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Francisco Beltrão
quinta-feira, 12 de junho de 2025

Edição 8.225

13/06/2025

Comunidade paranaense segue Jesus, mas é contra o cristianismo

Comunidade paranaense segue Jesus, mas é contra o cristianismo

?Se Cristo estivesse vivo, uma coisa ele não seria: um cristão.? A frase intriga quem passa em frente à tenda das Doze Tribos, no Acampamento Intercontinental da Juventude do Fórum Social Mundial (FSM), em Belém. Sob a lona instalada ao lado de um antigo ônibus vermelho escuro ? onde está escrito ?Nova Ordem Social? ?, um grupo de homens cabeludos e barbudos dança em roda com mulheres trajando longos vestidos. Ao fundo, outros integrantes do grupo tocam instrumentos como percussão, clarinete, acordeom e trompete, numa música de ritmo acelerado. Em pouco tempo, mais de 50 pessoas sentam-se em volta para assistir.
A cena faz parte da programação diária das Doze Tribos, um grupo comunitário do Paraná que foi ao FSM para mostrar as experiências que vivencia. Organizados em três comunidades ? próximas a Londrina, Mauá da Serra e Campo Largo ?, eles dizem seguir a palavra de Jesus, a quem chamam Yeshua, considerado seu nome hebraico. No entanto, dizem não ter relação nenhuma com todos os grupos religiosos crentes em Cristo, como a frase inicial anuncia. Também não pregam o judaísmo, que condenava Jesus Cristo.

História
O grupo foi formado há cerca de 30 anos, por pessoas de diferentes estados, a maioria solteira. ?Somos um povo que se formou de pessoas vindas de vários lugares do mundo. Uns eram hippies, outros eram médicos, estudantes, torneiros, religiosos, surfistas, fotógrafos, místicos e outros estavam só por aí, vivendo. Algumas coisas, contudo, nós tínhamos em comum. Nós éramos pessoas solitárias, e precisávamos de verdadeiros amigos?, escreveram no site do grupo (www.dozetribos.com.br). Juntos, começaram uma vida comunitária, trabalhando e dividindo o dia-a-dia.
De acordo com Hafsh, um paulistano de 28 anos que integra a comunidade há seis, o princípio básico do grupo é viver com verdadeiro amor e amizade, ?seguindo as palavras do mestre?. Eles dizem seguir os ensinamentos da Bíblia, fazem sua própria interpretação e a citam com frequência. Consideram-se herdeiros das 12 tribos de Israel que, segundo a tradição judaica, teriam se originado a partir dos dez filhos de Jacó, neto de Abraão.
O grupo não se desenvolveu apenas no país, mas em diferentes partes do mundo, como nos Estados Unidos, Espanha e Portugal. No Brasil, estão concentrados apenas no Paraná. No dia-a-dia, dividem as moradias, o trabalho e fazem as refeições juntos. Às sextas-feiras, se reúnem para jantar e festejar com músicas tradicionais israelitas.
?Após 30 anos de existência, já nasceram nas comunidades das Doze Tribos os primeiros netos dos fundadores?, conta Hafsh. Ele diz que desde pequeno procurava por um grupo em que se vivesse um relacionamento humano verdadeiro. Estudioso de diferentes religiões, como budismo e hinduísmo, no início da década começou a procurar comunidades para viver. Viajou por todo o país e, quando estava em Curitiba, recebeu um convite para conhecer a comunidade Doze Tribos de Campo Largo. ?Eu fui pra lá e comecei a conviver com eles no dia-a-dia, a trabalhar, compartilhar a vida. Nunca mais saí de lá.?

Trabalho comunitário
Para se sustentar, o grupo desenvolve diferentes atividades econômicas. Em Londrina, possuem uma fábrica de panificação e produzem as velas artesanais Da Colméia. Em Mauá da Serra, acabaram de adquirir um sítio e, em Campo Largo, fazem os chás orgânicos Tribal Brasil. Todos têm que trabalhar e dar sua contribuição. As crianças são educadas na própria comunidade. ?A gente viu que se a gente quisesse livrar nossos filhos da corrupção, não poderíamos colocá-las nas escolas?, comenta Hafsh.
No Fórum Social Mundial, as Doze Tribos oferecem uma programação de música, dança e debates às tardes. A partir das 17h, as pessoas começam a chegar para conhecer as músicas judaicas. Primeiro, os próprios integrantes fazem apresentações bem ensaiadas, em que dançam em rodas, cruzando os pés, dando voltinhas, de mãos dadas. Depois, organizam grandes grupos e ensinam os passos a todos que quiserem.
Mais tarde, participantes de diferentes crenças e ideias se juntam a eles para participar de um debate e ?expressar o coração?, como afirma um dos integrantes do grupo. Na última quinta-feira, o ponto de partida da discussão era a frase: ?Comunismo, Socialismo e Capitalismo: todos sofrem o domínio de outra política: a política do egoísmo?. No começo, os visitantes sentem-se intimidados, mas o grupo logo os incentiva a falar. ?Eu acho que o problema é o ser humano?, dizia um deles.

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Participantes do FSM aprendem a dançar músicas judaicas com integrantes das Doze Tribos.

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