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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Cultivar o amor e a gratidão

O mais novo cidadão honorário de Verê, ex-prefeito Loivo Roque Ritter, seguiu os ensinamentos primeiro de seu pai, depois do seminário; formou-se professor, fez sucesso na política e agora, ao receber o título de cidadão honorário de seu município, fala das dificuldades que enfrentou na vida e conclui afirmando que o que mais gosta de cultivar é o amor e a gratidão.

Loivo Ritter em seu discurso como cidadão honorário de Verê.

Dia 26 de novembro deste ano, numa sessão solene da Câmara de Vereadores de Verê, Loivo Roque Ritter recebeu o título de Cidadão Honorário de Verê. É o quinto a receber essa honraria. Os anteriores são Luiz Francisco Paggi (primeiro prefeito de Verê, de 1963 a 1968), José Fedrigo (prefeito de Verê duas vezes: a segunda gestão, de 1969 a 1972, e a sexta gestão, de 1983 a 1988), Antonio Perardt (candidato a prefeito derrotado em 1963 e vice-prefeito da gestão da primeira gestão de José Fedrigo) e o médico Francisco Ciocari, o popular Doutor Chico.
Loivo, hoje com 68 anos, é gaúcho de Umaitá (5-7-58), mas desde criança viveu em Rosário, Santa Catarina. Formado no Magistério pela Universidade de Passo Fundo, estabeleceu-se em Verê no ano de 1973. Foi professor e diretor do Colégio Estadual Arnaldo Busato. De 1997 a 2004 e de 2009 a 2012 foi prefeito, nas duas primeiras gestões pelo PMDB e na terceira pelo PDT.
Loivo é casado com Elsira (Chica) Calgaroto, tem uma filha, Nayara, o genro Marcos e um casal de netos: Inácio (que leva o nome do pai do Loivo) e Geovanna.
O título de cidadão honorário de Verê lhe foi concedido por unanimidade dos vereadores – o presidente João Carlos Lohn (PR), Bruno Aloísio Calgarotto e Leandro Betiollo (PV), o proponente do título, Nery Miolla (MDB), Diomeres Rizzo de Souza (PDT), Ângelo Antônio Baldissera (PROS), Antenor Pedro Cogo (PSDB), Lucas Beal (PSB) e José Francisco da Silva Boeira (PP). Além de votar favorável, todos, mesmo os de partidos contrários, se pronunciaram afirmando que o título era justo, por tudo que Loivo já fez pelo município de Verê. No mesmo tom falaram o prefeito Admilso Rosin, o vice Luiz Miolla, o Padre Valentin e o ex-deputado e atual prefeito de Pato Branco Augustinho Zucchi.
A seguir o discurso do Loivo.

“Dia 2 de novembro, meus familiares e eu fomos a Rosário, Distrito do município de Romelândia, reverenciar e pedir a Deus que dê a paz eterna ao senhor Inácio Aluisio Ritter, Rosa Maria Ritter, e meu irmão Lari José Ritter, que jazem ali no cemitério.
Como para a oração não tem distância, aproveitamos do ensejo para que acolham em seu reino também a Sali Romana Ritter, sepultada em São Paulo.
Rosário é uma comunidade tipo Sede Progresso (Distrito de Verê). Embora gaúcho de raíz, pois nasci em Umaitá (RS), foi lá que vivi minha infância.
Feitas as orações e os pedidos de paz eterna ao Pai criador, fomos almoçar na casa da dona Inês Zanon Ritter, minha cunhada, juntamente com seus três filhos, esposas, marido e netos.
O calor era insuportável. Até que o Ricardo, marido de minha sobrinha Daiane, lembrou: “Vamos tomar um banho no Rio Sargento”, o que foi prontamente aceito pelo Inácio e pelo Davi.
Foi bem na curva do rio. Ali havia entre 15 a 20 pessoas, rapazes e moças, que se jogavam da rocha nas profundezas do rio, em belos e longos mergulhos.
Eu fui ali com muita comoção. Porque ali, naquele rio, naquela curva, naquele poço, de sobre rocha, na minha infância, eu também me jogava no rio e fazia os meus mergulhos.
