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Francisco Beltrão
domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Há 100 anos, nascia Manoela da Silva Pécoits

Geral

 

Dona Manoela (19-8-1920 a 27-6-2009) numa foto de Ivo Pegoraro em julho de 2007.

Carioca, Manoela Sarmento Silva mudou para Porto Alegre ainda jovem. Na capital gaúcha formou-se no magistério e conheceu o futuro médico Walter Alberto Pécoits. Casaram e tiveram três filhos: Roberto, Alberto e Rosa Maria. Residiram no interior de Erechim e, desde setembro de 1952, em Francisco Beltrão. 

Nascida dia 19 de agosto de 1920, Manoela Sarmento Silva Pécoits estaria completando 100 anos nesta quarta-feira. Faleceu em 27 de junho de 2009, com 88 anos.

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Dona Manoela, ou Manoelita como o dr. Walter a chamava, ajudou o marido no hospital. Esteve ao lado dele também na Revolta dos Posseiros de 1957. Era das poucas mulheres que dirigiam carro, e andava armada. 

Sobre a Revolta, líderes daquele tempo diziam que seu sogro, Conrado Pécoits, foi quem teria incentivado o filho Walter a assumir a liderança do movimento. Numa entrevista ao Jornal de Beltrão do dia 20 de julho de 2007, ela disse que aconteceu o contrário, Conrado era contra. E ela também era contra. É a entrevista que segue. 

 

Dona Manoela com a filha Rosa Maria e o filho Alberto, lá por 1953 ou 54, numa foto feita por dr. Walter onde hoje está o Bairro Alvorada, tendo ao fundo a matriz de Nossa Senhora da Glória e o “centro” a cidade de Francisco Beltrão, ainda rodeada de pinheiros nativos.

No tempo da revolta

Pai e esposa eram contra a participação do dr. Walter como líder da Revolta

O médico Walter Alberto Pécoits (29/10/1917 a 25/6/2004), que se tornou o principal líder da Revolta de 57 em Francisco Beltrão, enfrentou resistência na própria família, antes de assumir. A esposa, hoje viúva dona Manoela Sarmento da Silva Pécoits, conta que ela era contra e seu sogro, Conrado Pécoits, que residia em Porto Alegre mas naqueles dias estava em Francisco Beltrão visitanto o filho, também era contra.
Mas depois que dr. Walter aceitou, atendendo pedido dos colonos que eram seus pacientes e as lideranças beltronenses, dona Manoela acompanhou o marido, inclusive armada. Na edição de hoje e de amanhã, entrevista com dona Manoela, para esta série d`O tempo da Revolta, neste ano do cinquentenário.
JdeB – O Santo Beal estava no lado de quem?
Manoela – Dos colonos, assim como Walter Pécoits, Krasnievski, Ricieri Cella, Balduino Daros, Soranzo, Antonio Cantelmo, Olívio Poletto (Porto Alegre), Luis Prolo, Francisco Cristófoli, estão todos mortos. Toda essa gente era contra as companhias de terra. Mas o Santo Beal na verdade não participava muito, porque não queria, não gostava, mas me lembro que quando o Pinheiro Junior veio aqui, o Beal foi um que mostrava os papéis na cara dele, porque não queria a legalização pelas companhias.
JdeB – E aquela viagem, em setembro, que vocês fizeram pra Buenos Aires, uns dizem que o Dr. Walter foi pra lá porque queria que quando voltasse estivesse tudo resolvido. Como foi aquela viagem?
Manoela – Nós fomos passear, viagem de turismo, fomos o Walter e eu, os filhos não foram.
JdeB – Mas antes de sair, a revolta já estava se formando?
Manoela – Ah! sim… Porque foi em outubro que explodiu tudo. A viagem já tava programada há um tempo, passamos lá uns 15 dias, meus filhos ficaram em Porto Alegre com minha mãe.
JdeB – Quando foi pra formar a resistência, que o dr. Walter não queria, vieram os amigos pedir pra ele e o seu sogro Conrado insistiu, porque o dr. Walter não queria assumir, não é?
Manoela – Não, o meu sogro que não queria que o Walter aceitasse de jeito nenhum, porque tinha medo do comprometimento, achava que não valia a pena, tinha medo que traíssem o Walter. Ele fez o que pôde pro Walter não assumir, e no fim no dia 10 mesmo, quando Pinheiro Junior esteve aqui, estava cheio de gente, ele aceitou o cargo de Delegado de Polícia.
JdeB – Então o Dr. Walter estava a fim de assumir, mas o pai dele não queira?
Manoela – Ah! O Walter não era a fim de assumir, mas pressionaram ele, prometeram pra ele, “vamos fazer isso, vamos fazer aquilo”, aí ele aceitou, ele foi um mês delegado.
JdeB – Mas nos livros está escrito, que o dr. Walter não queria aceitar, e o Conrado, pai dele, falou assim “Filho, lembra que a liberdade do Rio Grande foi conquistada com derramamento de sangue, você deve seguir teus amigos”, não foi isso?
Manoela – O Conrado não queria por nada no mundo que ele aceitasse, de jeito nenhum.
JdeB – E quem foi que convenceu dr. Walter?
Manoela – Ele aceitou por pressão do povo. Queriam que ele aceitasse, e aceitou porque achava que teria condições. Mas o pai dele não queria por nada no mundo.
JdeB – Mas eles não vieram na sua casa, vários amigos, e vocês estavam na sala, a senhora, seu marido, seu Conrado?
Manoela – Isso foi quando veio o Pinheiro Junior.
JdeB – Seo Conrado morava com vocês?
Manoela – Não, ele estava nos visitando, morava em Porto Alegre, vinha uma ou duas vezes por ano.
JdeB – A gente imagina, pelo que está escrito, que numa reunião estaria assim: o dr. Walter, a senhora, o pai dele e os homens insistindo para que o dr. Walter aceitasse.
Manoela – Isso foi lá na rádio, mas eu não estava junto. Eu não queria que ele aceitasse, de jeito nenhum, queria que ele largasse tudo.
JdeB – Quando ele aceitou, ele falou que queria levar a senhora pra Porto Alegre?
Manoela – Sim, ele queria que eu fosse pra Porto Alegre, com os filhos, falei que não ia, eu trabalhava com o Walter no hospital, todo dia, senão ficava andando na rua, andava com calça jeans, bota, usava revólver.

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