Dilmar diz que se orgulha de ter nascido em Cruzeiro do Iguaçu.
Dilmar Túrmina, prefeito reeleito de Cruzeiro do Iguaçu, é natural do município, nasceu dia 2 de janeiro de 1971 quando o então distrito ainda pertencia a Dois Vizinhos. Filho do cartorário Daniel Túrmina e Teresinha Navarini Túrmina, é o terceiro na ordem entre os cinco irmãos – Bernardete, Dalmir, Dilmar, Diane e Daniel Júnior.
Casado com Sandra Ghedin Túrmina, tem dois filhos, Milena de oito anos e Eduardo de quatro anos.
Formado em Ciências Contábeis pela Facepal de Palmas e em Gestão Pública pela UFPR, iniciou o curso de Direito, mas interrompeu devido à política. Era (e continua sendo) agropecuarista, foi cartorário e professor, até se eleger prefeito, como candidato único, em 2004, com 2.054 votos. Em 2008, enfrentou um concorrente, mas se reelegeu com 69% dos votos.
Nesta entrevista ao JdeB, Dilmar diz que tem “o maior orgulho de ter nascido aqui nesse município, porque aqui é uma terra de um povo bom”.
JdeB – Sempre foi uma pessoa de muitas atividades?
Dilmar – Sempre. Namorar muito pouco, porque só namorava no domingo. Eu trabalhava muito, meu pai era uma pessoa bastante dedicada ao trabalho, muito radical, e por ele ser assim eu agradeço essa educação que ele deu pra nós, e eu quero transferir essa educação também para os nossos filhos, porque eu acredito que através do trabalho a gente conquista as coisas na nossa vida, principalmente o respeito da sociedade e das pessoas.
JdeB – Seu pai era radical em que sentido?
Dimar – Ele era uma pessoa assim que achava que namorar, por exemplo, era só no domingo à tarde, e que o trabalho era mais importante do que qualquer outra coisa. Ele não nos dava muita folga pro lazer, mas sim pro trabalho. Mas eu agradeço a ele sobre isso, porque eu sou o que sou por causa dele e da minha mãe, e eu estou onde estou por causa da educação que eu recebi. E eu vejo hoje uma juventude que não respeita muito seus pais, e o pai quer dar aquela educação antiga, que tem que ser antiga, mas junto com a moderna, acho que tem que ser uma mixagem das coisas, e eles não respeitam. Mas eu sempre respeitei e consegui chegar onde cheguei justamente por causa disso. Eu trabalhei muito, minha vida foi sempre, a principal coisa que eu levava na minha frente era o meu trabalho.
JdeB – Quando afundou a balsa do Chopim, em 1973, você tinha apenas dois anos. Que lembrança tem da sua infância quando ficou sabendo desse caso?
Dilmar – Na grande verdade, a balsa não marcou muito, o que mais marcou a balsa é nos dias de hoje que eu entrei como prefeito e comecei a descobrir quem eu sou. Até aí, eu era uma pessoa trabalhadora, sempre fui um menino honesto e continuo levando isso como um dos principais princípios da minha vida, a honestidade; uma delas é o trabalho, outra a honestidade, outra a humildade. Então, não me marcou muito nessa época, eu era muito pequeno. O que mais me marcou dos acontecimentos ali, talvez do Rio Iguaçu, foi a queda da ponte.
JdeB – Em 83.
Dilmar – Em 83. Eu tinha meus 12 anos, já era um adolescente, e a gente foi lá ver o que estava acontecendo. A ponte caiu praticamente onde afundou a balsa, muito próximo. Mas essa questão da balsa me reflete muito nos dias de hoje, porque hoje eu tenho um sentimento muito grande pelas pessoas, principalmente aquelas que menos têm condições financeiras e pelas mais pobres. E você tendo esse sentimento pelas pessoas mais pobres, você passa a ter um sentimento de família muito grande, não só da tua família, mas você sentir pela família dos outros, ver o sofrimento que elas tiveram. Então, com a perda do meu irmão e com o cargo que eu ocupo, eu consigo sentir o sofrimento dessas famílias com a perda que tem em acontecimentos muito grande, você vê as tragédias aí de um avião, “morreram 150 pessoas”, numa balsa, não se sabe nem quantas pessoas morreram, estima-se cento e tantas pessoas, mas muita gente diz que tinha muito mais, e não foram encontradas muitas delas. Foi uma tragédia muito grande, que me marcou justamente agora.
