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Francisco Beltrão
sexta-feira, 20 de junho de 2025

Edição 8.229

20/06/2025

Gilberto Martins: após 40 anos de magistério e muito futebol, veio o tempo de curtir os netos

Ele preferiu o magistério ao futebol profissional porque lhe dava mais dinheiro e melhor conceito. Tornou-se pioneiro de vários cursos em Beltrão.

Natural de Ponta Grossa (nasceu em 8 de fevereiro de 1944), mostrou desde cedo ter habilidade com a bola, tornou-se ídolo do Guarani e brilhou no clássico local, contra o Operário (o Ope-Gua). Também jogou no Caramuru de Castro. Ponteiro esquerdo, era muito rápido e chutava bem com os dois pés.

Como o futebol dava pouco dinheiro, começou a trabalhar também em algumas empresas – vidraçaria, bancos, cervejaria – e nunca deixou de estudar. Também serviu o Exército, por um ano. Após a formatura em Geografia, largou tudo para tornar-se professor. Foi quando mudou para Francisco Beltrão, onde lecionou de março de 1971 até 2011, ano em que se aposentou.

Quando veio de Ponta Grossa, já era casado com a também professora Elizabeth da Luz Martins Fonseca (depois de casada, ela só “cortou” o Fonseca, ficou Elizabeth da Luz Martins). Aqui, nasceram suas quatro filhas: Rita, Carla, Ana Valéria e Pauline.

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Rita é casada com Otávio Ricardo Muniz, o Tavico, e tem dois filhos, Otavinho e João Felipe.

Carla, casada com Marcelo Opolski, tem uma filha, Letícia.

Ana Valéria é casada com Émerson Bueno e tem um filho, Émerson Júnior.

Pauline é casada com Ricardo Souza e tem uma filha, Rebeca.

Aposentado, Gilberto tem mais tempo para curtir os netos. Também gosta de pescar. O futebol, só pra assistir. Parou de jogar porque tem lesão no joelho.

Filho de Pedro e Yolanda Custódio da Luz Martins, tem uma irmã, Marise, que reside em Pato Branco.

Em sua casa, na Rua Guanabara, ele recebeu o Jornal de Beltrão para esta entrevista.

 

Gilberto Martins.

JdeB – Como um ponta-grossense veio parar em Beltrão?

Gilberto – Quando eu estava fazendo o curso de Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa, tinha um professor de Psicologia que disse “quando vocês forem solicitar aula – que naquele tempo você não tinha contratação de imediato, você tinha que ver possibilidade de ser contratado e fazer parte do quadro de professores daquela escola em tal município –, não esqueçam de Francisco Beltrão, é uma cidade pequena, está iniciando, promete muito e vai crescer”.

 

Você acreditou no que ele falou?

Aquilo, sem dúvida, me marcou realmente, porque eu fui fazendo o curso e pensando que, quando eu me formasse, uma das cidades que eu deveria visitar era Francisco Beltrão, para conseguir algumas aulas. Na verdade, Ponta Grossa, por ter o curso de Geografia e uma cidade na época bem maior, os professores que saíam antes das nossas turmas já tinham possibilidades maiores de serem contratados pelas escolas. Tinha uma turma de Ponta Grossa, professores mais velhos da cidade, montaram o curso de Geografia em Maringá e alguns professores que se formaram conosco já foram trabalhar em Maringá. Mas nós saímos e eu tive a graça de vir para Francisco Beltrão e consegui uma colocação aqui.

 

Pegou o ônibus e veio sozinho?

Era uma época para entregar o requerimento para solicitar as aulas, eu perguntei onde que era Francisco Beltrão. Ele disse “você vai, tem Pato Branco, depois de Pato Branco a maior cidade que tem é Francisco Beltrão”. De todas as localidades que eu passei, tudo pequenininha, Marmeleiro já era bem maiorzinha e eu achei que era ali. Perguntei “é aqui que é Francisco Beltrão?” Disseram “não, é a próxima”. Bem melhor do que eu pensava.

 

E qual foi a impressão que teve quando chegou em Beltrão?

A princípio era difícil de conseguir as aulas, pois o quadro de professores já era formado, mesmo que fossem pessoas leigas, eu digo leigas no sentido de formação, porque muitos deles tinham o segundo grau, tinham outras profissões e trabalhavam como professor, e evidentemente a direção já tinha uma confiança neste pessoal por estar trabalhando com eles há muito tempo. Então, quando eu cheguei, não fui muito bem recebido, porque talvez sentissem medo de uma pessoa jovem. Assustei a direção.

