Geral
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Faleceu hoje, na Bélgica, aos 84 anos, o padre Jef Kaekelberg. Por muitos anos, viveu no Brasil.Jef Kaekelberg nasceu dia 7 de agosto de 1936 na região metropolitana de Bruxelas, capital da Bélgica. Após formar-se padre MSC (Missionário do Sagrado Coração), mudou para o Brasil, em 1961, estabelecendo-se em Francisco Beltrão. Entre tantos trabalhos prestados a Francisco Beltrão e ao Sudoeste do Paraná pelo padre Jef, está a criação da Assesoar (Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural), em 1966. Após sua aposentadoria, retornou para a Bélgica.
Gostou do papa Frncisco e pediu mais sócios para a AssesoarEm 2013, numa visita ao Brasil, padre Jef esteve em Francisco Beltrão. Dia 14 de março de 2013, na redação do Jornal de Beltrão, ele concedeu entrevista, que teve participação também do padre Alfonso de Nijs.Foi nos dias que o assunto era o novo papa Francisco. El disse que gostou. Quanto à Assesoar, disse que queria vê-la com mais sócios. Segue a entrevista de 2013. JdeB – Onde é que surgiu a sua vocação?Pe. Jef – Meu pai era metalúrgico, a gente morava num bairro muito popular, um bairro de operários, um bairro de metalúrgicos. E a gente ficou lá naquela primeira cidade até mais ou menos 1950, e depois meu pai, com a ajuda do patrão dele, comprou uma casa, em outra cidadezinha, mas que também faz parte de Bruxelas. Eu estudei no Colégio Diocesano num lugar dois anos e em outro lugar mais quatro anos, no total de seis anos nesse colégio. Bom, como nasce uma vocação, não sei. Agora eu sei que eu senti uma grande ansiedade, uma grande vontade, de participar diariamente da santa missa. Eu fui coroinha e tal. Em um certo momento, veio um padre da nossa congregação, que disse: “Jefinho, você não quer ficar padre?”. E então, nenhum outro padre diocesano da paróquia nossa, lá, ele disse isso pra mim, e eu falei bom, mas sabe que eu quero mesmo, mas o problema é como que se faz pra ser padre? Aí ele foi comigo no colégio, comprou um casaco, comprou uma maleta e comprou um dicionário de flamengo-francês. E assim ele foi me acompanhando e tal. Sempre os padres da nossa congregação, que iam dizer que eu devia ir no seminário menor, mas eu dizia que não ia, mas quero ser padre, não vou, mas o meu seminário é a minha casa, com os meus pais, meus irmãos e minhas irmãs, o meu movimento de juventude é o movimento que lá é muito conhecido, e também quero continuar em casa, para que eu possa ajudar o pai e melhorar as entradas, e assim foi. Depois, quando estava na hora H, eu quis entrar no seminário, primeiro no noviciado. Até os meus dezoito anos, vivi na cidade grande e o Noviciado nosso era lá nos cafundós, um lugar árido, seco. Eu estranhei, não aguentei, fiz o Noviciado mesmo assim, fiz os votos, nós éramos em seis para fazer os primeiros votos. Eram quatro anos na mesma casa, noviciado numa ala e os outros três anos numa outra ala. Depois fomos para Novailla, é muito conhecida aqui no Brasil, disso eu tenho certeza, é uma cidade universitária, vive em função da universidade. Lá tinha a nossa casa de formação, e lá nós ficamos mais três anos. No fim do terceiro ano, eu fui ordenado padre, os outros foram antes de mim, porque eu era muito novo, então fui ordenado sozinho, junto com um rapaz da América do Norte (risos), mas nunca mais nem vi esse homem, isso foi no dia 3 de abril de 1961. Então, nós fomos chamados, convocados, para ir para o Brasil em cinco padres.