JdeB – O senhor ajudava seu pai no cartório, e com que idade começou a trabalhar? Hoje tem restrições para o trabalho infantil.
Dilmar – Hoje tem as restrições, mas eu vejo, no próprio Ministério Público, promotores que dizem “o meu filho me ajuda”, porque eu penso que a educação, o trabalho não vai estragar ninguém. Claro, ele tem que estar junto com o estudo, acho que as crianças primeiro têm que estudar, você tem que dar educação pra elas, você tem que dar um caminho pra elas através de um estudo dentro de uma determinada área. Mas eu ainda penso, me condene quem quiser, mas ainda penso que o adolescente tem que ter uma atividade de trabalho, que não seja a principal coisa que ele vai fazer, mas que ele tenha uma atividade de trabalho. Eu comecei trabalhar muito criança ainda, a gente ajudava o pai e a mãe, a mãe pedia “faz tal coisa” o pai pedia “faz tal coisa”, já com os 5, 6, 7 anos, mas eu comecei no cartório, eu já tinha meus 14, 15 anos, comecei ajudar o pai no cartório, antes disso a gente ajudava nos serviços da agropecuária, cuidar do gado e tal. Eu e meu irmão éramos quando jovens e adolescentes, nós não tínhamos funcionários, pra mexer com o gado éramos nós. E não tínhamos cavalo pra mexer com o gado, era a pé. E as fazendas não eram limpas como são hoje, e nós não andávamos de bota, andávamos de chinelo pra tocar o gado. Isso é um grande orgulho pra mim, porque eu consigo ser essa pessoa humilde justamente pelo que eu fui no passado. Nós começamos muito menino trabalhar, e eu não me arrependo, se tivesse que fazer tudo de novo, faria.
JdeB – Pôs o pé no chão desde cedo, conhece bem os buracos do município, as dificuldades pra quem tem que andar no dia a dia tocando vários trabalhos. Agora, naquele tempo de infância, o senhor sofreu algum acidente, ou era mais pegar espinho no pé?
Dilmar – Na grande verdade, acidente não sofri nenhum, graças a Deus, mais era cortar o pé, espinho no pé, passar em cima de um caco de vidro, ou nas pedras, mas, graças a Deus, nenhum acidente mais grave que pudesse me deixar lesionado.
JdeB – E o que o garoto Dilmar imaginava ser na vida?
Dilmar – Eu sempre imaginei em constituir uma família, ter filhos, ser uma pessoa boa no meio da sociedade. Porque a gente vê, eu sempre pensei assim, parava muito pra refletir a minha vida, hoje já não tenho, quase, tempo, mas eu refletia muito a vida, o que a gente tem que ser na vida. E eu sempre pensei em ser um pai de família, estar junto com a minha família e com meu povo que nós estamos até hoje. E pra você ter uma ideia, nós não nos desligamos, não conseguimos nos desligar entre irmãos, entre o pai e a mãe, o pai já é falecido, mas a mãe é o nosso esteio, a gente tá todo dia lá vendo ela, visitando. A gente com os irmãos é muito ligado, não consegue se desligar. E eu pensava realmente em ser um ser humano bom, ser um pai de família, ser um bom esposo, que eu me considero assim, não tenho muito tempo nos dias de hoje, mas sempre quando, antes da política eu sempre procurei ser, estar presente.
JdeB – As pessoas falam que quem começou na política, foi vereador várias vezes, foi o Dalmir, e por que na hora de ser prefeito foi o Dilmar que parecia nem ser do ramo?