 

Iria tirar o lugar de outro?

Isso. E como era formado, eu tinha todo o direito de conseguir essas aulas. A diretora do Colégio Mário de Andrade era a irmã Bárbara, ela disse “então, já que você é formado, vou te arrumar as aulas do científico”. Era o primeiro ano que funcionava o científico em Francisco Beltrão.

 

Você foi professor de outros cursos também?

A cada curso que surgia em Francisco Beltrão, eu estava fazendo parte do grupo de professores. O Madre Tereza, o Glória, o Alliança, todos estes cursos, o da Facibel, foi em 76 que iniciou, também fui professor pioneiro do curso de Geografia. Então você tinha que dar uma, duas, três, cinco disciplinas pra poder dar conta da estrutura da escola.

 

E que influência o senhor teve na escolha do curso de Geografia como um dos primeiros da Facibel?

Até acho que não tive influência nenhuma. A opção que o MEC dava era Estudos Sociais e Economia Doméstica, na época da ditadura, os cursos de Geografia e História foram unificados e criou-se o curso de Estudos Sociais. Tinha as duas disciplinas – História e Geografia – nesse curso.

 

O senhor foi pioneiro, lembra como foi a primeira aula do científico, a primeira aula do Madre Tereza, a primeira aula da Facibel?

No científico, como eu era recém-formado, a adrenalina estava lá em cima,  na verdade, todo início de ano, a primeira aula que eu ia dar era uma preocupação muito grande, porque eu queria causar uma boa impressão. Preparava de todas as formas, inclusive pensando em possibilidade de questões que pudesse levantar, depois desta primeira aula que a gente via o resultado, as coisas iam normalizando e o domínio da turma ia acontecendo automaticamente.

 

Como eram os alunos naquele tempo?

Era um respeito muito grande, não que não tivesse brincadeiras, não que não houvesse alunos criadores de problemas, mas de 20 ou 30 tirava um nesse sentido. Os pais te valorizavam de uma forma que, se você chamasse atenção do filho dele e a escola chamasse pra contar o que aconteceu, ele vinha e dava a maior força, dizendo “é isso mesmo que tem que acontecer e se ele continuar fazendo isso, eu vou mudar as estratégias lá em casa também”. Hoje é tudo diferente, não dá pra comparar, mas eu acho que desvirtuou muito as coisas. Antigamente o aluno tirava nota baixa, o pai ia lá conversar para saber o que que tinha acontecido. Agora, quando o aluno tira nota baixa, o pai vai lá dizer que a culpa é do professor que não deu aula direito, que não chamou atenção do filho em relação à disciplina.

 

Isso não tem uma influência do próprio ensino, que, comparando, naquele tempo professor formado quase não tinha, e hoje a disputa está grande? Será que isso não influenciou no relacionamento entre alunos e professores?

Eu acho, de um modo geral, que o professor foi desvalorizado em todos os sentidos. Se você pensa no sentido do salário, comparando com países desenvolvidos e mesmo alguns países que têm condição bem menor do que a nossa na América Latina, os professores são mais valorizados do que nós aqui no Brasil. De um modo geral, os professores não têm mais aquela força que tinham quando eu iniciei. Normalmente as pessoas de maior importância na cidade eram o professor e o padre. Hoje, as maneiras talvez de planos de ensino de curso se desatualizaram, ou deixaram as coisas acontecerem de uma forma mais solta e a própria estrutura permite que o aluno não possa ser reprovado, que ele não possa tirar nota menos que tanto e assim por diante, coisas que fizeram com que o ensino de modo geral descaísse.

 

Voltando à Facibel, lembra da primeira aula, dos primeiros tempos?

Eram turmas de alunos que há muito tempo não estudavam, então muitos deles vieram para estudar mesmo. Eu acho que as primeiras turmas do curso, mesmo sendo Estudos Sociais, voltaram a fazer as complementações, uns fizeram em História, outros em Geografia. Mas eram muito dedicados, pessoas já de uma certa idade também, e uma responsabilidade, um carinho com o professor muito grande. Eu me lembro com alegria de ter iniciado junto com eles o curso superior aqui em Beltrão justamente por este sentido, que eles eram muito educados, carinhosos, muito aplicados. Você estabelecia as notas, os dias de provas, questões tudo dentro de um respeito. Se tirassem nota baixa, não tinha problema, vinham até para saber o que tinha acontecido, o que não acontece hoje.

 

Que diferença tinha? Qual era o tema de Geografia no segundo grau e no terceiro grau?

Normalmente você já tinha a Geografia Econômica, Geografia Humana, Geografia Física. Esses continuam acontecendo nos cursos de Geografia, então era tanto no colégio primeiro grau, segundo grau, só que realmente com forma diferente de ser trabalhada e cada vez mais aprofundado, mas na sequência era mais ou menos a mesma coisa.

 

Que contribuição o curso de Geografia deu para a nossa região?

Olha, quando os professores vieram de outros municípios para fazer os cursos aqui em Francisco Beltrão, eu acho que trouxe uma vantagem, um crescimento para o ensino como um todo, porque para alguns era mais perto estudar aqui em Beltrão, uns fizeram Estudos Sociais, outros fizeram Economia Doméstica, depois foram fazer complementações em outros municípios, outras regiões e a partir de então cada um queria ter mais conhecimento e que evidentemente ia trazer benefícios para a região.

 

Em 76 começou a Facibel, mas os cursos começaram a andar mesmo só a partir de 2000. Foi o Brasil que patinou, o que aconteceu naquela época?

É, se é uma repartição privativa, particular, aí o MEC autoriza os cursos e te dá um prazo de quatro anos pra que o curso caminhe e mostre o resultado, depois que ele vai ver se dá o certificado. Nas instituições públicas, ele só autoriza se tiver todas as condições previamente estabelecidas, pra depois ele vir vistoriar e ver se dá condição mesmo. Quando começou com Estudos Sociais foi até um determinado tempo, quando veio Ciências Econômicas e mais um curso.

 

Foi Economia Doméstica, os três que ficaram e incorporaram, até que ficou estadualizado.

Felizmente nós temos até Medicina aqui em Francisco Beltrão, mas é muito complicado mesmo assim. Para vir Medicina foi pedida uma extensão de Cascavel, senão não teria condições de criar o curso aqui. Só para ter uma ideia, com extensão a responsabilidade ainda era de Cascavel, mas agora não, o curso é de Francisco Beltrão, ele tem que ter estrutura própria, senão o MEC corta.

 

Antes de se tornar professor, o senhor trabalhou também em vidraçaria, banco e até na cervejaria Antártica. Como foram aquelas experiências?

Quando eu comecei a trabalhar, eu era garotão, 14, 15 anos. Trabalhei em uma vidraçaria, em Ponta Grossa, até a hora de prestar o serviço militar, fiquei um ano prestando o serviço militar no (TRI) de Ponta Grossa. Nesses tempos que eu estava no quartel, comecei a jogar futebol também, porque naquele tempo o profissional tinha que trabalhar um pouco um determinado horário e depois ele era dispensado para fazer os treinamentos, coletivo ou individual, e eu fiquei trabalhando, estudando e jogando futebol. Depois que eu saí do quartel jogando futebol, fui trabalhar no banco. No banco também tinha condições pra treinar, aí saí do banco e fui trabalhar na companhia Antártica, sempre tentando buscar uma condição de melhoria salarial. Eu me formei dia 20 de dezembro de 1970, e dia 31 de março de 1971 eu comecei a trabalhar no Colégio Estadual Mário de Andrade em Francisco Beltrão.

 

“Quando colocava a bola pra correr, era um abraço”

 

Já era um ganho salarial.

Aí era bem melhor. Naquele tempo o salário era atrativo, a gente ficava no início do ano letivo até julho, início de agosto sem receber e depois recebia todo o atrasado.

 

Vinha um monte de dinheiro?

Vinha. Eu me lembro de uma vez, quando veio o salário, eu comprei o meu primeiro carro. Comprei um Fusca ano 68. Era carro usado, um ano depois eu troquei por um Fusca 72. Depois uma Brasília, que foi zero bala.

 

E como jogador profissional também tinha salário?

Era um salário bem pequeno, às vezes você jogava, o bicho dava quase a metade do que eu ganhava. Os primeiros salários que nós recebemos era 30, agora não sei se era 30 reais ou 30 cruzeiros. E me lembro que em um clássico que jogamos na cidade, só de um domingo para uma segunda eu ganhei 10, um terço do salário, para mim foi uma coisa muito boa.

 

Mas aqui, como professor, ganhava mais do que lá jogando bola e trabalhando no banco?

Ah, com certeza.

 

A sua vida de boleiro, naqueles anos, como foi?

