
Wessler, de 3 anos.
Após 62 dias de internamento hospitalar, o garotinho Oscar Bernardo Wessler, de 3 anos, está de volta à sua casa no município de Verê. Ele foi atropelado no dia 27 de junho, um sábado à tarde, enquanto brincava em frente à casa da babá – distante duas quadras de sua residência – no conjunto habitacional Verdes Campos, por um automóvel VW Fox, conduzido por uma adolescente, de 14 anos, que morava nas proximidades. Ela pegou o carro para aprender a dirigir e acabou atropelando Oscar – as pernas dele ficaram prensadas entre o carro e a parede da casa.
Naquele momento, os pais (Cleidiovane Matos e Flávio Wessler) tinham ido ao supermercado comprar leite. “Ele estava sentado na área olhando os pedreiros, que estavam fazendo um muro, no momento em que foi atingido pelo carro”, conta a mãe. A história comoveu moradores da região Sudoeste e teve repercussão em todo o Paraná, através de uma campanha realizada pelos órgãos de imprensa e comunidade local.
O drama de Oscar
Logo após o acidente, o menino foi socorrido por uma ambulância do município – houve um contratempo, porque naquele momento nenhuma ambulância do Samu estava disponível – e foi levado às pressas para o Hospital São Francisco, em Francisco Beltrão. No trajeto, ele teve uma parada cardíaca e foi reanimado pela equipe médica que o acompanhava.
No hospital, os médicos fizeram transfusão de sangue, estabilizaram o quadro e amputaram a perna esquerda, cerca de 5 centímetros acima do joelho, porque artéria, nervos e osso sofreram danos irreversíveis. Três dias depois, sob o risco de ter de amputar a outra perna, Oscar foi transferido de avião para o Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, que é uma das referências em atendimento ao trauma no Estado.
A hipótese só foi descartada 15 dias após o enxerto de pele, quando ficou claro que não haveria rejeição. Mesmo assim, os especialistas foram forçados a cortar mais 8 centímetros da tíbia (canela) da outra perna, a direita. Foi feito o implante de uma placa de metal para promover o alongamento do osso e voltar ao seu tamanho normal. Depois, os ortopedistas irão retirar a placa para que o osso possa calcificar. Oscar ainda deverá passar por mais um procedimento cirúrgico daqui a 10 meses. Além disso, pelos próximos dois anos deverá voltar a Curitiba a cada 15 dias para continuar o tratamento.
Cleidiovane afirmou que o atendimento no hospital Angelina Caron foi de primeira qualidade. Conforme disse, a junta médica, com ortopedistas, pediatras, cirurgião plástico, enfermeiras, psicólogas, fizeram o seu melhor para garantir a recuperação do garotinho. “As enfermeiras não largavam ele, não deixavam sozinho um minuto, quando viemos embora choraram.” Segundo a mãe, o procedimento de encurtamento de osso foi o primeiro realizado pelo hospital.
Sorriso no rosto e meleca na mão
Ontem, 2, quando recebeu a reportagem do Jornal de Beltrão, a equipe de enfermagem do município de Verê recém tinha terminado de trocar os curativos. O menino estava animado, com sorriso no rosto, sendo paparicado com beijos e abraços pelas enfermeiras, que levaram uma massinha – dessas que viram meleca na mão das crianças – e ele estava entretido com o presente. “Quero ver amanhã com o quê que elas vão agradar ele”, brincou a tia Noeli. Flávio, o pai, estava lidando com a reforma da casa. A família recebeu materiais de construção para ampliar o quarto, fazer um banheiro adaptado para cadeirantes e uma área com lavanderia.
Brincar e ver o Chaves
Oscar passa os dias em uma cadeira de rodas, emprestada pelo município, que, segundo a mãe, não é a mais apropriada. “Precisamos de uma cadeira de adulto, porque os ferros da perna dele ficam batendo bem na quina desta cadeira aqui.” Oscarzinho acorda por volta das 7 horas, toma café da manhã e vai assistir desenho. “Ele gosta bastante do Chaves, mas como voltamos há pouco ainda não deu tempo de regular a antena parabólica, então ele está só nos DVDs.”
À tarde, quando o primo Cassiano está de volta da escola, brincam com carrinhos e bonecos em cima da mesa. À noite vai dormir por volta das 22h30. O fluxo de visitas tem sido grande nesses dias. “Ele mesmo explica para os amiguinhos suas limitações.” Oscar estava cansado de ficar no hospital e quando ficou sabendo que tinha ganhado uma cama nova pela reportagem da televisão queria porque queria voltar logo pra casa.
Na terças, quartas e sextas-feiras, as irmãzinhas Claraiane, 8 anos, e Claudia, 6 anos, têm aula o dia todo e não podem fazer companhia para o irmão. Oscar gosta de ferramentas, mas o pai não quer que ele trabalhe na construção civil, espera algo melhor. De acordo com a mãe, ele não sente dores, apenas coceira no local do ferimento que está cicatrizando. Depois que tira fotos, o pequeno gosta de ver como ficaram.
Solidariedade
Flávio fez questão de agradecer aos órgãos de imprensa da região que divulgaram a história de Oscar e, por conta disso, muitas pessoas solidárias colaboraram com a família. “Recebemos muitas doações, nem é bom citar nomes, por que foram tantas pessoas que ajudaram. Só queríamos agradecer publicamente todo esse apoio.”
Ainda no hospital, pessoas que souberam do acidente doaram fraldas, roupas, mantas. Um empresário se comprometeu a doar a prótese que o menino vai precisar. A Prefeitura de Verê bancou a estadia de três pessoas da família (pai, mãe e uma prima) e também a remuneração para eles, porque tiveram que sair temporariamente de seus empregos, para cuidar da criança.
A mãe de Oscar conta que o filho já ganhou até um carro, um VW Gol, daquele modelo quadrado, que depende de reparos, mas será útil nos deslocamentos da família. Apesar do acidente, todos estão convictos que Oscar levará uma vida normal e poderá fazer todas as coisas como qualquer outra pessoa. No começo do ano que vem, voltará para a pré-escola, para iniciar os estudos. Cleidiovane disse que quer Justiça e não aceita que o responsável pelo veículo, que estava junto no local do acidente, tenha fugido sem prestar socorro.
Processo criminal e cível
O advogado e radialista Valmor Weissheimer, de Pato Branco, que representa a família, entrou com uma ação cível pedindo danos morais e materiais em favor de Oscar Bernardo. O processo é contra a mãe da menor, o rapaz e a mãe dele, porque o carro estava em seu nome. A demanda está em fase de citação, ou seja, a partir do momento que forem citados pelo oficial de Justiça ainda terão um prazo para apresentar defesa.
Valmor conta que já conseguiu o bloqueio do carro na Justiça, que estava em nome da mãe do rapaz, e já tinha sido negociado. No âmbito criminal, o processo está em fase de inquérito, conduzido pela delegacia de Dois Vizinhos, e ainda faltam alguns laudos. No processo criminal, o advogado vai atuar como assistente do promotor de Justiça. O indiciado, por enquanto é o jovem que entregou o carro para a adolescente. Se for condenado, responderá pelo crime de lesão corporal grave, que no caso de perda de membro, prevê reclusão de 2 a 8 anos. Outras solicitações como pedido de pensão para o INSS e do seguro Dpvat também estão sendo conduzidas pelo escritório de Valmor.
