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Francisco Beltrão
sábado, 14 de junho de 2025

Edição 8.226

14/06/2025

Entrevista Valdomiro Leite: Leite no nome e nas atividades, desde criança

 

Valdomiro Leite.

Natural de Bilac (SP), nascido em 23 de maio de 1958, Valdomiro Leite é o segundo dos quatro filhos de José Aparecido e Alzira Rossini Leite. Maria Aparecida reside em Francisco Beltrão, Valdomiro em Realeza, Cleuza Cristina em Campo Grande (MS) e Lourdes em São Tomé, Norte do Paraná, a cidade para onde a família mudou quando os filhos ainda eram menores e os pais queriam um lugar mais próximo da escola para facilitar o estudo.

Após formar-se médico veterinário pela UFPR em 1983, Valdomiro conseguiu seu primeiro emprego em Francisco Beltrão, onde conheceu a futura esposa, Ildete Dal Pizzol, que era engenheira agrônoma da Emater em Marmeleiro. O casamento é de 1988, em Realeza, onde tiveram seus três filhos: Ângela, que se forma em Medicina neste fim de ano, em Porto Alegre; Murilo, estudante de Engenharia Civil em Curitiba; e Carolina, vestibulanda de Medicina.

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Valdomiro é daquelas pessoas de muitas atividades. Filiado ao PMDB, foi vice-prefeito de Realeza na gestão 2008/2012, sendo reeleito em 2012 para o mesmo cargo. Em 2012, Valter Pereira da Rocha, proprietário da Laticínios Latco (junto com o irmão Fausto), elegeu-se prefeito de Cruzeiro do Oeste, sobrando mais compromissos para Valdomiro, que é o diretor-geral da empresa, com estruturas no Sudoeste (Francisco Beltrão e Realeza), no Oeste e no Norte do Paraná. 

Ele ainda tem empresa transportadora e propriedades rurais que administra junto com a esposa, em Realeza e Guaraniaçu. E encontra tempo para participar do Rotary há 26 anos (já foi presidente e governador-assistente) e da maçonaria. Também é diretor-secretário do Sindicato das Indústrias de Derivados do Leite do Paraná (Sindileite-PR).

Seu lado político começou a ser desenvolvido no tempo que morou na Casa do Estudante Universitário (CEU), de Curitiba. Mas nesta entrevista o lado político nem foi abordado. É marcante sua determinação em vencer na vida. Para isso, não se importou em mudar de emprego ou de cidade.

 

JdeB – Seu pai é José Aparecido Leite, o avô Cândido Marcelo Leite e você Valdomiro Leite. Quando você se deu conta que seu sobrenome era Leite, você gostou?
Valdomiro – Eu sempre gostei. Sempre gostei porque nós somos oriundos de uma família de agricultores. Minha origem é na agropecuária e eu trabalhei na agricultura até os 16 anos de idade e meu pai, além de seu nome Leite, ele sempre produziu leite, então sempre tivemos muito ligados à área de pecuária de leite. Eu nunca tive problema com o sobrenome, sempre me agradou.

Naquele tempo vendia o leite na cidade?
Eu vendia na cidade. Meu pai foi 25 anos leiteiro em São Tomé, entregava de casa em casa, então eu nasci, cresci, digamos, nessa atividade, porque era uma atividade de subsistência familiar e nós morávamos próximo da cidade, dois quilômetros, e uma das fontes de renda da família era a venda do leite de casa em casa. Nós ajudávamos na produção de café, nos tratos dos animais e até na ordenha das vacas. A venda do leite era mais responsabilidade do meu pai. Algumas vezes a gente ia ajudar.

Não tinha ordenhadeira?
Não, não tinha, era ordenha manual e nós também não tínhamos nem vacas especializadas. Eram vacas comuns, tirava quatro, cinco litros por vaca.

E os estudos foram normais quando pequeno?
Os estudos foram normais. Eu comecei a ser alfabetizado no interior de São Paulo, Bilac, na escola rural, depois continuei a minha alfabetização na Escola Rural na cidade de São Tomé até eu fazer o curso de admissão pra entrar no ginásio. Eu fiz o curso de admissão quando nós morávamos 11 quilômetros da cidade, bastante longe e não tinha meio de transporte. Eu comecei o primeiro ano do ginásio, eu lembro muito bem que fiquei seis meses indo a cavalo até a cidade e deixava lá num conhecido do meu pai, estudava e voltava a cavalo. Depois meu pai me comprou uma bicicleta, aí ia eu e mais um colega e mais dois amigos. 

E em dias de chuva?
Se estivesse chovendo muito não tinha como ir. Eu fiz um ano e meio 12 quilômetros pra poder estudar o ginásio. A minha irmã mais velha terminou o quarto ano e parou porque ela não tinha condições e eu continuei porque ia de bicicleta junto com os rapazes. Isso em 1969. Depois, em 69, nós produzimos café junto com meu avô, aí ele tinha um pedaço de terra longe, só que não tinha casa, a gente ia trabalhar e voltava. Aí ele vendeu lá, comprou um pedaço de terra próximo dois quilômetros da cidade, com o intuito e objetivo de ficar próximo pra que nós pudéssemos estudar.

E aí terminou o ginásio?
Terminei o ginásio em São Tomé, as minhas irmãs também, elas voltaram a estudar. Eu fui estudar numa cidade vizinha, Jacurá, aí nós íamos de Kombi.

Quantos quilômetros?
Era uns 10 quilômetros. Estudei o primeiro ano do segundo grau nessa cidade e aí eu tava com 15, 16 anos e nós morava no sítio. Foi aí que eu dei uma virada na minha vida. Porque eu tinha esse problema de quando criança sangrava muito a narina, ia no médico, tratava e não resolvia e eu trabalhava na roça, no sol quente. E  o pai falava olha acho que o sol quente te faz mal, não te serve, você tem que arrumar um serviço na cidade. E ele tentou me arrumar um serviço na cidade. Eu fui um dia num banco e não deu certo, me dispensaram. Voltei pra roça, mas num final de ano um amigo, que era companheiro da época das bicicletas, me convidou pra ir pra Curitiba. Pra minha surpresa, meu pai concordou que eu fosse pra Curitiba trabalhar. Fui morar na pensão que ele morava.

E arrumou o que pra fazer?
Olha, na cidade eu trabalhei de servente de pedreiro um mês, um mês e pouco, mas tinha que mudar. Nisso eu arrumei um trabalho de office boy e entregador de sapato numa loja que atendia a classe alta de Curitiba, bem na Rua XV. Lá fiquei trabalhando um tempo de entregador de sapato e também fazia o serviço de banco, de office boy, quando não tava entregando sapato, porque as madames vinham, escolhiam o sapato e iam embora, ficava pra gente levar, essa era minha função, pegava aqueles pacotes, tinha os endereços e tinha que entregar.

Ia a pé?
Ia a pé, ia de ônibus. Isso foi em 1975, e quando não tinha pra entregar eu fazia serviço de banco, mas eu ganhava um salário pequeno, mal e mal eu consegui me manter. Um colega de loja me convidou pra ir morar na casa dele, de favor. Ele falou olha, eu tô vendo que o que tu tá ganhando aqui não tá conseguindo te manter, lá na minha casa tem um quartinho e você me paga um aluguelzinho pequeno e vai morar lá. Você me ajuda nos finais de semana, que tô construindo minha casa também, e o aluguel eu te cobro só uma taxa. Nunca esqueço disso. Eu trabalhava entregando sapato e ele vendendo e ele ganhava comissão. Eu convenci meu patrão que no sábado não tinha banco e não tinha entrega de sapato, que ele me pagasse uma comissão pra ser vendedor. O sábado dava mais movimento, era aquele tumulto  e tal, e eu vendia e ganhava uma comissão (risos), aumentava minha renda.

Gostou da parte de vendas?
Eu gostei de trabalhar com vendas, fiquei mais ou menos um ano trabalhando nessa loja, mas sempre com objetivo pra crescer. Nisso eu procurei trabalhar no banco, daí eu fiz um concurso e fui ser bancário. Lógico, o salário de banco naquela época era relativamente melhor do que o salário de entregador de sapato e eu lembro muito bem que eu ganhava um valor x e eu fui trabalhar no banco ganhando três vezes mais, então pra mim já foi um passo. Daí eu saí de lá onde eu morava de favor e voltei a pagar pensão.
E continuou estudando?
Não, não, nesse tempo eu não estudei. No primeiro ano eu não consegui estudar porque não tinha recursos. No segundo ano me matriculei pra voltar a estudar num colégio, mas era bairro longe, a única vaga que consegui, aí eu trabalhava à noite e estudava lá, não sei porque cargas d’água acabei desistindo. Lá no banco eu tinha um amigo que sempre me incentivava, você não pode só ficar trabalhando aqui sem estudar. Aí eu voltei a estudar. Já voltei no colégio Bardal, fui terminar o segundo grau e no outro ano fiz o cursinho, porque aí eu já tinha condições de pagar os meus estudos.

 Tava dinherudo (risos)?
Aí já estava com condições de pagar. Tinha o Positivo e o Bardal, os dois colégios disputavam os alunos e eu estudava à noite. Passei na Federal.

Você já tinha definido veterinária?
Já tinha definido que ia fazer pra medicina veterinária, não sei se ali funcionou as origens. Tinha 80 vagas. Passei na 79 (risos). Era um outro desafio, não pagava mensalidade, mas a faculdade era integral e como que eu ia fazer pra continuar sobrevivendo e estudando? Nesse período já tinham se passado três, quatro anos e eu não tava mais em casa, não tinha mais ligação financeira com o meu pai. Quando eu passei na faculdade eu já tava mais ou menos um ano fora do banco.

Tinha arrumado outro serviço melhor?
Exatamente, eu tinha arrumado serviço numa empresa que na época eu ganhava três vezes no banco e na empresa eu fui ganhando seis. Fui chefe de um setor de cobrança, de todo o faturamento de uma empresa de Curitiba

Aquela experiência que você teve de vendedor já te ajudou?
Já me ajudou, porque eu controlava todas as vendas, falando da parte administrativa, não era o gerente comercial de vendas, mas cuidava da parte administrativa e, lógico, a gente sempre procurava alguma coisa a mais. Daqui a pouco chega o diretor, dono da empresa, chamei ele, nós precisamos conversar porque gostaria que você me passasse pra ser vendedor. Ele não posso, tem que ficar aqui, a equipe de vender é outra, não tem jeito. Mas não me contentei. Um tempo depois achei uma empresa que precisava de uma pessoa de venda e tal. Essa altura já tava ganhando bem, já tava estruturado, pedi a conta e fui trabalhar com vendas, e aí as coisas nem sempre são do jeito que a gente pensa. Fui trabalhar como coordenador de uma empresa e não foi muito bem e voltei. Lógico, a vida é assim, você leva uns tombos e você tem que aprender e tirar lição dela. Aí eu passei um período que comecei a consumir minhas economias, porque o meu ganho não era mais o padrão que eu estava. Fiz diversas vendas, de quadro, ser camelô. Passei mais ou menos um ano fazendo isso, porque eu tinha que pagar pensão, tinha que dar um jeito. Aí tinha um amigo que trabalhava de camelô na cidade. Disse seguinte, tenho um negócio que você vai ganhar dinheiro, vamos trabalhar, ser camelô, eu vivo disso, dá pra tirar um bom salário. Eu trago as coisas de São Paulo, eu vendo numa região e você vende em outra. Eu falei tá bom. E fomos trabalhar de camelô. Nós vendíamos aqueles peixes de aquário, aqueles peixinhos vermelhinhos, era novidade. Esse meu amigo comprava numa piscicultura em São Paulo e trazia pra vender nas feiras livre, mas isso era clandestino mesmo, era num canto que nós montava o negócio. E as crianças vinham, olhavam e que coisa bonitinha, que coisa bonitinha e tal e nós vendíamos.

E vendiam bem?
Eu saía todo dia com, eu não lembro bem, 20 ou 30 pacotes daquilo e vendia tudo e a margem de lucro era muito grande, você pagava um real e vendia por cinco, e com isso voltei a ganhar dinheiro. Mas eu levantava seis horas da manhã e ia pras feiras, até meio-dia e voltava, almoçava e de tarde fazia ponto na rua, próximo do centro, vendia até umas sete horas da noite.

E o pessoal da prefeitura não implicava?
Implicava, tomava nossos negócios, quando pegava aquilo, levava tudo. Perdi mercadoria várias vezes. E nessa época foi quando eu voltei a fazer cursinho. Eu vendia de manhã e fazia cursinho à noite. Nunca esqueço de um fato, eu tô lá na feira com meu negócio montado, o professor chegou e viu que eu tinha passado no vestibular, eu tava careca e tinha ganho o bonezinho do diretório acadêmico, de Medicina Veterinária, e ele onde você arrumou isso? Falei é meu. Ele mas você é calouro? Aí ele tomou um susto, o cidadão, achou estranho um camelô ter passado no vestibular. Aí ele falou meus parabéns, então vamos nos encontrar lá, eu sou professor.  De manhã eu ia pras feiras e depois eu tinha que ir pra faculdade.

Continuou como camelô?
Sim, porque eu tinha que sobreviver, não tinha saída, eu tinha que dar um jeito, o primeiro ano de faculdade eu morava pagando pensão, aí que surgiu a CEU (Casa do Estudante Universitário) na minha vida, fiz os testes e acabei entrando.

Como você fazia?
Eu tinha que vender peixe, trabalhar na CEU e a coisa complicou de vez. Aí nesses alturas o pai me chamou, falou eu sei que tá muito difícil pra você, tá muito complicado. Falei tá difícil pra mim continuar estudando, mas eu não quero parar. Ele falou ó, eu vou te ajudar, com uma condição: eu vou te arrumar um valor por mês, salário mínimo, um pouco menos, mas tem o compromisso de quando você se formar tem que devolver, porque se precisar pagar os estudos das suas irmãs eu não quero ser injusto com elas. Falei tudo bem, pode ficar tranquilo que eu vou devolver. Ele passou a me ajudar com um salário e na CEU, como nós pagávamos 25% do salário mínimo que era a mensalidade, já me sobrou um pouco mais, porque eu investi tudo nos meus estudos. Fui estudando na CEU e trabalhava à noite de garçom, trabalhava no Ipucc, aí eu tive que abandonar a venda dos peixinhos. 

E aquela história de licença?
Chegou uma altura que eles falaram você tem que ter uma licença, esses peixes não pode vender. Eu falei não, isso aqui é legalizado, vem de uma piscicultura. Eu fui no IAP falar com o diretor, isso foi quando eu tava fazendo cursinho ainda, falei tenho que estudar e preciso viver. Daí ele falou mas como, onde você compra isso? É legalizado? Falei é. Aí fui a São Paulo e trouxe o documento da piscicultura que era legalizada no IAP, então podia ser vendido. Esse diretor do IAP fez uma autorização especial pra comercializar peixes ornamentais nas ruas e feiras de Curitiba, tenho guardado até hoje. Ele se sensibilizou, expliquei e mostrei minha matrícula do colégio. Como que você paga colégio particular com isso aqui? Vou te ajudar. Depois, quando eu passei no vestibular, eu fui fazer uma visita pra ele, vim aqui agradecer, graças a isso aqui hoje eu tô na universidade. Hoje ele não é mais vivo, mas graças à pessoa com esse perfil que fez com que eu não parasse de estudar.

E aí você terminou o curso nos quatro anos?
Terminei, adiantei ele, era quatro anos e meio e terminei em quatro anos. Mas a CEU ajudou muito, eu sou muito grato, lá eu aprendi muito, participei muito da administração, na universidade também, grande formadora de líderes, e lá eu fui vice-presidente da CEU, fui da diretoria do conselho, fui vice-presidente.

Na formatura a família foi lá, foi bonito?
Foi o meu pai e a minha mãe, só foram eles dois porque as minhas irmãs não puderam ir e foi também mais um primo e uma prima. Como a gente não tinha condições pra fazer festa, depois que terminou a colação de grau, nós fomos almoçar em um restaurante, o pai de um outro formando me convidou e nós fomos almoçar juntos. Foi realmente bastante simples e nós não fizemos a festa de formatura, nós pagamos a mensalidade, mas nós tínhamos um colega que era muito sofrido, ele tinha uma dificuldade muito grande, a família muito humilde, e ele tinha um problema de visão, ele ficava na primeira carteira e usava um óculos de grau seis ou sete. Ele precisava fazer cirurgia e naquela época não tinha SUS, nem nada. O que é que nós decidimos? Nós pegamos esse dinheiro e nós ia pagar uma cirurgia pra esse colega. Pegamos todo esse dinheiro que ia fazer o baile, que todo mundo ajuda a pagar, as promoções, chamamos esse colega e falamos que nós tinha todo esse dinheiro e nós queremos que você marque a cirurgia porque nós vamos pagar pra você. E ele fez a cirurgia de um olho, ele tinha que fazer dos dois, e conseguiu recuperar as suas atividades, porque daquele jeito que ele estava ele não ia conseguir ser veterinário. E assim, com a cirurgia ele, conseguiu trabalhar. Nós era em vinte e nove formandos, mas foi decidido em conjunto.

E aí, quando formado, já saiu procurando emprego como veterinário?
É, no último mês que nós ia se formar eu fui numa viagem pro Mato Grosso, junto com a turma da Agronomia, eu precisava ir pra ver se eu conseguia arrumar um emprego. Visitei uns colegas e até arrumei um trabalho, mas eu não estava formado ainda. Aí o coordenador de Medicina Veterinária me chamou e falou eu tenho uma oportunidade pra você. Um colega veterinário quer colocar outro veterinário pra trabalhar junto nas empresas dele, mas precisa ser pessoa que tem que gerenciar, de propriedade rural, que a maioria do pessoal aí não tem o perfil, eu acho que você vai dar conta do recado. Ele fez a indicação pra uma empresa chamada Ancasil Agropecuária, de Francisco Beltrão.

E você já conhecia Beltrão?
Eu conhecia, tinha vindo uma vez em Beltrão, quando eu tava estagiando, em um grupo de estudantes. Eles espalharam nós pelos municípios pra nós fazer trabalho de pesquisa, foi quando que eu conheci Francisco Beltrão.

E aí deu certo o emprego?
Deu. E a Ancasil Agropecuária nada mais é do que a Ângelo Camilotti. 

E aí ficou tempo lá?
Comecei a minha vida profissional aqui, eu cuidava, gerenciava as fazendas do Ângelo Camilotti, isso em 1983. Fiquei uns dois anos e pouco, morava lá na casa da fazenda. Mas aí tinha muitos colegas meus que estavam no Estado, que passaram em concurso, ficavam colocando na minha cabeça que eu tinha que vir trabalhar no Estado. Saiu um concurso e passei em quarto lugar no Paraná e eu escolhi pra ser médico veterinário da Seab.  

E aí escolheu qual cidade?
E aí aquele agrônomo que faleceu, que foi chefe do núcleo daqui de Beltrão, o Valdir Mafioletti, era chefe do núcleo e me convenceu de ficar aqui. Na época tinha a central de inseminação artificial e precisava de um veterinário, mas eu fiquei pouco tempo, acho que um ano e meio, foi quando eu fui pra Realeza.

Como é que foi parar em Realeza?
Eu fui parar em Realeza porque o Walter, da Latco, estava com um projeto pra montar a fábrica no Sudoeste do Paraná, e pra cá não existia quase leiteria nessa época, e tinha recém definido que iria colocar em Realeza. Mas ele queria contratar um profissional médico veterinário ou agrônomo ou zootecnista que tivesse algum perfil pra tocar esse projeto. Eu não conhecia ele, e ele não me conhecia, andou convidando alguns colegas veterinários e o pessoal não queria, não, mexer com leite, isso aí não dá certo,  não tem leite, não tem vaca, não tem laticínio… 

E você, como tinha leite no sobrenome e na história da família, aceitou?
É, e aí o pessoal me indicou, foi até um colega da Emater que me indicou, e a Ildete tava na Emater de Marmeleiro e eu já namorava com ela. O César me conhecia, eles me falaram que era uma oportunidade muito boa e os outros ninguém queria. Eu falei que eu nunca fui de desprezar qualquer oportunidade, porque tem que ser vista. Eu disse que acreditava no projeto eu podia ter pedido licença, mas pedi exoneração já, porque eu sabia que ia dar certo. 

Quanto tempo foi pra empresa se firmar?
Olha, nós começamos em oito, levamos quase dois anos pra ter uma viabilidade, fazer que a empresa fosse rentável. Tinha poucos laticínios na região e tinha pouco leite, quase ninguém produzia, porque também não tinha comprador. Então, foi fazer o trabalho formiguinha, a empresa foi crescendo, foi aumentando a bacia leiteira, tudo foi indo. E eu lembro muito bem de que na época, quando nós estávamos começando com a Latco em Realeza, a Comfrabel tava começando um entreposto aqui e o veterinário Basso, que trabalhava na Comfrabel, buscava novilha no Rio Grande do Sul pra vender para os produtores de leite daqui e eu também buscava pra vender em Realeza e nos municípios vizinhos.

E a Latco teve períodos de grande expansão ou foi continuamente crescendo?
Não, ela foi crescendo gradativamente, é uma empresa que tem hoje já 45 anos, mas ela nasceu em Cruzeiro do Oeste, foi a Maripá, depois veio a Realeza, e depois nós viemos a Francisco Beltrão, isso foi em 89, 90, quando eu negociei o entreposto que era da Comfrabel. Depois nós fomos pra Dois Vizinhos, Mariópolis, porque era tudo com latão e aí você não tinha condições de ter as fábricas muito longe porque o leite estragava, tinha que colocar fábricas pequenas, mais próximas de onde estava recolhendo o leite.

Como está a estrutura da Latco e como ela está no cenário nacional?
Com o passar dos anos, nós desativamos essas fábricas menores e concentramos em fábricas maiores. No Sudoeste ficamos concentrados em Realeza e Francisco Beltrão. E no Oeste ficamos em Maripá e Cruzeiro do Oeste. Fomos colocando mais escalas nessas fábricas, porque não adianta você só produzir, você tem que vender na outra ponta. Nós vendia só pra São Paulo e começamos a vender também pra outros estados, pra Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro, e depois fomos lançando outros produtos e também ganhando mercado. Hoje a Latco tem um portfólio muito grande, nós só não fazemos o leite em pó porque é um mercado muito instável nos últimos anos. Mas nós temos um projeto pra isso. A área de terra já está comprada, a terraplanagem pronta e o projeto de engenharia já está tudo pago. Nós prezamos muito por isso, de colocar pro consumidor um produto de qualidade. Aquele produto que nós temos coragem de comer e beber, em qualquer momento. Isso faz com que você também ganhe credibilidade, ganhe, com o decorrer do tempo, espaço, porque o mercado comercial é muito competitivo. A Latco tem duas marcas, a marca Crioulo, dos queijos, e o leite longa vida é Latco, a marca Crioulo já estava posicionada. E hoje ela tá a nível de Brasil, hoje a marca Latco e os queijos Crioulo estão em 17 estados do país. 