JdeB – Quem eram os outros quatro padres aque vieram para o Brasil junto com o senhor?Pe. Jef – Um era o padre Emílio, outro era o padre Ari (Harry Van Briel), outro era o padre Roberto que trabalhou muitos anos em Capanema, outro o Vitor, que foi o que começou o Seminário São José e foi uma pessoa muito dinâmica, mas depois se achou com uma namorada e aí pronto, casaram. Chegando no Brasil, eu não sabia nem pedir água, nada. Tivemos a graça, a alegria de ter um professor de português, que era um padre holandês, da nossa congregação, de 85 anos, ele foi o primeiro, junto com outro colega que da Holanda veio para o Brasil em 1911, era um homem disposto, ele fumava cachimbo de manhã até a noite (risos), mas era só cachimbo, de vez em quanto, um charutão, mas como o charuto era caro.
JdeB – Vocês aprenderam português aonde, em que cidade?Pe. Jef – Pirassununga, porque lá tinha o seminário menor nosso em São Paulo e ele morava e ajudava lá.
JdeB – E em que ano foi isso, que vocês chegaram ao Brasil?Pe. Jef – Foi em 22 de novembro de 1961.
JdeB – Ordenou e já embarcou?Pe. Jef – É, eu fui ordenado em abril e viemos para cá em novembro.
JdeB – E a vinda para o Sudoeste do Paraná, como é que aconteceu?Pe. Jef – Bom, depois de nós termos chegado aqui e termos aprendido a língua, a gente era novo, né. A gente aprendia com facilidade. A gente chegava lá e depois de três ou quatro meses, eu já era vigário lá em São Paulo. Bom, o primeiro ano no Brasil, nós ficamos em São Paulo, quinto ano de teologia pastoral, organizado pela Conferência dos Religiosos do Brasil. Nós tivemos a oportunidade de encontrar gente de muitas congregações, de muitas origens que estavam lá reunidas, na Casa Padre Anchieta, no centro de São Paulo. Lá a gente ficou conhecendo muitas iniciativas boas de Pastoral do Brasil e eu também entrei em contato com o movimento sindical e muita coisa lá em São Paulo, que guardei na minha memória. Mas uma coisa de destaque foi a catequese e principalmente a organização da catequese, numa região dos Estados Unidos, que isso eu guardei até hoje. Eu vou dizer tudo o que eu comecei a pensar e que depois foi baseado naquele quinto ano. Foi nomeado como padre em Francisco Beltrão o nosso pároco superior, era o padre Marcelo (Vanghi). O primeiro foi o Marcelo e o segundo foi o Afonso. Mas então, continuando, eu fiquei lá naquela paróquia, junto com o padre Marcelo, com o padre Paulo e Ari. Chegando aqui, nós tínhamos, o que eu não vou esquecer nunca, cem capelas de uma região de Beltrão até o Rio Iguaçu. Nós tínhamos cem capelas na paróquia de Beltrão, naquele tempo, de 1960 até o fim de 62. Eu sei que quando nós viemos pra Beltrão, nós não sabíamos nem onde ficava. Em Pato Branco fomos pedir carona a um caminhão, e ele nos trouxe até Beltrão, porque não tinha ônibus naquele dia.
JdeB – E enquanto o senhor estava na paróquia, começou a pensar em outra coisa?Pe. Jef – Bom, em muita coisa. Nós atendemos, em quatro, cem mil confissões. Nós batizamos, naquele ano, sessenta e dois, três por aí. Eu sei que em um ano, fizemos quatro mil batizados, era tudo em conjunto e depois nós fizemos setecentos casamentos, mas em quatro padres, não fui eu sozinho.
JdeB – Podemos falar da Assesoar agora?Pe. Jef – Ah, sim, eu tinha um contato, desde a chegada no Brasil, com a JAC (Juventude Agrária Católica), isso na parte rural. Mas vamos encurtar a história (risos).
