19.6 C
Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Estruturas públicas se fortalecem e os resultados aparecem

Depois de engolir o título de região do Estado com o maior índice de mortalidade infantil, 8ª Regional de Saúde inverteu a tabela e mostrou que vontade e persistência são as armas secretas para os gestores do setor público.

 

Cíntia Ramos, chefe da 8ª Regional de Saúde, diz
que saúde pública já evoluiu muito e as
perspectivas são as melhores. 

Ninguém quer ser o último da fila. É doloroso, a busca pelo melhor está na essência do ser humano. Por alguns anos, a região de Francisco Beltrão carregou o amargor de apresentar um dos piores índices de mortalidade infantil no Paraná. Não bastasse estar no fim da fila, tinha ainda que suportar o fato de ser uma causa tão impactante. Mudar o inadmissível índice de até 18 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas era prioridade na saúde pública. E como todo esforço tem sua recompensa, o resultado veio logo.
Em 2015, até o mês de julho, a 8ª Regional de Saúde de Francisco Beltrão se mantinha com o mais baixo índice de óbitos infantis – apenas seis para cada mil nascidos. Melhor, inclusive, que o índice estadual, que no mesmo período estava em 11/1000. Foi mais de 60% de redução no volume de óbitos. O resultado do Programa Mãe Paranaense foi tão positivo no Sudoeste que a região tem se tornado referência no acompanhamento de gestantes. “Nós somos uma região economicamente ativa, com uma qualidade de vida considerável e tínhamos índices de mortalidade infantil de países subdesenvolvidos, de regiões muito mais precárias que a nossa. Em 2012, tínhamos de 16 a 18 óbitos para cada mil crianças nascidas, o pior índice do Estado. Hoje, neste ano, estamos com o melhor índice paranaense”, relata, com orgulho, Cíntia Ramos, chefe da 8ª Regional de Saúde.
Claro que os resultados não aparecem num estalar de dedos. Os investimentos em estruturas e equipes e a criação de vários programas pelo Governo do Estado foram fundamentais para os avanços do setor de Saúde no Sudoeste. A 8ª Regional, que compreende 27 municípios com população total de mais de 340 mil habitantes, possui 103 equipes de saúde na família (ESF), segundo dados de junho deste ano. “Nestes últimos dez anos, as estruturas públicas vêm se fortalecendo cada vez mais e eu vejo um fator preponderante, um divisor de águas no setor, que foi a instalação do Hospital Regional do Sudoeste (HRS), porque até então nós tínhamos o atendimento na área hospitalar praticamente centralizado nos prestadores hospitalares privados”, destaca Cíntia.
Com a vinda do HRS, a região ganhou muitas especialidades médicas, além da ampla estrutura capaz de atender diversas áreas da alta complexidade. Atualmente, são realizados mais de 200 mil atendimentos por ano, entre exames, consultas e cirurgias. “Quando iniciamos, tivemos dificuldade para criar um perfil de atendimento, porque a necessidade da população era muito grande, então, em 2011, nós começamos a traçar um plano estratégico do hospital, pensando nas necessidades de saúde da população, elaboramos um mapa estratégico, avaliamos vários indicadores de saúde e tentamos contemplar aquilo que mais a população tinha necessidade. Nos deparamos com dois principais indicadores: a taxa de mortalidade infantil, que era uma das piores do Estado, e o terceiro pior indicador de acidentes automobilísticos do Paraná”, revela Eduardo Cioatto, diretor-geral do Hospital Regional do Sudoeste.
Pelo Programa Mãe Paranaense, o HRS se tornou referência no atendimento de gestantes com risco intermediário e alto risco para toda a região. E com a necessidade de suprir a demanda de atendimentos ocasionados pelos inúmeros acidentes de trânsito registrados, o Hospital Regional acabou se aperfeiçoando também no setor de ortopedia e traumatologia, com amplo quadro de profissionais e a possibilidade de cirurgias complexas. “Adequamos a UTI para o atendimento do trauma e gestantes, principalmente, mas sem deixar de atender outras necessidades também. Focamos a UTI neonatal para a questão da prematuridade, com o objetivo de contribuir para reduzir a mortalidade infantil. Mas hoje  60% dos atendimentos do HRS são voltados ao trauma, chegando a 80%, em função dos acidentes de trânsito”, relata Eduardo.

