerca de R$ 800 mil de prejuízo. Em uma associação de suinocultores, que mantinha um laboratório e central para inseminação artificial, o prejuízo estimado é de R$ 450 mil. Além disso, a Copel estima em R$ 83 mil os prejuízos na rede elétrica com danos em postes e fiação. A prefeitura liberou a compra emergencial de 2 mil telhas para socorrer as famílias. 

Tornado destrói até no fundo dos vales; “foi um filme de terror”, diz Carlos Martins

Uma casa construída num lugar alto está mais sujeita à ação dos ventos e aquela de uma baixada fica mais protegida, certo? É um conceito fácil de aceitar, mas o tornado do último dia 13, em Beltrão, mostrou que pode acontecer bem o contrário. A sede da propriedade do Carlos Martins, ao lado do rio Herval, talvez seja a mais próxima ao nível do mar, entre todas as atingidas em Francisco Beltrão, e ainda estava protegida por muitas árvores. E foi uma das mais danificadas.
É interessante observar a destruição que ficou, na casa do proprietário e do caseiro, paióis e demais instalações, tudo arrasado. E lá no alto do morro, a uns 1.000 metros dali, uma casinha de madeira, totalmente exposta ao vento e sem nenhuma telha quebrada. Essa constatação confirma que não foi vendaval e sim um tornado, com limites bem definidos. Onde pegou, arrasou e fora daquela faixa, não fez nada. 
Aquela casa lá do alto está desocupada, era de um tal de Branco, falecido há pouco tempo. Mas ao lado tem outra casa, propriedade de Leocir Belaver, onde reside o casal Atalíbio e Leontina de Souza da Silva. Dona Leontina confirma que o tornado não os atingiu. “Foi uma bênção de Deus, aqui não tirou nem uma telha.”

Salvo por um minuto de atraso
João Martins reside em sua propriedade de 60 alqueires, no Km 8, onde cria gado e arrenda as áreas de lavouras, e todo dia vai para a cidade, a uma distância de 10 quilômetros, para cuidar da Bela Pet Shop, também de sua propriedade, no bairro Pinheirinho. Naquela noite do tornado, ele estava voltando para casa e quando se aproximava da estrada de acesso para seu primeiro vizinho, o Adelino Casagrande (aquele que perdeu dois aviários), viu cair um eucalipto em sua frente. Não teve outra alternativa a não ser parar o carro. E viu uma sequência de quedas de árvores que em poucos segundos encheram a estrada de troncos caídos. Se ele tivesse se adiantado um minuto, estaria esmagado pelos eucaliptos. 
Teve que deixar o carro e chegou em casa a pé e já todo molhado. E logo viu que os estragos em sua propriedade eram ainda maiores. A primeira constatação foi que, no lugar onde ele costumava deixar o carro, ao lado da casa, uma árvore tinha caído e teria amassado seu carro. Quer dizer, se tivesse chegado antes do temporal, teria perdido o carro e até a vida.
No momento da chegada não conseguia ter uma visão geral, estava escuro, os postes de energia foram derrubados, as luzes apagadas. Mas o que ele via ao seu redor lhe dava uma dimensão da catástrofe. Os telhados destruídos, tudo exposto ao tempo. Ainda bem que a residência é de dois pisos, a esposa, psicóloga Juscelina, e a filha Isabela estavam protegidas no térreo.
Carlos, Juscelina e Isabela passaram a noite em lugar seguro e seco porque um casal de amigos veio buscá-los para dormir em sua casa. No dia seguinte, eles puderam avaliar melhor a extensão dos estrados. Das coberturas – casas, paióis, galinheiros, canil – sobrou muito pouco; a maior parte das árvores, quebradas ou arrancadas; animais mortos; cadeiras e até partes do telhado foram parar além do açude; um pedaço de caibro foi encontrado centenas de metros morro acima.
– É um filme de terror – resumiu Carlos Martins.
Gaúcho de Palmeira das Missões, ele adquiriu esta propriedade em 1996 e passou a investir muito e continuadamente em seu acabamento. Construiu açude, piscina, galpão de engorda para bois, aviários (tem aves exóticas e ornamentais), canil, tudo pavimentado e bem sombreado. “Agora vejam como ficou. Quantos anos vai pra recuperar tudo o que foi destruído em poucos segundos?”
Instalações assim não costumam ser seguradas. É o que aconteceu com Carlos Martins, o prejuízo é todo dele. Qual foi o prejuízo? 
– Eu andei imaginando uns 180 mil reais de prejuízos – concluiu Martins.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques