Geral
Dom Edgar Ertl, bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão, se pronunciou sobre a decisão do papa Francisco de rejeitar a sugestão para que padres casados possam atuar na região Amazônica, que abrange nove países da América do Sul. A pedido do Jornal de Beltrão ele deu sua opinião:
Posição de dom Edgar
“O Papa teria escolhido um nome muito próprio, típico do Papa Francisco, podemos dizer o papa da alegria e os documentos. Do papa sempre aparecem adjetivos positivos e também carregados de expressões carinhosas e aqui temos uma: “querida Amazônia” é um título extremamente positivo de cumplicidade e de pertence. Isso é muito importante, o nome já nos remete a um cuidado, não é alguém que está apenas olhando de fora, o que acontece nesses nove países que compõem a grande Amazônia, mas é alguém que vive, que conhece e que foi muito bem assessorado por padres a respeito do contexto integral da Amazônia.
Não somente do ponto de vista eclesial, mas do ponto de vista social, cultural, ecológico, político, econômico, e assim por diante. Ou seja, é um tema muito amplo, nesse sentido. Em segundo lugar, havia uma expectativa muito grande da sociedade em geral e também dentro da própria Igreja Católica de que o papa estaria abolindo o celibato dos padres, mas isso nunca foi anunciado, o papa nunca criou nos católicos ou na sociedade esta expectativa, jamais o celibato foi a pauta principal da exortação do Sínodo. O Sínodo tratou de muitos assuntos. O tema do celibato ou seja “Homens casados” foi um tema que apareceu entre muitos outros que foram levados em conta e outros que não foram levados em conta porque necessita-se de muito tempo de reflexão, estudos e assim por diante.
O que o papa se refere é verdade, como aproveitar melhor a atuação de diáconos permanentes? Ou seja, diáconos que são homens casados. Na nossa Diocese, nós temos 53 homens casados se preparando para o diaconato. O papa fala disso: “Como que vamos aproveitar melhor esses homens?” Inclusive os indígenas: “Como evangelizar os indígenas com os próprios indígenas?” É uma interrogação, mas o papa ainda não deu uma resposta para isso porque não era essa a finalidade somente. Em segundo lugar, o que o papa pede muito é uma redistribuição dos sacerdotes no Brasil, ou na Amazônia, na América Latina. É um pedido que ele faz aos bispos, nessa exortação, que haja uma justiça equitativa na distribuição dos padres e ministros ordenados. Nós temos, às vezes, algumas cidades com uma concentração maior de padres. Então, por que as dioceses e as congregações religiosas não podem enviar padres para a Amazônia para ajudar aquelas comunidades ribeirinhas e distantes? Para que tenham acesso à Eucaristia, aos sacramentos. Isso é uma possibilidade que existe nesta Carta, nessa exortação apostólica. São mais de 100 números e diz o papa, logo na introdução que ele partilha de alguns sonhos para a Amazônia. Quais são esses sonhos? O destino que deve preocupar a todos, a Terra também é nossa. Então, assim, ele formula esses sonhos, quatro grandes sonhos do papa.
Que a Amazônia, em primeiro lugar, lute pelos direitos dos mais pobres. Vejam, isso é muito importante. Segundo, que preserve a riqueza cultural, isso é extraordinário que o papa tenha dito. Terceiro, que guarde a sedutora beleza natural; e, por fim, que as comunidades cristãs sejam capazes de se devotar e encarnar na Amazônia. Depois ele vai desenvolvendo vários temas, como por exemplo, o sonho social, que a Igreja que esteja do lado dos pobres e oprimidos, os pobres sejam ouvidos sobre o futuro da Amazônia, o sonho cultural, cuidar de tudo aquilo que diz respeito à promoção, respeito, cuidado da Amazônia.
Um outro tema, o sonho ecológico, unir o cuidado com o meio ambiente e com as pessoas, cuidar das pessoas para dogmatizar o meio ambiente e vice-versa. Como fazer essa leitura dialética entre as pessoas e meio ambiente? Um outro pedido do papa é ouvir o grito da Amazônia, que o desenvolvimento seja sustentável.
O sonho eclesial, construir uma igreja com o rosto amazônico, as vocações que nascem na Amazônia, ou seja o estimulo vocacional, do trabalho. Que a Amazônia não perca o seu rosto pelos ministros ordenados, padres e irmãos, ministros e freiras, uma renovada inculturação do evangelho, ou seja, como o Evangelho chega naquelas terras, naquelas culturas, naqueles povos, os sacramentos devem ser acessível a todos. Como tornar acessível, de fato, aos que vivem afastados e assim por diante.
Bispos latino-americanos devem enviar missionários à Amazônia. A nossa Diocese de Palmas-Francisco Beltrão tem esse compromisso com a Diocese de Marabá no Pará. Se depender do bispo de Palmas-Francisco Beltrão, sempre vamos ter um padre por lá, para ajudar aquele povo, isso é cumplicidade. Também outro tema: favorecer um protagonismo dos leigos nas comunidades, como valorizar os leigos na comunidade, que vivam, de fato, uma vida cristã, autêntica.
Depois também, um tema polêmico: abrir novos espaços para as mulheres sem torná-las sacerdotisas ou diaconisas, mas como valorizar as mulheres, as catequistas, as ministras, as mães que fazem uma catequeses bela com seus filhos. Outro tema muito bom: a comunidade que devem lutar juntos pelos pobres da Amazônia.
E, por fim, ele diz: “Vamos confiar a Amazônia e os seus povos a Nossa Senhora, chamando Nossa Senhora como Mãe da Amazônia. Sempre numa exortação apostólica. No último capítulo, nos últimos números, são dedicados a um tema mariano, a Mariologia. Tudo feito, tudo escrito, tudo recomendado. Agora, como queremos que isso chegue nas mãos de Deus, no coração de Jesus, sempre pela intercessão de Nossa Senhora. Então, isso também faz parte da cultura da Igreja: escrever um documento, no caso, o Papa Francisco.
Mas o documento, seu tema central, é isso, que a Igreja tenha um rosto amazônico. E isso não é só mandando homens casados para o exercício sacerdotal, e os outros sacramentos, o documento aborda temas muito mais além, segundo a decisão do papa, ele tem essa liberdade. Eu não estava esperando outra coisa, se não esse título tão carinhoso. Acima de tudo, o papa quer orientar os cristãos da Amazônia sobre a importância da Amazônia de uma forma integral, não somente de um ponto de vista religioso. É o homem na Amazônia, é um conjunto que diz respeito ao cuidado das pessoas e o cuidado do meio ambiente.”