JdeB – O senhor simpatizava com as ideias da Ação Católica, que dentro da Ação Católica tinha a JAC – Juventude Agrária Católica, é isso?Pe. Jef – É isso mesmo, tinha a JAC, JOC, JIC, JEC e JUC, no caso essa era Juventude Universitária Católica, a Juventude Estudantil e etc. E eu não sei como, mas eu tinha uma correspondência boa com o padre João (Esquiro), que era um padre da diocese de Caxias, no Rio Grande do Sul. A gente se correspondia. E um dia ele mandou um rapaz e uma moça para vir aqui no Sudoeste, o nome do rapaz era Querino Signori, e o nome dela era Maria Helena Scopel. Eles vieram aqui e falaram na reunião dos padres, não na diocese, porque com a diocese, naquele tempo, a gente não tinha nada, o bispo era dom Carlos Eduardo Sabóia Bandeira de Mello, mas de uma família nobre do Rio de Janeiro, filho de lá e ele era franciscano. Bom, nós éramos os padres MSC, os padres Missionários do Sagrado Coração. Nós então, dos que estavam aqui na vizinhança, nos reunimos com esse rapaz e essa moça, eles ficaram vários dias aqui, o rapaz pousava na casa paroquial e a moça na casa das freiras, pra gente não ter dor de cabeça, mas eram dois jovens assim brilhantes. E juntos com eles, nós fomos visitar grupos de jovens no interior, eu sei que fomos em Capanema, fomos em Jaracatiá, Rio Bocó, Nova Concórdia, visitamos vários grupos de jovens. O negócio já tinha começado. Depois, outro capítulo foi a catequese. Eu vi o sistema de catequese aqui, diziam que isso não ia dar em nada. Pegava o catecismo da primeira pergunta até a última. Em Nova Esperança tinha uma catequista robusta (risos), mas não era muito calma, e ela pegava aquele catecismo e fazia tudo, depois fazia o “em nome do Pai” e iam pra casa. Então decidiram que tinha que ter outro sistema, porque assim não dava mais, era loucura. Então, baseado naquilo que a gente tinha aprendido em São Paulo, fizemos esquemas de aulas, para cada ano de catecismo. E o essencial não era mais a parte que tinha que decorar, o essencial era começar com o fato da vida ou todo o esquema, que eu não vou repetir aqui, porque senão vamos estar aqui até amanhã cedo, né (risos).
JdeB – E como é que o senhor fundou a Assesoar?Pe. Jef – Bom, formação. Formação não se dá em cima dos telhados, tem que ter um prédio, um teto, senão você não tem formação, ou seja, você precisa de uma base sólida, de um centro. Mas de quem é esse centro? Da Igreja? E quem manda na Igreja? É o bispo? Os padres colegas belgas disseram que este bispo que nós temos aqui, o dom Carlos Eduardo Sabóia Bandeira de Mello, disseram que os prédios, é são eles que vão aprovar ou desaprovar, os padres disseram que ele era um louco, mas ele era um santo. E tem santos que ficam loucos, e loucos que ficam santos. E esse é o caso desse bispo. O centro era do bispo, não. A congregação nossa os padres disseram que não. Mas então, de quem é? Bom, até pode ser uma coisa boa, mas tem que ter nome, tem que ter endereço e tudo. Então, uma entidade leiga de princípios cristãos. Eu fui pedir ajuda de um advogado, o Edgar Talvara, de Curitiba, eu conheci esse cara, não sei como é que ele entrou na minha vida, mas ele era um grande homem, morreu de câncer na garganta e nunca fumou. Então, a congregação nossa disse que nós somos estrangeiros e vamos ficar donos de uma coisa aqui no Brasil, não. Na entidade leiga, Edgar Talvara fez os estatutos, foi feito uma assembleia, e assim a Fundação da Assesoar, em 66.
