Não está garantida uma nova edição do Fies no segundo semestre deste ano.
O Ministério da Educação afirmou nesta semana que 178 mil estudantes ficaram sem o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) no primeiro semestre de 2015. Segundo o governo, foram pessoas que iniciaram o processo de inscrição e não concluíram até o prazo. Para atender a todos esses estudantes, o governo teria que gastar R$ 1,8 bilhão só no ano letivo de 2015. O orçamento do Fies para novos contratos durante todo o ano era de R$ 2,5 bilhões e essa verba foi gasta inteiramente para atender aos 252.442 novos contratos fechados até o dia 30. Por isso, uma nova edição do Fies no segundo semestre deste ano ainda não está garantida.
No total, esses novos contratos custariam R$ 7,2 bilhões. Muitos estudantes simplesmente não conseguiam terminar de fazer a inscrição, sem que o sistema caísse fora do ar. Um grupo no Facebook foi criado e denominado Erro M 321 – Fies 2015, fazendo menção ao problema que vinha ocorrendo. A mensagem dizia: “O limite de financiamento disponibilizado para esta IES está esgotado”.
Bianca Pansera, 18 anos, moradora de Salgado Filho, faz parte deste contingente de estudantes que não conseguiu o financiamento. Ela é acadêmica de Farmácia e, apesar de não conseguir os recursos, não desistiu de estudar. “Vou tentar renegociação com a faculdade das mensalidades atrasadas. E parece que a instituição tem uma proposta para que a gente continue estudando.”
Mas há pessoas que simplesmente tiveram que abandonar os estudos. Uma moradora de Francisco Beltrão contou que tinha conseguido o Fies, encaminhou a documentação, mas surgiu um problema com o fiador. Ela alega que não foi avisada pelo banco e perdeu o prazo para apresentar um novo fiador. “Depois eu tentei entrar no sistema novamente e não consegui mais. Eu iria financiar 75% do curso através do Fies, mesmo com a instituição oferecendo um financiamento próprio de 50% não foi suficiente e tive que abandonar os estudos temporariamente.”
Analisar cada caso
Como muitos alunos ficaram sem o Fies, as instituições de ensino particulares estão oferecendo bolsas de estudo, ampliando o parcelamento ou fazendo financiamentos próprios. O professor Claudemir José de Souza, diretor geral da Unipar de Francisco Beltrão, diz que a universidade está conversando individualmente com pais e alunos para saber qual a situação de cada um.
Segundo ele, como a Unipar não tem linha de crédito, estão sendo buscadas outras alternativas para ajudar os acadêmicos. Claudemir acredita que os entraves no sistema para os alunos se cadastrarem foi proposital, porque o governo não tinha mais verba para financiar. “Na verdade foi feito uma série de malabarismos para encobrir a grande verdade que é a falta de dinheiro. No segundo semestre ainda não se sabe se haverá financiamento.”
O diretor da Unipar salienta que a universidade mantinha pelo menos 25% dos estudantes com financiamentos do Fies, portanto não irá se comprometer financeiramente. “Agora, muitos grupos educacionais do país, que dependiam quase que exclusivamente do Fies, estão enfrentando sérios problemas. Em uma reunião recente em Curitiba ficamos sabendo de instituições de ensino que estão com a folha de pagamento em atraso.” Além do problema com os novos contratos, os repasses dos contratos ativos não são feitos desde dezembro do ano passado, garante.
Instituição vai financiar alunos com Credu
De acordo com o diretor de planejamento da Unisep de Beltrão, Itamar Vodzicki, este foi um ano atípico para quem precisou do Fies. “Surgiram muitos problemas, lentidão, sistema travava na metade do processo ou simplesmente dizia que a instituição tinha esgotado o número de vagas, sendo que não era verdade.” A Unisep tem um departamento exclusivo só para auxiliar os alunos com o Fies, repassando informações de aditamentos e novos contratos.
“Todas as renovações de contratos foram concluídas, só que neste ano com mais burocracia, pois era enviada uma mensagem ao celular do estudante com um código que muitas vezes não chegava, sendo que antes só tínhamos que chamar o estudante para assinar.” Itamar ressalta que teve aluno que conseguiu o Fies na 53ª tentativa, outros desistiram e foram imediatamente para o Credu, linha de financiamento da Unisep, que é menos burocrática e sem taxa de juros.
O MEC comprometeu-se a financiar integralmente as mensalidades que tiveram um reajuste de até 6,41% em relação ao valor cobrado no ano passado. Os alunos que estão renovando os contratos com reajustes acima desse teto estão recebendo aviso de que a instituição ainda terá de explicar o reajuste ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que gerencia o Fies. “Até o dia 30 de abril se colocasse um Real além deste reajuste, o sistema automaticamente não aceitava. Depois de uma medida judicial, passou a aceitar, porque se tinha um aluno que cursou só metade da grade no ano passado e neste ano vai fazer todas as matérias, naturalmente terá um aumento maior.”
Cesul também oferece alternativas
No Centro Sulamericano de Ensino Superior (Cesul), o presidente da Comissão Permanente de Supervisão e Avaliação (CPSA), Rafael Schultz, conta que dos 100 alunos que ingressaram na instituição no começo do ano, 30% solicitaram o Fies, dos quais a metade não conseguiu o financiamento. A faculdade abriu um edital e vai financiar com recursos próprios estes estudantes. Rafael conta que muitos alunos ficaram dois meses tentando a inscrição e não conseguiram, outros em menos de 20 dias estavam com o Fies liberado.
Fadep oferece financiamento próprio para alunos
Com a queda de aproximadamente 50% da liberação de financiamentos recebidos pelos acadêmicos através do Fies para evitar a evasão dos estudantes a Faculdade de Pato Branco (Fadep) reativou em 2015 seu Financiamento Estudantil (FEI). Segundo informações do departamento financeiro da instituição dos aproximadamente 400 estudantes que solicitaram o financiamento neste ano apenas 155 foram contemplados.
A Fadep oferta um programa próprio de bolsas, o Bolsa Fadep que concede desconto de até 30% na mensalidade para acadêmicos oriundos de escolas públicas. No primeiro semestre de 2015 o FEI, que está com inscrições abertas até sexta-feira, 15, concederá financiamento de 100% aos candidatos, porcentagem que cairá para 50% a partir do segundo semestre de 2015.