Texto-base enfatiza a diversidade de cada bioma brasileiro e “defesa da vida”.

de cada região e identifica os seis biomas brasileiros. O cartaz também
mostra o cenário, com os personagens principais, os povos originários;
os pescadores e o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida,
padroeira do Brasil; e a preocupação e o alerta para os perigos da devastação
em curso, despertando a atenção da população para a criação de Deus.
A Semana Santa encerra um período de reflexão para os católicos: a Quaresma. De acordo com a tradição, estes dias de jejum, caridade e orações servem de preparação para a Páscoa. E desde 1962 a Quaresma ganhou um reforço na evangelização com a criação da Campanha da Fraternidade (CF) por três padres responsáveis pela Cáritas Brasileira.
Inicialmente, a campanha visava arrecadar fundos para atividades assistenciais, mas, com o seu desenvolvimento, passou a tratar de temas que envolvem a sociedade na solução de problemas específicos. Em 2017, o foco é o meio ambiente e pelo menos duas vezes antes a questão já foi debatida – em 1979, “Preserve o que é de todos”, e em 2011, “Fraternidade e a Vida no Planeta”.
O texto-base da CF deste ano – tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da visa” e lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15) – trouxe como proposta principal dar ênfase à diversidade de cada bioma e criar relações respeitosas com a vida e a cultura de todos os povos que neles habitam. De acordo com o bispo auxiliar e secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, a depredação dos biomas é a manifestação da crise ecológica, que pede uma profunda conversão interior.
O texto foi dividido em quatro capítulos. A partir do método ver, julgar e agir, faz uma abordagem dos biomas existentes, suas características e contribuições eclesiais e também traz reflexões nas perspectivas de São João Paulo 2°, Bento 16 e Papa Francisco. “Creio que todas as paróquias promoveram um estudo com as lideranças do texto-base, o qual, além de olhar a realidade, busca fazer uma leitura da mesma a partir da Palavra de Deus e lançar pistas de ações ou gestos concretos para salvaguardar o meio ambiente. Este que é para nós, cristãos, criação de Deus aos cuidados do ser humano”, diz padre Emerson Detoni, coordenador da Ação Evangelizadora na Diocese de Palmas-Francisco Beltrão.
Tema não pode ir “para a gaveta”
Padre Detoni comenta que o assunto deste ano causou estranhamento na comunidade, “alguns até expressavam de maneira desanimada: ‘de novo meio ambiente'”, mas, enquanto o estudo foi se aprofundando, os objetivos foram sendo alcançados. “Praticamente em todas as missas se fazia menção. Mas a grande força de reflexão está nos grupos de família, os quais, através de um subsídio próprio, reúnem-se semanalmente para a preparação da Páscoa e reflexão da Campanha da Fraternidade.”
A Igreja também preparou materiais específicos para catequese e grupos de adolescentes e jovens. “Percebemos que Deus foi benevolente conosco, concedendo uma diversidade de biomas e uma extraordinária beleza. O desafio nosso é dar continuidade com ações concretas. Não podemos refletir um tema tão importante durante 40 dias e depois colocá-lo na gaveta”, destaca.
A tensão entre a economia e a ecologia é o maior desafio, de acordo com padre Detoni. “Um desenvolvimento tecnológico e econômico que não deixe um mundo melhor e uma qualidade de vida superior não é progresso’ (LS194). A proposta ecológica do Papa Francisco é integral, entrelaçando todas as dimensões do ser humano com a natureza. Queremos continuar chamando atenção para as agressão e degradação que a natureza está sofrendo.”
Medidas para preservar o meio ambiente
Para o padre Emerson Detoni, coordenador diocesano da Ação Evangelizadora, algumas medidas podem ser tomadas para preservarmos o meio ambiente: “Precisamos de grandes medidas: uma política internacional que contemple o planeta como casa comum, onde o interesse dos países ricos não pode estar acima do bem comum global, até porque esses têm responsabilidade maior (poluem mais); precisamos de agricultura sustentável, de energia renovável, melhorar a gestão no uso da água e outros dons. Precisamos de mudanças pessoais: um novo estilo de vida. O mercado tende a criar consumistas compulsivos (paradigma técnico econômico). Um coração vazio tem necessidade de comprar, não aceita limites. Cuidar da criação com pequenos gestos cotidianos: Evitar uso de material plástico, reduzir consumo de água, separar lixo, não desperdiçar comida, cuidar dos outros seres vivos, utilizar transportes públicos, dividir veículo, plantar árvores… Um novo relacionamento com a natureza depende de um novo ser humano”.