Padre Alfonso – O padre Jef, nos seus trabalhos, sempre teve um grande apoio da nossa congregação, dos superiores, e de principalmente o padre Alfonso, que era o padre superior da diocese, padre pároco de Marmeleiro e aqui da cidade também. Então, ele dava sempre todo o apoio. E é por isso que o padre Jef teve um grande trabalho e facilidade de realizar esse trabalho. Ele disse que não, mas ele foi também no tempo que o Dom Agostinho, ele encontrou a diocese muito mal organizada, com uma catequese fraca, e o resto também. E Dom Agostinho foi aquele que, no Paraná, foi o primeiro que implantou o sistema de ministros extraordinários da Eucaristia. Agora, para dar formação a todo esse pessoal, desde catequistas, ministros, o padre Jef tomou a iniciativa, no centro da Assesoar, ele recolhia todas as lideranças da região, foi além do Sudoeste, às vezes, tinha de fora, como de Guarapuava, tinha de Chapecó também. Então, lá ele formou a primeira leva de ministros, cursos de noivos também e toda a catequese. E nós éramos, dos padres belgas, naquele tempo, só tinha padres belgas, não tinha brasileiros, nós éramos dois terços do clero diocesano. E nas reuniões o que nós pensávamos, era ali para todo o mundo. Por isso que nós retiramos em 74, falamos “olha, vamos deixar com a diocese, nós somos missionários, vamos para outras áreas”. E aí fomos para o Paraguai, acompanhamos os brasileiros para a Bahia, o padre Jef também foi um deles, fomos para outros lugares como o Mato Grosso e etc. Depois deixamos dezessete paróquias, deixamos aqui para o bispo diocesano, desde Ampere, Planalto, Salto do Lontra, enfim todas aquelas paróquias.Pe Jef – Eu só quero acrescentar mais uma coisa. A diocese, naquele tempo, era três grupos, os padres de Pato Branco e vizinhança, depois os padres diocesanos e depois nós, que éramos chamados de padres belgas. Isso era um grande problema pro Dom Agostinho, ele queria unir, mas cada um tinha a sua maneira de pensar, puxava de um lado ou de outro, isso dava um problema. E agora, o problema do Dom Agostinho era essa entidade leiga que dava catequese. Eu consultei sobre este assunto, um colega nosso lá na Bélgica, ele era um crânio de direito canônico. Eu expliquei pra ele, naturalmente, do meu jeito e ele disse que está escrito, não sei aonde, e eu guardei isso por muitos anos, ele disse que “uma entidade leiga tem todo o direito de dar, fazer trabalhos de evangelização e etc”. Mas nunca esfreguei isso na frente do Dom Agostinho. Em todo o caso, depois houve toda aquela discussão sobre o mandato canônico. Pe. Alfonso – É, porque a Igreja tem, como costume milenar, um assessor eclesiástico, nomeado pelo próprio bispo. E aqui presente o bispo disse, com toda a razão, “quem manda mais na catequese sou eu, o bispo”, até porque é ele o responsável pela diocese dentro da Igreja, mas para isso é preciso indicar um padre da confiança, que vai ser assessor eclesiástico, que vai acompanhar isso em nome da diocese. Hoje é o padre Deoclécio que, em nome da diocese, acompanha a Assesoar e até mesmo participando, muitas vezes.
JdeB – E na época, ele indicou alguém?Pe. Jef – Indicou primeiro daqui, o padre Alfonso, não indicou a mim, nunca (risos), nunca. Agora parece que indicou o Deoclécio.
JdeB – A Assesoar também teve alguns problemas com a ditadura, não teve?Pe. Jef – É, teve muitos problemas, muitos. Bom, eu fiquei liberado pela congregação, no início, quando não existia Assesoar, era para as obras catequéticas e sociais, e depois que se criou a Assesoar, apesar de que eu nunca fui presidente da Assesoar, o Alfonso sim, mas eu não, ele subiu de cargo, eu sou mais bagunceiro, né (risos). Bom, se criou a Disop, que está ligado a Bruxelas — Disop (Dienst voor Internationale Samenwerking aan Ontwikkelingsprojecten ou, traduzindo, Organização para a Cooperação Internacional a Projetos de Desenvolvimento —.A Disop, originalmente é Desenvolvimento Integral do Sudoeste do Paraná.
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JdeB – Uma entidade com sede em?
Pe. Jef – Em Bruxelas. Agora ampliou, porque na ideia da Bélgica, o Brasil não é mais um país em desenvolvimento, eles não querem mais ajudar o Brasil, pra eles chega.
