O mês de março está sendo marcado por uma série de mortes de jovens no trânsito da região Sudoeste do Paraná. Mais de 50% das 12 vítimas deste mês tinham idade entre 19 e 25 anos, conforme matéria publicada pelo Jornal de Beltrão no dia 9 com o título “Em seis dias, trânsito mata seis jovens com menos de 25 anos”. A notícia ganhou manchete, como forma de alertar sobre os desastres frequentes que ocorrem nas estradas da região. Até então a média era de uma morte por dia.
O juiz de Direito da Comarca de Capanema Márcio Geron publicou um ofício no mês passado em que chama a atenção dos estudantes para o elevado número de jovens que perdem a vida de maneira violenta no País todos os anos.
De acordo com matéria do Correio Braziliense, citada pelo magistrado, a violência ceifa a vida de 30 mil jovens que poderiam ajudar o País crescer. “Certamente há uma multidão de causas para tornar o Brasil, um grande cemitério de jovens. Hoje, contudo, a minha intenção é discutir o seguinte tema: desobediência dos jovens aos pais é um dos fatores que contribui com parte das mortes?”, pergunta em sua carta direcionada aos estudantes.
O juiz cita algumas passagens de livros religiosos e ressalta que há uma realidade inegável: “todos os livros santos pedem que os filhos honrem, sejam indulgentes, obedientes e agradecidos aos seus pais (vivos, errados, divorciados, idosos ou mortos).” Segundo ele, há uma explicação para as palavras sagradas que escapa o mundo da fé, “os filhos que não honram os seus pais, não revelam gratidão, sem a mesma (gratidão) falta felicidade”.
Posso morrer, posso matar
Geron entende que sem felicidade a vida não tem amor ou sentido (posso morrer ou posso matar- tudo é indiferente e vazio). A falta de gratidão, portanto, é inimigo do indivíduo, da família e dos relacionamentos comunitários. Conforme disse, a gratidão aos pais é um escudo de proteção (divina, mental e material/ mundo físico).
O sargento Leandro Metzler, comandante da Patrulha Escolar na região, compartilha da mesma ideia. O policial diz que há uma passagem bíblica bem clara: “Honra teu pai e mãe como Deus, tu então terás vida longa e boa sobre a terra que Deus, teu Senhor, está te dando.”
Respeitar o professor
Segundo o PM, há muita queixa atualmente sobre a indisciplina de crianças, adolescentes e jovens. “Eu diria até mais, hoje a gente vê muitas brigas nas escolas, muitos problemas relacionados às drogas. O aluno tem que honrar e respeitar não só o seu pai, mas também toda a autoridade constituída, especialmente o professor. Por que na sala de aula, o professor é sim uma autoridade, é ele quem está responsável naquele momento por ensinar, educar, pelo bem-estar e segurança do estudante.”
Muita liberdade
Metzler salienta que os pais também devem assumir a responsabilidade e ensinar esses princípios para os filhos. “Os pais atualmente estão criando os filhos com muita liberdade, antigamente não se podia fazer nada, hoje se pode tudo. Muitas vezes somos chamados nas escolas e os pais se queixam que não podem mais com a vida dos filhos com 8, 9, 10 anos de idade. Nessas horas eu chamo a atenção dos pais, porque não é admissível que um pai ou uma mãe não possa lidar com o filho com essa idade.”
Pais têm que dar o exemplo
O policial Júlio Cezar Walter, membro da Patrulha Escolar, ressalta ainda que uma pesquisa indicou que o filho reflete e age sobre a forma como os pais se comportam. “O estudo diz que 97% dos filhos fazem o que os pais fazem e só 3% fazem o que os pais dizem. Muito da educação tem que partir do exemplo. Muitas vezes os pais mandam o filho para a igreja, mas eles não vão. Ou a mãe que usa roupa curta demais e critica a filha quando faz o mesmo, ou pai que bebe, discute, fala palavrão na frente do filho”, comenta.
O presidente do Conselho Tutelar de Francisco Beltrão, Deivid Ouriques, informa que a entidade também está empenhada nesta causa. Estão sendo realizadas palestras nas escolas para mostrar a importância do respeito com colegas e professores, de manter a disciplina, a frequência nos estudos, entre outros. “Estamos levando informações sobre drogas, álcool, violência, direitos e deveres de pais e filhos.” A iniciativa tem o apoio do Ministério Público, Juizado da Infância e da Assistência Social.