Desmates e invasão de APPs: os principais problemas

Francisco Beltrão.
A Campanha da Fraternidade de 2016 foi mais um reforço para lembrar a importância da preservação do meio ambiente. Na esfera pública, o órgão responsável por fiscalizar obras e situações de crimes ambientais é o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A regional de Francisco Beltrão atende 27 municípios, que têm problemas diferentes. Alguns exigem atenção em caso de movimentação de solo, por causa do relevo, por exemplo.
Segundo o chefe do escritório regional do IAP, Dirceu Abatti, os principais crimes cometidos em Beltrão são os desmates ilegais, as invasões de APPs e o uso desordenado de inseticidas. “Um levantamento recente apontou que chegamos a R$ 1 milhão de multas aplicadas em 2016 por desmate, foi complicadíssimo. Nós temos uma Portaria desde julho de 2016 em que no Estado todo não é expedido licença pra qualquer tipo de desmate, seja nativa plantada ou não”, revela Dirceu.
O trabalho de orientação, no entanto, é unificado com as secretarias municipais de Meio Ambiente, o Instituto das Águas e o Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG). “A secretaria tem feito bastante palestras, o instituto trabalha com ICMS Ecológico, que é específico de preservação dos municípios junto com o IAP. Recentemente, nós fizemos um evento na Amsop de conscientização, para que os municípios também busquem cumprir a sua parte na fiscalização.”
Dirceu cita como exemplo de responsabilidade do município o licenciamento ambiental para loteamentos: “Quando vem protocolar o pedido aqui, tem que ter passado por todo o trâmite no município, que dá anuência e aprova os projetos. Eu assumi em 2015 e nosso problema seriíssimo em Francisco Beltrão era loteamento”.
A degradação de encostas causou enxurradas e alguns problemas de alagamentos na cidade. O IAP embargou pelo menos três obras que não tinham licença ambiental. “Por exemplo no Jardim Seminário; no Bairro São Francisco, que a enxurrada trouxe terra e cobriu algumas casas; outro em frente à Sadia tinha destruição de APP, estão recuperando essa área. Aos poucos a gente tem tentado conciliar a questão econômica, que a gestão pública possa acontecer, mas que o meio ambiente seja respeitado”, declara Dirceu.
O chefe do escritório diz que, na área urbana, outro grave problema é a ocupação de APPs. “Quando vai fazer um empreendimento, tem que ter uma metragem, dependendo da largura do rio é a quantidade que tem que deixar de área de preservação, faz uma rua e a partir dali o loteamento, e nós observamos invasões dessas áreas. As APPs invadidas precisam de um conjunto de ações, precisa resolver o problema para as pessoas, ter um local para colocá-las, fazer um planejamento de recuperação dessas áreas e não deixar reincidir; é uma questão social muito complexa”, avalia.
A fiscalização acirrada, com aplicação de multas para quem desrespeita a lei, surtiu efeito na consciência dos empreendedores. “A gente observa um controle maior, mas a gente ficou um bom tempo aplicando multa, cumprindo rigidamente a legislação para chegar a isso. Este ano nós tivemos um número até agora muito pequeno de autos de infração por desmate, e eu espero que continue assim, e isso é, possivelmente, reflexo do grande número que nós fizemos ano passado”, completa Dirceu.
Polícia Ambiental
De acordo com o Sargento Charles, a maioria das denúncias que chegam à Polícia Ambiental também envolvem crimes de desmatamento. São registrados, ainda, casos de animais selvagens em cativeiro e maus-tratos a animais domésticos.
*Com informações da assessoria e Agência Brasil.