Eu era ponteiro esquerdo, jogava no Guarani e eu acho que, se eu tivesse me dedicado ao futebol, eu teria tido êxito, mas naquela época, e hoje também em alguns times pequenos, os jogadores eram mal vistos na cidade, alguns deles, porque só aprontavam. De vez em quando estava treinando, aí chegava a polícia pra prender um deles e aquilo me desgostou, não me sentia bem vendo aquilo e fazendo parte daquilo também. E quando eu vim pra Beltrão, eu continuei jogando futebol, joguei aqui no Real. Tinha dois times, que era o Real e o União.

 

Jogou profissionalmente aqui?

Não, quando já tinham parado de jogar, União tinha só um amador. Depois, na década de 80, teve aquela revolução do futebol aqui que Beltrão foi campeão, a zona de acesso, mas daí eu não joguei, quem jogou nessa época foi o Tavico.

 

Mas o futebol deixou boas lembranças?

Nossa! Cada vez que eu chego em Ponta Grossa o pessoal que me conheceu vem me cumprimentar, faz comentários do meu futebol na época, aquilo me enaltece.

 

Qual era o ponto forte do Gilberto ponteiro esquerdo, era o drible, o chute?

Eu tinha o chute forte e, na verdade, eu não sou canhoto, mas eu tinha facilidade de chutar com qualquer uma das pernas e com a mesma intensidade, a mesma pontaria, eu acho que era uma das minhas qualidades. E também eu tinha bastante velocidade. Quando colocava a bola pra correr, era um abraço.

 

Marcava muitos gols?

Marcava, fiz bastantes gols. Quando eu era garotão, joguei no juvenil do time do bairro e eu era uma das estrelas do time, aí o pessoal do Guarani foi me procurar. Foram lá em casa falar com meu pai.

Jogou até que idade e por que parou?

Eu parei porque vim pra Beltrão e não gostava de ver aquela situação dos atletas, de não ser bem-visto na cidade. Alguns que eu tinha como companheiro de time jogaram na seleção paranaense. Uma época tinha o torneio nacional de seleções, e tinha jogadores do Guarani que eram da seleção. Tinha um que foi uma pessoa que me deu boas orientações, o Lara, ele era centromédio, jogou na seleção paranaense, era uma pessoa de bom futebol e me deu boas dicas de como jogar, ele era jogador do Guarani e funcionário da prefeitura.

 

Mas depois continuou como amador, só agora que parou?

Eu tive problemas de desgaste das cartilagens dos dois joelhos, eu fiz uma cirurgia no joelho direito, coloquei uma prótese, então resolvi dar uma parada. Até o doutor Edson disse que eu podia dar uma brincada, correr um pouco, mas eu preferi parar mesmo, que de repente eu não tenho condição ou acontece alguma coisa, a idade também não me ajuda muito, mas eu sinto falta do futebolzinho. E eu gosto, assisto esse futebol, principalmente o da copa dos campeões (Champeons League), que a gente vê bons jogos e bons jogadores, então me enche os olhos ver essas coisas.

 

Qual o melhor jogo de todos que o senhor disputou?

Ah, eu lembro que era o clássico da cidade, o Ope-Gua – Operário x Guarani -, que nós ganhamos de 3×1 e eu fiz o primeiro gol. E tem uma história nesse jogo que, quando eu fiz o gol, eu driblei dois zagueiros, o goleiro e empurrei a bola pra dentro. Foi um clássico e o time todo veio pra me abraçar, derrubar, esfriar o jogo naquela comemoração e o juiz veio e disse “vamos levantar, vamos, levanta, menino!” E o Lara disse “calma, seu juiz, será que o guri não pode ter emoções?!” Me deu vontade de dar risada.

 

São emoções raras.

Sim, coisa linda. E outras vezes assim de fazer jogada e a torcida ficar em pé, aplaudir, gritar o nome, eles me chamavam de Gilbertinho e dele palmas, então para mim foi bom. A primeira vez que eu fui jogar no Ferroviário, em Curitiba, que na época era Ferroviário o Paraná Clube, eu lembro que a vontade de fazer gol era grande e eu peguei uma bola, acho que dei uns dois toques no meio do campo e chutei em direção ao gol, o campo muito grande, a bola demorou para chegar lá perto da área grande, foi interessante.

 

O campo era maior?

É, o campo do Ferroviário era maior do que nós jogava lá, que normalmente ele tem três dimensões e acho que a deles era a máxima dimensão, e eu, a primeira vez também não tinha noção do campo, sei que eu queria pegar a bola e já fazer gol.

