Fernanda Piacentini qualifica a moda no Paraná e no Brasil
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Fernanda Piacentini orienta as modelos em editorial com a temática dos anos 20. |
Várias faces da moda numa única pessoa: Fernanda Piacentini, produtora de moda há 17 anos, consultora de imagem desde 2004, historiadora de moda para o projeto Enciclopédia da Moda do Brasil, coordenadora da pós-graduação em Moda e Comunicação das Faculdades Pitágoras, de Londrina, e proprietária da Arterìa Produções, também de Londrina.
Iniciou na moda como figurinista e produtora de enredos e fez direção de arte para espetáculos de dança. Como também era coreógrafa, percebeu seu potencial de criar espetáculos e emocionar pessoas. Cursou Design de Moda na Univali (SC), pós-graduou-se em Moda pelo Senai-PR. Viveu quatro anos em Milão, onde trabalhou com organização e promoção de eventos de vários segmentos, inclusive moda. Fez backstage de desfiles como Tony&Guy, Gucci, Etro, Zegna e La Reppublica Velvet, para o salão internacional do design de Milão e Semana de Moda de Milão. Após uma temporada de um ano em Londres, voltou ao Brasil no ano de 2011. Hoje está em Londrina, onde fundou a Arterìa Produções e é coordenadora da pós-graduação em Moda e Comunicação das Faculdades Pitágoras.
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Em editorial para a marca Polka Dotz, de Londrina, com as modelos ao fundo. |
JdeB – Como você avalia a moda no Paraná e no Brasil?
Fernanda: Olha, é um assunto delicado, como trabalho com comunicação de moda, vejo principalmente deste ângulo que poderia ser melhorado no Paraná. Por exemplo, investir mais em conteúdo, em profissionais com linguagem de moda para cuidar da imagem das marcas e dos catálogos. Vejo ainda uma coisa muito feita no quintal, especialmente aqui. E temos excelentes profissionais, grandes talentos aqui na Arterìa, por exemplo, produzimos catálogos com linguagem internacional, de vanguarda, mas por incrível que pareça existem muitas marcas que não investem e continuam confiando seus catálogos a agências de publicidade standards com profissionais que nunca abriram um livro de moda na vida. Não conhecem a evolução da fotografia de moda, de editorial, pra poder trabalhar e comunicar moda com o cliente final.
JdeB – Pela sua experiência, o que falta para a moda nacional atingir o potencial da moda internacional?
Fernanda: Falta melhorar acabamento e imprimir mais personalidade por parte de estilistas e marcas. Falta algo menos literal, folclórico, caricatura de Brasil, sabe, vi um desfile de um designer japonês que tinha uma melhor interpretação do Brasil que os nossos. Não é fazer roupas verde e amarelo ou floridas, nem com miçangas e canutilhos que iremos ganhar visibilidade. O que se precisa é vender a nossa essência, vender o nosso espírito, ainda que feito em alfaiataria, por exemplo, não precisa ser necessariamente em vestidos floridos, ninguém aguenta mais, e nem vai se vestir lá fora do jeito que nos vestimos aqui. Um italiano não vai se vestir colorido, não condiz, não vende, não vai abrir mão da alfaiataria, da qualidade e do preço pra vestir algo que não lhe condiz. O exemplo das Havaianas e da Melissa é bacana, pois são dois produtos completamente genuínos, cheios de personalidade e inovação, design, grandes dos nomes da moda internacional já criaram suas coleções para Melissa porque amaram.
JdeB – Falando em século XX, qual a década em que a moda mais chama sua atenção?
Fernanda: Gosto de todas, tirando os anos 90, que acho que foi a fase adolescente na moda, onde ninguém é muito bonito e legal. Mas a década pela qual tenho um carinho enorme é a de 1920. Com o final da 1ª Guerra Mundial, foi uma loucura, todo mundo queria esquecer e deu-se origem aos anos loucos, o modernismo, ao som contagiante do Charleston. Tinha-se o charme das flappers, mulheres independentes, com visual mais andrógino, que buscavam mais conforto para se vestir, ainda que não abrissem mão da vaidade. A silhueta era andrógina, esguia, cintura baixa, as mulheres queriam reivindicar os seus direitos. Amo os filmes de Charles Chaplin e sua sensibilidade; Mary Pickford, as artes e os artistas da década. A Paris dos anos 20 e toda sua efervescência, todos os artistas eufóricos lá. E a minha diva Chanel que, além de grande estilista, foi uma visionária, libertária de pensamentos e tradições.