Há indústrias que deixaram de repor as vagas de trabalhadores que pediram demissão.

A crise econômica que atinge o Brasil está gerando fortes prejuízos para o setor produtivo. Na região Sudoeste do Paraná, o ramo de confecções começa a sentir os reflexos com queda na produção e demissões. O presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Sudoeste do Paraná (Sinvespar), Cláudio Latreile, diz que as empresas estão demitindo e as vagas não estão sendo repostas, ou seja, os empresários do setor estão pisando no freio diante do cenário de incertezas. “No nosso caso, tínhamos 770 trabalhadores no começo do ano e agora estamos com 700”, frisa.
No ano passado, o setor têxtil e de confecção brasileiro fechou o período com deficit de US$ 5,9 bilhões na balança comercial. Ao mesmo tempo, houve queda de 6,7% nas exportações, alta de 4,8% nas importações e redução de 4,8% no faturamento que alcançou US$ 55,4 bilhões. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e indicam a dificuldade do produto brasileiro competir no exterior.
Juros e carga tributária
Cláudio Latreile observa que o aumento dos tributos e os juros altos reduzem os investimentos, que poderiam aquecer a produção. Ele salienta que o setor de jeans está com mais dificuldades, enquanto a área de camisaria tem conservado os negócios.
Estimativas de mercado indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) não crescerá em 2015. Com base nisso, a Abit prevê que a produção têxtil crescerá apenas 0,3%, enquanto a confecção terá 0,7% e o varejo de vestuário, 0,4%. O saldo da balança comercial deverá ser ainda pior que o registrado em 2014: deficit de US$ 6,13 bilhões.
Importações em alta
Latreile informa que a importação de confecções este ano já subiu 13%. Muitas peças vêm da China e do Peru e chegam com preços mais competitivos que as fabricadas no Brasil. Na opinião dele, o governo deveria pensar em proteger a indústria nacional, em vez disso, a política econômica desmotiva o empresariado a investir em suas empresas. Embora seja um ano difícil, o presidente do Sinvespar acredita que a crise é passageira e a tendência é que no ano que vem as coisas melhorem. “Mas neste ano o crescimento será zero”, aposta o empresário.
O proprietário da Confecções Keiser, de Francisco Beltrão, Raul Felipe, emprega hoje cerca de 35 funcionários. Há mais de cinco anos a indústria empregava mais de 80 trabalhadores. É uma das mais tradicionais empresas do segmento no município, administrada pela família.
A Keiser produz no sistema de facção – fabrica produtos para lojas de confecções e outras indústrias do ramo. Diante dos problemas da economia nacional e a concorrência com os produtos chineses, Raul está com várias máquinas paradas na sua empresa e outras foram guardadas. Ao analisar a retração no setor de confecções, Raul comenta que “hoje o nosso maior inimigo eu acho que é o governo, pelos impostos, a subida exorbitante da energia elétrica e as altas taxas de juros”. Ele acrescenta que “é um pacote de coisas que tá vindo da eleição pra cá”. Todos estes fatores afetam o setor industrial e a economia brasileira.
Encolhimento da produção
A produção de peças/dia da Keiser caiu praticamente dois terços em sete anos. Ela fabricava de 800 a 900 peças/dia – há sete anos – e hoje chega a 300 por dia. Este encolhimento se deve principalmente pela concorrência com a produção da China, que chega a preços bem baixos no Brasil e em outros países. Raul dá como exemplo uma jaqueta jeans, produto que tinha grande aceitação nacional e que era fabricado por muitas indústrias brasileiras. Na concorrência entre as jaquetas jeans brasileiras e as de tactel, da China, os consumidores brasileiros acabam optando pelas chinesas devido ao preço mais baixo e competitivo para o lojista. Uma jaqueta chinesa custa de R$ 60 a R$ 70. Raul argumenta que produzir a jaqueta jeans ficou inviável pelas indústrias brasileiras.
Ao ser indagado sobre o caminho que empresas de confecções brasileiras vão trilhar, Raul deu uma resposta que preocupa. “Não sei até quando vamos resistir”, disse. O empresário lembra que Francisco Beltrão era um município-polo em indústrias de confecções, mas restaram poucas devido aos problemas da economia nacional e a concorrência com os produtos chineses.
