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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

“Eu tinha três opções: continuar pobre, ir para o crime ou estudar”, diz Bruno Lima

Atual chefe de gabinete do prefeito Carlinhos Turatto (PP), o duovizinhense trabalhou como operador de produção na BRF para pagar a faculdade de Direito.

Bruno Lima recebendo o diploma de Direito.

O brasileiro é acostumado a acompanhar ou viver histórias de superação. São pessoas que, apesar de todas as dificuldades, conseguem alcançar seus objetivos. Com o advogado e atual chefe de gabinete da Prefeitura de Dois Vizinhos, Bruno Lima, não foi diferente: nascido em família pobre, ele lutou muito para conseguir o diploma em Direito, na Unisep.

A rotina, durante a faculdade, era de trabalho na BRF, durante a madrugada, estágio no período da tarde e aulas à noite. Tudo isso, com dinheiro contado. “Eu nasci em Dois Vizinhos, cresci no Bairro Vitória, que era chamado de Oca e, antigamente, quem morava lá era discriminado. Eu não tinha vergonha, até fui presidente da associação de moradores. Tenho familiares lá até hoje, então, para mim, é um orgulho, sempre defendi meu bairro. Eu sempre fui muito simples, pobre. Minha família, até hoje, ainda enfrenta dificuldades, mas sempre batalhamos, corremos atrás para conquistar nossos objetivos”, disse, em entrevista para a Rádio Educadora AM. 

Engajado, Bruno sempre foi bastante atuante na sociedade. “Com 15 anos já ajudava na Igreja. Participei da conquista do terreno para a Igreja porque sempre acreditei e defendi que, por mais que você seja a pessoa mais pobre, você tem que ajudar. Ali conheci pessoas e vi que poderia ter um futuro diferente. Eu me recordo, até hoje, de padres que nos visitavam e diziam que a gente tinha que estudar, que batalhar, ir atrás, porque isso mudaria nossa realidade. Eu queria isso para mim e para o meu bairro. Com 16 anos, fui presidente do grêmio estudantil do Colégio Dois Vizinhos. A partir disso, da participação na sociedade, na comunidade, foi que eu comecei a enxergar a importância do estudo para mudar a minha realidade”.

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Três opções
A vida ofereceu caminhos mais fáceis para conquistar dinheiro. “Eu tinha três opções: continuar pobre, ir para o mundo do crime ou estudar. Você tinha acesso à drogas, ao furto e eu tinha muitos amigos nessa situação, mas não era isso que eu queria. Optei por estudar. Meu pai, a vida toda, trabalha como pedreiro, minha mãe sempre foi empregada doméstica ou operadora de produção e eu tenho muito orgulho deles porque eles me ajudaram sempre da melhor forma. Nesse cenário, eu pensei que tinha que fazer uma faculdade e escolhi Direito porque eu via muitas injustiças e queria mudar essa realidade”, explicou.

Da pendura de frango para a faculdade
Com 18 anos, Bruno começou a trabalhar na pendura de frango na BRF já pensando na formação universitária. “Três, quatro anos depois de ingressar na empresa, entrei na faculdade. Eu até tinha tentado antes, mas não tinha condições de pagar. Na época era difícil ter acesso aos planos dos governos e, quando eu consegui entrar, eu ganhava um salário na BRF e metade dele ia para pagar os estudos.

Meus amigos me convidavam para ir para festa, fazer carne, bailes, mas se eu fosse, não tinha dinheiro para pagar a faculdade. Foi assim por cinco anos. Eu estudei, trabalhei, sofri. Nos três últimos anos, trabalhava das 23h30 às 6h, ia para casa, dormia até o meio-dia, almoçava e 13h30 tinha que estar na defensoria ou no núcleo jurídico para fazer a prática. Ficava lá até as 17h30. Aí eu corria para casa, às vezes nem conseguia comer e, às 19h30, eu tinha que estar na faculdade. Eu não consegui nenhum benefício dos programas sociais do governo e, ao mesmo tempo que eu pagava a mensalidade, precisava ajudar em casa. Para mim, isso foi muito difícil”, lembrou. 

No meio do caminho, muitas pessoas desacreditaram. “Eu me lembro de amigos que não acreditavam em mim. Onde já se viu que um operador de produção, que estava pendurando frango na Sadia, ia ser advogado? Nunca. E negro ainda. Algumas pessoas me tachavam assim, mas eu nunca tive vergonha da minha cor, nunca tive vergonha da minha origem. Os colegas meus diziam que era pra deixar os livros de lado, que era pra ir cortar frango, sair, que eu nunca ia ser advogado. Eu lembro disso até hoje. Eu, sentado num banco da empresa, com uniforme, no intervalo da janta, lendo, estudando e as pessoas falando que não adiantava. Várias vezes eu dormi lendo os livros na empresa pelo cansaço e meus colegas e supervisores foram me acordar para trabalhar”, relatou. 

O deputado federal Vermelho, Bruno Lima, o prefeito Carlinhos Turatto, o vice-prefeito Nery Maria e o deputado estadual Paulo Litro na posse de Bruno como chefe de gabinete.

Paralelamente, a política
Desde muito jovem, Bruno Lima foi ligado à política. “Eu gosto muito de política e eu sempre imaginava que poderia estar no meio disso tudo. Eu galgava isso. Nunca deixei de acreditar e isso é importante, temos que acreditar e achar que é possível. Eu acreditei que seria advogado, hoje eu sou. Acreditei que poderia estar nessa confluência política e hoje estou. É difícil, complicado, pessoas vão dizer que você não vai conseguir, mas você vai precisar superar isso. Claro que, ao mesmo tempo, nesse caminho, tem pessoa que vai te ajudar e acreditar em você. Eu estou onde eu estou porque recebi auxílios também, seja na faculdade, no trabalho, hoje com o prefeito Carlinhos Turatto (PP), muita gente colaborou para que eu chegasse aonde eu cheguei”. 

Ele ainda deixou um recado para as pessoas que querem realizar sonhos, mas estão em dificuldades. “Quem diria que um guri que saiu da escola Carrossel, que morou boa parte da adolescência no Bairro Vitória, hoje seria advogado e chefe de gabinete? Tem pessoas que não aceitam hoje a situação. Se alguém está me ouvindo e se sente desanimado, desacreditado, tendo em vista a pandemia, a situação econômica do País, acredite. O ser humano precisa voltar a acreditar, as pessoas precisam voltar a ter sonhos e correr atrás deles”, conclui. 

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