Até a imprensa americana se impressiona com os juros praticados no Brasil.

A classe C brasileira cresceu significativamente na última década. E quem ganhou muito dinheiro com isso foram os bancos, que viram o número de clientes aumentar e, mesmo assim, continuaram praticando as maiores tarifas do mundo. Durante a campanha eleitoral, foi divulgado que o lucros dos bancos nos últimos três anos atingiu R$ 170 bilhões. Algo extraordinário para um país como o Brasil, que sofre com graves contrastes sociais. Os cartões de crédito cobram mais de 240% ao ano.
Empréstimos bancários ultrapassam os 100%. E a classe C teve um papel importante nesta imensa rentabilidade, pois seus integrantes foram às compras de automóveis, casa própria e bens duráveis arcando com juros altíssimos. A classe C (108 milhões de pessoas) gastou mais de R$ 1,17 trilhão em 2013 e movimentou 58% do crédito no Brasil, segundo a pesquisa “Faces da Classe Média”, da Serasa e do Instituto Data Popular.
Estar integrado ao sistema bancário é uma necessidade ao cidadão para o dias atuais. Não há outra forma para se buscar um empréstimo, comprar a prazo ou receber o próprio salário no fim do mês. Mas para não se perder no emaranhado de taxas, tarifas, juros, impostos e saber exatamente o serviço que está contratando, o correntista precisa tomar alguns cuidados. O economista José Maria Ramos, professor de Economia da Unioeste de Francisco Beltrão, observa que é preciso ficar atento a todos os lançamentos que o banco faz no extrato bancário.
Segundo ele, se o trabalhador tem apenas conta para receber salário, deve ser isento de todas as taxas, mas se tiver uma conta corrente e usar outros serviços, precisa saber o custo dos serviços prestados. “Faça comparativos entre os demais bancos e nunca extrapole os serviços contratados, pois isso implica em mais custos na conta”, recomenda.
Farra do crédito x endividamento
Toda a farra do crédito no país provocou um grande endividamento das famílias. O Banco Central informa que 6,7% dos empréstimos bancários pessoais e 26,3% das contas de cartão de crédito estão em situação de inadimplência. José Maria ressalta que é importante evitar ao máximo ficar no cheque especial ou parcelar as faturas do cartão de crédito, uma vez que situações como essas costumam levar o cliente em pouco tempo à inadimplência. “Se estiver em uma situação semelhante, busque alternativas mais baratas. A melhor situação é não dever, principalmente para bancos.”
Pesquisar, pesquisar, pesquisar…
Antes de contratar o serviço de um banco é preciso pesquisar bastante. Assim como qualquer outro produto, pode variar muito de preço de um estabelecimento para outro. O contabilista André Comunelo, professor da Unipar, orienta que o usuário procure comparar as tarifas cobradas conforme o pacote de serviços que serão utilizados, ou seja, avaliar o custo benefício. Segundo ele, em uma relação com a instituição bancária é necessário comparar os juros cobrados em empréstimos e financiamentos e os rendimentos pagos em futuros investimentos.
A alternativa cooperativista
Uma alternativa aos bancos que ganhou bastante força, principalmente na região Sudoeste do Paraná, é o cooperativismo de crédito. Comunelo compreende que a inserção do cooperativismo de crédito no mercado trouxe uma alternativa para os consumidores, sobretudo o custo menor das tarifas e a participação no retorno das sobras. Ele observa que a pessoa ou empresa não precisa ficar refém de uma única instituição financeira (banco ou cooperativa), podendo trabalhar com ambos. “Uma das alternativas é mesclar o que for melhor em taxas, tarifas e retornos, podendo relacionar-se com duas ou mais instituições conforme a sua necessidade.”
O contabilista salienta que, além de negociar custo, o cliente que poupa também deve discutir lucro. Ou seja, existem diferentes opções de remuneração no mercado que devem ser consideradas na hora de realizar aplicações financeiras. No Brasil, o cidadão paga muito na hora de tomar empréstimo e recebe pouco quando aplica. “Tudo depende da negociação, se souberem negociar bem seu dinheiro em aplicações com as instituições financeiras, ganharão mais e terão maiores benefícios.”
“Assalto ao cidadão”
Recentemente, o jornal The New York Times publicou uma matéria dizendo que os “Juros do Brasil fazem agiota americano sentir vergonha”, fazendo referência ao juro praticado no país. É daí que vem boa parte do lucro dos bancos. De acordo com o economista José Maria, os elevados lucros do sistema financeiro nacional podem ser explicados, pelo menos em parte, pelos altos juros praticados na economia brasileira, seja os juros pagos pelo governo – taxa Selic, que paga o maior juro real do mundo – ou os juros pagos pelos consumidores, que, incentivados ao consumo, buscam o crédito. “Juros sobre cheque e cartões de crédito que são escorchantes, abusivos, um verdadeiro assalto ao cidadão. Para além dessas alternativas de lucros, os bancos realizam diversas outras operações financeiras como: compra e venda de ativos financeiros de empresas públicas e privadas e também as taxas cobradas para que cidadão tenha conta bancária.”
Uma conta de graça
No Brasil, os bancos nacionais são obrigados a disponibilizar gratuitamente uma conta corrente para pessoas físicas, destinada somente à prestação de serviços essenciais básicos. Segundo a Resolução 3.919/2010, estabelecida pelo BC (Banco Central), qualquer correntista pode obter uma conta bancária sem ter que pagar sequer um centavo ao banco de sua preferência. A Resolução 3.919/2010 é uma atualização do documento 3.518/2007, em vigor desde 2008.