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Francisco Beltrão
sábado, 31 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Efeitos da crise atingem setor de coleta seletiva

Com redução nas vendas e no consumo, volume de material reciclável também diminuiu.

 

A recessão econômica está provocando efeitos também sobre o setor de coleta de lixo reciclável. As pessoas estão consumindo menos e, por consequência, passaram a produzir menos lixo. Bom para o meio ambiente, ruim para quem depende deste tipo de produto para a manutenção de sua família. 

A reação em cadeia provocada pela instabilidade econômica em que o país se encontra já chega aos extremos do ciclo produtivo. Basicamente, os primeiros a sentir os efeitos foram os segmentos de bens duráveis e alto valor agregado – como veículos e construção civil -, seguidos pelas indústrias de móveis e eletroeletrônicos e, como mostrado em recente reportagem do JdeB, respingou até no setor de alimentos. Por fim, nos últimos meses, quem tem sentido os efeitos negativos da crise é o setor de coleta seletiva e reciclagem. 

As incertezas econômicas incentivam os consumidores mais conscientes e cautelosos a consumirem menos e, consequentemente, produzirem menos lixo. Bom para o meio ambiente, ruim para quem depende do produto para sustentar a família, como o caso da Associação dos Catadores de Papel de Francisco Beltrão (Ascapabel), que registrou queda de quase 25% no volume de materiais coletados nos últimos meses. 
Segundo dados da associação, desde o início do ano a média mensal girava em torno de 260 toneladas de material e, nos últimos dois meses, o montante ficou abaixo de 200 toneladas. “No inverno, normalmente há uma queda de 10%, em média. Mas desta vez somaram fatores como a crise econômica e, automaticamente, a diminuição do consumo e, também, muitos catadores clandestinos, que não estão vinculados à associação, recolhendo o material bom e mandando para outros municípios”, ressalta João Baptista Manfroi, contador e responsável pelo setor financeiro da entidade.
Um dos indícios de que o consumo reduziu é o volume de isopor recolhido pelos catadores. “Nós utilizávamos a máquina para derreter o material todas as semanas, devido ao volume que se acumulava aqui. Agora, vai mais de 15 dias pra ter o mesmo volume de isopor disponível”, conta Joel Francisco Rodrigues Ferreira, presidente da associação.
Coordenada por Joel Ferreira (presidente), Rogério Soares Amaral (vice­presidente) e Pedro Ribeiro (secretário), com o apoio do gerente Senílio Zapelini “Neco”, a entidade emprega atualmente 48 colaboradores e conta com aproximadamente 80 catadores. Com a redução no volume de materiais, a necessidade de colaboradores também diminui. “No início do ano, eram quase 70 que trabalhavam aqui e, conforme foram saindo, não fomos mais contratando ninguém. Reduziu parelho e também baixou o preço pago pela indústria pra nós”, lamenta Joel.

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Em busca do equilíbrio financeiro
No comparativo com o ano passado, o preço pago pelo quilo do papelão caiu 34%, enquanto materiais como garrafas pet tiveram redução de 25%. O menor rendimento forçou a associação a reduzir o pagamento também aos catadores. “A associação tem muitos custos, que se elevaram neste período, e o preço do produto reduziu. Tivemos que ajustar os valores para tentar manter o equilíbrio. Para se ter uma ideia, no mês de junho trabalhamos com prejuízo”, revela João Manfrói.
Apesar da dificuldade no mês passado, a Ascapabel já conseguiu reequilibrar o orçamento, afirma o contador. “Houve um entendimento por parte da Prefeitura, com quem temos contrato para a coleta do material seletivo, que aceitou reajustar os valores repassados mensalmente para a associação. Recebíamos R$ 49 mil por mês e a partir de julho vamos receber R$ 70 mil. A associação é viável, mas foram muitos os fatores que nos atingiram e por isso precisamos agir para manter a coisa equilibrada.”

Associação faz apelo ao poder público

 Como se não bastasse a situação, a Ascapabel ainda precisa lidar com os inúmeros catadores clandestinos que, segundo a instituição, “acabam atrapalhando o nosso trabalho”. Com o compromisso assumido com o município, a associação é responsável por toda a coleta seletiva e destinação adequada dos rejeitos – materiais que não podem ser reciclados. “Esses catadores independentes acabam coletando os materiais de melhor valor e deixando apenas as coisas ruins ou de menor valor para nós. Temos custos e buscamos fazer da forma correta, mas esse pessoal acaba acumulando materiais em casa, que é proibido por lei, e não sabemos se estão destinando adequadamente os rejeitos. Além disso, muitos levam as bolsas amarelas embora ou trocam por outras sujas e velhas e já tivemos moradores reclamando com a gente, dizendo que não iriam mais fazer a separação. Isso nos preocupa também”, declara Joel.
João Manfroi pede ao poder público que avalie esta situação. “Que façam reuniões e busquem soluções. Nós seguimos com uma associação organizada e estruturada, e esse pessoal clandestino não tem ninguém registrado adequadamente, os veículos estão em péssimo estado, não usam os EPIs e acabam prejudicando a coleta seletiva adequada. É preciso entendimento das autoridades e ver a melhor solução”, ressalta. O presidente Joel Ferreira completa: “Tenho orgulho do nosso serviço, tudo o que tenho, consegui aqui. A gente fica preocupado com a situação, atrapalha muito para nós”, reclama.

Associação de Catadores lida com a redução de 25% no volume de materiais coletados.

 

 

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