Dilmar – Na verdade, quando iniciou o município, que o Dalmir era jovem e fundou um partido dentro do município, trouxe pra cá o PFL, e eu não era filiado, inclusive, nessa época. E ele elegeu-se vereador, foi o primeiro presidente da câmara aqui de Cruzeiro, aí na confiança me levou trabalhar na Câmara como assessor dele. Eu trabalhei com o Dalmir até 94, e em 95, 96 entrou outro presidente, que hoje é meu secretário de administração. Às vezes a gente brinca, ele me deu a conta (risos), mas pra você ter uma ideia de como a gente tem que ser na vida, a gente nunca pode levar as coisas a ferro e fogo, a gente tem que compreender diferente, que a gente precisa das pessoas. E o Dalmir foi vereador por três mandatos aqui, de 93 a 2004, encerrou sua carreira política em 2004 também como presidente da câmara. E eu acabei entrando na política um pouco por causa dele, acho que ele trilhou o caminho, e eu acabei entrando aí, mas foi também, principalmente, por causa das raízes do nosso município, eu era jovem e participava de um partido político, eu era o mais jovem dentro do partido, e sempre respeitei as lideranças, sempre respeitei as pessoas de mais idade, sempre procurei tirar o que era de bom deles, as ideias deles, aprender com eles. Eu aprendi muito e eu até quero deixar aqui, pra que as pessoas mais jovens respeitem as pessoas mais de idade, vou deixar dito, porque elas têm muito a nos ensinar. Uma faculdade é bom fazer, a gente aprende muita coisa, mas nada melhor e tão grande quanto a vivência do dia a dia, a experiência que você vai tendo, é através disso que a gente vai aprendendo, e eu aprendi com eles, e essas raízes aqui do município que quiseram que eu fosse candidato.
JdeB – Na sua família, depois da Bernadete, tem o Dalmir, o Dilmar, a Diane, o Daniel, todos com D, fora a Bernadete. Foi por causa do pai, quem escolheu os nomes?
Dilmar – Na verdade, foi o pai que escolheu, aliás, veja bem, a mais velha é a Bernardete, mas nós chamamos ela de Dete, ficou com D também, né (risos). Aí, o Dalmir, o Dilmar, a Diane e o Daniel Túrmina Júnior, que era meu irmão caçula que já faleceu, mas foi o pai que escolheu com certeza, junto com a mãe, com a concordância dela, escolheu tudo com D. E eu, aliás, acho meu nome bonito, é um nome diferente, não tem tantos, Dilmar, a grande maioria não tem, Dalmir também não tem muitos, Diane também não tem muitos.
JdeB – Só fizeram uma troca de letras entre você e seu irmão.
Dilmar – É, só trocamos o A e o I de lugar, aí, as letras são iguais.
JdeB – E vocês tinham apelido em casa?
Dilmar – Olha, me chamavam quando era menino, uns me chamavam de Véio, outros me chamavam de Lili. Eu tinha os cabelos bem branquinhos, eu até meus 8 anos por aí, meu cabelo era bem branco, por isso me chamavam de Véio, uns me chamavam de Lili. O Dalmir também tinha apelido, chamavam ele de Boti, todos nós, minha irmã mais velha era chamada de Tata, a Dete seria a Tata, a Diane chamavam de Tita.
JdeB – O pai não tinha apelido?
Dilmar – O pai não. O pai a gente tinha aquele respeito grande por ele, todo mundo conhecia por Daniel e a gente também. Eu até falei antes que ele era muito radical, mas radical pela coisa certa, ele queria que nós fizéssemos sempre o certo, até mais certo do que o certo, fazer certinho.
JdeB – Seu pai era bem exigente em questão de namoro, só podia no domingo à tarde. E tinha a questão de idade também, como foi que chegou ao casamento?
Dilmar – Olha, nós começamos namorar cedo. Eu conheci a Sandra quando tinha 16 anos, foi no mês de setembro do ano de 1987. Nós nos conhecemos e acabamos namorando, ela jovem também, ela tinha 14, ia fazer 15. Até não sei como nossos pais liberaram (risos), mas eu era bastante insistente, gostava muito da Sandra, foi minha primeira namorada e a única namorada também. Eu não era namorador, eu era muito dedicado ao trabalho, só namorava no domingo à tarde, era muito dedicado a ela, tinha um carinho especial pela Sandra. Começamos namorar no dia 14 de setembro de 1987. E, pra você ter uma ideia, 9 anos depois, dia 13 de setembro nós noivamos, 11 anos depois, dia 12 de setembro nós casamos. Depois de 11 anos de namoro casamos, fizemos nossos estudos, ela também estudou em Palmas, eu também.
JdeB – Ela se formou em que?
