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Francisco Beltrão
quarta-feira, 04 de junho de 2025

Edição 8.219

05/06/2025

Deni Lineu Schwartz: Mais uma eleição para deputados, vem aí novo desafio para o politizado povo do Sudoeste

A cada nova eleição estadual o Sudoeste do Paraná é desafiado a votar certo no sentido de manter sua representatividade política, que tem sido, desde os anos 50, superior à média de outras regiões do Estado. Basta dizer que os 42 municípios do Sudoeste, que possuem uma população equivalente a apenas 5,5% do Paraná, têm tido representantes no legislativo estadual e federal que varia de 6% a até 16%*.
Atualmente o Sudoeste possui três deputados federais (Alceni Guerra, de Pato Branco, Assis do Couto e Nelson Meurer, de Francisco Beltrão) o que dá 10% dos 30 que o Paraná possui em Brasília. Na Assembleia Legislativa são seis (Antônio Anibelli, de Clevelândia, Augustinho Zucchi, de Pato Branco, Ademar Traiano e Luciana Rafagnin, de Francisco Beltrão, Luiz Carlos Caíto Quintana, de Planalto, e Luiz Fernandes Litro, de Dois Vizinhos), dá  11% dos 54 estaduais do Paraná. Fora parlamentares de outras regiões mas com forte ligação com o Sudoeste, como o estadual Nereu Moura, que é natural de São João e depois se radicou em Catanduvas, e os federais Fernando Giacobo, que iniciou sua vida e sua carreira política em Pato Branco e hoje está radicado em Cascavel, e Osmar Serraglio, que é de Umuarama, mas se criou em Nova Prata e tem seus irmãos residindo em Francisco Beltrão, cidade em que estão sepultados seus pais, Fernando e Maria Adriana.
Deni Lineu Schwartz foi prefeito de Francisco Beltrão (69 a 72), elegeu-se deputado estadual em 74, 78 e 82 e federal em 90. Também foi ministro, de 86 a 87, além de secretário dos Transportes do Paraná e diretor da Copel.
Atualmente cuida de sua fazenda próximo à barragem da Usina Hidrelétrica de Salto Caxias, em Nova Prata do Iguaçu. Lá ele concedeu longa entrevista ao Jornal de Beltrão, cuja primeira parte foi publicada na primeira edição de Paraná Sudoeste (13.2.2010): “Deni gostaria de ver Beto e Osmar juntos”.
Seu desejo não se realizou, Beto e Osmar disputam hoje o Governo do Estado em grupos opostos. E nesta segunda parte da entrevista dr. Deni (assim ele é conhecido, por sua profissão de engenheiro civil) fala sobre a origem do povo da região que ele conhece bem, pois além de político ele foi o chefe do Getsop (Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná), órgão misto dos governos federal e estadual que, entre 1962 e 1974, mediu as terras da região que estavam em litígio desde os anos 50.

Jdeb – Qual a herança gaúcha ou, como diz o senador Pedro Simon, qual a influência dos gaúchos na política do Sudoeste do Paraná?
Deni Schwartz – É indiscutível que a política do Sudoeste recebeu muita influência da política do Rio Grande. Mas é muito importante também ressaltar que o Rio Grande do Sul, dentro do contexto nacional, é diferente de todos os estados. A verdade é que o gaúcho, pelo seu passado histórico, de luta farroupilha e etc, o gaúcho sempre tem “lados”, isso reflete até no futebol, do Grêmio e Internacional. E na política é a mesma coisa, o gaúcho sempre teve “lados” politicamente. E as pessoas vivem lá marcadas com isso, seus filhos acostumados com os pais, maragatos ou pica-paus. Aquelas músicas lindas, antigas do Rio Grande, fizeram com que a política do Rio Grande, até hoje, seja diferente do resto do país. E é claro que essa influência chegou na região Sudoeste, menos no Oeste, mas também no Oeste do Paraná, e marcou muito profundamente. Esse fato de ter “lado” trouxe pro Sudoeste, e nós apesar de não termos um eleitorado muito grande, e relativamente estarmos diminuindo, nestas outras áreas do Paraná, nós sempre tivemos representantes em maior número, tanto que há um conceito, estadual, de que o Sudoeste é altamente politizado. Mas essas coisas também estão terminando, porque tudo passa, os partidos mudaram, a revolução de 64, as lideranças antigas de lá do Rio Grande, tanto que lá, hoje, já não é uma briga entre PTB, o velho PTB e o velho PSD, a luta era muito grande. E Brizola morreu, outros vieram, outros brizolistas. Hoje o próprio Rio Grande está sendo governado por uma mulher do PSDB, que não tem aquela tradição passada. E isso também, essa influência, está chegando aqui, enfim; as comunicações estão aí, já o Sudoeste não está isolado. Mas foi de grande valia essa influência gaúcha na nossa política. Porque pelo “lado”, nós fazíamos uma briga, no bom sentido.