Atenção básica bem instalada
O setor privado, que tem destinado muitos recursos na busca por novas tecnologias e métodos, e o setor público, que não tem medido esforços para investir o necessário, avançaram muito com o passar dos anos, tornando a região referência no setor de Saúde e melhorando indiscutivelmente os indicadores diversos. E uma boa parcela dessa contribuição é mérito das portas de entrada do setor, lá no postinho do bairro, na atenção básica.
Conforme Cíntia Ramos, a saúde básica está muito bem instalada na região e, com isso, já são perceptíveis os resultados. A chefe da 8ª RS destaca que, há uns dez anos, a taxa de internamentos era de 12% a 13% da população e, de alguns anos para cá, foi possível chegar a 7,5%. “A gente vê as hospitalizações, os internamentos diminuindo a cada ano. O município de Salgado Filho, por exemplo, interna apenas 5% da população. Até um tempo atrás, tínhamos a saúde voltada para a área hospitalar, e agora já nos focamos muito mais na prevenção e promoção, com a introdução da Equipe da Saúde da Família e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), os agentes comunitários, que veem a população de forma integral. Conseguimos trabalhar com os pacientes diabéticos, hipertensos, gestantes e de doenças crônicas de maneira mais eficaz, diminuindo a necessidade hospitalar.”
As estruturas de urgência e emergência também são apontadas por Cíntia. Segundo ela, o serviço do Samu e da UPA trouxe tempo de resposta mais rápido nos atendimentos e maior chance de salvar vidas, principalmente se for considerada a elevada violência no trânsito. “Nós recebemos as UPAS, que teremos quatro na 8ª Regional, uma em Beltrão, outra em Santo Antônio do Sudoeste, Realeza e Dois Vizinhos, para a abrangência dos 27 municípios. As UPAs são portas de entrada do Samu e também de demanda espontânea de pacientes. Então, a estrutura vem qualificar o atendimento de urgência e emergência e o Ministério de Saúde quer que as UPAs se qualifiquem com educação permanente junto do Samu”, reforça.
Para suprir a demanda de atendimento aos dependentes químicos, a instalação do Caps AD3 no município de Marmeleiro foi um marco importante para o complemento da rede. Com o Serviço Integrado de Saúde Mental (SIMPR), com unidade de acolhimento, o paciente pode ficar internado até 14 dias e depois segue para outra unidade de acolhimento, onde fica três a quatro meses. “A gente via que tinha filas e filas para esses pacientes e a nossa referência era em Marechal Cândido Rondon, então essa fila diminuiu significativamente porque o tratamento nos Caps tem dado certo, não só de álcool e drogas, mas também de saúde mental”, afirma a chefe da 8ª Regional.

- Publicidade -

Autossuficientes na alta complexidade
Com os investimentos e, principalmente, a vinda do HRS e também do Hospital do Câncer (Ceonc), a região passou a contar com uma gama maior de especialidades médicas. Na opinião de Cíntia, a região tem se tornado autossuficiente nos atendimentos de alta complexidade. “Recebemos muitos profissionais que antes não tínhamos e nem imaginávamos ter. Hoje o Sudoeste tem alta complexidade em neurocirurgia, em vascular, temos UTI adulto, UTI neonatal no HRS, nós temos alta complexidade em nefrologia, alta complexidade em oncologia. Em Pato Branco, por exemplo, temos complexidade em cardiologia e bariátrica”, relata.
Se já está bom, a tendência é ficar ainda melhor. Segundo informações da direção do Hospital Regional, o plano é seguir com o projeto de ampliação do hospital para atender sua capacidade total. “Nossa capacidade é de 146 leitos, e atualmente estamos atendendo com 102. Então ainda nos falta a abertura da clínica pediátrica, mais dez leitos de UTI adulto e a tão sonhada e esperada UTI pediátrica que a 8ª Regional ainda não tem. Também nós temos outro projeto andando na paralela que é a abertura do serviço de hemodinâmica do HRS; é onde a gente visa atender pacientes neurológicos e cardiológicos também prestando um serviço de alta complexidade pelo SUS”, informa o diretor Eduardo Cioatto.
Para Cíntia, a tendência é a região se fortalecer ainda mais, mas a expectativa é que também o Ministério da Saúde faça sua parte. “Já avançamos muito, e as perspectivas são as melhores. Mas temos a tabela SUS que sabemos que não é muito atrativa e agora o Ministério da Saúde não vai trabalhar com o aumento da tabela SUS para o serviço implantado, então acredito que o hospital que quer se fixar no SUS vai ter que buscar uma vocação, encontrar sua especialidade. Acredito que esta seja a tendência das regiões como a nossa, ter hospitais com vocações específicas.”

Com o Programa Mãe Paraense, tento o HRS no atendimento do alto risco, a região conseguiu reduzir o índice de mortalidade infantil.

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques