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Francisco Beltrão
quarta-feira, 04 de junho de 2025

Edição 8.218

04/06/2025

Diesel mais caro, baixa demanda e tabela ineficaz: a realidade dos caminhoneiros um ano após a greve

Setor ainda vive instabilidades com alto custo dos insumos e inchaço de caminhões em busca de fretes.

Não era um consenso entre os profissionais do transporte de cargas encostar o caminhão e parar as atividades por alguns dias, em maio de 2018 – a organização do movimento estava descentralizada, alguns motoristas furavam os bloqueios e a pauta era diversa – mas o apoio crescente da sociedade ajudou a mobilizar rapidamente outros setores e deu mais peso à categoria para negociar com o governo.

Um ano depois da greve, há quem questione seus efeitos. “Aquela paralisação foi um tiro no pé; até melhorou a coisa por alguns meses logo depois, mas hoje já voltou tudo de novo como era”, resume o transportador Clair Juchneski, de Francisco Beltrão. Ele tem cinco caminhões na estrada, está há 25 anos no ramo, e a sua realidade é como a da maioria da categoria: “eu prefiro andar vazio de Beltrão até Rondonópolis (MT), ter um gasto de quase R$ 2 mil, e a partir de lá começar a fazer os ‘puxes’ do que ir até o porto, carregar e ir pra lá, porque o frete tá muito baixo, não tá compensando”.

Para exemplificar a situação, Clair cita que, há dois anos, recebia R$ 205 a tonelada do farelo de Rondonópolis (MT) até Beltrão; agora, a distância aumentou 130 km – saindo de Primavera de Leste (MT) – e o preço caiu para R$ 170 a tonelada. “A tabela que deveria garantir os preços mínimos existe só no papel e não existe fiscalização. Quem contrata diz que paga caro, nós caminhoneiros estamos recebendo pouco, então deve ter alguém no meio recebendo muito pra fazer pouco”, desabafa.

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Luiz Carlos D’Agostini, do Setcsupar.

 

Aumento do diesel
A greve de maio de 2018 mobilizou caminhoneiros em diferentes pontos do País, principalmente na região, por melhores condições de trabalho e oportunidades. Além da criação da tabela, uma das principais demandas era o preço do diesel, que na época estava sendo vendido, em média, a R$ 3,65 no País. Depois, o governo criou o programa de subvenção do combustível, que em janeiro voltou a oscilar e já chega a R$ 3,62 nos postos beltronenses, segundo a ANP.

Entidades opinam
O presidente da Coptrans, Ezídio Salmória, atribui as dificuldades do setor de transportes à baixa demanda por fretes, consequência do fraco desempenho da economia nos últimos anos. “Nos caminhões granel, falta carga; já no container tem serviço, mas não tem preço. Hoje, pra ir de Beltrão a Paranaguá tá sobrando R$ 600 por viagem, menos que no ano passado”, comenta.
Para Ezídio, outro agravante é o excesso de caminhões. “Muita gente comprou caminhão nos últimos anos e hoje, mesmo quem quer sair da atividade, não tem pra quem vender. Estamos sempre naquela de que vai melhorar”, diz.

Para o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Sudoeste do Paraná (Setcsupar), a situação do setor está ficando insustentável. “Duas questões fundamentais são o preço do óleo diesel e a falta de demanda. A soja, por exemplo, foi colhida e armazenada, não está tendo frete para os portos. A categoria está sem poder financeiro”, relata o presidente da entidade, Luiz Carlos D’Agostini. Ele vai participar na próxima -feira de uma reunião do Fórum Permanente para o Transporte Rodoviário de Cargas (Fórum TRC), em Brasília, para buscar alternativas para o setor junto ao governo.

Ezídio Salmória, da Coptrans.

 

Revisão do setor
Para o consultor Robson Faria, especialista em finanças, um dos pontos cruciais – além da imprevisibilidade no preço dos combustíveis e sua carga tributária – está no inchaço de caminhões no País. “Esse é um grande problema econômico, ligado a uma lei básica: oferta e procura. Os caminhoneiros e transportadoras não conseguem repassar o valor do frete ao consumidor porque há fretes demais e carga de menos. Com o fraco desempenho da indústria nos últimos anos, as cargas diminuíram muito, por outro lado, o governo incentivou o crédito para compra de caminhões”, analisa.

Ele avalia que a greve até trouxe avanços para a categoria, além de evidenciar os problemas do transporte, mas uma revisão ampla do setor se faz necessária. “Se continuar havendo fretes demais e cargas de menos, o problema específico deles continuará. É preciso uma revisão do setor”.

Robson Faria, especialista em finanças.

 

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