Dilmar – Ela se formou em Biologia. Eu em Ciências Contábeis, em Palmas, sou formado também em Gestão Pública, pela Universidade Federal do Paraná. E casamos, eu ia fazer 28 anos e ela ia fazer 26. Vivemos momentos bons juntos, compartilhamos, nos conhecemos bem, estudamos, que eu acho que é muito importante o estudo, mesmo namorando ainda fizemos nossos estudos. E, depois de casados, demoramos 3, 4 anos pra ter a primeira filha, sempre bem pensado nas coisas, graças a Deus tivemos uma filha maravilhosa, a Milena, vai completar 9 anos no dia 17 de novembro. Quase 4 anos depois tivemos o Eduardo que hoje tem 4 anos, completou dia 4 de julho, ele era pra nascer, que as duas foram cesarianas, ele era pra nascer dia 7 do 7 de 2007, mas daí a doutora Beatriz tinha que viajar e acabou antecipando o parto dele. Eu até queria que ele nascesse no dia 3 do 7 de 2007, que seria o aniversário do meu pai, mas nasceu um dia depois. São dois filhos maravilhosos, uma esposa maravilhosa. Eu, graças a Deus, tenho uma família muito boa, a família da minha esposa é igual à minha família de pessoas trabalhadoras, honestas, dedicadas. Eu me sinto realizado no meu casamento, dentro da minha família.
JdeB – A Sandra casou com um professor e quando apareceu o político, ela continuou dando força?
Dilmar – (risos) Até ela dizia, porque veja bem, quando foi pra mim ser candidato, eu pedi pra ela o que ela achava, ela me disse assim: “Mais hoje ou mais amanhã, você vai ser, então que seja de uma vez” (risos). Me apoiou desde o princípio, trabalha comigo, exerce uma função muito importante, que é uma função perante as pessoas que mais necessitam do poder público, que são as pessoas mais carentes, e ela faz essa função muito bem, ela com a dona Geni, esposa do meu vice (Luiz Alberi K. Pontes), atendem muito bem a população, e também tá gostando. Me apoiou desde o princípio até o momento que nós estamos aí.
JdeB – A partir de 2013 o Dilmar vai ser ex-prefeito. Quais são seus planos pra depois que deixar a prefeitura?
Dilmar – Olha, não sei como vão ser as eleições do ano que vem, mas com certeza a gente, como prefeito, tem um candidato, sempre um prefeito tem. Então, nós teremos um candidato, eu vou apoiar ele, vou tentar elegê-lo, e se ele for eleito eu vou continuar ajudando, não vou trabalhar e nem receber nada da prefeitura, mas continuar fazendo as viagens, com os contatos que a gente tem com os deputados, as lideranças do nosso Estado, da União, procurando buscar recursos pro nosso município. A gente tem uma experiência vasta, e eu acho que isso tem que ser aproveitado em favor da população e em favor do município. Eu penso que a gente pode exercer várias coisas, até eu costumo dizer “você quer que alguém faça alguma coisa, convide aquele cara mais ocupado”, esse é um ditado já antigo, porque ele vai dar um jeito de fazer aquilo. E eu tenho muita coisa que eu faço, mas eu tiro tempo pra fazer muito mais ainda, sabe. Vou estar envolvido, ajudando, mas o principal foco é voltar nos nossos negócios, cuidar das nossas cabecinhas de gado, nossos canteirinhos de terra, nossas lavouras, ficar um pouco com a família, porque tem que cuidar um pouco dos negócios da família, essa é a minha intenção.
JdeB – Pela experiência que o senhor teve, um prefeito tem que ser mais político ou mais administrador?
Dilmar – Tem que ser muito coração. O gestor público, muitos usam a razão, mas quem tem que comandar o gestor público é o coração, você tem que ter o conhecimento daquilo que você está fazendo e fazer com que o teu coração te ajude a fazer as coisas. Por que eu digo isso? Porque você tem que ouvir a população. É a opinião do povo que você tem que colocar em prática. Então, você usando o teu coração você ouve as pessoas através das ideias delas, e formula uma ideia e um projeto que vai atender a grande maioria que te deu as ideias. Eu como prefeito, eu não sou ninguém se as pessoas não me ajudarem. Na grande verdade, é o povo que faz acontecer, a gente é um mero administrador e tem que contar com a população pra que eles façam acontecer. Todo o sucesso da nossa administração, eu credito ao nosso povo, a confiança que ele nos deu, ao apoio que ele nos deu fazendo realmente as coisas acontecerem. Eu me sinto realizado por isso.