 

Contusão veio mais tarde?

Não, alguma coisinha assim, de pancadas, mas de futebol dentro do campo. De machucado mesmo foi depois, quando eu comecei a brincar aqui, que a idade foi pegando, e participando dos veteranos do União eu ia correr no asfalto de tênis inadequado, e daí ajudou o desgaste da cartilagem, até que deu na cirurgia.

 

E dos 40 anos como professor, o senhor lembra qual foi o melhor período?

Olha, na verdade, todos os períodos eu tenho boas memórias. O Colégio Mário de Andrade foi um dos com grande importância para a região. Porque no início os alunos vinham de toda região estudar aqui em Francisco Beltrão. Depois, nos cursos que nós começamos, principalmente na universidade, quando passou de Facibel pra Unioeste. Nós tivemos que fazer o concurso, apesar de estarmos trabalhando já há 20, 30 anos, e alguns não quiseram fazer, mas para mim foi uma boa época, eu comecei a ver o outro lado da vida do professor. Porque nós éramos professores graduados, alguns com pós-graduação, especializações, depois a pós-graduação com mestrado e agora até não sei se não tem doutorado em Geografia aqui em Francisco Beltrão. Pra fazer a primeira graduação com especialização que eu fiz, no ano 80, não tinha nenhuma por perto, eu tive que fazer em Três Rios, no Rio de Janeiro, e depois o mestrado tive que ir em Presidente Prudente (SP).

 

Parou de jogar bola porque deu problema no joelho e parou de lecionar porque se aposentou?

Exatamente. Quando eu já tinha 40 anos de magistério e de faculdade, de 76 até 2011 já davam 35 anos de carreira no ensino superior, eu resolvi pendurar as chuteiras, até porque a gente começa a ver pessoas novas, com toda a energia e com vontade de começar um trabalho, e todo meu material, quando eu me aposentei, eu doei para alguns professores, alguns materiais eu doei pra biblioteca, outros materiais eu doei pros grupos de estudo, sabe. Me propus até para qualquer coisa que eles precisassem, de forma de orientação que eu pudesse ajudar. E nos primeiros tempos de aposentadoria até tive, mas depois as coisas vão se distanciando.

 

E aquele tempo do Exército, foi época que deu bastante incêndio no Paraná?

Isso. Quando eu servi, houve grandes problemas que o exército teve que interferir. Um deles foi o incêndio que o Paraná teve. O Paraná foi tomado quase toda sua extensão e onde tinha mata estava sujeito a isso. E nós fomos chamados para ajudar no combate ao fogo na região de Telêmaco Borba, onde tem a fábrica de papel da Klabin, ficava lá acampado e na expectativa e combatendo onde tinha indício de incêndio. Outro incidente foi justamente na época da revolução, que eu estava também no quartel, em 30 de março, que o quartel entrou em prontidão para atender as possíveis chamadas da revolução de 64.

E agora, aposentado, como está a sua rotina?

Ah, eu, na verdade, quando estava trabalhando eu ia mais pescar do que agora. Mas eu tenho bastante coisa que me toma todo o tempo. Eu sempre tô fazendo alguma coisa e, quando vejo, já é final de semana, já é início de semana e o tempo passa… e os netos dando alegrias de todas as formas pra gente. O Joãozinho tava deitado na rede, na garagem e disse assim “vô, vamos brincar de garçom?”. Eu não tinha certeza o que que era, disse “vamos”, e ele “então traga de lá um copo de Coca-Cola pra mim” (risos).

 

E a netinha do computador?

A Rebeca de 5 anos. Eu estava fazendo no computador um jogo de memória, e ela disse “vô, quero participar, quero fazer também”. Eu falei “então vem”. Comecei a mexer na pedrinha lá e ela prestando atenção e eu, quando vi que ela estava interessada, comecei a clicar aleatoriamente, e ela disse “ô, vô, se concentra aí, vô!”. Outra história é do Emerson Junior, ele deveria de ter uns 4, 5 anos, assistindo desenho animado. Tinha um vivente no meio dos trilhos, um urubu, no desenho do Pica-Pau, e ele gritou para o urubu “cuidado o trem”. E o trem veio e atropelou o urubu. Ele disse “eu te avisei”. Muito bom.

Imagens retiradas do livro O bugre peregrino, escrito pelo ex-jogador José Cação Ribeiro Júnior.

 

 

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