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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Conquistas de uma jovem surda e com a mesma síndrome do filme ”Extraordinário”

Indianara Azeredo da Silva conta como procura superar a exclusão.

Amigas e colegas de trabalho na Biblioteca Municipal, Joice Alberti e Indianara de Azeredo da Silva, com o livro “Extraordinário”, a síndrome de Treacher Collins.

Aos 28 anos, a beltronense Indianara Azeredo da Silva tem muita coisa para contar. Indianara tem a síndrome de Treacher Collins, mais conhecida graças ao filme “Extraordinário”, com o qual ela diz se identificar bastante. Ela já leu duas vezes o livro de R. J. Palacio, que deu origem ao filme e leva o mesmo nome. Este livro está disponível na Biblioteca Municipal, onde a jovem trabalha, sendo responsável pela catalogação. “Esta história é muito parecida com a minha vida. O livro mostra o sofrimento e o preconceito que passo.”

São características da síndrome o achatamento de ossos da face, queixo pequeno, orelhas pequenas ou malformadas, surdez total ou parcial, coloboma, fendas palpebrais inclinadas para baixo e palato estreito. Em decorrência da síndrome, Indianara é surda, tem 50% de audição em cada ouvido, mas sua identidade é a Língua Brasileira dos Sinais (Libras), ou seja, esta é a sua forma de se comunicar. A questão é que a Libras está praticamente restrita à prática dos surdos, que tornam-se assim excluídos da sociedade, já que têm dificuldades de se fazerem entender em locais tidos como comuns aos ouvintes, que é o caso de bancos, mercados e consultórios. Aliás, esta entrevista somente foi possível por causa da intermediação de Maria Daniela Mendes, tradutora e intérprete de Libras.

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Indianara lembra que seu período de alfabetização foi conturbado. Do 1º ao 4º ano do ensino fundamental, seus colegas eram surdos, mas quando estava no 5º ano passou a valer a lei de inclusão, então precisou trocar de escola e a tortura começou. Como não tinha intérprete, ela tentava ler os lábios dos professores. “Foi muito difícil, embora eu tivesse o apoio dos colegas. Eu falava ‘não quero estudar com ouvinte’, porque eu não entendia de forma clara.”

Seus pais João Osmar da Silva, que é deficiente auditivo, e Catarina Borges de Azeredo perceberam o baixo desenvolvimento e procuraram intervir, conversando com a diretora e, na terceira tentativa, houve mudanças. “Até hoje agradeço, porque a diretora [Lurdinha Bertani] sempre procurou me ajudar e se tornou uma amiga especial na minha vida.” Nas férias letivas daquele ano, ela entrou em depressão. “Como eu ia estudar se o foco era os ouvintes? Não tinha metodologia para os surdos [Libras]. Falta empatia.”

É possível?
No contra-turno, ela frequentava a sala de apoio de Libras, junto com outros surdos, na qual professores ensinavam somente na Língua dos Sinais e a escrita do Português vinha como segunda língua. A inclusão é possível? “Eu me preocupo com isso, porque falta formação dos professores para trabalharem com os surdos.” A partir do 6º ano, sua família, incluindo o irmão Ederson, 30 anos, começou a ensiná-la a ler, a conhecer as palavras, a unir sílabas, para que ela desenvolvesse também a língua portuguesa.

Naquela época, sua melhor amiga era uma ouvinte, Thaís Cunha de Lima, com quem estudou até o 3º ano do ensino médio. “Ela sempre me ajudou.” A partir de então, começou a ter um pouco mais de independência. Passou no primeiro vestibular que prestou, na Unioeste, em Pedagogia. Fez duas pós-graduações, uma em Educação Especial e Inclusiva e outra em Psicopedagogia. Atualmente, cursa graduação de Letras Libras, na Unioeste.

 

Serviços prestados pela CIL
O atendimento público é destinado para consultas médicas; atendimento psicológico; consulta a advogados, audiências forenses; atendimento junto à assistência social; auxílio junto às escolas, palestras ou outros eventos promovidos por órgãos municipais; atendimento junto à agência do trabalhador; emissão de documentos, como CPF, carteira de trabalho e identidade; atendimento em repartições públicas acerca de programas sociais, consulta de benefícios, FGTS e seguro desemprego; e atendimento junto aos órgãos de segurança, como Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros.

 

Diferença entre pessoa com DA e pessoa surda

Hoje, 26 de setembro é comemorado o Dia Nacional do Surdo, escolhido para representar a luta da comunidade surda, uma vez que esta é a data da criação da primeira escola de surdos no Brasil. O professor surdo Alexandre Melendes gravou um vídeo para apresentar, resumidamente, a diferença entre a pessoa com Deficiência Auditiva (DA) e pessoa surda. Confira a explicação: “Surdo, com S maiúsculo, é a pessoa que tem identidade surda, que se comunica com língua de sinais e tem a cultura surda. Essas pessoas assumem a identidade surda sem se incomodar com o que as outras pessoas pensam sobre isso e acreditam que a sociedade precisa mudar, para acolhê-las como são: surdas. Isso independente do grau de resíduo auditivo, pois tem a ver com as identidades surdas, com o ser surdo, com uma visão e reconhecimento de suas capacidades, possibilidade de existência, comunicação pela língua de sinais, expressão cultural que vai além da audição ou da capacidade dela.” Indianara é um exemplo de quem assumiu a identidade surda.
O vídeo segue: “Pessoa com deficiência auditiva é uma visão clínica, médica, patológica, que entende que não ter audição é um problema e que propõe tratamentos para fazer essas pessoas ouvirem. Isso fica claro a partir do próprio termo ‘deficiência’, que significa falta, e ‘auditiva’, que significa audição. É uma visão centrada na audição. As pessoas surdas não se preocupam com a audição, mas com o ser surdo, com o coração, com a identidade surda.”

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