JdeB – Mas a Disop ganhava dinheiro?Pe. Jef – Naquele tempo o Brasil era pobre, mas agora desenvolveu. E era empobrecido pela Ditadura Militar, porque a Ditadura Militar queria livrar o Brasil do perigo marxista e comunista. Então, instalaram uma aliança para o progresso, era uma frescura daquele tipo, não tinha nenhum sentido, mas existia isso. E por que é que se instalou a Ditadura? Porque, com a Guerra Fria, o mundo era dividido em duas partes, uma parte era comunista e outra parte diziam que era livre, mas diziam que outros, como o Brasil, ia entrar na onda comunista, principalmente porque o Che Guevara era muito popular, não só na América Latina, mas também na Europa e ele tinha um ditado muito simples, significativo que era “firmeza sempre, sem jamais perder a ternura” (Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás). O que eu nunca vou esquecer é o Diário de uma Motocicleta, eu vi o filme em Curitiba, não vou esquecer nunca, que eu tava quase vindo em Beltrão, aí eu vi num jornal o anúncio desse filme e fiquei calculando, que tal era o ônibus, aí dava tempo antes de ir pro cinema assistir.Pe. Alfonso – (…) E com isso, criam muitos recursos, que por exemplo, todo o prédio da Assesoar foi tudo pago por esses projetos, com dinheiro muito grande que vinha da Bélgica, com também em altas a Concatedral, Pedro Granzoto, foi feito com 80% do dinheiro que veio da Bélgica. Todo aquele complexo construído foi feito pelo dinheiro que veio da congregação também, mas do que é hoje, só mudou um pouco daquela época, ampliou um pouco e foi para o mundo inteiro, que hoje tem projetos grandes com a ajuda do governo Belga e hoje está presente no mundo inteiro, só que o Brasil foi agora excluído, porque é considerado um país de economia estabilizada.
JdeB – É importante dizer que na Disop tinha um irmão seu dirigindo, né? Como é que ele era?Pe. Jef – Bom, ele era de formação professor de religião, mas depois entrou de mão cheia no movimento de juventude. Tudo o que era de juventude e coisa, ele tava presente, e aí ele conheceu um homem, o (nome?). E depois esse homem influenciou o meu irmão para assumir cargos que ele tinha no nível de organizações e desenvolvimento. O coitado morreu agora. Mas isso levou ele para ser assessor e ministro disso e daquilo. A sorte dele é que ele falava bonito, tem quatro filhos homem, de quem ele é pai, junto com a mulher dele. E a mulher dele, sempre foi uma mulher caseira e ele sempre viajando para Filipinas, pra África e não sei o que. E tem um cara que tem muita influ”encia, que se chama Alberto Vandervult (sobrenome?), que era um padre que trabalhou na Bélgica, como formador superior e provincial, como o provincial dele aqui, e ele ouvia o que é que a gente fazia, com uma coisa ou outra, e ele dizia que “esse negócio tem que continuar”. Bom, foram muitas coisas boas, mas tem que construir um centro, por incentivo dele e ele foi o co-fundador do Disop, um grupo de sete ou oito pessoas.
JdeB – E a ideia de comprar o colégio das irmãs, pra ser sede da Assessoar?Pe. Jef – As irmãs tinham recebido um bom dinheiro do governo da Alemanha para construir um prédio novo e a Alemanha ajudou muito nesse sentido, sabe por que? Para restituir o que a Alemanha fez de estragos em toda a Europa. Elas ganharam aquele dinheiro, fizeram aquele prédio, e aí o prédio que elas tinham lá no monte calvário sobrou. E o meu irmão passou aqui e, por coincidência, conversamos sobre o plano de ter um centro, e as irmãs disseram que aquela casa delas a gente podia ficar, que elas não queriam mais. Foi construída para servir o povo, a Assesoar é para servir o povo, então eles devem estar juntos. E em parte, o terreno foi totalmente doado, mas o prédio, aí meu irmão resolveu chamar um arquiteto pra avaliar o valor do prédio e com esse dinheiro nós vamos construir uma primeira residência nossa.Pe. Alfonso – Mas essa sede aí funcionou por vários anos, uma casa simples, mas grande, bem confortável. Pe. Jef – E aí eles fizeram o cálculo, de quanto valia a casa e com isso deviam fazer o desconto dos anos de uso, e aí foi pago o valor e fim de papo. Foi um prédio excelente. Uma vez choveu dentro, mas foi um dilúvio que deu ali (risos).
JdeB – O senhor poderia falar um pouquinho sobre o Natalino Faust nessa história da Assesoar?Pe. Jef – O princípio era este, tinha que se formar uma entidade de agricultores, mas a gente sabia que agricultor, naqueles anos 60, agricultor que sabia ler e escrever, quase não tinha. Então, a gente organizou de tal maneira que algumas pessoas podiam ser convocadas, que não eram agricultores. Assim entrou os cálculos de quem não era agricultor, como o Natalino. Um que entrou na primeira diretoria foi o José Emanueli, depois veio o Severino Sartori, só alguns, que foram pessoas de grande valor. Depois veio o Regime Militar, daí tinham que se mandar, né. E eu estava procurando alguém para dirigir a associação, para ser o presidente, e o padre Marcelo, que era assim com Scalco, disse que esses tinham jeito de administrar, tem ideias boas e pulso firme, convicção e assim por diante. O Scalco disse para mim “olha, padre Jef, foi muito bom você ter me convidado, porque chega de política”, isso ainda naquele tempo. E quem apoiou muito, para gente pegar o Scalco, foi o padre Marcelo. Ele assumiu a presidência até aparecer o Petri, aí ele estragou tudo. Bom, mas então, quando eu assumi a Assesoar, eu prometi de não entrar mais na política. Agora, antes de voltar para a política, teve a sua licença, não é verdade, né. Porque graças a tal da Disop, o Scalco ficou um ano na França e na Bélgica, para estudar, principalmente duas coisas, cooperativismo e casas familiares rurais, lá na França.
JdeB – O Natalino também esteve lá?Pe. Jef – É, o Natalino foi a mão direita do Scalco, sempre foi e até são compadres, e tu já viu, que compadre aqui no Brasil é mais que qualquer coisa (risos). Ele tinha muito tino administrativo, foi de uma ajuda financeira que nossa. Mas eu sei que naquele tempo eu ia muito na casa deles, e o Natalino e a mulher ficaram com inveja “como é que você vai lá e não vai aqui”. E o Nata sempre assessorava com o sindicato e não sei mais o que, então eles escutavam e sintonizavam e assim foi indo. O padre Marcelo também apoiava muito o Natalino, por causa do jeito de limpar as contas da paróquia.