A preocupação de quem consome leite hoje é se é bom, todas essas fraudes que existem, como vocês veem essa questão?
Essas questões têm que ser combatidas rigorosamente. Nós defendemos, incentivamos e solicitamos investigação porque tem que ter, é um absurdo no nosso entendimento colocar num ponto de venda produto fraudado, principalmente produto consumido pelas nossas crianças. Nós somos muito rigorosos no nosso controle de qualidade da matéria-prima. Nós temos que ser rigorosos com nosso controle de qualidade no laboratório nos testes. Nós temos visto que tem tido fraude nas três cadeias: no produto do produtor, fraude na indústria e fraude no transporte, e cada vez mais  estamos investindo nos controles de qualidade pra detectar isso, não deixar entrar nas nossas fábricas. Eu acho que quem for pego na fraude tem que ficar preso, não deve ter liberdade condicional, tem que ser considerado crime hediondo.

Já teve condenações e mesmo assim o pessoal continua.
Aquele primeiro processo no Rio Grande do Sul, já saiu a sentença e teve cidadão que pegou 18 anos de cadeia e foi considerado crime hediondo. O juiz coloca no seu parecer que quando você vai comprar a droga, sabe que faz mal, você vai com espontânea vontade, você vai lá no traficante, mas você sabe que tá fazendo isso, e quando você compra um leite fraudado, você tá comparando achando que é um produto bom e você tá dando pros teus filhos, então é um mal maior. Eu acho que o juiz tem razão. Nós temos defendido isso a nível de indústria, a nível de Sindileite, que tem que acabar com isso, além da concorrência desleal com as empresas que estão concorrendo corretamente, é a ganância, então você tem que combater.

E como o consumidor pode ser orientado sobre isso?
É difícil ele ter percepção lá no ponto de venda. O maior problema tá no leite embalado e no leite em pó. Nós estamos trabalhando com o produtor, orientando, falando e até em seminário tem um tema: Novos Contaminantes de Leite, exatamente que vai debater, discutir esses novos micro-organismos que estão contaminando o leite, como que nós temos que trabalhar na produção pra que a gente vá resolvendo isso.

Quando começou a desenvolver o laticínio daqui o desafio era produzir leite, depois era melhorar a qualidade e hoje é concorrência e qualificação?
É, concorrência e qualificação. Tá bom, mas ainda nós temos que avançar mais, combater as fraudes o máximo possível, esse é o desafio que nós temos pra frente. O volume de leite nós vamos ter no Sudoeste bastante, no Paraná e no sul do Brasil.

Com tendência ainda pro Paraná aumentar produção?
Melhorando a qualidade das vacas, sem aumentar o plantel.

Tem campo também pra aumentar o plantel? 
Tem, tem sim. Uma preocupação que eu tenho é que o consumo não tá acompanhando a produção, hoje nós estamos crescendo superior à produção.

Tem risco de sobrar leite?
Tem, tem épocas do ano que tá sobrando leite e tem épocas que tá faltando, mas tem esse risco, a nível de Brasil nós estamos crescendo bem acima do que se está consumindo. Lógico, hoje o nosso ajuste tá muito equilibrado. O Brasil importa ainda alguns segmentos, principalmente do Mercosul, mas aí uma questão cambial, porque o leite do Uruguai, da Argentina é muito mais barato do que aqui, então muitas empresas importam, nós estamos tendo um leite mais caro. Cada vez que o dólar cai, propicia pra vir mais importação, é regra básica, mas nós temos que conviver com isso.

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