Jdeb – O senhor falou de política de ter “lado” que o gaúcho tem. Por que ter lado?
Deni – Pelas velhas lutas travadas, foi formando quase que um fanatismo. Como é o caso do Grêmio e do Internacional. Se a pessoa é do Grêmio, é do Grêmio, se é do Internacional, é do Internacional. Então ele vinha aqui, “eu sou do PTB”, como tinha gente que era do velho PSD, que eram os grandes partidos do Rio Grande na época.

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Jdeb – Tinha gente que era PSD no Rio Grande, e aqui PTB. É o caso do Dr. Walter, por exemplo.
Deni Schwartz – Foi o início de mudanças. É muito importante também ressaltar o respeito que havia entre eles, PTB e PSD. A origem é uma só, a origem é Getúlio Vargas que, pra conter a expansão do partido comunista na década de 40, final da década de 30, ele criou o PTB e o PSD. O PTB, criou pra conter o operariado, tirar da influência dos comunistas. E o PSD ele criou pros fazendeiros. E essa característica vem se somando. O PTB do Paraná antes da influência gaúcha, é impressionante esse estudo… a única classe operária organizada no Paraná eram os ferroviários, porque no começo era a madeira, erva-mate e o pessoal… Não havia formalidades nas contratações. Mas eles eram funcionários. E eles formaram o PTB, por influência do próprio Getúlio. Então, o PTB de Antônio Amaral e Léo de Almeida Neves, era um PTB oriundo dos ferroviários. Tinha o PTB oriundo dos madeireiros, que tinham um “interesse especial”, que eram as guias do estudo nacional do PTB, e o PTB dos moageiros porque eram as cotas de trigo, que eram dadas pelo governo federal, e a moagem do trigo era por cotas. Tanto que nunca se permitiu que o PTB chegasse a presidente da República, e quando chegou, caiu. E chegou através de vice-presidente. O PTB foi acessório do PSD a nível nacional. O Juscelino do PSD, o Jango do PTB, daí que o Jânio e Jango não eram aliados, mas acabaram fazendo uma dobradinha e quem acabou assumindo foi o Jango, indiretamente, foi só assim que o PTB chegou à presidência. O PSD é o PMDB de hoje. O Sarney também era vice do Tancredo, devido às circunstâncias, numa eleição indireta.

Jdeb – Vamos fazer uma comparação, Paraná e Rio Grande, o PTB do Rio Grande seria mais autêntico e o do Paraná teria recebido mais adesões por outros interesses?
Deni Schwartz – Tranquilamente, tranquilamente, a história do PTB aqui, da UDN, tanto que aqui no Paraná o PTB era sempre unido à UDN. Aqui mesmo na região o PTB era mais unido à UDN do que ao PSD, contrário um pouco com as tendências nacionais que a UDN é do Carlos Lacerda. E aqui havia uma discussão, era muito mais fácil aliar o Pécoits do PTB e o Ivo Thomazoni da UDN do que entre o Pécoits e os Martins (de Clevelândia), que era o antigo PSD. Mas eu acho que a influência gaúcha na política aqui na região foi muito intensa, tanto quanto no Rio Grande está desaparecendo essa nuance. Nós temos um exemplo muito clássico na política gaúcha que é o Pedro Simon, é um homem que está contra o governo, num posicionamento corretíssimo, já está com uma idade elevada, a gente tem insistido, tem uma posição contrária, mas não sai do partido. Porque lá, sair do partido é um desastre, pois existem “lados”.

