Geral
A China deu um belo presente de Natal para o Brasil, mas ele só poderá ser aberto no próximo ano. Essa é a avaliação de participantes desse mercado de proteínas. Quanto a reflexos para o consumidor, o valor da carne já está precificado, e as alterações serão pequenas, segundo avaliações do Ministério da Agricultura. Após três meses e meio de interrupção nas compras de carne bovina brasileira, a China anunciou o retorno ao mercado brasileiro.
É uma boa notícia, embora os reflexos para o setor só serão sentidos a partir de meados de fevereiro e de março, quando a China é mais ativa no mercado, diz Bruno de Jesus Andrade, diretor de operações do Imac (Instituto Mato-Grossense da Carne). Para Ricado Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o anúncio é extremamente positivo para a carne bovina, mas mostra uma retomada de confiança dos chineses no produto brasileiro, o que é bom para todas as proteínas. É um bom presente de Natal para todo o setor, afirma ele. A volta da China retira uma série de incertezas sobre o mercado brasileiro e elimina as especulações de quanta carne bovina sobraria no país e quais seriam os efeitos disso sobre toda a cadeia de proteínas, principalmente sobre aves e suínos, diz Santin.
Compras interrompidas em setembro
Na avaliação do diretor do Imac, porém, os chineses não deverão voltar às compras com o mesmo apetite dos meses anteriores à interrupção, ocorrida em setembro. Naquele mês, o Brasil exportou 187 mil toneladas de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada. A China ficou com 112 mil toneladas. Um volume recorde. Na avaliação de Andrade e de Santin, esse apetite menor deverá ocorrer porque eles estão recompondo o rebanho de suínos, além de terem ampliado o leque de fornecedores de carne bovina. Os reflexos de preços podem ser inevitáveis neste período de final de ano — quando a demanda cresce, há o pagamento do 13º salário e começa a chegar novo auxílio financeiro do governo federal. O preço da arroba de boi deve reagir e permitir um ajuste nos preços internos das proteínas. Orlando Leite Ribeiro, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, não vê grandes variações de preços no mercado interno, porque eles já estão ajustados.
Preço bovino não vai cair
Basta olhar que, quando houve a interrupção, os preços internos não caíram, afirma ele. Para Bruno de Jesus Andrade, diretor do Imac, não existe perspectiva de que o preço da carne bovina possa cair, uma vez que a oferta está baixa, mas também não há espaço para grandes valorizações. Os preços já são elevados, e os consumidores estão migrando para outras proteínas.
Bovinos, aves e suínos
A volta da China ao mercado brasileiro de bovinos não prejudica aves e suínos, segundo Santin. O preço do boi volta à normalidade e permite mais transparência ao mercado de proteínas. Afetam mais o mercado brasileiro os abates antecipados de suínos na China do que o boi, diz ele. Neste ano, a produção de carnes bovina, suína e de aves somam 65 milhões de toneladas na China, ainda insuficiente para o consumo interno. A produção de carne suína ficará em 43,7 milhões de toneladas, para um consumo de 48,6 milhões. Na avaliação dele, a China seguramente ainda será um bom mercado para as proteínas bovina, suína e de aves, em 2022. A saída dos chineses do mercado brasileiro provocou, naturalmente, uma significativa redução média dos preços de exportação da carne bovina brasileira em 2021. Antes da interrupção, por exemplo, a tonelada estava em US$ 5.790. No final de novembro, recuou para US$ 4.920. A arroba de boi, que chegou a R$ 322 em julho, caiu para R$ 254 no final de outubro e esteve em R$ 310 nesta semana.