JdeB – Como é que foi, porque aí o Tito foi pro nordeste, ficou lá e voltou?Pe. Jef – É, então o padre Alfonso, foi seis anos o nosso superior aqui. Mas ele viajou muito, eu vou te explicar o porque, ele sentia que dentro do nosso grupo tinha aquela ideia, que o Paraná é rico, que tinha padre, tinha dinheiro, tinha tudo, mas a Bahia, o nordeste, Pernambuco e tal, lá é que tem pobreza. E quem fazia a voz do nordeste era dom Elder Camera. E aí nas reuniões, porque nós tínhamos reuniões regulares, nessas reuniões essa ideia também, foi por dois motivos, que o padre Pedro Lorenzel, era meio louco, mas ele desafiava, ele dizia não tá certo, que nós ficamos aqui nesta parte do sul do Brasil e segundo um documento de Roma, que dizia que as congregações missionárias devem ter coragem de enfrentar novas realidades. Então, se calculava o número de padres aqui e o número de padres lá, as diferenças eram muito claras. O nosso grupo decidiu que eu e o Baltistelo, nós fizemos uma viagem de pesquisa, fomos até o Maranhão com a benção do padre superior, porque sem a permissão dele a gente não fazia nada. Ficamos um mês lá, e aí uma parte a gente fazia junto e uma parte a gente fazia separado, depois se encontrava e fazia de novo. E aí nós escolhemos como diocese a de Caravelas, e depois se tornou Caravelas Teixeira de Freitas, no extremo sul da Bahia. A dúvida ficou entre Caravelas e Ilhéus, mas depois na região de novo, decidimos por Caravelas. Foi indo e indo, até um certo ponto, o nosso grupo cresceu, o Celso Martinho, o René Getúlio, começaram a achar que tinha gente demais. Porque a gente queria um grupo não só de padres, mas também de religiosos e de leigos, e de padres também, é lógico. E aí decidimos que um grupo foi para Vitória da Conquista e outro ficou aqui. Funcionou muito bem por um bom tempo, mas deu também umas dores de cabeça. O nosso bispo era dom Felipe Tiago Ruhs, era um holandês franciscano e sabe por que o holandês e o italiano não sabem nadar? Tem a mão fechada (risos). Aí, por causa disso, a gente recebia dinheiro da dona Disop e tal, mas ele queria ele administrar, e aí nós dissemos que nem pensar, e foi briga e conversas, mas eu sei que em uma reunião da diocese lá da Bahia nós dissemos “escuta, Dom Felipe, se o senhor não gostar mais de nós, tudo bem, nós vamos embora”. Falou que não e não e depois perguntou: “você tem dinheiro ainda da Bélgica?” (risos). E ele gostava de nós, belgas, porque nós levávamos dinheiro, né.
JdeB – Foram feitas obras lá também, com o dinheiro da Bélgica?Pe. Jef – Bom, o principal era conclusão de cargos para poder serem mantidos lá em vários lugares.Pe. Alfonso – Equipamento de filmagem também.Pe. Jef – É, exatamente. Porque nós elaboramos um projeto audiovisual e foi indo, mas essa entidade o bispo não tinha nada que aplicar lá dentro, nós éramos independentes. Então, o bispo, esse holandês, ele sempre dizia que…Pe. Alfonso – Ah sim, é uma expressão flamenga, que dizia que “quando a gente trabalha pelas almas, da parte espiritual, precisa também de dinheiro, para poder tocar esse trabalho, porque as almas tenham uma boa saúde e atendimento”. Pe. Jef – Isso mesmo, ele explicou muito bem. Mas você pode ver que o bispo não era bobo né (risos), nunca foi bobo (risos).
Pe. Jef – Bom, ele vai explicar um pouco sobre o jubileu, sobre a fundação da pró-província.Pe. Alfonso – Depois da guerra, tinha na Bélgica uma grande sobra de padres, porque a guerra tinha destruído tudo. Então a juventude disse: “não pode ser, o nosso futuro tem que ser diferente.” A[i surgiu mais idealismo e também de muitos jovens entrarem na vida religiosa, deles se tornarem padres, tinha grandes números. E no Vaticano, o centro da Igreja, determinou que esses padres fossem ajudar também na América Latina, porque lá tem muitos católicos batizados, mas poucos padres. E nós fomos, começamos em 48 até hoje, já fazem 75 anos que estamos aqui e, hoje, com muitas congregações. Houve, no Brasil, mais de mil padres italianos, muitos alemães também, poloneses tem até hoje, muitos aqui, mas hoje os estrangeiros estão diminuindo, porque na Europa tem mais vocação.
JdeB – E todos para o Sudoeste?Pe. Alfonso – Isso, todos para o sudoeste. Pe. Jef – Então, se criou uma província dentro da organização da nossa congregação, que se chama Província de Curitiba. E para festejar, que depois de todos esses anos, esta província se tornou autônoma, os compadres aqui do Brasil chamaram o superior lá da Bélgica, o padre André. E o homem, escreveu uma carta dando os parabéns e etc, e foi convidado ele para vir, mas ele não podia, tinha outros compromissos, tornava-se impossível. Quando eu cheguei na Bélgica, eu disse para este rapaz aqui, “escuta, homem, não é certo que em seis anos de chefão lá na Bélgica, nunca veio aqui”. Mas ele tinha os seus motivos, não podia sair de lá. Então, ele me disse aí, Jef, quando você for de novo no Brasil, eu vou junto” e estamos aqui.