Jdeb – Teve casos como a primeira eleição do Dr. Jaime Guzzo, de Dois Vizinhos, em 1965. Ele concorreu pelo PTB com o apoio do PSD.
Deni Schwartz – Tem casos, mesmo aqui em Beltrão, depois passou a ter o apoio, por exemplo em Eneas Marques, o PTB e o PSD muitas vezes coligaram, a família Bonetti, e outros prefeitos, no passado eram PSD e se aliaram ao PTB. Então, é toda uma evolução. Hoje essas coisas não aparecem mais, até porque a idade já foi e as comunicações mudaram.

Jdeb – O senhor falou que o Pedro Simon não troca de partido porque lá não pega bem. 
Deni Schwartz – Nós tivemos muitas dificuldades para fazer o PSDB, porque os companheiros de Beltrão não mudaram de lado, Pedro Simon não mudou. Só que veja bem, o que acontece nisso: como o PMDB não se modernizou (o PMDB hoje, tá aí, não tem candidato pra presidente, tem que apoiar alguém), ele subestimou também, PMDB do próprio governo não se modernizou, veio o PSDB com uma mulher, que politicamente não tinha um passado. E o PT entra na outra faixa com um concorrente forte. Então, são avaliações muito pessoais minhas. Mas há quase que um fanatismo nisso. Acontece (e isso é muito importante) que enquanto a sociedade está evoluindo… Uma cidade como Beltrão, que evolui violentamente, e eu que passo por lá menos do que você que vive lá. Os políticos não modernizaram, esse é que é o problema, os partidos não se modernizaram, as lideranças não se modernizaram, e no Paraná tem iniciativa. Infelizmente nós não temos liderança. Esses dias conversávamos, poxa, eu conheço o Lula, e indiscutivelmente ele tem um carisma, criou uma simpatia internacional, tudo isso é certo, mas se nós avaliarmos o quadro político internacional, a gente vai ver o seguinte: nós não temos grandes lideranças internacionais, não existem mais estadistas. Você imagine se na França, o primeiro-ministro da França fosse (Charles) de Gaulle como se fosse o Lula e o de Gaulle, ou se na Inglaterra ainda existisse o Churchill, essa é a diferença. Parece que no mundo inteiro isso pode não ser uma coisa ruim, pode ser bom, mas no mundo inteiro nós não temos mais grandes estadistas. Veja a ironia do destino, veja, de certa maneira o termo pode ser muito pesado, o sarcasmo da coisa, a reunião de Copenhague, se reúnem as grandes lideranças mundiais para decidir sobre o aquecimento global, discutem, discutem, discutem, não se chega à conclusão nenhuma, porque eles não foram lá pra tirar as conclusões. Mas as mesmas lideranças, oito meses antes, tinham enchido os cofres das montadoras de automóveis, que é o álcool poluente, que polui pra burro, pra poder segurar emprego. Aí vão lá discutir que o problema é o desmatamento da Amazônia, que o problema é a criação de muita vaca. Agora o cachorro parece que é o que mais polui. E agora eu pergunto pra você: eles poderiam fazer diferente? E o desemprego que causaria? E se está discutindo uma solução pra isso, porque se houver uma nova crise, nós vamos pegar e entregar dinheiro pra cobrir mais. Aí estão preocupados com os 100 metros do colono, no riacho e tal, como se isso fosse resolver, precisa deixar 100 metros, 30 metros? Precisa. Mas isso não é o importante, o importante é saber como nós vamos nos comportar no futuro. Nós estamos incentivando, agora abriu a linha de crédito de moto, que é o bicho mais poluente que tem, tudo bem, tende a segurar o emprego do metalúrgico, mas aí tira o emprego do colono que não pode plantar.