Sobre os sarandis, eu fique surpreso que hoje quase se abraçam no meio do rio, eu jogava o anzol e pescava os lambaris, que a dona Rosa Maria fritava, não importava se eram muitos ou poucos.
A casa de minha família era ali, do outro lado do rio. A propriedade do seu Inácio, como se chamava meu pai, era em torno de três alqueires, metade terra, metade pedra.
Tudo manual. Na base do arado de boi, e da enxada. Naquele pedaço de terra, sentados à sombra do mandiocal, meu pai tinha esse costume, vinham os conselhos de seu Inácio:
– O que não é seu, é dos outros;
– Loivo, não precisa beber, para ter coragem e ser feliz;
– Escolha suas amizades, fuja do vício e das drogas;
– O dia que você conseguir um emprego, faça sempre um pouco mais do que o patrão lhe pede, porque o trabalho não mata;
– Trabalhe muito, mas não esqueça de que o capital e o dinheiro são muito importantes, mas não são, por si só,essenciais;
– E, ainda, nunca se esqueçam da oração.
– E quando eu já era moço, ele dizia “não bobeia as meninas, porque fica feio”.
No mate-doce de todas as manhãs, e no chimarrão, à noite, o seu Inácio repetia incansavelmente: meus filhos, eu gostaria muito que vocês estudassem, porque eu não posso dar nada a vocês.
Até que um dia, o padre Luis Mull, que fazia as visitas pastorais a cavalo, e sempre parava lá em casa, por causa da água fresca, que brotava da rocha, ao lado de um pé de guajuvira, e que ainda existe hoje, ouviu a conversa do pai e propôs o seguinte: “Seu Inácio, eu arrumo lugar no seminário para seus piás, e lugar no convento para sua meninas. O custo não é muito alto, e lá eles terão uma boa formação. Se derem padres ou freiras, ótimo, se não derem, eles terão o estudo que o senhor quer e eles serão gente boa”.
Então, em 1963, ingressei no seminário da Congregação dos Missionários da Sagrada Família, em Maravilha (SC). Eu tinha 11 anos. Éramos em 214 seminaristas. A minha turma tinha 64 alunos, e 5 ficaram padres. Um deles, meu maior amigo de seminário, é bispo de Lages (SC), dom Guilherme Weleng, que há duas semanas ligou-me intimando e convidando para comemoração dos 40 anos de padre, no domingo que vem, 1º de dezembro, em São Carlos (SC).
Coincidência ou não, este ano, a Chica e eu completamos 40 anos de casados.
O seminário é uma instituição formidável, nos deu uma formação que, além de rigorosa, foi muito segura e muito completa sob o ponto de vista da pessoa humana.
Como sempre, os anos passam depressa. Eu ia muito bem nas disciplinas de Matemática, Física e Química.
O meu professor dessas disciplinas, no terceirão, era o dr. Paraguaçú (médico), e ele insistiu muito para que eu fizesse Medicina. No entanto, meu pai não tinha condições de arcar com os custos.
Então, a minha decisão foi o Magistério. Em 1975, iniciei minha carreira em Romelândia.
Em Passo Fundo, na universidade, conheci o prefessor Cláudio Fidêncio Ribeiro Chaves que, pela amizade e coleguismo, me dizia: “Um dia vou te levar no Paraná”.
No dia 11 de outubro, recebi um telegrama. Era o professor Cláudio pedindo que viesse urgentemente para cá, pois havia surgido uma vaga na escola.
Vim imediatamente. Fui recebido pela diretora de então, a senhora Erli Floriano Galina. No dia 16 de outubro, dei a primeira aula. Abri a porta da sala, dei de cara com a sala lotada de pessoas adultas, e bem na primeira estante estava um senhor de bigode aparentando uma idade média. Era o senhor Alcindo Giachini. Me assustei. Um jovem como eu dominar uma sala praticamente lotada de adultos. Mas deu tudo certo.
Tive muito apoio dos professores que vieram antes de mim: professor Élio, professora Luzia, professor Ervino, professor Romeu, professora Carolina e também dos alunos. Senti que aqui era minha casa.
