Representante da rede supermercadista diz que empresas não repassaram todo o reajuste para os consumidores.
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Os preços da carne bovina aumentaram 35% num período de apenas 20 dias.
Foto: Niomar Pereira/JdeB
O aumento do preço da carne bovina pegou todo mundo de surpresa nos últimos dias. Graças à variedade de opções de proteína animal no mercado, o cardápio do brasileiro não alterou, mas a tendência do consumidor é optar por produtos mais baratos.
Segundo o empresário pato-branquense Vinicius Lachman, representante regional da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), o aumento médio do valor da carne bovina chegou a 35% em alguns frigoríficos no período de 20 dias. Alguns cortes nobres embalados a vácuo tiveram um acréscimo ainda maior.
Vinícius diz que a rede supermercadista não repassou todo o aumento ao consumidor final. “Os empresários absorveram um pouco dos custos porque assustou. O aumento da carne bovina também puxou o valor da carne suína e do frango. Então, se comparar com o mesmo período do ano passado, tivemos o mesmo valor em vendas de carne, mas com quantidade menor. Foi uma leve queda, não houve uma retração significativa.”
Poderia ser gradativo
Na opinião dele, o valor da carne bovina estava defasado e precisava de correção, contudo, poderia ter sido feita em etapas ao longo de todo o ano. Vinicius observa que o setor de frigoríficos prefere vender para o exterior do que manter as parcerias no mercado interno, mesmo deixando de faturar mais, para não perder os clientes. “Mesmo a gente pagando caro pela carne, ouvi dizer que o mercado externo paga até 15% mais. O preço só não continuará alto ano que vem se os produtores tiverem tempo para repor o plantel e o mercado externo não aumentar o consumo”, avalia.
Na avaliação de Denilso Baldo, diretor administrativo da Rede Forte de Supermercados, avalia que se o consumo baixar, os preços se ajeitam por conta. “Para o dono do supermercado subiu muito. É quem mais está sofrendo, pois não consegue repassar o aumento real. Mas eu acredito que o mercado se estabiliza em poucos meses. A carne de gado sempre foi líder em vendas e os preços se mantiveram nos últimos anos. Os custos aumentaram e a competição mantinha o preço estável e aceitável. Agora tem este ‘espanto’ com os preços”, comenta.
“Carne bovina sem reajuste há seis anos”
O empresário e pecuarista Idalino Menegotto, de Francisco Beltrão, afirma que há mais de seis anos que a carne bovina está com os preços estabilizados. “Se fizer uma comparação de seis anos atrás, o valor da carne com o poder de compra do salário mínimo, e comparar com o de hoje você vai ver que não houve aumento nenhum, o que houve foi um ajuste em relação ao que está atrasado, falando de fatores econômicos”, analisa.
Na opinião dele, a exportação não influenciou tanto na questão do preço da carne bovina. “O brasileiro é muito inteligente, no momento que a carne bovina sobe, ele procura a carne suína, o momento que a carne suína sobe, ele vai pro frango. Como o frango estava relativamente estável e a produção no País estava estável, aconteceu de uma certa maneira, que o preço dos três produtos, ficaram praticamente num patamar de reajuste equacionado pela desvalorização que teve durante esse período.”
Idalino salienta que no País só há duas grandes empresas de frigoríficos que já vinham polarizando o mercado, comprando os pequenos frigoríficos, “e colocaram o preço que eles quiseram ou da forma que eles entendessem. Deixando o produtor, de uma certa forma, na mão deles. Aí o que aconteceu em relação a isso? Houve um desestímulo aos produtores, eles acabaram mudando de atividade, boa parte desses que têm propriedades, são terras planas e boas, eles saíram da atividade da agropecuária e foram pra lavoura.”
O empresário menciona que a defasagem do plantel no Brasil gira em torno de cinco milhões de cabeças de gado. Além disso, ele não acredita que quem deixou a pecuária de corte irá retornar em breve para a atividade. “É impossível, porque o custo de você montar uma propriedade, uma fazenda, uma criação de gado, preparação de pastagem, cerca e infraestrutura é cinco vezes mais caro do que você partir para a lavoura. E outro grande fator, nós temos a mão de obra que é extremamente desqualificada nesse País. A lavoura hoje com a robótica, com os tratores automatizados e robotizados, faz com que o investidor fique nesse negócio, até porque os cereais, como soja e milho, que também são impactantes no custo da engorda do boi, estão favoráveis para essa produção.”
O comportamento da carne suína
De acordo com Jacir Dariva, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), o preço da carne suína vinha reagindo pouco a pouco nos últimos meses. “No varejo não houve aquela explosão de preços, ao contrário da de gado, que subiu uma loucura em dois, três dias, aí o pessoal se apavorou e eles aumentaram muito pro consumidor. A carne suína nós levamos sorte que ela não foi a causadora do impacto negativo pro consumidor”, analisa.
Mesmo assim, nos últimos meses o preço da carne suína quase dobrou de preço. “Mas no mercado a carne não subiu a mesma proporção que subiu no campo, e então é aí que você vê que tem gente que tem gordura pra queimar, durante essas crises que tem e ganham muito dinheiro, nessas ocasiões.”
Na avaliação de Jacir, que é de Itapejara D’Oeste, também muita especulação no mercado. “Tem gente ganhando muito dinheiro, eles tão ganhando muito dinheiro. Porque não pode uma carne um dia valer 30 reais e no outro 45, 50 que nem está agora a carne de gado. Na verdade, tem bastante especulação até se ajustar. Só que por outro lado a gente vê e sente, e conforme o pessoal está vendo aí, nós dificilmente teremos baixas significativas nos preços, tanto na carne de porco como a carne de gado, a não ser que tenha um problema sanitário, aí o bicho vai pegar. Sabe que problema sanitário é pau no bolso do produtor, então se acontecer alguma coisa, nós teremos perdas no valor, mas caso ao contrário, o mercado deve se manter, principalmente a China, começar a produzir uma parte do que ela perdeu do mercado dela.”
Bolsonaro diz que governo não atuará
para baixar o preço da carne
O presidente Jair Bolsonaro disse que não vai interferir no preço da carne bovina, que no mercado atacadista teve alta média de 22,9%. Segundo ele, é o mercado quem define o preço do produto. Ele, no entanto, disse acreditar que o preço do produto deve baixar.
“Quero deixar bem claro que esse negócio da carne é a lei da oferta e da procura. Não posso tabelar, inventar. Isso não vai dar certo”, disse o presidente. “Tivemos uma pequena crise agora [no preço da carne], mas vai melhorar. A carne aqui, internamente, daqui a algum tempo, acho que vai diminuir o preço”, completou.
No fechamento de novembro, o aumento nos preços da carne bovina desossada no mercado atacadista foi de 22,9% na média de todos os cortes pesquisados, de acordo com a Scot Consultoria.
Já os preços da carne bovina vendida em supermercados e açougues de São Paulo registraram uma alta de 8%, na média de todos os cortes, segundo a consultoria. No Paraná a alta também foi consistente, 3,5%. Já no Rio de Janeiro e em Minas Gerais as variações foram mais tímidas, de 0,2% e 1%, respectivamente.