Jdeb – Os mesmos que querem diminuir a poluição, não querem perder o emprego?
Deni Schwartz – Não querem perder o emprego. Nós estamos numa situação difícil. O mundo está em uma situação difícil. Veja, como está o emprego em Ampere, o que aconteceu agora, com os desempregados. O que está acontecendo com a indústria? Com a manufatura de roupas? Tá vindo da China, porque lá os caras trabalham 12 horas por dia, ganham mal. Eu não quero que os caras daqui ganhem mal, mas nós não estamos protegendo a nossa indústria, temos de vender soja em grão pra China, e trazer de lá o manufaturado que chega daqui mais barato. Faz uma pesquisa em Beltrão, com esse pessoal da área de indústria, pra ver como é que está. Nós estamos perdendo emprego, gerando desemprego, por quê? Porque, precisamos negociar com o mundo, de um lugar no conselho de segurança da ONU, temos que ser “bacaninhas”.  Mas e o nosso emprego? Daí não adianta a solução de pegar, a resolver o emprego no Brasil tem um milhão de brasileiros nos Estados Unidos, mais não sei quantos mil na Europa, até no Suriname nós temos trabalhadores, aqui no Paraguai tem 300 mil, tiveram que ir pra lá. Quer dizer: assim é fácil, pega e manda os caras embora e resolve o problema. Então, me parece que não se está discutindo com a devida importância. Obviamente eu não sou nenhum cientista político nem nada, eu só vejo a situação. As classes produtoras, o colono que produz está cada vez mais criticado.  Parece que ele que tem dinheiro, ele que vive bem, que come bem. O pessoal não vê filho de colono, neto de colono, tocando vaca de madrugada pra tirar leite, isso a turma não vê. Mas estão preocupados com sei lá o que.

Jdeb – É sobre aquela sua passagem como prefeito de Beltrão, como é que foi a sua filiação política em 1968?
Deni Schwartz – Tenho que voltar um pouquinho, em 64, o Scalco que era prefeito e o Walter, deputado, os partidos se uniram e me lançaram candidato único, naquele tempo era PTB, UDN, PSD, etc, etc, e eu não tinha condições de aceitar e até queria fugir da cidade pra não ser localizado e foi eleito então o Cantelmo, e quatro anos depois, em 1968, três ou quatro meses antes um Brasil totalmente convulsionado, eu filiado no MDB.

Jdeb – Antes do MDB o senhor era PTB?
Deni Schwartz – Não eu nunca fui filiado a outro partido, eu era filiado ao MDB e fui pra Curitiba, fui me licenciar, eu e o Cantelmo como prefeito e chegamos lá e eu fui alertado pelo meu chefe pessoal do Exército. O coronel me disse que eu fui chamado pelo governador Paulo Pimentel que disse: “a tua vitória, parece que pelas pesquisas você vai ganhar, só que tem uma coisa: o Brasil está convulsionado e nós não temos como explicar como é que um funcionário federal, do gabinete militar da Presidência da República, está sendo candidato pelo MDB”, tanto que logo depois foram cassadas inúmeras pessoas, “e se você ganha, mas não leva, vai ser cassado”. E aí tratamos de conversar. Falei com o Cantelmo: “Olha, a situação é essa”; e então conversamos com o Scalco que estava aqui em Beltrão, e daí ele se reuniu com o pessoal da Arena e ele mesmo, aqui de Beltrão, e o pessoal do MDB, resolveu propor a seguinte solução, “como é que a gente vai falar pra Arena que estamos apoiando o MDB?” Não havia mais tempo hábil, mas eles deram um jeito de falsificar a minha assinatura e eu nunca assinei pra Arena, a Câmara de Vereadores foi 5 a 4. Eu devo ter tido um comportamento correto porque um dos vereadores, chamado Aryzone, que está aí vivo pra contar a história, foi eleito, inclusive, deputado pela Arena. Então ficamos na prefeitura por quatro anos, e quando estávamos ganhando, eu, logicamente, voltei ao MDB. Retornei ao MDB e fui candidato, dois anos depois como deputado.

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