Eu me hospedava no hotel. Eu e o professr Élio Ludwig. O Núcleo de Educação era de União da Vitória. Toda a documentação era encaminhada por lá. Era tudo manual. Tudo demorava muito. Eu comecei dar aulas em 16 de outubro de 1976 e fui receber pela primeira vez em 30 de agosto de 1977, dez meses depois.
Todo final de mês, eu chegava nos Cadore, os donos do hotel, e falava: “Não veio o salário ainda. Posso continuar aqui ou querem que vá embora?”
Por incrível, a dona Salete, esposa do Cadore, aos domingos, fazia sobremesa para a família e nos chamava, na cozinha, separados dos demais hóspedes para comer sobremesa.
Éramos tratados como filhos. Quem financiava os custos diários de higiene e limpeza, através de empréstimos particulares, era o Pedro Turato e o Ângelo Carniel.
Ali, no hotel, também começou a sedução política. Um belo dia, ao meio-dia, estávamos almoçando eu e o Cosme – vendedor de móveis da Giacobo de Pato Branco. De repente, se aproximou um senhor, bem vestido e bem arrumado, pediu licença para almoçar conosco. Era o senhor Leri Dalsasso, prefeito de Verê na época. Eu, até então, nunca tinha falado sequer com um vereador, que dirá com um prefeito.
Muito gentil, ao se despedir nos convidou para um cafezinho na Prefeitura. Achei o máximo. No entanto, nunca fui.
Depois dele, se elegeu prefeito o dr. Nereu Pasini. Como a dona Elisa Pasini, esposa do Nereu, era amiga da Chica, viramos compadres, e ele insistiu muito, até que me filiou no então MDB.
Ingressei na política e me elegi pela primeira vez em 1997. Foi um mandato terrível, os salários estavam atrasados em novembro e dezembro, e com relação ao décimo terceiro salário os funcionários tinham recebido 100 reais de cada um.
Além disso, foi um ano de muita chuva; as enxurradas, vieram com força, levaram pontes, bueiros e as estradas ao colapso.
Nós não conseguíamos atender a demanda. O telefone não parava de tocar e não conseguíamos regularizar as contas da Prefeitura em função dos gastos de emergência.
O deputado que nos dava retaguarda era o Augustinho Zucchi. Eu lembro que, em outubro daquele ano, fui até seu gabinete e expliquei a situação. E pedi seu socorro. O deputado ligou naquele instante para o governador Jaime Lerner, pedindo uma audiência. O governador pediu que fôssemos logo, porque em seguida ele tinha outro compromisso.
Chegando lá, o deputado foi logo à conversa. Explicou a situação ao governador. Foi inesquecível. O governador ouviu o deputado, pegou o telefone, ligou para o senhor Segismundo Morgenstein, então presidente da Fundepar, dando-llhe a seguinte ordem: “Secretário, estou mandando o deputado Zucchi e o prefeito Loivo, de Verê, você os receba e os atenda com a liberação de 100 mil reais”.
Naquela época, em 1997, era o mesmo que hoje um milhão de reais. O Segismundo bufava, de bravo, porque alegava dificuldades de cumprir a ordem do governador e o Zuquinho, malandramente, falou: “É ordem do governador, não posso fazer nada! O prefeito precisa do dinheiro no dia 18 de dezembro”.
Com aquele dinheiro, fizemos uma grande reunião dos funcionários e pagamos, em dinheiro, num envelope, todos os saldos salariais vencidos.
Outros episódios: o asfalto das Águas, as vilas rurais, o asfalto Caminho do Saber, de Linha Belé até Barra do Santana, o Bairro Verdes Campos, Bairro Fortaleza, são algumas das obras bancadas pelo deputado.
Quero aqui também registrar o apoio moral recebido do deputado (Ademar) Traiano. Não tive a oportunidade de trabalhar com ele, mas tivesse tido teria feito um grande sucesso. A este propósito, lembro da atuação dele como deputado quando o Lino (Zeni) e eu fomos solicitar o asfalto para o Alto Alegre. Seis meses depois o asfalto estava pronto.
Seria injusto não registrar aqui o esforço, a dedicação do deputado federal Assis do Couto: tratores, roçadeiras, carretas agrícolas, retroescavadeiras, plantadeiras e outros equipamentos lotavam os pátios da Prefeitura.
Sob sua influência e intervenção, foram liberados nove ônibus escolares, num mandato. Foi uma experiência agradável e próspera.
Vários outros políticos também nos ajudaram muito: o deputado federal Osmar Serraglio, os senadores Osmar e Álvaro Dias, senadora Gleise Hoffmann, também merecem nossas lembranças.
Não obstante a tudo, não queremos nos ater a feitos realizados. Os sábios nos ensinam a agradecer, tanto as coisa boas quanto as ruins, compreendendo que tudo acontece para o melhor e que tudo segue um plano divino. Certamente Deus quer que extraiamos lições das dificuldades, porque estas vão purificando e desenvolvendo as virtudes do nosso interior.
Gurumayi dizia que quando nos tornamos gratos recebemos mais. Quando expressamos nossa gratidão, recebemos ainda mais. Portanto, para ser grato é preciso cultivar uma das grandes virtudes humanas, a humildade. E é preciso ter amor, que, este sim, é o supremo sentimento.
Nesta data, na verdade, hoje, pra mim e pra toda minha família, afloram esses dois sentimentos muito fortes: o amor e a gratidão. O amor é o mais nobre deles, precisa ser cultivado a cada ação nossa e a cada instante de nossa vida. Contudo, confesso que gosto, por demais, cultivar e cultuar, depois do amor, o sentimento da gratidão….
Devo-a, especialmente pra minha esposa Chica, pra minha filha Nayara, para o meu genro Marcos, e para os meus netos Inácio e Geovanna. A força sempre foi total, o carinho também, que Deus escolha suas melhores bênçãos para vocês.
– Devo-a, de modo imperativo aos meus pais, Inácio Aluisio e Rosa Maria, porque, semi-analfabetos, foram sábios. Suas orientações sempre foram firmes e seguras.
– Devo-a ao seu Olivo Calgarotto e a dona Desolina, porque sempre me trataram como filho;
– Devo-a aos meus irmãos mais velhos: Lari José, Sali Romana e Sueli Paulina. O exemplo deles sempre foi espetacular.
– Devo-a a todos que me recepcionaram em 1973, quando aqui cheguei.
– Devo-a a todos os meus cunhados e sobrinhos pela elegância com que sempre nos trataram; lembro também, embora em memória, do senhor Odilo Calgarotto, do senhor Alino (Beco) e do senhor Ancelmo Calgarotto, que sempre nos emprestaram a sua força e seu sorriso.
– Devo-a a meus colegas professores, que sempre me emprestaram sua amizade e respeito.
– A todos que foram meus alunos… Vê-los crescer em sabedoria e juízo sempre foi pra mim algo gratificante e fascinante, fazemos parte da vida deles.
– A todos que trabalharam comigo: secretários, chefes de sessões, outros funcionários, sou-lhes muito grato por tudo, desde o mais humilde ao mais graduado”.
Loivo ainda agradeceu aos deputados Augustinho Zucchi, Ademar Traiano e Assis do Couto; aos os vereadores de Verê, ao prefeito e vice e concluiu com um agradecimento especial ao município de Verê sua gente:
“Me permitam fazer agora, do fundo do meu coração, um agradecimento solene, a esta cidade amiga, aos seus habitantes, aos amigos e amigas que acompanharam a vida inteira da gente. Rogo a Deus sua bênção especial a todos. Neste município e nesta cidade, plantei meus sonhos, constituí uma família que amo muito, e foi sempre ponto fundamental de apoio na minha vida. Aqui, fiz muitos amigos, tive a oportunidade de participar de grandes momentos políticos e sociais, com objetivo de estimular e desenvolver o bem-comum; o ato de servir é um ato realizador. Neste município e cidade, ergui o sonho de legar à sua população obras importantes para melhorar a qualidade de vida de toda nossa gente.”

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