Quem visitou a comunidade do Km 8, interior de Francisco Beltrão, no dia de ontem, 14, encontrou um cenário de destruição. Árvores retorcidas e arrancadas pela metade, postes quebrados ao meio, moradias sugadas pelo vento, veículos lançados a vários metros de distância e animais mortos. Além disso, passaram pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Francisco Beltrão, 19 pessoas com ferimentos, entre as quais 13 foram para hospitais.
O diretor do Hospital Regional de Francisco Beltrão, Eduardo Cioato, confirmou o recebimento de oito pacientes, que ficaram em observação e foram liberados em seguida. A única paciente que ainda permanecia internada até o início da tarde desta terça-feira era a idosa Izolete Iber Soares, 72 anos, com suspeita de fratura no tornozelo. As equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Exército Brasileiro, Polícia Militar, Polícia Civil e Prefeitura Municipal prestaram apoio durante todo o dia para as famílias atingidas. Um levantamento preliminar divulgado pela prefeitura computou pelo menos 76 casas e 227 pessoas foram afetadas pelo vendaval. Os fortes ventos atingiram a comunidade de KM 8, os bairros Novo Mundo, São Francisco, São Miguel e Cantelmo. O bairro São Francisco foi o mais afetado pela tempestade. Muitas equipes da prefeitura e também de voluntários ajudaram no recolhimento de móveis e distribuição de lonas, além do acompanhamento com profissionais de saúde em todas as residências afetadas.

Simepar confirmou tornado
O Simepar confirmou que uma supercélula ganhou força em Bela Vista da Caroba, por volta das 18h10, avançou por Ampere e às 18h30 chegou no oeste do município de Francisco Beltrão, com intensidade compatível à tempestade extrema. Segundo boletim do instituto, entre 18h45 e 18h53, o mesociclone estava configurado e, nesta tempestade, um tornado atingiu a comunidade do Km 8.
Conforme o Radar Meteorológico do Simepar de Cascavel, as rajadas de vento estimadas chegaram a 120 km/h por volta das 18h50min em Francisco Beltrão. A denominação do evento tornado foi definida com base na análise dos dados do radar Meteorológico do Simepar de Cascavel, assim como o auxílio da Defesa Civil Estadual e relatos e fotos da população.
O presidente da capela Santa Rosa, do Km 8, Adelino Martins, frisou que os moradores estão se mobilizando para ajudar no que for preciso. Segundo ele, foi um susto muito grande e ninguém imaginava que o vento teria provocado tantos prejuízos, que só puderam ser confirmados pela manhã.

Família se salvou embaixo da mesa
Na casa de Silviane Rizzo Galina, no condomínio Portal das Águas, a casa ficou destruída. Ontem pela manhã, debaixo de muita chuva, amigos e familiares foram até o local recolher o que ainda era possível aproveitar. O empresário Paulo Galina, que não estava no local no momento do tornado, disse que a residência não tinha seguro e não é possível mensurar o prejuízo ainda. “Perdemos tudo”, lamenta. A casa ainda preservou algumas paredes, contudo, um chalé que ficava ao lado foi completamente arrancado do chão.
Silviane estava na casa com mais sete pessoas. “Eu fechei e quarto e só tive tempo de chegar na área de festa e correr pra baixo da mesa.” Ela teve ferimentos leves no joelho. Sofás, mesas, cadeiras, eletrodomésticos foram lançados dentro de um açude em frente à casa. Um cãozinho e um coelho de estimação da família sumiram.
Prioridade é escoar a produção
O secretário de Desenvolvimento Rural de Francisco Beltrão, Nelcir Basso, informou que seis equipes da Secretaria estão percorrendo o interior para contabilizar prejuízos. O levantamento ainda deve levar alguns dias para avaliar perdas na agricultura e na agropecuária. “Neste momento estamos nos concentrando em desobstruir as estradas para que os produtores possam escoar a produção de leite e de frango.”
44 anos na comunidade e nunca viu nada igual
O agricultor Luiz Zuchi, que mora na comunidade há 44 anos, diz que nunca viu nada igual. O tornado passou raspando sua residência, mas nada aconteceu. “Eu não sei dizer nem o que a gente viu, se agarramos em Deus, porque destruiu tudo muito rápido. Eu estava em casa, depois da ventania começaram muitos e muitos gritos. Era muito escuro, então nos reunimos e começamos tirar árvores e galhos da rua para que as ambulâncias pudessem passar”, lembra.

Guarda roupa foi parar em cima do morro
O jovem Márcio Ribeiro da Silva estava na manhã de ontem ensacando roupas no topo de um morro. O roupeiro da casa dos avós foi lançado cerca de 200 metros morro acima com tudo dentro. Ele não estava em casa no momento do tornado, mas logo que ficou sabendo correu para ajudar os idosos. “Eu só queria que me explicassem como essa máquina de costura veio parar aqui em cima”, disse, levantando o equipamento que estava ao lado do guarda roupa. A casa deles foi varrida. De longe só dá pra ver escombros. Parece que foram trituradas. O que se pode identificar são alguns utensílios como o fogão à lenha e o botijão de gás.
O empresário Jocimar Fioreze veio com a família de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, para comemorar o aniversário do sogro, Antônio Soares, que completou 78 anos. Ele relatou que a família havia se reunido na área para cantar os parabéns quando o tornado começou. “Foram momentos de terror.” A propriedade foi a mais devastada. Um caminhão foi arrastado por cerca de 50 metros e retorcido.

Uma geladeira jogada a 100 metros
Uma geladeira foi encontrada a mais de 100 metros de distância da casa. As crianças foram colocadas embaixo da mesa e ainda assim acabaram sendo lançadas para fora. “Minha filha e minha neta de 1,7 anos foram parar longe. Graças a Deus todos estão com vida.” Nessa casa, cerca de oito veículos ficaram danificados, dois deles embaixo de uma árvore. Um fusca ficou todo amassado, depois de arrastado pelo vento. Um cavalo, um cão, um boi e diversas aves morreram. Fioreze acredita que o vento não tenha durado mais que oito segundos.
Das 15 pessoas, só a aposentada Izolete Iber Soares, mencionada no início da reportagem, continuava internada ontem. “Só alguns carros estavam no seguro, mas os veículos do pessoal daqui de Beltrão era ferramenta de trabalho e ficaram no prejuízo.” Ainda estava sendo esperada mais uma família para participar da festa, que não conseguir chegar a tempo.