JdeB – E depois que o senhor visitou a Assesoar, o que é que o senhor viu hoje, como é que ela está?Pe. Jef – Bom, eu tô feliz que a estrutura melhorou muito bem. Só que é uma coisa, que deve, e pode ser visto, mas assim, muito bom dinheiro do estrangeiro, enquanto se diz que o Brasil é um dos países que mais tem recursos no mundo. Eu disse escuta, gente, vocês têm que cuidar, como se fosse uma igreja nova e bonita, tem que cuidar, e que tenha gente dentro pra rezar. E então, o número de associados da Assesoar é muito pouco, eles me convidaram para 2016 voltar aqui, eu disse só com uma condição, que o número de sócios aumente, senão eu não piso mais aqui. Mas eu também gostaria, que até lá o relacionamento com a diocese de Palmas e Beltrão fosse um pouco clareado, porque, pelo que o Alfonso me contou, Dom Peruzzo está através do padre Deoclécio…Pe. Alfonso – Está também na Assesoar.Pe. Jef – Porque eu acho que o mal entendido no passado, foi muito mal entendido mesmo. Eu acho que por culpa minha, mas por culpa de outros também.
JdeB – E sobre a teologia da libertação.Pe. Jef – O Papa João Paulo II pediu ao Papa Bento o que é que ele achava da teologia de libertação. Falou horrores, duas ou três páginas e depois o João Paulo escreveu uma carta curta, que a imprensa não divulgou muito, queria só atacar e pá, mas o João Paulo II disse que a teologia da libertação é uma benção, que a teologia da libertação é muito boa, é necessária. E quando o Papa Bento veio para o Brasil, os jornalistas perguntaram pra ele “o que é que o senhor acha da teologia da libertação?” Ele disse que era passado, que ninguém mais falava disso. E quando o Papa chegou em Aparecida, avisou aos bispos brasileiros pra não mexer com isso. Mas agora tenho de novo a esperança com esse argentino, porque ele é do povo.
JdeB – E o senhor gostou da escolha?Pe. Jef – À primeira vista, sim, agora tem que tomar uma cerveja com ele, pra saber como é que ele é (risos). Mas você entende? A teologia da libertação entrou nas veias e, analisando bem, é a aplicação em nível maior do princípio da ação católica, que é ver, escutar, enxergar, julgar, pegar a bíblia e refletir, e depois agir e não ficar falando sempre assim, fazer alguma coisa.Pe. Alfonso – Bom, mas então a respeito da Assesoar foi isso mesmo. Mas agora, o capítulo de como é que vai a Igreja da Europa, é outra oportunidade, né.
JdeB – Só diga uma frase padre Alfonso, sobre a escolha do novo papa.Pe. Alfonso – Ah, sim. Olha, eu gostei muito, por causa da atitude. Parece que a primeira impressão, vamos ver depois, né, mas a primeira impressão é de que ele é uma pessoa simples, de uma simplicidade ao evangelho e também que dará uma grande atenção para os pobres, porque alguém que tem a humildade e a simplicidade dele, foi uma coisa em contraste do que aquele que nós estávamos acostumados. Não tem mais a Igreja com uma certa arrogância de que o saber, a teologia sabe tudo, mas é uma Igreja voltada para o pobre sofredor. Então, há uma grande esperança. Eu acho que Deus estava presente visivelmente. Sobre o que disse o Padre Leo – Então, ele diz estar muito satisfeito com a indicação do novo Papa, ele apresenta a impressão assim de humildade, e de uma pessoa muito próxima ao povo, sem arrogância. E o padre Léo acha que isso hoje na Igreja, precisa uma volta para esse estilo evangélico.