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Francisco Beltrão
segunda-feira, 02 de junho de 2025

Edição 8.217

03/06/2025

Dr. Mário e seus 52 anos de medicina em Francisco Beltrão

“Aquilo que a gente pode considerar uma vitória, a gente esquece. O que dói (perda de pacientes) é que marca.”

 

Dr. Mário e seu fichário com dados de pacientes desde 1963 (80 mil fichas): “Curamos às vezes, aliviamos a dor sempre que possível, mas consolar sempre”.

 

Ao nascer em Passo Fundo (2 de maio de 1934), os pais Laura e Antônio da Rocha deram ao seu sétimo filho o nome de Mário Vargas Junqueira da Rocha. O “doutor” veio em 1959, quando se formou médico, na Federal de Porto Alegre. Nos anos 90, quando voltou a militar a política beltronense, a mídia resumiu seu nome em Dr. Mário Vargas. Mas em Beltrão e região, desde 26 de janeiro de 1963, data em que se estabeleceu aqui, se falar em “Dr. Mário” todos sabem de quem se trata.
Somente em Beltrão, já soma 52 anos de medicina. Em seu fichário, ele afirma possuir entre 75 mil e 80 mil pacientes. É um rico material até para estudos sobre a medicina na região, neste período. Esta pesquisa ele não fez, ainda. E se continuar no mesmo ritmo atual, vai demorar, porque, aos 81 anos, ele continua o médico de sempre, preocupado com seus pacientes, agenda cheia. Tanto que para esta entrevista ele só encontrou tempo num sábado de manhã. E antes da entrevista ainda atendeu um paciente que consulta com ele desde 1974. Ao guardar a ficha, dr. Mário comenta: “Ele (o paciente) está com 84 anos, esse é dos mais velhos, é de quando nós batia à maquina (a ficha); ele é ali da Barra Grande. Esse outro aqui é mais novo, tem 76, e esse outro é um menino mais novo, tem quarenta e poucos, tinha que ter operado a cabecinha dele, ele é meio deficiente, e, sendo deficiente, é muito meu amigo, ele vem aqui e fala, me abraça, conversa; a minha enfermeira se apaixonou por ele”.

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Qual é a característica principal do dr. Mário, que as pessoas confiam no senhor há tanto tempo?
Dr. Mário –
Ah, não sei. Eu acho que é por causa da medicina. A medicina, pra mim, é uma coisa importante.

O senhor tem um jeito direto de falar as coisas.
O ser humano precisa da medicina e se a gente puder transmitir… É aquilo que eu digo: curamos às vezes, aliviamos a dor sempre que possível, mas consolar sempre. Uma moça veio aqui ontem com 25 exames e ela precisava só de uma conversa. A medicina, pra mim, é uma coisa diferente, é uma razão de ser. Eu nem ia ser médico, eu ia tirar engenharia. Quando eu tinha sete ou oito anos, eu construía cidades de barro, na casa que nós tínhamos em Passo Fundo. E o meu irmão mais velho foi tirar medicina. Quando ele estava no terceiro pré-médico, a noiva dele faleceu, e ele desistiu. Eu cheguei em casa, minha mãe estava chorando e a família era pobre que era uma barbaridade. Ela disse o Alcindo desistiu da medicina. Naquele dia, ela (a mãe) não sabe, ela se tornou assassina. Porque ela matou um engenheiro e nasceu um médico.

Nesses 52 anos de médico, qual foi o atendimento de paciente que mais lhe deu satisfação?
Olha, satisfação a gente esquece. Não gostei de perder um filho do Antoninho.  Foi um menino que morreu de poliomielite. Naquele tempo não tinha cura, e hoje não tem. Quando a poliomielite pega, mata ou aleija. Esse me marcou muito. Teve a morte de uma senhora que eu tive que operar, e também a amizade que eu tive por ela, isso eu me lembro. Agora, aquilo que a gente pode considerar uma vitória a gente esquece. O que dói é que marca. Mas, graças a Deus, se eu fizesse uma volta de 72 anos, eu voltaria a fazer medicina.

O senhor se considera uma pessoa realizada?
É. Eu sempre fui emotivo. Eu não faço mais obstetrícia e nem ginecologia, mas poucos meses atrás chegou aqui um casal com doze anos de casamento e não tinham filhos. Ela disse que fulana consultou o dr. Mário e engravidou. Aí eu examinei eles, vi todos os exames que tinham e dei um remédio pro marido. Eles foram pra casa e três meses e meio depois voltaram, com a queixa de que a mulher estava se sentindo pesada. Aí eu pus ela na mesa e examinei e disse pra ela: “vou lhe dizer uma coisa, se não é um nenê é câncer (risos), que pra crescer ligeiro assim! Aí nasceu a Mariá, essa eu me lembro bem.  Esses dias veio o pai da Mariá e eu disse pra ele não me beije (risos). Me abraçou e tudo. Geralmente esse pessoal que tem dificuldade de ter filho e quer ter filho, quando conseguem são os que demonstram mais, e aqueles que tiveram coisas horríveis e escaparam. Eu tenho um doente que teve um tumor violentíssimo, e eu encaminhei pro Ceonc e ele está bom. Até hoje, volta e meia, ele me agradece.

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