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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

Crise econômica aumenta níveis de desemprego no Paraná

Fiep diz que desemprego pode aumentar nos próximos meses e prevê melhorias só no final de 2017 ou início de 2018.

Fotos: Rubens Anater/JdeB

 

Vanderlei Borges e seu filho, Gabriel. Nos seis meses sem emprego fixo, a família teve de cortar gastos.

Por 15 anos, Vanderlei Borges trabalhou na mesma empresa de artefatos de madeira em Francisco Beltrão. Seu trabalho consistia em operar máquinas e, com este emprego e um salário módico, Vanderlei constituiu família, com esposa e um filho de 10 anos, construiu sua casa e estabeleceu-se na cidade. No entanto, neste ano, o operador de máquinas se tornou mais um número na estatística das maiores vítimas da crise econômica atual do País – a dos desempregados.

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De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias de Móveis e Artefatos de Madeira (Sintramademóveis), João Machado, o problema do desemprego está generalizado em diversas áreas da indústria, mas a estatística tem sido especialmente perversa no setor dos móveis e madeira no Sudoeste. Só de janeiro a outubro de 2016, o sindicato registrou 571 rescisões de contrato nos municípios de Francisco Beltrão, Marmeleiro, Renascença, Ampere e Realeza.
O número é menor do que o registrado em 2015 – 713 -, mas assusta principalmente pela pouca contratação no período. “Há tempos o setor vem reduzindo o número de trabalhadores. Por causa da crise e também da automação da produção. Então a maioria dessas pessoas que perdeu o emprego não está conseguindo se recolocar e tem que buscar outra atividade, mas é difícil, as outras áreas também estão diminuindo a contratação”, diz Machado.
Edgar Behne, diretor­presidente da indústria Marel Móveis Planejados, de Beltrão, concorda. Segundo ele, toda a indústria de móveis tem passado por um período complicado – na Marel não é diferente e isso causou impacto na contratação. Edgar conta que a fábrica não teve demissão emmassa como algumas empresas precisaram fazer, ainda assim, fechou o mês de outubro com 368 funcionários, 55 a menos do que o mesmo mês em 2015. “Foi um pessoal que foi saindo, na rotatividade normal da empresa, mas não foi reposto. Nossa contratação foi praticamente zero neste ano.”
O presidente do Sindicato dos Empregadores nas Indústrias de Móveis e Artefatos de Madeiras (Sindmadmov), Giovani Bortolotti, da Indústria de Portas Portabelly, reforça: “No geral, todas as empresas estão passando por dificuldades tanto para vender como para receber, pois a inadimplência cresceu na mesma proporção da crise. Com essa nova realidade, todos tivemos que nos reestruturar e, infelizmente, houve corte de empregos”.
A dificuldade não é só no Sudoeste. De acordo com a tabela de indicadores conjunturais da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o nível de emprego total no Estado, no setor “Móveis e Indústrias Diversas”, caiu 16,68% no período entre janeiro e agosto de 2016, em relação ao mesmo período de 2015.
Além disso, segundo a assessoria da Fiep, “a situação para o setor de móveis e madeira é a mesma da indústria como um todo. Entretanto, as vendas industriais de móveis preocupam ainda mais. De janeiro a setembro de 2016, em relação ao mesmo período do ano passado, houve uma queda de 39%”.
Isso considerando que o Paraná é um dos Estados que menos sofrem com a situação industrial, por causa de sua capacidade de produção agropecuária. Nas regiões do Brasil que dependem mais da indústria que não é alimentícia, a situação está ainda pior. “Aquelas regiões que têm mais aptidão natural para o agronegócio são as menos afetadas. Isso porque as pessoas reduzem seu consumo de alimento em última instância”, afirma a assessoria da Fiep.

Situação pode piorar antes de melhorar
No meio desse desemprego todo, encontram-se muitos como Vanderlei. O operador de máquinas perdeu o emprego há seis meses e ainda não encontrou outro trabalho. Fez alguns bicos durante o período e sua esposa trabalhou como diarista e manicure, para somar um dinheiro ao seguro-desemprego e manter a casa e a família. Além disso, seu poder de consumo também caiu: “A gente teve também que cortar um monte de coisas e cuidar para sempre ir pelo mais barato, senão não aguenta”, relata.
Para a Fiep, essa situação cria um círculo vicioso no País. A inflação e o desemprego causam a queda do poder de compra da população. Essa redução do consumo, por sua vez, gera uma estagnação do comércio, que acaba resultando em mais desemprego.
A Fiep aponta que medidas de contenção da inflação já estão reduzindo o problema, mas isso acontece lentamente. Por isso, o desemprego deve continuar. “O ajuste deve continuar pela via da redução do emprego, não há outro caminho, pois ainda não se tem perspectivas reais de crescimento da economia no curto prazo. Ainda deve haver um longo período para a economia encontrar um novo equilíbrio, além do remédio amargo que deve ser tomado para recuperar as contas públicas. Qualquer perspectiva de melhora está sendo adiada para finais de 2017 ou início de 2018”, informa a assessoria da organização.
O presidente do Sindmadmov, Giovani Bortolotti, acrescenta que, para tentar combater a situação e agilizar a recuperação econômica, a entidade vem tomando iniciativas, “buscando parcerias junto à Fiep, ao Sesi, Senai, Sebrae e outros, trazendo cursos, palestras, treinamentos e parcerias junto com a Casa da Indústria em Francisco Beltrão, objetivando sempre a união de forças para enfrentar esse período de turbulências que estamos passando”.
Bortolotti sugere: “Governo federal, estadual e municipal precisam desenvolver políticas que atenuem os momentos de crise”. O empresário Edgar Behne complementa: “O que precisa para movimentar a economia é o governo começar a investir certo. A questão não é falta de dinheiro no governo, é só ver a quantidade de imposto que pagamos, o problema é que esse dinheiro não vai para o lugar certo. O que se deve fazer é investir em infraestrutura para fazer a economia andar”.
O empresário comenta ainda que as medidas – do governo, das entidades e das indústrias – estão começando a surtir efeito. “Fizemos uma pesquisa e já sentimos que o fluxo de pessoas nas lojas tem aumentado. Isso já é um sinal, uma pequena luz no fim do túnel que está aparecendo. Sabemos que isso vai ser lento; tomara que seja lento, mas duradouro.”

Para Edgar Behne, diretor-presidente da Marel, está surgindo um sinal de melhoria na economia do País.

 

 

Causas da queda da empregabilidade

A Fiep aponta: A queda do nível de emprego industrial está intimamente relacionado com pelo menos dois fatores: (1) A crise brasileira, ocasionada pela queda do poder de compra do consumidor. Esta queda de consumo é afetada pela elevada inflação e pelo crescente nível de desemprego. (2) Pela perda de competitividade da indústria nacional afetada pelas políticas públicas dos últimos anos. A política cambial que favoreceu as importações em detrimento da produção nacional; as políticas tributárias estaduais que com a Substituição Tributária do ICMS sobrecarregaram a indústria com custos tributários.

Marel teve poucas demissões, mas as contratações foram praticamente zero e outubro finalizou com 55 funcionários
a menos que o mesmo mês em 2015.

Fotos: Rubens Anater/JdeB

 

 

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