Indianara Azeredo da Silva conta como procura superar a exclusão.
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Amigas e colegas de trabalho na Biblioteca Municipal, Joice Alberti e Indianara de Azeredo da Silva, com o livro “Extraordinário”, a síndrome de Treacher Collins.
Aos 28 anos, a beltronense Indianara Azeredo da Silva tem muita coisa para contar. Indianara tem a síndrome de Treacher Collins, mais conhecida graças ao filme “Extraordinário”, com o qual ela diz se identificar bastante. Ela já leu duas vezes o livro de R. J. Palacio, que deu origem ao filme e leva o mesmo nome. Este livro está disponível na Biblioteca Municipal, onde a jovem trabalha, sendo responsável pela catalogação. “Esta história é muito parecida com a minha vida. O livro mostra o sofrimento e o preconceito que passo.”
São características da síndrome o achatamento de ossos da face, queixo pequeno, orelhas pequenas ou malformadas, surdez total ou parcial, coloboma, fendas palpebrais inclinadas para baixo e palato estreito. Em decorrência da síndrome, Indianara é surda, tem 50% de audição em cada ouvido, mas sua identidade é a Língua Brasileira dos Sinais (Libras), ou seja, esta é a sua forma de se comunicar. A questão é que a Libras está praticamente restrita à prática dos surdos, que tornam-se assim excluídos da sociedade, já que têm dificuldades de se fazerem entender em locais tidos como comuns aos ouvintes, que é o caso de bancos, mercados e consultórios. Aliás, esta entrevista somente foi possível por causa da intermediação de Maria Daniela Mendes, tradutora e intérprete de Libras.
Indianara lembra que seu período de alfabetização foi conturbado. Do 1º ao 4º ano do ensino fundamental, seus colegas eram surdos, mas quando estava no 5º ano passou a valer a lei de inclusão, então precisou trocar de escola e a tortura começou. Como não tinha intérprete, ela tentava ler os lábios dos professores. “Foi muito difícil, embora eu tivesse o apoio dos colegas. Eu falava ‘não quero estudar com ouvinte’, porque eu não entendia de forma clara.”
Seus pais João Osmar da Silva, que é deficiente auditivo, e Catarina Borges de Azeredo perceberam o baixo desenvolvimento e procuraram intervir, conversando com a diretora e, na terceira tentativa, houve mudanças. “Até hoje agradeço, porque a diretora [Lurdinha Bertani] sempre procurou me ajudar e se tornou uma amiga especial na minha vida.” Nas férias letivas daquele ano, ela entrou em depressão. “Como eu ia estudar se o foco era os ouvintes? Não tinha metodologia para os surdos [Libras]. Falta empatia.”
É possível?
No contra-turno, ela frequentava a sala de apoio de Libras, junto com outros surdos, na qual professores ensinavam somente na Língua dos Sinais e a escrita do Português vinha como segunda língua. A inclusão é possível? “Eu me preocupo com isso, porque falta formação dos professores para trabalharem com os surdos.” A partir do 6º ano, sua família, incluindo o irmão Ederson, 30 anos, começou a ensiná-la a ler, a conhecer as palavras, a unir sílabas, para que ela desenvolvesse também a língua portuguesa.
Naquela época, sua melhor amiga era uma ouvinte, Thaís Cunha de Lima, com quem estudou até o 3º ano do ensino médio. “Ela sempre me ajudou.” A partir de então, começou a ter um pouco mais de independência. Passou no primeiro vestibular que prestou, na Unioeste, em Pedagogia. Fez duas pós-graduações, uma em Educação Especial e Inclusiva e outra em Psicopedagogia. Atualmente, cursa graduação de Letras Libras, na Unioeste.
Serviços prestados pela CIL
O atendimento público é destinado para consultas médicas; atendimento psicológico; consulta a advogados, audiências forenses; atendimento junto à assistência social; auxílio junto às escolas, palestras ou outros eventos promovidos por órgãos municipais; atendimento junto à agência do trabalhador; emissão de documentos, como CPF, carteira de trabalho e identidade; atendimento em repartições públicas acerca de programas sociais, consulta de benefícios, FGTS e seguro desemprego; e atendimento junto aos órgãos de segurança, como Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros.
Diferença entre pessoa com DA e pessoa surda
Hoje, 26 de setembro é comemorado o Dia Nacional do Surdo, escolhido para representar a luta da comunidade surda, uma vez que esta é a data da criação da primeira escola de surdos no Brasil. O professor surdo Alexandre Melendes gravou um vídeo para apresentar, resumidamente, a diferença entre a pessoa com Deficiência Auditiva (DA) e pessoa surda. Confira a explicação: “Surdo, com S maiúsculo, é a pessoa que tem identidade surda, que se comunica com língua de sinais e tem a cultura surda. Essas pessoas assumem a identidade surda sem se incomodar com o que as outras pessoas pensam sobre isso e acreditam que a sociedade precisa mudar, para acolhê-las como são: surdas. Isso independente do grau de resíduo auditivo, pois tem a ver com as identidades surdas, com o ser surdo, com uma visão e reconhecimento de suas capacidades, possibilidade de existência, comunicação pela língua de sinais, expressão cultural que vai além da audição ou da capacidade dela.” Indianara é um exemplo de quem assumiu a identidade surda.
O vídeo segue: “Pessoa com deficiência auditiva é uma visão clínica, médica, patológica, que entende que não ter audição é um problema e que propõe tratamentos para fazer essas pessoas ouvirem. Isso fica claro a partir do próprio termo ‘deficiência’, que significa falta, e ‘auditiva’, que significa audição. É uma visão centrada na audição. As pessoas surdas não se preocupam com a audição, mas com o ser surdo, com o coração, com a identidade surda.”